15 de julho de 2018

Primeira Impressão

ye
Kanye West


Ranço. Essa é a melhor palavra para definir o comeback do Kanye West, mas não o seu retorno musical e, sim, a suas aparições públicas. Dono de uma personalidade excêntrica e que sempre entendi devido a sua genialidade musical, o homem West ficou indefensável depois de declarações de apoio a Donald Trump e, principalmente, a afirmação que a escravidão foi uma "escolha".  O pior de tudo isso é que esse Kanye é o pior inimigo do Kanye artista, pois o resultado do oitavo álbum da sua carreira é algo muito aquém de todos os seus trabalho anteriores.

Intitulado apenas ye, o álbum faz parte de uma "coleção" de trabalhos em que o artista é responsável, sendo intitulado de Wyoming Sessions. Na verdade, chamar ye de álbum é exagero, pois com apenas sete faixas e nem vinte e cinco minutos, o trabalho está mais para um EP. De qualquer forma, o que poderia ser uma qualidade ao ser um trabalho sucinto e direto passa batido, pois ye é um álbum tão insonso que os defeitos de Kanye ficam ainda mais em evidência. O primeiro e maior erro é a sua verborragia sem controle. Se nos trabalhos anteriores essa característica sempre foi algo lapidado e refinado para conseguir passar toda as reflexões da mente "tumultuada" de Kanye, as composições em ye passam apenas a sensação de reflexões tumultuadas em uma moldura mais ou menos organizada.

É necessário dizer que o rapper continua a mostrar uma honestidade muitas vezes desconcertante, principalmente quando fala sobre seus problemas pessoais como é o caso da sua bipolaridade. Todavia, isso não é suficiente para juntar as peças e forma algo que realmente seja compreensível em todos os níveis, pois a maior parte de ye parece um compilado de conversas desconexas sobre a vida em um dia que o rapper não estava nos seus melhores dias. O pior nem é isso, na verdade, pois existem hooks e refrões esteticamente acertados, principalmente quando não é o Kanye que protagoniza. O grande erro de ye é que nenhuma das canções tem um apelo carismático que as letras do rapper sempre tiveram. Essa falta de carisma é que dá o tom do trabalho.

Polêmico, inovador, transgressor, provocativo e até mesmo gênio. Essas sempre foram alguns dos adjetivos que já foram dados para o produtor Kanye West, mas, até o momento, nunca foi dito que o artista era sem graça. Então, a produção de ye é completamente sem graça, pouco versátil e nada inspirado. Em apenas oito faixas, West e vários colaboradores entregam uma nada animadora sonoridade hip hop/rap que parece feita para entediar do que provocar ou inspirar quem ouve. Usando os mesmíssimos clichês de incluir samples de outras canções, alterações de voz com efeitos vocais, batidas cheias de nuances e texturas e participações especiais que nem sempre são creditadas, ye parece presos a esses alicerces sem conseguir elevar em construções ricas ou mesmo originais. Tudo aqui parece já ter sido feito e refeito com melhores resultados. É necessário dizer que tecnicamente, o álbum é impecável e bem acima da média. Felizmente, isso não salva o resultado final. Não ajuda nada as performances seguras de Kanye, mas que, ironicamente, parecem carecer daquela força descomunal e quase insana do rapper nos seus melhores dias. O único momento de destaque do álbum é a boa Wouldn't Leave, mas também não lambe as botas do momento mais fraco dos álbuns anteriores. Acredito que o artista Kanye West ainda seja um dos melhores da música, mas vai precisar fazer as pazes com o homem Kanye para voltar a encontrar o seu brilhantismo.


Nenhum comentário: