6 de fevereiro de 2020

Os 25 Melhores Álbuns de 2019




25. Lover
Taylor Swift


"Mostrando maturidade artística e um senso estético refinado, Taylor entrega canções indie pop/pop/electropop elegantes, revigorantes e com uma produção clean e com personalidade. Na minha opinião, não são trabalhos geniais, mas são canções muito bem pensadas e produzidas que apresenta uma honestidade cativante. Ao contrário dos trabalhos anteriores em que, na minha visão, tinham uma pretensiosidade irritante, Lover apresenta uma sonoridade mais orgânica, fluida e com uma noção sonora mais arredondada. Repito: não é perfeito e, sim, animador. Até mesmo as canções menos interessantes apresentam tais qualidades, mas são naquelas que venho referindo com as da "indie Taylor" que o resultado é bem mais visível. O grande momento do álbum e aquele que melhor expressa todas as qualidades do álbum é a ótima faixa The Archer que, apesar de parece um trabalho da Carly Rae Jepsen, consegue se sobressair devido a sua melodia delicadamente melancólica. Apesar do teor da canção, Lover de forma geral é o álbum mais feliz e romântica da cantora."

24. Hello Happiness
Chaka Khan


"Ao chegar ao seu décimo segundo álbum na carreira solo, Chaka Khan chegou em uma momento da carreira que não mais precisa provar nada para ninguém, mas mesmo assim parece pronta para continuar a surpreender. Dona de nada mais que doze Grammys, a cantora é conhecida como a rainha do funk devido a sua carreira como artista solo e, primeiramente, como vocalista da banda Rufus. Dona de hits como I'm Every Woman e Ain't Nobody, Chaka é uma importância ímpar para o atual cenário pop/R&B, pois a mesma foi a primeira a ter uma canção com partição de um rapper nos topos das paradas com o clássico I Feel for You de 1984. Aos 65 anos, a cantora volta de um hiatos de mais de dez anos em que precisou cuidar de problemas sérios para lançar Hello Happiness que, apesar de suas falhas, é uma celebração sobre a vida e seu amor pela música."

23. Goela Abaixo
Liniker e os Caramelows


"Goela Abaixo não é um trabalho genial ou mesmo que fala diretamente sobre causa que envolvem o meio LGBTQI+, mas apenas de existir já garante a sua importância no instante que temos um álbum lançado envolvendo uma artista trans. Parece estranho acreditar que apenas por existir e poder viver do seu talento a cantora é um ato de resistência e luta, mas, infelizmente, no país que mais mata pessoas trans, o simples fato de estar viva já é uma vitória. E a cantora não tem medo de "esfregar" na cara da sociedade a sua existência e, principalmente, o seu direito de fala ao entregar um álbum que, ao mesmo tempo, se baseia em gêneros que um dia foram marginalizados para depois ganharem o mainstream de forma esterilizados. Goela Abaixo é uma terna, elegante e, por vezes, sensacional mistura de soul music, MPB, jazz e blues, criando uma sonoridade não exatamente inovadora que consegue se sustentar pela qualidade instrumental, a sinceridade sonora e a importância por trás do álbum. Acredito que a melhor definição para o álbum é maturidade elegante, mesmo que o álbum não consiga manter o mesmo nível em todas as faixas. Principalmente a primeira parte do álbum, pois apenar de ser recheada de boas músicas que não foram exploradas da forma necessária para alcançar todo o potencial. São algumas boas oportunidades perdidas na construção de faixas que poderiam sair do lugar de serem legais para algo entre sensacionais até geniais. Esse é o caso da simpática Bem Bom que conta com a presença da ótima Mahmundi como apenas uma backvocal de luxo sem explorar as possibilidades que a parceria poderia resultar. Outro problema é que as faixas da primeira meta soam muito parecidas uma com as outras, pois é aqui que encontramos a parte mais "animadinha" do álbum. Batida boas, mas similares. Cadencias envolventes, mas pouco exploradas. Produções certeiras, mas que soam medrosas. A única que consegue sair dessa curva é a divertida e espirituosa Beau e a sua inteligência mistura de português e inglês. Goela Abaixo cresce de verdade quando deixa a sua grande estrela brilhar de verdade: Liniker brilha forte na parte final e eleva o resultado geral do álbum."

22. Hurts 2B Human
P!nk


"Assim como no antecessor Beautiful Trauma, Hurts 2B Human é um bem realizado, maduro e com personalidade trabalho pop contemporâneo que apresenta uma leve modificação no encaminhamento da sonoridade da cantora. Dessa vez, a mudança não é tanto de gênero e, sim, de "pegada", pois o álbum apresenta um ritmo mais lento que o costume. A cantora preferiu investir em canções menos dançantes e mais mid-tempos e baladas, deixando o álbum com uma cara bem mais séria que normalmente a mesma imprimi em suas trabalhos. Além disso, gêneros como o indie pop/rock, folk e country se destacam com visibilidade aumentada durante o curso do álbum. Para aqueles que não acompanham de fato a carreira isso pode soar como se o álbum fosse uma espécie de Man of The Woods, mas a verdade é que a sonoridade da cantora sempre teve essa característica. O que acontecia é a mesma estava diluída no meio de canções com apelo pop comercial. Então, a mudança aqui é apenas uma elevação ao destaque do que a cantora já fazia e, não, uma mudança dramática de sonoridade. Um ótimo exemplo disso é a parceria com o cantor country Chris Stapleton: Love Me Anyway é uma delicada e dramática country pop com toques de folk que pode causar estranheza em quem não conhece canções como Mean (Funhouse ) e Misery (M!ssundaztood). Claro, entendo que a decepção de muitos em relação ao álbum, principalmente devido ao fato que o mesmo realmente cai de qualidade na sua parte final com canções com forte inclinação genérica e nada realmente excitante. Entretanto, o que não entendo é o não reconhecimento das qualidades da P!nk como uma compositora excepcional e uma vocalista sensacional."

