31 de julho de 2022

Primeira Impressão

Big Time
Angel Olsen




Contexto é “inter-relação de circunstâncias que acompanham um fato ou uma situação”. Um bom não precisa realmente de contexto para que possamos sentir toda a sua potencialidade artística, mas sabendo é sempre bom entender com mais profundidade o escopo da entrega de um artista que representar nas suas palavras e melodias. Em Big Time, a cantora Angel Olsen entrega uma trabalho excepcional que funciona perfeitamente com a gente apenas escutando, mas ganha novos contornos ao descobrimos o contexto da sua gravação.

Durante o processo de gravação de Big Time, Angel Olsen revelou ser gay e perdeu seus pais em um curto período de tempo. Esse gigantesco peso emocional e turbilhão de emoções foram focados para a construção do álbum, criando uma atmosfera contemplativa, melancólica e, por vezes, de expiação. E mesmo sem saber os bastidores da gravação é possível perceber toda a carga emocional em cada uma das canções e realizar que foi preciso uma artista com capacidade imensa de exprimir de forma verdadeira tudo isso em um álbum de cerca de quarenta e cinco minutos. O mais incrível é notar que Angel não pesa a mão para gerar algo excessivamente dramático, mas, sim, tocante, sincero, e de uma delicadeza sublime. Em Dream Thing, a cantora relata de maneira simples e poética as conversas que não conseguimos ter com quem amamos quando percebemos o tempo se acaba e percebemos que nunca mais vamos ter a mesma chance. Sem saber do que pode se tratar, a faixa já é poderosa, mas ao encaixarmos com a história de Angel o resultado toma uma proporção ainda mais emocional e devastadora. De forma sutil, a cantora fala sobre finalmente poder mostra a sua forma de amar e ser amada na linda e sensível All the Flowers. Toda essa carga emocional parece ter guiado a cantora e o coprodutor Jonathan Wilson em direção ao country/americano/folk, mesmo que a parte final penda mais para o indie.

Emoldurando grandes nomes do country/americano, a produção de Big Time entrega um trabalho lindamente instrumentalizado, sonoramente bem pensado ao saber misturar a homenagem com o toque pessoal e moderno e com uma mixagem de som espetacular. E esse último ponto pode parecer meio estranho mencionar, mas o álbum tem essa qualidade tão aflorada que fica difícil não notar a coerência entre todos os instrumentos que o resultado final parece terem sido moldados como apenas um, criando um bloco sólido, fluido e impressionante. E a direção artística adiciona a camada perfeita para criar uma sonoridade impecável que consegue captar toda a força das composições ao ser contemplativo e ao mesmo tempo que é um veiculo de expiação para as dores de Angel. E o melhor momento de todo álbum que consegue expressar toda as qualidades de apenas uma vez em estado de graça é a genial All the Good Times: “uma comovente e sóbria indie rock/folk/country que apresenta uma excepcional instrumentalização. Conseguindo recriar uma sonoridade tradicional que remete aos grandes momentos dos gêneros citados, especialmente do country/folk, a cantora entrega um trabalho que parece emoldurar os trabalhos de lendas como Pasty Cline e Loretta Lynn com uma dose de modernidade classudo, elegante e encorpado”. E a cereja mais suculenta em cima do bolo fica por conta dos contidos e sempre lindos e emocionais vocais de Angel que entrega grande performances uma atrás da outra, sabendo transitar entre o lado country/folk (Ghost On) para o americano (Right Now) para o indie rock (Through the Fires e, especialmente, Chasing the Sun) de maneira impecável, emocionante e sempre com uma carga de personalidade gigantesca. Big Time é um álbum precioso, primoroso e devastador em que Angel Olsen se propõe abrir o coração de forma tão sincera que consegue emocionar do começo ao fim sem nem precisar ter quem ouve saber de nada sobre o vai escutar.


Nenhum comentário: