Perfume Genius
O principal defeito do álbum anterior do Perfume Genius era quando a segunda parte de Set My Heart on Fire Immediately descambava para um indie/experimental que tecnicamente funcionava, mas era o completo oposto a construção brilhante de um caldeirão efervescente de gêneros e estilos da primeira parte. Para o seu novo projeto, o cantor decidiu explorar ainda mais o lado experimental ao refinar de maneira impressionante a suas ideias para entregar o deslumbrante e soturno Ugly Season.
Acredito que possivelmente Mike Hadreasm, nome de nascimento de Perfume, tenha olhado para o que tenha resultado a parte final do álbum anterior e tenha decido refinar esse “material”, criando um álbum que basicamente uma longa, densa, sombria e espetacular ensaio experimental sobre art pop. Ao contrario do resultado anterior, o resultado aqui é de uma excentricidade fluida, inspirada e revigorante, mesmo não tendo uma grama de qualquer recurso comercial. Ugly Season é como um filme de arte que deve agradar conhecedores e amantes do gênero, mas afastar aqueles com um gosto mais abrangente. Não que seja impossível e, sim, um trabalho que realmente demanda uma atenção peculiar e especial. Novamente trabalhando com o produtor Blake Mills, Perfume Genius entrega especialmente um dos trabalhos instrumentais mais deslumbrantes dos últimos anos.
Se fossemos tirar os vocais da equação, Ugly Season poderia facilmente ser uma trilha sonora incidental de uma filmes como, por exemplo, O Cavaleiro Verde. Assim como o excepcional final, o álbum consegue misturar de maneira extraordinária uma visão moderna do que seria a base da sua construção com um verniz narrativo moderno, inteligente e de uma sagacidade estética arrebatadora. Com um cuidado extremo para a sua realização, a produção consegue avançar as explorações sonoras ao unir de maneira fluida as inclusões de gêneros como, por exemplo, música clássica, baroque pop, industrial, indie e chamber pop. E isso poderia facilmente descambar para uma pretensiosidade ridícula ou/e uma falta de substância gigantesca. Felizmente, existe um entendimento tão natural sobre como conduzir por esse mar de possibilidades que realmente é impressionante de uma maneira quase tocante. Na verdade, acredito que a emoção genuína que é adicionada na elaboração de Ugly Season é que seja a base mestra e sólida de todo o peso da gigantesca intenção por trás da sua criação. E melhor momento do álbum é um resumo de todas as qualidades em estado de graça condensado em apenas uma faixa é a sublime Herem. Com mais de sete minutos, a faixa é quase um devaneio febril e celestial em que é misturado uma quantidade grande de texturas sonoras em uma hipnótica melodia. É grandiosa e imponente, mas parece saído de lugar tão intimo e pessoal que ajuda a dar força emocional para o resultado.
Dono de um lírica relativamente contida e sempre devastadora, o cantor entrega aqui composições ainda mais simples gramaticalmente, mas com um apelo poético imenso, confessional e beirando ao surrealismo. Em Teeth, uma etérea e bela art pop, o cantor fala sobre pequenas e importantes memorias de forma quase minimalista, invocando imagens surreais:
A bowl of lemons
My silk and fine array
A fading garland
A skull set on a plate
Apesar de serem econômicas, a força que é colocada pela impressionante performance de Perfume Genius ajuda a dar vida em um trabalho realmente poderosa. Sabendo misturar o seu lindíssimo e assombroso agudo com o seu lado mais contido e grave, o cantor entrega momentos de pura magia vocal com performances esplendorosas, mesmo que devido a magnitude de toda a produção fica levemente em segundo plano. Em Pop Song, provavelmente a canção mais fácil de degustação, apresenta o cantor em pleno uso das suas facetas vocais ao misturar de forma natural os dois lados quase como se fosse dois artistas diferentes. Outros momentos geniais de Ugly Season ficam por conta da inspiração do oriente em Eye in the Wall, a industrial e soturna Hellbent, a romântica e sensual Photograph. Ugly Season funciona de verdade, porém, como uma massa única devido a construção fluida saída da mente de um artista que realmente parece querer sempre quebrar as suas próprias barreiras.
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