21. Wasteland, Baby!
Hozier


"Claramente, Hozier é um homem culto e com uma inteligência artística sofistica e atemporal. E isso fica bem não apenas devido a complexidade semântica e sintática e, também, devido as referências de todos os tipos que o mesmo coloca nas suas canções, indo de grandes nomes da música, grandes pensadores até chegar a personagens mitológicos. Essa característica dificulta o envio da mensagem para um público menos familiar com todas as citações e/ou que tem a língua inglesa com a sua segunda. Todavia, a sagacidade e elegância que o mesmo aplica em cada canção sem ter medo de pegar o caminho fácil também precisa de elogiado, pois ajuda o cantor a dar a sua personalidade incontestável e a sua peculiar maneira de enxergar a vida. Quando o trabalho funciona de verdade, Hozier entrega momentos sublimes como a dramática balada indie rock/folk irlandês Shrike que retrata o recomeço de alguém que sofreu por amor, mas hoje está renovado para a vida. Outro solavanco é a construção geral da sonoridade do álbum que, apesar de entregar um sólido e requintado união de indie rock, soul e folk, não consegue dar nuances para as canções, resultando em um álbum linear e, levemente, pouco imaginativo. Não é um problema que afeta tanto o álbum como os já citados, mas ajuda para que Wasteland, Baby! não tenha a força que poderia alcançar. O que pode ser elogiado sem nenhum porém é a performances vocal de Hozier. Limpa, sem exageros, versátil e deixando o seu magico timbre brilhar, Hozier é um vocalista capaz de derreter até mesmo o coração mais duro apenas em uma performance apenas boa. Pena que as canções não estão no mesmo nível que a sua força vocal. Quando isso acontece, o público é presenteado com a poderosa Nina Cried Power ao lado da lenda gospel/soul Mavis Staples. Outros bons momentos ficam por conta da sensual Movement, da gostosinha rock/soul No Plan e a sombria Talk."

20. new breed
Dawn Richard


"Dono de uma produção madura, coesa e bem estruturada, new breed pretende ser um álbum que apresenta uma espinha dorsal clara e fluida, "pulando" de uma música para outra como fosse uma sequência lógica. Isso até acontece, pois é fácil observar as linhas que amarram uma canção na outra. O problema é na ordem da execução das canções que, infelizmente, não está a altura da ideia por trás. É necessário dizer que em nenhum momento a produção é nem mesmo mediana, pois o new breed bem acima da média. O que acontece é que o trabalho deixa uma forte e incomoda sensação que o tudo poderia ser muito maior e, por consequência, ainda melhor. É como se todas as peças do lego estivesse montadas perfeitamente para formarem um impressionante castelo, mas a dimensão dessas peças é quase uma versão em miniatura. A beleza estrutural está lá. Faltou a pungencia substancial de um corpo bem composto. 

É isso fica bem mais claro enquanto o álbum progride e podemos notar o cuidado sonoro da produção que vai adicionando nuances a sonoridade de Dawn, criando pequenos momentos de criatividade inspirada. Um desses momentos é a incrivelmente interessante R&B/EDM shades que consegue ser um trabalho dançante, mas com algumas e ótimas surpresas na sua construção que consegue dar personalidade distinta. Todavia, a canção parece ter espaço que poderiam ter sido preenchidos para alcançar um patamar acima artisticamente. Recheado de letras sobre empoderamento, new breed também sabe ser sexy, romântico e triste quando necessário. Talvez, se as composições tivessem melhores resultados, pois as mesmas ficam em sempre na categoria de boas/acima da média, o álbum poderia ter encontrado um ápice mais adequado a sua idealização. Segurando de forma exemplar todo o trabalho, Dawn pode até ter uma voz limitada, mas sabe como usar a técnica e, principalmente, abusar das suas principais qualidades para entregar performances elogiáveis. O melhor momento é a impressionante vultures | wolves em que é possível saber como seria o álbum em uma toada mais encorpada. Outros bons momentos são dreams and converse e jealousy."

19. WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?
Billie Eilish


"Billie Eilish é pop? Sim, mas é um tipo de pop pela sua visão e, como já dito anteriormente, a visão passa pelo entendimento do que é pela geração millennial. Então, WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? se transforma em uma espécie de mistura de electropop com influências diversas que vai do art pop e o indie pop até mesmo ao emo e o jazz. O grande ponto questionável não é exatamente a mistura e, sim, como essa mistura é entendida pela produção. Trabalhando em todas as canções em tons baixos, ressaltando ao máximo sintetizadores, tambores, baterias e 808's de forma a criar batida gravíssimas. Obviamente, não é a primeira vez que um artista caminha nesse território para fazer pop, mas dentro do mainstream é uma das primeiras vezes que esse tipo de batidas chegam aos topos das paradas. E esse tipo de batida causa bastante estranhamento perante parte do público e, sinceramente, entendo perfeitamente. Não é uma batida de fácil assimilação, não criar rapidamente aquela empatia e, várias vezes, causa certo desconforto fisicamente aos ouvidos. Entretanto, o resultado final no álbum consegue ser melhor digerido quando quem escuta consegue entender o que está envolta na criação do álbum e, principalmente, consegue perceber as influências que ajudam a entender a sonoridade. Curiosamente, apesar de não parecer uma cantora com canções que iram fazer o público dançar, Billie consegue se sair melhor sonoramente em faixas animadas do que em canções mais lentas como a mesma parecia ser o seu nicho nos primeiros lançamentos. Além da já citada bad guy, outros momentos interessantes ficam por conta de all the good girls go to hell e a divertidíssima my strange addiction que usa diálogos do seriado The Office. Entretanto, a melhor faixa de WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? é a sensacional bury a friend que parece uma versão pop/light de uma das faixas de Yeezus do Kanye West. Outro ponto de discórdia para Billie Eilish é a sua forma de cantar. dona de uma voz delicada e pequena, a cantora parece estar sussurrando todas as canções, deixando uma certa certa sensação de apatia e sonolência até quando a batida é dançante e, dentro do possível, animada. Gostar ou não da voz da cantora é algo bem pessoal, mas, apesar de não ser um grande fã, consegui encontrar uma cantora com um timbre interessante quando não está envolto em uma produção que prefere explorar a batida como mostra o single when the party's over e, principalmente, a linda listen before i go. Saber se será a voz da Billie Eilish transformada em uma das que irá entrar para a história como sendo a da geração millennial ainda é bem cedo para afirma, mas, por enquanto, a cantora está fazendo um surpreendente bom trabalho."

