The Age of Pleasure
Janelle Monáe
Janelle Monáe tem na minha opinião uma das melhores sequências de primeiros álbuns da história da música: The ArchAndroid de 2010, The Electric Lady de 2013 e Dirty Computer de 2018. E é por isso que “perdoo” o lançamento The Age of Pleasure. Longe de ser um trabalho ruim, o quarto álbum da carreira da cantora é uma obra menor, especialmente comparando com a sua colossal discografia.
Acredito que o principal motivo para que o trabalho não tenha a genialidade que os anteriores é o ponto que era o grande trunfo anteriormente: o conceito. Na verdade, não é exatamente o conceito e, sim, a construção desse conceito. The Age of Pleasure é uma celebração efusiva, sexy, despretensiosa, divertida e alto astro sobre sexualidade, amor, queer e o sentimento de ser quem é sem reservas. E isso é atingido muito bem, pois depois de terminar de ouvir o álbum você vai se sentir na vibe de colocar uma roupa de praia, pedir um drink e ir celebrar em um luau até de manhã sem pensar nos problemas. Para isso, a produção que conta com vários nomes, incluindo o de Monáe, escolhe uma mistura deliciosa de reggae, funk, soul, afrobeat e R&B para ir navegando nessa festa sonora. E com a qualidade artística da cantora é fácil perceber o quanto natural essa sonoridade é para a cantora, mostrando uma afinidade fluida e uma alegria genuína de estar entregando essa sonoridade. O que impede aqui do álbum de explodir como poderia é a estrutura que se constrói para The Age of Pleasure.
Para quem conhece um pouco da maneira em que a cantora opera sabe que seus álbuns são trabalhos conceituais recheado de intros e transições que ligam pontos dentro da sua narrativa sonora e temática. E em The Age of Pleasure não poderia ser diferente, mas o problema que aqui o artificio não funciona por dois motivos. Primeiro, a maioria das intros deveriam ter sido incorporadas na canção anterior ou/e posterior. Um ótimo exemplo é a sequencia da faixa Haute para a intro Ooh La La e depois para o single Lipstick Lover. A segunda é uma clara parte da primeira, mas perde o foco quando colocada sozinha e as três perdem força no final das contas. Além disso, o verso narrado por Grace Jones deveria por obrigação ser melhor trabalho. Se a produção tivesse feito apenas uma canção unindo essas três teríamos uma música sensacional. Em segundo, várias canções são tão rápidas e efêmeras que a produção não consegue aproveitar todo o potencial das suas ideias devido a maioria das faixas terem nem dois minutos e meio direito. E Monáe nunca teve dificuldades em criar uma música longa que extraísse todo o “suco” suculento e delicioso por trás. Apesar desse tropeço, The Age of Pleasure tem momentos inspirados como é o caso do ótimo single Float ao ser “um suingado, cativante e delicioso pop rap com toques de R&B que consegue quebrar qualquer resistência e fazer quem escuta remexer na cadencia da batida. A utilização dos instrumentais/samples dos artistas de afrobeat Egypt 80 e Seun Kuti (pai e filho respectivamente) dá uma significação para Float que a faz ainda mais preciosa. Enérgica e iluminada, a é uma celebração contagiante que narra como Monáe alcançou a sua autoestima ao narrar seus altos e baixos”, Phenomenal e sua inspiração na cultura Ballroom que parece ter saído de The Electric Lady que conta com a presença inspirada da rapper Doechii, a sensualíssima The Rush e a balada R&B/reggae Only Have Eyes 42. Completamente perdoada desses erros, Janelle Monáe mostra que até quando sai dos trilhos ainda entrega algo realmente divertido.
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