14 de agosto de 2022

Primeira Impressão

Special
Lizzo




Depois de se tornar estrela exatamente por emular várias qualidades de uma diva pop e, ao mesmo tempo, ir na contramão de outras características que limitam quem pode ser um artista pop de sucesso, a Lizzo volta ao demostrar de maneira exemplar que o seu imenso talento aliado com a sua personalidade única é o elemento capaz de elevar um álbum pop como é o caso de Special. Entretanto, o resulta final do álbum não consegue esconder alguns tropeços da sonoridade da cantora, especialmente comparando com a genial antecessor Cuz I Love You.

Vamos tirar o lado ruim de lado ao falar primeiro dos erros de Special. O principal é a sua produção que entrega um divertido, leve, despretensioso, mas sem muita vontade de criar algo que fosse realmente criativo e único. Repetindo a mesma estrutura sonora de misturar R&B, pop, rap e hip hop do álbum anterior que é salpicado pela imensa personalidade da Lizzo, Special definitivamente não termina sendo especial, mas, alguns vezes, soa genérico demais. Uma das melhores qualidade de Cuz I Love You é que “cada canção é uma aventura sonora diferente que deixa o álbum como uma jukebox que tem apenas a presença da cantora como ponto de coerência”. Essa qualidade é perdida devido ao fato da produção querer fazer o maior numero de canções potenciais virais ao serem rápidas e rasteiras e, também, parecer contar apenas com a força da Lizzo para o trabalho realmente explodir. Especialmente na primeira parte do álbum é possível observar esse caminho tortuoso que a produção percorre. Existe, porém, um ponto fora da curva que realmente funciona perfeitamente e se torna o melhor momento do álbum: About Damn Time. “A canção não mostra um lado da cantora, mas, sim, continua a sua capacidade de entrega uma divertida, energética e empoderada pop/R&B em que a força da cantora é combustível necessário para fazer a canção funcionar”. Quando o álbum começa sua segunda parte é que começamos a ouvir um trabalho mais fluido e realmente a par com a identidade da cantora. E é aqui que entra outro detalhe que também atrapalha o álbum.

É bem claro que Lizzo é uma artista com uma mensagem. Body positive, empoderada e ressaltando o amor próprio, a cantora quer levar a sua identidade carismática, magnética e poderosa para todos poderem ouvir. Isso é uma das melhoras qualidade da cantora, mas, sinceramente, a forma como é construído os temas das canções se torna repetitivas, pois sempre recorrem aos mesmos recursos como, por exemplo, um conselho para uma amiga ou um conselho recebido de uma amiga, uma epifania sobre si mesma ou uma reflexão depois de um romance tóxico. E mesmo que sejam muito bem escritas e tenham realmente ótimas mensagens, a maneira como são construídas terminam soando repetitivas e sem a força que mereciam ter devido a ótima intenção. E mesmo perdendo certa força é necessário dizer que alguns momentos são acertados como da canção que dá nome ao álbum: Special é uma ótima power balada pop/soul sobre a necessidade de lembramos de nos amar. Quando a Lizzo diz no refrão “In case nobody told you today/ You're special” existe uma sinceridade tocante que faz a gente sentir a importância desse tipo de mensagem para a cantora, mesmo que tendo que mudar como a mesma entrega essas perolas de sabedoria. O álbum mesmo que não voe altíssimo apresenta outros momentos realmente de destaque como é caso de Break Up Twice e o ótimo uso do sample do clássico Doo Wop (That Thing) da Lauryn Hill, a sexy e sexual Naked, a divertida I Love You Bitch e a deliciosa pegada disco/soul Everybody's Gay. Carregando todas com o seu imenso carisma e versatilidade vocal, Lizzo continua a sua trajetória de ser a diva pop que o mundo pop não sabia que precisa até o seu surgimento.

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