18. Assume Form
James Blake


"Se o cantor sempre se mostrou disposto a revelar o seus sentimentos duros e difíceis nos trabalhos anteriores sem ter medo de questionarem a sua "masculinidade", Assume Form continua a mostrar os sentimentos de James, mas dessa vez com uma atmosfera assertiva, romântica, feliz e esperançosa. Se um homem precisa e tem o direito de repartir emoções ruins, o mesmo também pode falar e contar sobre as boas. E é isso que James faz no álbum. Utilizando a sua poética simples e com uma beleza estética madura, James é capaz de dar profundidade para a gratidão que sente pela sua amada por estar lá por ele (Into the Red), dar importância para aquele sentimento de estar confortável em estar simplesmente ao lado de quem se ama (Can't Believe the Way We Flow), dar a relevância necessária para que, antes de amor, exista respeito e carinho (Are You in Love?), dar ainda mais ênfase na simples vontade de estar perto de quem se ama (I'll Come Too) e mostrar que devemos assumir nossos erros em um relacionamento (Power On). Sinceras e com uma emoções certeiras longe de qualquer sentimentalismo barato, as canções em Assume Form mostram que qualquer ser humano deveria expressar seus sentimentos da maneira que melhor é capaz sem precisar prender a parâmetros e limitações que parte da sociedade impõe. Outro momento esplêndido é a primorosa parceria com o rapper André 3000 na sombria e dançante Where's the Catch?. O único problema do álbum é a sua duração um pouco estendida demais, deixando a sua parte final com uma leve sensação de estar arrastada. Isso não impede, porém, que Assume Form seja o primeiro grande álbum de 2019. E mais: James Blake entrega um uma pérola musical que deve ser vista como um protesto contra a masculinidade tóxica disfarçada de álbum."

17. PUNK
CHAI


"A melhor definição para a sonoridade do trabalho seria uma explosão de punk pop/dance-punk com indie pop, pop rock, post-disco e doses de eletrônico e, principalmente, bubblegum pop. E quando escreve explosão é exatamente isso que as meninas entregam desde o começo: uma sucessão de detonações sonoras com instrumentalizações barulhentas e que beiram o irritante. Felizmente, o exagero sonoro aqui funciona devido a um carisma quase sobrenatural que o CHAI parece possuir, provavelmente devido a personalidade de "awkward girls" que não devem se encaixarem nem no mainstream pop oriental e muito menos do nosso lado. Ficando nesse meio do caminho, a banda parece ter a liberdade de explorar, experimentar e, ao que parece, se divertirem bem mais que a média de outros artistas. Isso fica bem claro na melhor canção do álbum, pois I'm me é uma viciante, cativante, esquisita, divertidíssima e deliciosa dance-pop/punk. Outro ponto que faz o álbum funcionar é a sua excelente parte técnica instrumental, pois qualquer deslize de qualidade poderia resultar em um desequilíbrio que comprometeria ao deixar "escapar" o exagero sonoro que a banda carrega. Além disso, a fofa e, claro, estranha presença vocal da interprete Mana acompanhada por interessantes efeitos vocais são ideias para conseguir embalar das as canções já que vibram exatamente na mesma personalidade. Outros momentos que momentos que precisam ser mencionados é a hiperativa e estrondosa CHOOSE GO!, a fofinha e menos explosiva Wintime e a estilosa Fashionista que tem um toque de Blondie em Heart of Glass. PUNK é um álbum insanamente delicioso e divertido que deixa a gente rodando de uma alegria efusiva. E, acredito, que seja essa a intenção das meninas do CHAI."

16. Dedicated
Carly Rae Jepsen


"Ouvir Dedicated é presenciar a principal qualidade que um álbum pop comercial precisa ter: a despretensiosidade. Fica extremamente fácil notar que Carly está se divertindo de verdade ao realizar o trabalho do começo ao fim de uma maneira contagiante. Não é o tipo de divertimento que está atrelado ao um sentimento de "foda-se, eu vou é curtir", mas, sim, um divertimento legitimo em estar fazendo o seu trabalho. Isso dá Dedicated uma leveza rara de se presenciar em lançamentos atualmente. Carismática até mesmo quando o álbum dá uma tropeçada na faixa The Sound, a presença luminosa de Carly eleva qualquer material de forma graciosa, inteligente e divertida. Canções adoráreis como Happy Not Knowing e Automatically in Love que poderiam cair no lugar comum na mãos de outras cantoras ganham com a Carly um verniz realmente brilhante. Obviamente, o carisma da cantora não seria o suficiente para fazer do álbum um trabalho tão bom.

Continuando em uma caminho parecido que mostrou no já cult E•MO•TION, Carly Rae Jepsen entrega aqui um efervescente, clean e coeso álbum de electropop/synthpop com clara influência da sonoridade dos anos oitenta. Felizmente, o que ouvimos Dedicated não é apenas uma repetição, mas, sim, uma evolução progressiva e bem construída. Na verdade, a sonoridade aqui soa bem mais fluída que no álbum anterior, ao contrário de E•MO•TION que começava com qualidade altíssima para depois, metade para frente, patinar aqui e ali. Dedicated se mantem em um equilíbrio constante do começo ao fim, deixando o álbum irresistível do começo ao fim. E atualmente isso é um feito para ser elogiável, pois álbuns tendem a se estender mais que o necessário, terminando arrastado e sem a força inicial. Isso está longe de acontecer em Dedicated, ainda mais que a canção que o abre e a canção que o fecha são os seus melhores momentos: a viciante Julien e a romântica Real Love que apesar de serem diferentes sonoramente são a síntese perfeita de toda a sonoridade da cantora. Outros momentos de destaque ficam por conta de No Drug Like Me, o toque de soul de Everything He Needs, a melhor canção que a Taylor Swift não fez em Too Much e a dançante Feels Right em parceria com a banda Electric Guest."

