Olivia Rodrigo
Ao fechar a resenha de Sour da Olivia Rodrigo escrevi que “nova voz de uma geração, Olivia Rodrigo ainda tem muito espaço para crescer artisticamente e como pessoa, deixando aberta a possibilidade clara de se transformar de uma diva meteórica para uma verdadeira constelação”. Um pouco mais de dois anos depois, a jovem lança o seu segundo trabalho Guts e para a minha total surpresa começa já a provar essa minha profecia ao entregar um álbum com um claro amadurecimento performático, uma evolução lírica impressionante e com uma sonoridade lapidada.
Continuando a sua parceria com o produtor Dan Nigro, a cantora pega tudo o que deu certo no álbum de estreia e o eleva para um novo patamar ao maturar, refinar e apurar tudo de maneira a mostrar evolução sem perder o eixo central que a fez ser um fenômeno. Acredito que a melhor definição para os dois álbuns é colocar Sour como o produtor de uma adolescente com o coração quebrado em busca de vingança/expiação enquanto Guts é o seu “coming of age” para fase adulta em que a cantora está ainda refletindo sobre suas desilusões amorosas ao mesmo tempo que busca encontrar a sua persona como artista e como pessoa. E apesar disso se espalhar por todo o álbum, a maior e melhor evolução é na parte lírica.
Sem ser exatamente genial, o álbum apresenta uma coleção realmente impressionante de composição que conseguem ser um raio de criatividade, inteligência, acidez e apuramento técnico impressionante. O resultado final consegue captar de maneira perfeita essa sensação do álbum ser esse rito de passagem em que o publico é levado para entrar na mente de uma jovem vinte anos em que não apenas existe um turbilhão de emoções rodando a sua mente, mas que é adicionado uma tonelada devido a se tornado uma das maiores estrelas pop da atualidade. E, queridos leitores, estamos diante de verdadeiramente uma artista que tem muito para falar de uma forma que é tão cativante que chega a ser de cair o queixo em alguns momentos. Claro, a autoria da maioria das canções foi dividida com Nigro e alguns “convidados” (Julia Michaels e Amy Allen), mas é necessário apontar que a personalidade de Olivia está se desenvolvendo lindamente com uma excepcional cronista da sua geração. Quando a cantora lançou o seu primeiro single do álbum já tinha percebido essa evolução clara ao apontar que Vampire tinha “uma clara visão amadurecida que pode mostrar que a mesma está começando a seguir em frente pessoalmente e artisticamente”. Entretanto, o resto do álbum é ainda melhor ao mostrar as nuances brilhantes que vão sendo reveladas a cada nova canção. Até mesmo quando o resultado geral não é no mesmo nível que o resto do álbum sempre apresenta uma composição bem acima da média. E a grande cereja em cima do bolo fica logo no começo do álbum com a sensacional indie/folk/pop punk all-american bitch em que a cantora expõe as suas inseguranças com a sua imagem perante o público ao tentar ser “perfeita”. Existe um toque de ironia tão delicado, mas bastante presente, que faz da canção quase como um tapa com luva de pelica que deixa que percebe meio sem jeito. E a performance sensacional de Olivia ainda escava novos lugares para levar a sai mensagem para outro parâmetro.
Na verdade, a cantora é outro pilar essencial para que Guts seja um acerto. Não apenas dona de uma voz potente capaz de segurar baladas com precisão, Olivia demostra uma versatilidade natural ao ir transitando de maneira fluida pelas curvas, altos, baixos, saídas e entradas que o álbum vai tomando. Por exemplo, a jovem seguro de maneira contida e madura a balada pop rock Making the Bed com a mesma força que dá vida para get him back! e a sua batida pop punk/rap inspirada no No Doubt para depois encorpar emocional com a power balada pop teenage dream e seu final apoteótico. Apesar de ser um dos momentos menos inspirados, Bad Idea Right? tem uma das melhores performances da cantora no álbum ao conseguir “com ajuda de uma produção vocal excitante ir pelas lacunas da canção adicionando personalidade ao mostrar versatilidade imensa”. Guts poderia ser ainda melhor se sonoramente estive ainda mais aprofundado.
Existe uma mudança sonora em Guts em que são adicionados pinceladas mais pesadas de punk, folk, alternativo e indie que dá um verniz amadurecido para o resultado final. Todavia, o cerne da sonoridade do álbum é punk/pop teen/pop rock que relembra o álbum anterior. Com uma excepcional produção técnica do começo ao fim, o álbum é um trabalho sólido como uma rocha, vigoroso e de uma finalização inspirada. O problema é que depois de ouvir o seu total fica uma sensação que tudo poderia ter sido elevado ao cubo de maneira a dar mais urgência artística a para o trabalho. Para isso, porém, algum potencial comercial poderia até se perder, mas acredito que Nigro poderia facilmente ultrapassar esse obstáculo. De qualquer forma, Guts apresenta ótimos momentos que precisam ser ressaltados: a batida alternativa e áspera de Ballad of a Homeschooled Girl, a entonação emocional da cantora em logical, a delicada trágica de the grudge e, por fim, a honestidade desconcertante da pop rock pretty isn’t pretty. Ainda acredito que Olivia Rodrigo ainda crescer nos próximos anos, mas Guts já é um passo imenso e importantíssimo para sua promissora carreira.
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