Black Country, New Road
Nos últimos anos, o meu interesse por artistas que fogem do que estou acostumado a escutar dentro do panteão pop cresceu bastante, especialmente no dentro do rock alternativo. Uso essa denominação de rock alternativo, pois é a que mais perto de melhor representa a sonoridade intricada de vários nomes como, por exemplo, black midi, Lingua Ignota, Squid, entre outros. Devido essa minha exploração que posso avaliar e realmente gostar do ótimo Ants From Up There da banda Black Country, New Road.
Segundo álbum da banda britânica, sendo que o debut foi lançado no ano passado intitulado For the First Time, Ants From Up There é trabalho de art rock, chamber pop e post-rock que encanta e assusta pela sua grandiosidade deslumbrante em todos os momentos. E isso se dá devido a impressionante instrumentalização que acompanha cada uma das faixas. E, querido leitores, não estou falando de qualquer trabalho instrumental, mas, sim, de uma coleção de obras primas sonoras em que cada momento é de uma magnitude de condução, produção e finalização. Com uma profusão de instrumentos usados, o Black Country, New Road evidencia cada um dos instrumentos usados de maneira irretocável, pois cada um tem a sua importância nítida na construção das canções sem que nenhum se sobressai mais que o outro. Ao ouvir com cuidado cada instrumental de Ants From Up There é como ouvir uma orquestra completa em estado de graça tocando devido a qualidade que cada momento com um resultado brilhante, robusto, edificante e deslumbrante. Devo admitir que o resultado geral do álbum apresenta alguns problemas no quesito de direcionamento do álbum, mas nenhum deles é relacionado ao trabalho instrumental, especialmente quando todo está no seu devido lugar. E o melhor momento do álbum ficam por conta da genial Bread Song.
Sempre irei elogiar qualquer artista que tenha coragem de entregar atualmente uma canção com mais de cinco minutos, especialmente devido ao mercado atual que tende cada vez mais para o rápido e rasteiro. E irei aclamar qualquer artista que entrega uma canção com a força e qualidade de Bread Song. Uma verdadeira tour de force, a faixa é de uma construção cinematográfica impressionante que consegue fazer uma jornada sonora impressionante devido a sua complexidade sonora. Contida do começo ao fim, mas nunca sem mostrar uma energia pura e constante, a produção conduz a construção de genial instrumental de forma a salientar cada pequena ou grande textura, nuances e quebra de expectativa para tudo seja parte de uma grande pintura musical que consegue de trazer emoções profundas de maneira constante e sempre avassaladora. Com seis minutos e vinte segundos, Bread Song é uma canção que consegue, ao mesmo tempo, passar rapidamente e ser digna de ter essa duração longa. É realmente lindo como a banda trabalha cada instrumentação desse deslumbre sonoro que se torna mais poderoso quando descobri que os integrantes da banda têm entre 21 e 22 anos de idade. Com pouquíssima idade e bem menos de experiência serem capazes de entregar a monstruosidade que é Ants From Up There.
A melhor definição para a sonoridade ouvida no álbum é art rock, tendo pinceladas de rock experimental, indie rock, post-rock, power pop e folk. Entretanto, o escopo da magnitude da sonoridade vai bem além de nomear gêneros e, sim, existir uma clara noção sobre o que é ouvido do álbum é o entendimento mais puro da banda sobre é o que o rock. Versátil, volúvel, grandioso, melancólico, eufórico, explosivo, delicado, clássico, moderno, atmosférico, tocante, áspero e sempre inesperado. Todas essas qualidades e outras que escapam na minha mente fazem parte do álbum que encontra no deslumbrante vocalista Isaac Wood o frontman a altura para explorar toda essa imensidade de emoções de maneira única, inesquecível e terrivelmente estonteante. E o mais importante: o álbum marca o último trabalho dele com a banda, pois o mesmo anunciou que estava deixando o posto de vocalista dias antes do lançamento do álbum. A principal qualidade que o artista coloca nas suas performances é essa sensação de opera rock vinda de influencias dos anos setenta como é perfeitamente mostrado na sensacional The Place Where He Inserted the Blade. Quando o mesmo usa uma persona mais “centrada” surge uma performance sombria e densa como mostrada em Good Will Hunting. Outros momentos importantes do álbum ficam por conta de Chaos Space Marine e sua clara influencia em jazz experimental, a descomunal Concorde, a inesperada delicadeza de Haldern, a climática Snow Globes e, por fim, a linda Basketball Shoes. Ants From Up There é um caldeirão efervescente que encontra na força criativa das ideias primorosas do Black Country, New Road. Será interessante ouvir os próximos trabalhos da banda sem um integrante marcante, mas acredito que a banda ainda tem muito o que mostrar no futuro.
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