15. While We Wait
Kehlani


"Apesar de vários colaboradores, a marca lirica de Kehlani é facilmente perceptível em cada faixa, pois a mesma tem a capacidade de falar sobre assuntos profundos de forma descomplicada, leve e com uma beleza contida e luminosa. E assim que é a base de Too Deep que apresenta momentos de inspiração surpreendente ao falar sobre as dificuldades de um relacionamento em crise (You just wanna talk, I don't wanna listen/Now I wanna talk, you don't wanna listen). Apesar de perder um pouco em qualidade, a descolada Nunya e a cool vibes Morning Glory continuam a sustentar de forma exemplar o álbum. Uma pena, porém, que a mixtape dá uma quebrada com a boa, mas nada especial, Feels que apresenta o ponto fraco da artista: a sua voz. Delicada e bem intencionada, a voz de Kehlani não tem força suficiente para sustentar sozinha uma canção. Claro, a mesma conta com a sua personalidade artista que a ajuda, mas essa falha não ajuda em canções menores como a já citadas e a lindinha Butterfly. Felizmente, While We Wait é muito mais acertos que erros como o single Nights Like This, a dramática RPG e a fofa Love Language. Mesmo sendo mais um aperitivo que um prato principal, a mixtape é um trabalho ideal para o público ter uma boa noção sobre a suculência do atual R&B. Graças a nomes como a Kehlani que vem revivendo o gênero em sua melhor forma."

14. thank u, next
Ariana Grande


"Se a cantora lançou o trabalho anterior em um dos piores momentos da sua vida (a sua conturbada relação com o Pete Davidson e a morte do ex Mac Miller) e era um trabalho meio que para expiar os sentimentos negativos do atentado em Manchester, thank u, next vem para ser o trabalho em que a cantora mostra que as feridas estão sendo curadas e que a vida é preciso ser vivida. Então, liricamente, o álbum é sobre levantar o dedo para o boys lixo, se divertir como uma garota de vinte e cinco anos, se apaixonar perdidamente e dar um fora no outro dia e, principalmente, buscar a simples alegria de viver. Esses assuntos parecem superficiais em uma primeira olhada, mas o trabalho empregado é de qualidade técnica artista/técnica certeira. Sabendo ser divertida/despretensiosa nos momentos certos como a deliciosa dance-pop/R&B com traços leves de reggaeton bloodline que fala sobre ter a famosa relação de "amiga com benefícios" sem precisar se preocupar em criar vínculos afetivos ou sabendo mostrar profundidade/emoção como na tocante mid-tempo electropop/indie pop ghostin que, apesar de não ter nenhuma confirmação oficial, fala sobre os sentimentos que a cantora teve quando o seu ex faleceu, o álbum mostra o amadurecimento nítido e notável que Ariana passou nos últimos tempos. E isso ainda fica mais evidente quando percebemos como a cantora está confortável no seu papel de diva, pois a cantora continua a entregar performances completamente distintas que não precisam se utilizar da potencial vocal imenso, mas, sim, a sua versatilidade e inteligência. Ariana consegue dar leveza e sentindo real para canções como fake smile sobre lidar com a pesada pressão da sociedade e a ditadura da perfeição para quase em seguida sensualizar na medida certa na gostosinha make up. Outros momentos que valem ser citados é bad idea e a sua surpreendente parte final (indo contra a maré do que expliquei anteriormente) e a pop/hip hop in my head. É redundante afirmar que com o lançamento de thank u, next, Ariana Grande cava ainda mais o seu merecido espaço entre as maiores cantoras e se afirma como a maior da geração do novo milênio, mas a verdade é algo que não é possível fugir assim como a certeza que a cantora adora um rabo de cavalo. E isso não como contestar."

13. Sunshine Kitty
Tove Lo


"Sunshine Kitty é tudo que um bom álbum pop precisa ser: divertido, despretensioso, original, ousado, contagiante e com uma fluidez primorosa. Entregando um ótimo álbum de electropop do começo ao fim que adiciona camadas de dance-pop, R&B, synth-pop e, a grande surpresa do álbum, até mesmo do funk carioca. E, querido leitores, isso não poderia ser mais bem vindo, pois Are U gonna tell her? se torna um dos pontos altos do álbum. Com a participação do funkeiro Mc Zaac, conhecido pelo Vai Malandra, a canção é uma mistura de electropop com funk que mistura de forma refinada e inteligente os dois gêneros tão diferentes, conseguindo criar quase um novo sub-gênero sem perder a essência de cada um. E essa qualidade permeia todo Sunshine Kitty."

12. Fine Line
Harry Styles



"Fine Line é um adorável, delicioso, refrescante e cativante trabalho de indie pop/rock que entrega uma personalidade sonora ímpar que ajuda o Harry a construir uma sonoridade que parece que apenas ele é capaz de entregar, mesmo não sendo nada original na verdade. O que é original é ver um cantor mainstream não só se dispor a fazer esse tipo de sonoridade, mas, principalmente, constatar o seu sucesso comercial. Apenas essa qualidade já algo que faz de Fine Line um trabalho de elogios, mas existem vários outros motivos. Elegante do começo ao fim, o álbum é um trabalho com uma coesão impressionante, pois a produção vai transitando entre estilos de maneira azeitada já que é possível perceber as influências mais profundas do cantor como, por exemplo, soul, folk e psychedelic pop sem perder o foco. Muito bem instrumentalizado e com um cuidado estético primoroso, a produção vai pintando uma coleção de canções em belas cores pastéis que, ao contrário que se pode pensar, a escolha apenas ressalta as qualidades da personalidade artística de Harry. Nada é apressado. Nada é feito para simplesmente ser vendável para o mercado. Nada é parece fora do lugar. Entretanto, tudo faz sentido quando se ouvido do começo ao fim. E o mais importante: tudo tem a cara única, intrigante e cativante do seu "criador" Harry Styles. Na sensível e tocante Cherry, o álbum encontra o seu pico em uma elaborada e marcante faixa indie folk com toques de psychedelic pop."

