19 de agosto de 2022

Antes Tarde do Que Nunca

Try This
Pink



Existe uma categoria de álbuns que apenas conseguimos perceber a sua existência anos depois do seu lançamento, pois o contexto entre o antes e o depois do seu lançamento só pode ser entendido em retrospectiva. Uma caso perfeito de um álbum de transição é o terceiro trabalho da P!nk: o esquecido Try This. Quase vinte anos depois do seu lançamento, o álbum pode não ser tão marcante comercialmente para a carreira da cantora já que na época foi considerado um flop e quase “acabou” a carreira da estrela em ascensão. Todavia, ao olharmos com cuidado é possível notar que sem Try This não seria possível termos a estrela pop que acabou se consolidando a P!nk nos anos seguintes. E pessoalmente, o álbum é uma das minhas mais ternas lembranças da minha adolescência e um dos meus alicerces da minha paixão por música pop.

Quando lançou o trabalho em 2003, a cantora tira acabou de ter um começo de carreira arrasador. Em 2000, o debut Can't Take Me Home teve sucessos como Most Girls e There You Go fez com que a cantora fosse conhecida nos Estados Unidos. Um ano depois, a cantora lança o arrasa quarteirão de Missundaztood que a catapultou para o estrelato mundial com cerca de 13 milhões de copias e hits marcantes como Get the Party Started Don't Let Me Get Me. Além disso, a cantora venceu o Grammy devido a sua participação em outro momento importante da música pop: a regravação de Lady Marmalade. Entretanto, Pink não estava exatamente feliz com os rumos da sua carreira, pois nada daquilo parecia estar refletindo a sua personalidade de fato. Primeiro, tentaram encaixar em um molde R&B para depois deram um pouco mais liberdade, mas ainda tentarem a vendar como uma pop star que seria apenas a resposta rebelde para a Britney Spears. Pressionada pela então gravadora para entregar um novo sucesso como Missundaztood, P!nk relata que realmente teve crises de choros durante a promoção de Try This devido ao stress que estava sentido naquele momento. Apesar de todos os problemas, a cantora conseguiu entrega no álbum algo que refletisse de certa maneira a sua personalidade, gerando quase uma planta base par ao que seria a sua carreira dali para frente.

De forma bem resumida, Try This é uma trabalho de pop/pop rock em que a P!nk deixa bem claro a sua capacidade de criar algo que tenha a sua distinta personalidade de forma a se distanciar das suas contemporâneas. Ácido, divertido, honesto e com uma visão bem direta, o álbum mostra exatamente o começo do refinamento das principais qualidade que viram a marcar a carreira da cantora nos próximos trabalhos. Nesse álbum, porém, a cantora ainda parece perdida ao pender para uma um rock/experimental que meio que não tinha muito lugar para ir além da sincera vontade de ser original e buscar novos caminhos. Isso não é exatamente um grande erro, pois quando a produção de Tim Armstrong, principal colaborador dessa época, acerta o tom é sempre um prazer ouvir o resultado final. Trouble é atualmente quase um cult classic, especialmente devido a seu uso em vários filmes e séries ao longo dos anos, mas na época foi um fiasco ao alcançar apenas o 68° da Billboard na época. Em questão de qualidade, a canção é um carismática e potente punk rock/pop com uma força tão genuína e refrescante que ainda parece ser um trabalho lançado recentemente. E a canção como abre alas do álbum é como uma apresentação sobre como a P!nk queria ser reconhecida na época sonoramente e como personalidade. O grande problema da produção é completa falta de foco em saber qual seria exatamente a personalidade da cantora que queria mostrar, pois a produção busca várias influencias sem necessariamente dizer qual é exato o porto seguro. Entretanto, existe um momento de genialidade pura escondida que se mostra como o verdadeira farol para a carreira da P!nk.

God Is a DJ é seguramente uma das melhores canções da cantora. Uma dance-rock eletrizante que mostra o caminho para os sucessos dançantes/animados/uptempos que seriam lançados nos anos posteriores como Stupid Girls, U + Ur Hand, So What, Raise Your Glass, para citar alguns. Entretanto, o que a canção mostra de fato é a capacidade de P!nk em criar uma letra ácida, honesta, engraçada e com um refrão marcante. Toda a personalidade que conhecemos da cantora está impressa na canção por completo, mas que aqui parecia mais uma nova faceta do que a persona definitiva da mesma. Outra qualidade de P!nk é mostrada em Try This é a sua habilidade para baladas românticas pop. Catch Me While I'm Sleeping é um pouco longa demais, mas é uma linda balada pop/R&B que aborda o mesmo assunto que I Don't Believe You de 2008 ao falar sobre as idas e vindas de uma romances conturbado. Love Song é uma doce e delicada balada em forma de declaração de amor. Entretanto, o melhor momento nesse quesito é a densa indie rock com inspiração dos anos setenta Waiting for Love em que a cantora também deixa claro o seu poder vocal. Outros momentos de destaque do álbum é a electro-rock Last to Know, a sexy indie pop/pop rock/electropop Oh My God com participação da cantora Peaches, a direta pop rock Try Too Hard que poderia ser tema de uma das temporadas da Malhação na época e, por fim, a psychedelic rock Feel Good Time com produção do lendário William Orbit e tema esquecido do filme As Panteras – Detonando. Devo admitir que tenho um carinho especial Try This devido a ter sido um dos melhores primeiros CD’s comprados na minha adolescência e é sempre revistar um momento tão importante da minha vida. Colocando esse fator pessoal, o álbum é um trabalho bem a frente do seu tempo que verdadeiramente naufragou nas paradas e em vendagens, especialmente comparado com os trabalhos anteriores da cantora. Entretanto, o álbum é o que fez exatamente a P!nk ser a cantora que se transformou e por isso merece ser celebrado.


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