11. Norman Fucking Rockwell
Lana Del Rey


"Amadurecida e completamente segura do seu oficio, Lana entrega as composições mais belas e refinadas esteticamente. Criando imagens de uma beleza única e com a sua personalidade em cada verso, Norman Fucking Rockwell é como se fosse uma pintura feita por um artista moderno que, ao mesmo tempo, retrata a atualidade com cores vintages e, na maioria das vezes, em auspiciosos tons pastéis. Lindo, melancólico e, surpreendentemente, com pinceladas de um bom humor ácido que até então não estava na paleta de cores da cantora. Entretanto, apesar de todas essas qualidades nítidas, o álbum ainda sofre de um problema que remete ao começo desse texto: se você não tiver um gosto pela cantora, não será as letras aqui que irão mudar o seu pensamento. E isso é ainda uma trava para que a cantora possa realmente alcançar o seu ápice ao encontrar um modo que, sem perder a personalidade, possa conectar emocional com qualquer pessoa de alguma forma e, não, ser uma artista que difícil acesso. Dito isso, é necessário apontar alguns momentos que demonstram com exatidão essa capacidade de expressão quando em California oferece a mão para um amigo em sérios problemas diz: "You're scared to win, scared to lose/ I've heard the war was over if you really choose /The one in and around you.". Ou quando discorre sobre ser feliz na tocante Happiness Is A Butterfly declara de forma avassaladora "Happiness is a butterfly/ Try to catch it, like, every night /It escapes from my hands into moonlight." Acompanhando a sua evolução como compositora, Norman Fucking Rockwell mostra a cantora na seu momento de maior coesão sonora."

10. Still on My Mind
Dido


"Completamente dona de si, Dido consegue entregar em Still on My Mind algo muito difícil de um artista alcançar ao ter a capacidade de manter a sua sonoridade raiz e, ao mesmo tempo, se arriscar em experimentações sonoras. Obviamente, esse feito só poderia ser possível devido a maturidade artística da cantora, pois isso vem de anos aperfeiçoando a sua sonoridade e, simultaneamente, buscando inspiração em outros gêneros. Produzindo quase todo o álbum ao lado do irmão Rollo Armstrong, a cantora navega por caminhos ousados ao mergulhar de cabeça em um mundo eletrônico, downtempo e até um pouco de hip hop que se mistura a fortes influências de folk e indie pop. Entretanto, o álbum é ainda um reflexo do pop contemporâneo/indie pop que a cantora sempre mostrou desde que estourou lá nos anos dois mil com Thank You. É como se a sonoridade da cantora fosse uma árvore de natal que fosse adicionada enfeites de todos tipos, cores, formatos e tamanhos. Continua sendo na sua base uma árvore, mas que no seu exterior apresenta uma dinâmica e estética bem mais complexa. Essa mudança poderia ser um tiro no pé, resultando em um álbum exagerado ou sem nenhuma personalidade. Felizmente, isso passa bem longe de Still on My Mind, pois o álbum é conduzido de forma inteligente e, claro, confiando na maturidade dos envolvidos."

9. No Words Left
Lucy Rose


"Em nenhum momento Lucy precisa se basear em construções rebuscadas ou de uma complexidade pretensiosa nas elaborações das imagens. No Words Left é liricamente uma tempestade silenciosa, pois, a primeira vista, parecem apenas letras açucaradas sobre sentimentos. Então, de repente o olho o do furação atinge em cheio e quem ouve começo a entender a densidade emocional de cada faixa. É algo que fazia algum tempo que não tinha o privilegio de experimentar. Acredito que algumas linhas da minha resenha do maravilhoso single Conversation ajudam a entender melhor o impacto de forma geral de todo o álbum: "Conversation é uma melancólica, delicada e, por vezes, devastadora balada indie pop sobre as lutas e as pequenas batalhas de estar um relacionamento. Contida em palavras, mas com com um leque de emoções atrás de cada palavra, Conversation é o tipo de canção que faz a gente ser retirado do chão em transe hipnótico ao ouvir e sentir toda a sua força emocional." E a faixa é apenas a primeira do álbum, deixando o caminho aberto para outros momentos de mesmo impacto. Enquadram-se nesse caso duas faixas: Treat Me Like a Woman é uma voraz e desconcertante crônica sobre o desrespeito que uma mulher está vivendo em um relação conturbada e a melancolicamente esperançosa Nobody Comes Round Here sobre se deixar dar uma chance para a vida e, claro, para o amor. Dona de uma voz tão delicada como a primeira brisa morna de primavera após um longo inverso, Lucy entrega performances que captam exatamente o sentimento de cada faixa em uma mistura de bondade, contemplação, desalento e uma quase esperança. Outras faixas de destaque ficam por conta da triste Solo(w) sobre a parte que falta na gente e a esmagadora sensação de solidão, os lados de um fim do amor em What Does It Take e o alento final na linda Song After Song. Sem precisar de uma grande produção, Lucy Rose entrega um álbum que consegue ser maior que parecer ser devido a genialidade em escrever letras que transcendem o próprio álbum."

8. When I Get Home
Solange


"Apesar de trabalhar com alguns nomes que contribuíram no álbum anterior, o time em When I Get Home é menor e foca primordialmente em nomes que tenham longa experiência na produção experimental de vários gêneros diferentes. Co-produzindo ao lado de alguns nomes "fixos" todas as faixas, Solange conta com a colaboração de expoentes conhecidos e desconhecidos como a banda de jazz experimental Standing on the Corner, o DJ Metro Boomin, os rappers Earl Sweatshirt e Tyler, the Creator, o músico Panda Bear e, claro, o onipresente Pharrell. Com esse time e a sensação clara que a cantora está no comando final, When I Get Home vai construindo sonoramente uma teia complexa, refinada, ousada e, por algumas vezes, genial de pequenos núcleos de música que são imediatamente costurados ao próximo que, por sua vez, é costurado ao seguinte e assim por diante. Enquanto isso, a presença dos nomes citados vai trabalhando como os coloristas dessa teia ao adicionar nuances, texturas e, claro, cores ao trabalho ao navegarem por diversos caminhos de gêneros e estilos. O R&B é o cento de tudo, mas o álbum flerta fortemente com o neo soul, hip hop, trip hop, jazz, funk, eletrônico e indie pop. Essa miscelânea pode até soar um pouco difícil de ser conduzida sem perder o foco, mas, felizmente, a dinâmica e experiência dos nomes envolvidos não faz o barco virar em nenhum momento. Digo e repito: When I Get Home não é um álbum para ouvintes casuais ou para aqueles que querem algo mais popular. E, por isso, o álbum pode gerar um sensação de decepção para aqueles que procurar algo mais definido. Todavia, para aqueles que querem "sentir" a música, Solange entrega um trabalho realmente empolgante. E é sobre "sentir" que a cantora decidiu falar dessa vez."

7. Cuz I Love You
Lizzo


"Cuz I Love You é uma divertida, bem amarrada, eficiente, despretensiosa, segura e carismática mistura de gêneros e estilos que conseguem conversarem entre si sem precisar de fazer exatamente uma fusão artística. Brincando e flertando com gêneros como rock, funk, soul, hip hop, indie pop, Lizzo entrega um explosivo álbum R&B/pop que claramente não tem intenções de ser algo revolucionário sonoramente, mas que sabe como carregar perfeitamente toda a sua exuberância artística de forma exemplar. Cada canção é uma aventura sonora diferente que deixa o álbum como uma jukebox que tem apenas a presença da cantora como ponto de coerência. E isso é suficiente para fazer de Cuz I Love You um trabalho fluído, coeso e de uma cadência fenomenal. Mesmo quando aparece uma balada, o álbum não perde cadência devido a força da Lizzo. Mesmo que a cantora mude de estilo ao ir de cantora para rapper ou de rapper para cantora ou os dois ao mesmo tempo, o álbum tem a base perfeita para Lizzo navegar sem perder o ritmo. Mesmo quando o álbum dá uma leve escorrega, a produção consegue salvar qualquer perda de qualidade ao deixar a cantora brilhar sem nenhuma amarra. E quando está alinhado, Cuz I Love You entrega momentos sensacionais como a balda soul/pop Jerome e a genial Boys que entra como um bônus, mas que cai perfeitamente dentro da "história" do álbum. Liricamente, Cuz I Love You pode não ser genial, mas é recheado de momentos inspiradíssimos."

6. Charli
Charli XCX


"Charli é, ao mesmo tempo, um trabalho quase perfeito do mais puro, comercial e tradicional electropop e o mais refinado e inovador trabalho de avant-pop que beira o art pop. E, várias vezes, a produção consegue entregar os dois ao mesmo tempo dentro da mesma canção. Ouvir o álbum da Charli XCX é uma jornada tão impressionante que ao final dos seus cerca de cinquenta minutos é capaz de nada fazer sentido e de alguma forma ser tão obvio que assim que o pop deveria ser concebido. Capitaneado principalmente pelo DJ A.G. Cook, o álbum é dançante e despretensioso quando precisa ser. É sombrio e profundo no momento exato. Leve e divertido como um bom pop deve ser quando a batida pede essa atmosfera. Madura, experimental e com uma pegada quase não comercial quando a instrumentalização precisa refletir algo com uma força emocional mais pungente. Explosiva, contida, clean, dirty, sensual, cheia de nuances, direta, delicada, metálica, queer, inovadora, tradicional, industrial, ousada são alguns adjetivos que se encaixam como uma luva para denominar todo o espetacular sonoro que a Charli XCX entrega em um álbum inspirado e inspirador. É nem precisa de muito tempo para a cantora mostrar toda a sua força, pois logo na segunda canção a mesmo entrega a pérola Gone que pode ser definida como "uma mistura azeitada e pouco usual de electropop com influências de industrial e pc-music que cria uma batida esquisita, cadenciada e pouco convencional. E, mesmo assim, Gone é o tipo de canção pop que deveria estar no topo das paradas devido a sua originalidade e qualidade."

5. GREY Area
Little Simz


"Little Simz é dona de uma poética que, assim como o seu flow, se destaca pela sua franqueza, visceralidade e uma intensidade quase palpável. E, principalmente, as composições em GREY Area não tem nenhum medo de enfiar todos os dedos na ferida. Falando com a mesma urgência sobre assuntos espinhosos como o problemas da violência armada, empoderamento feminino, depressão e nostalgia, Little Simz é uma cronista excepcional que consegue dar um camada de poesia urbana nas suas letras, refletindo fortemente a partir de seu ponto de vista. Sem se utilizar de grandes construções semânticas ou palavras que é necessário um dicionário para compreender os seus realis significados. A rapper é de uma clareza comovente, sabendo como construir cada canção de uma maneira que consiga expressar seus pensamentos como se estive em uma simples conversa. Sem esquecer, porém, de um verniz artístico rústico e, ao mesmo tempo, delicado que apenas eleva as composições. Um bom exemplo é a canção que encerra GREY Area: Flowers com a presença do ótimo Michael Kiwanuka é uma surpreendente e tocante faixa sobre depressão e as desvantagens de se tornar famoso, dedicando um verso inteiro que remete a vida da Amy Winehouse. Sonoramente, o álbum é um trabalho impressionantemente contido.

Capitaneado quase que totalmente pelo produtor Inflo, GREY Area poderia ser uma obra que fosse sonoramente gigantesca com propósito de "segurar" todo o peso que a rapper despeja em suas performances e nas suas letras. Entretanto, o produtor decidiu seguir o caminho contrário ao dar para o álbum uma sonoridade comedida. Misturando perfeitamente hip hop com eletrônico e influências de gêneros típicos da Inglaterra, a produção é capaz de criar uma sonoridade que consegue reverenciar o já estabelecido e mostrar algo excitante e novo. Cheio de nuances e texturas, mas sem nenhum pingo de exagero, GREY Area é um trabalho coeso, dinâmico, cheio de personalidade própria e que deixa a maioria dos álbuns de hip hop lançados esses anos simplesmente no chinelo. Na verdade, apenas três das melhores canções do álbum já iria alcançar esse feito: começa pela pesada, badass e empoderada Boss, passa para Venom com Little Simz entregando uma performance perfeita e chega na fusão de hip hop com idie rock/pop com participação da banda Little Dragon. Outros momentos que merecem ser destacados são Wounds e Sherbet Sunset."

4. Western Stars
Bruce Springsteen


"Conhecido pelo seu rock, mais precisamente por ter popularizado o chamado heartland rock, Bruce Springsteen se volta para uma sonoridade mais raiz ao entregar em Western Stars uma espetacular e grandiosa mistura de rock com americana, country e folk. Inspirado por nomes como a lenda do country Glen Campbell e a outra lenda do cancioneiro americano Burt Bacharach, o cantor volta a suas origens ao ter como base não a sua banda E Street Band e, sim, uma orquestra completa para tocar os instrumentais de todas as canções. Essa mudança não é algo realmente novo, pois o mesmo já trabalhado dessa maneira no começo da carreira lá pelos começo dos anos '70. A decisão não altera a qualidade do trabalho de Bruce, acrescentando uma sensação de encorpar as instrumentalização das canções e ajudando a dar ainda mais a sensação de contemplação que as composições remetem o tempo todo. Apesar de não apresentar nada exatamente novo, a sonoridade do álbum é de uma elegância madura, de uma classe atemporal e de uma força emocional que toca com o ouvinte de forma gradual e constante como o calor de uma fogueira. Talvez um pouco longo demais, deixando o meio do álbum um tiquinho arrastado, Western Stars não se afeta no quadro geral ao ser um dos álbuns mais inspiradores do ano. E um desses momentos de maior brilho é o genial single Hello Sunshine que a defini como sendo uma "robusta, poderosa e madura country rock/rock com uma instrumentalização substancial e complexa, mas que consegue passar toda a tocante quietude que o cantor quer passar na sua genial composição". Outros momentos de destaque ficam por conta da dupla que abre o álbum Hitch Hikin' e The Wayfarer, a delicada Drive Fast (The Stuntman), a simples e tocante intro Somewhere North of Nashville e, fechando de forma sensacional, a linda Moonlight Motel. Apesar de já ter tido que não irá fazer uma turnê do álbum e que já está em gravação para um novo álbum com a E Street Band, Bruce Springsteen nos contempla com uma obra que não faz feio perante os seus grandes os seus grandes momentos e ainda adiciona uma maravilhosa curva em uma carreira genial."

3. HOMECOMING: THE LIVE ALBUM
Beyoncé


"Com quase duras horas de duração, HOMECOMING: THE LIVE ALBUM revisita de forma justa, coerente, enxuta e bem construída todas as eras da cantora, dando espaço para os novos e velhos sucessos da cantora e, também, para as canções menos conhecidas da carreira. Isso é algo que para quem conhece o trabalho da mesma já notou que é recorrente em suas apresentações. O grande diferencial aqui é a forma magistral e, sem nenhuma dúvida, que chega as raias da genialidade de como o show foi montado do começo ao fim. Baseando em uma estrutura já consagrada em seus shows, a cantora e a sua equipe injeta com doses cavalares nuances, texturas, batidas, samples, quebras de expectativas, mudanças de cadência e outros artifícios para transformar as canções em novas obras que, mantendo a base original, se elevam sonoramente para outros níveis. Estamos diante das canções que já conhecemos da Beyoncé, mas, ao mesmo tempo, o público é brindado com uma nova coleção de canções que ganham vida com a força multiplica. Essa característica é a base principal da primeira metade do show, pois a segunda realiza um trabalho artisticamente diferente em relação das canções e como são executadas. E é por causa dessa primeira parte que o trabalho realmente ganha o seu espaço como um dos melhores álbuns ao vivo da história."

2. MAGDALENE
FKA twigs


"Cada escolha lírica é feita de forma cirúrgica para que tudo possa ser expressado de forma direta e sem nenhum tipo de rodeios, mesmo que a mensagem pretendida seja de uma complexidade impressionante. Um excelente exemplo é o genial primeiro single cellophane que defini na sua resenha que "mesmo que a composição deixa espaço para uma sensação que poderia ter mais versos, Cellophane é uma crônica cortante e tocante sobre solidão e a dor de entregar tudo para alguém e receber quase nada em troca.". Cada escolha reflete perfeitamente a tenacidade e a inteligência que a artista coloca sobre a construção de todas as faixas. Transitando do melancólico para o empoderado, do coração quebrado para o apaixonado, do esperançoso para o desesperado sem perder o foco criativo e, principalmente, a força emocional, FKA twigs entrega em MAGDALENE um verdadeiro soco no estomago do seu começo ao fim, mexendo com os sentimentos mais doloridos que uma pessoa pode ter. E melhor de tudo é que a maioria das composições é fácil entendimento para qualquer pessoa devido a escolhas semânticas que nunca deixas as letras soarem como algo feito apenas para aqueles com uma compreensão aprofundada, conseguindo conectar de forma direta com o público. Essa característica fica bem evidenciada na excepcional mirrored heart que, editando algumas partes, poderia fácil ser a composição de uma grande balada pop tradicional. Dilacerante e de uma melancolia desconcertante, a canção entrega um dos melhores versos de todo o álbum:

But I’m never gonna give up
Though I'm probably gonna think about you all the time
And for the lovers who found a mirrored heart
They just remind me I'm without you

A profusão emocional que MAGDALENE não teria a mesma eficiência se não fosse pela entrega de FKA twigs em performances irretocáveis. 

Dona de uma voz que consegue misturar uma delicadeza quase quebrável com uma poder quase hipnótico, um timbre que vai do angelical ao sombrio em questões de segundos e uma técnica impressionante, FKA twigs é a liga que transforma MAGDALENE em uma obra realmente transcende as expectativas. Mesmo que use de artifícios de efeitos vocais em vários momentos, a presença vocal da cantora é tão poderosa e marcante que o ouvinte é atraído e hipnotizado pela suas performances de forma orgânica, conseguindo expressar todos os sentimentos contidos em cada canção de maneira impecável, profunda, inteligente, tecnicamente perfeita e com uma versatilidade única. O melhor momento vocal do álbum fica por conta da épica, avassaladora e empoderada mary magdalene. Outro momento importante vocalmente é na trap indie pop art holy terrain em que a cantor muda a "chave" e entrega a sua performance mais comercial até o momento. E aqui que chegamos no ponto que, normalmente, deveria ser o ponto alto de MAGDALENE: a sua produção. Longe de ser apenas bom, a produção do álbum é um trabalho eficiente, impressionantemente complexo, original e de uma inteligência apurada que entrega uma sonoridade única e de uma qualidade artística e técnica irreparáveis. Todavia, apesar de toda a qualidade, a sonoridade fica em segundo plano devido ao destaque que os outros elementos do álbum possuem no resultado final. E isso é realmente algo impressionante e, de certa forma, muito bem vindo, pois mostra que nem sempre a forma deve sobressair sobre o teor quando estamos falando de artistas com a capacidade sonora de FKA twigs. O mais interessante que MAGDALENE é uma avassaladora, catártica e revigorante mistura de indie pop/R&B e eletrônico que tem como produção que em fallen alien a faixa melhor agrupa os gêneros em uma produção de tirar o fôlego."

1. Ladrão
Djonga


"Nascido em Belo Horizonte, na favela do Índio, Djonga começou a trabalhar com a música aos 16 anos, sendo inspirado por Racionais MCs e pelas poesias que lia na escola. Chegando ao seu terceiro álbum, o rapper não está nada disposto a baixar a cabeça para ninguém e apresenta em Ladrão uma coragem impressionante. Como dito antes, alguns podem achar o rapper arrogante ou marrento, mas essas devem ser características encaradas como sendo extremamente positivas já que são delas que a produção consegue retirar toda a sua força. Djonga não quer apenas meter o dedo na ferida e, sim, rasgar a mesma com a faca mais afiada possível. A intenção do rapper é de provocar para fazer quem ouve repensar, mesmo que seja pelo genuíno choque. Partindo de um ponto de vista que muitos vivem, mas que poucos tem a oportunidade de contarem a sua verdade, o rapper é uma verdadeira metralhadora de verdades nadas secretas, criticas mais ácidas e doloridas que suco de limão nos olhos, reflexões ásperas e uma fúria esmagadora e crônicas nuas e cruas de quem vive à margem da sociedade. Cada faixa é um retrato em alta definição sobre todo o que parte da sociedade quer esconder. Racismo, empoderamento negro, descaso do poder público, cultura afro e embranquecimento são apenas alguns assuntos que Djonga toca em Ladrão. E não apenas tocar, mas, sim, tece uma coletânea de manifestos em forma de música. 

Dono de uma lirica direta, relativamente simples, atual, limpa, sincera e de uma beleza bruta, o rapper alcançar um patamar de criação simplesmente perfeito. Logo na primeira e explosiva faixa já é possível sentir o impacto que o álbum produz no instante que Djonga declara: E parece que liberaram o preconceito/ Pelo menos antigamente esses cuzão era discreto. Hat-Trick é o portal feito de ouro maciço e incrustado de uma verdade desconcertante que dá o tom para toda a verborragia de Djonga. Logo em seguida, o rapper já tinha o chão de qualquer uma ao mandar Bené os versos: O que vale mais: Um jovem negro ou uma grama de pó?/ Por enquanto ninguém responde e morre uma pá. Logo no verso seguindo é possível ver reflexões ainda mais pontuais quando o rapper entoa que "Perplexo só fica quem crê em conto de fadas/ No país onde a facada que não aleija, elege". Ácido, irônico, pontual, atual, sincero e com uma fúria que não nem como não sentir, Djonga faz a sua mensagem ser de uma urgência sufocante. Nem sempre concordo 100% com o rapper, mas não tenho como não desviar os olhos e respeitar cada opinião, cada reflexão e cada critica que o mesmo construir. Lúcido o tempo todo, mas conseguindo sonhar/delirar quando necessário. Forte o suficiente para sustentar as suas mensagens, mas emocional quando o momento pede, principalmente quando toca em assuntos familiares. Conseguindo incorporar o rap internacional com a sua base de influências nacionais, Djonga entrega em Ladrão uma obra de uma grandiosidade que parte do público parece não está pronta para contemplar, mas o mesmo não está disposto a retroceder para agradar quem quer que seja. E olha que sonoramente, o rapper ainda teme espaço para crescer.

Ladrão é um excepcional, grandioso e poderoso álbum de rap/hip hop que consegue costurar referencias do rap nacional com toques do norte americano de forma inteligente e sem abaixa a cabeça. A produção é limpa, direta e com uma versatilidade impecável que dá para cada faixa personalidade única, criando um álbum pungente, épico e de uma força artística sem comparação. Todavia, o rapper ainda pode crescer, pois as canções poderiam serem sonoramente ainda mais arriscadas ao sair dessa altíssima zona de conforto que o mesmo alcança. Texturas, fusões como outros gêneros nacionais ou não, parcerias com artistas de fora do rap/hip hop e ainda mais nuances seriam suficiente para elevar Ladrão ainda mais. De qualquer forma, Djonga entrega uma obra espetacular do começo ao fim que, por enquanto, parece perfeita para o momento. Além dos momentos já citados, o álbum apresenta dois outros momentos geniais: a avassaladora parceria com o rapper Filipe Ret em Deus e o Diabo na Terra do Sol e a homenagem emocionante para a avó de Djonga em Bença. Outros momentos de destaque ainda ficam por conta da romântica Leal, a que dá nome ao álbum Ladrão, a intro Mlk Atrevido inspirada em um samba e a que fecha o álbum FALCÃO que termina com um surpreendente e bem vindo sample de Elis Regina cantando Romaria. Após ouvir o álbum e entender perfeitamente as palavras de Djonga acredito que tenha acordado de uma forma que espero que não vou fechar os olhos nem por um segundo por um bom tempo. E, queridos leitores, esse é uma das funções da música."

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