29 de dezembro de 2024

Primeira Impressão

Atavista/Bando Stone and The New World
Childish Gambino



Donald Glover é possivelmente um dos artistas mais completos da atualidade, pois, além de manter uma carreira de imenso sucesso como ator/produtor/diretor/roteirista/criador na TV e cinema, o artista através do seu pseudônimo Childish Gambino mantem uma carreira extremamente sólida como rapper. Só esse ano, o artista lançou dois álbuns: um relançamento (Atavista) e uma novo álbum (Bando Stone and The New World).

Mesmo um pouco aquém dos o rapper seria capaz de entregar, os dois álbuns são trabalhos que mostram claramente o espirito arrojado, criativo, inteligente e ousado da visão artística de Donald. Entre os dois trabalhos, Atavista se destaque por resultar em uma obra mais excitante e coesa de maneira geral. Relançamento/revisão do álbum de 2020 chamado 3.15.20, o trabalho é fixado em uma base sólida e rica de hip hop, R&B e rap em que vai sendo trabalhado de maneira a ser enriquecido com camadas de nuances, texturas e sons diversos vindo de gêneros diversos como neo soul, art pop, psicodelia e doses precisas de experimental. Todavia, o fio condutor que é essa base é mantido muito bem, dando estofo e maturidade para o trabalho. É bastante satisfatório perceber o quanto o rapper respeita e admira a base da sua sonoridade, mas também pensa em maneiras de dar a sua visão completamente única e inovadora para sua arte. Devido a isso, o álbum é o dono das melhores canções entre os dois trabalhos. Começa pela incrível mistura de hip hop, experimental, eletrônico e soul de Algorhythm, em Human Sacrifice é adicionado toques deliciosos de música caribenha e afrobeats na batida soul/pop que a torna deliciosamente cativante e, por fim, Final Church finaliza o álbum com uma fusão perfeita de todo de bom que foi mostrado em todo o trabalho.

Em Bando Stone and The New World, Childish Gambino continua a demonstrar as mesmas qualidades de Atavista, mas se perde um pouco ao se apoiar mais no experimental do que na base tradicional. Concebido como um álbum conceitual/trilha sonora do filme dirigido pelo próprio em que interpreta um cantor vivendo em um mundo pós-apocalítico, o trabalho tem adições bem vinda de gêneros como rock, industrial, trap e hyperpop que dão ainda mais profundidade para concepção sonora do rapper. Entretanto, o jogo experimental que é feito não acerta o alvo totalmente, deixando a clara sensação de ser bem intencionado sem ser bem estruturado. Faltou edição mais apurada para cortar algumas arestas e pontas soltas para dar o acabamento necessariamente para a grandiosidade que o álbum pretende ser. Preciso, porém, apontar uma qualidade imutável entre os dois álbuns, mas que aqui se mostra ainda mais pungente: a capacidade performática de Gambino que se mostra exatamente como o Drake queria ser: um rapper que navega plenamente e belissimamente entre o seu flow e o cantar. Na verdade, boa parte do álbum mostra o lado cantor do artista e o mesmo segura lindamente em todos os momentos agregando personalidade cativante. Como dito anteriormente, as melhores canções de uma maneira geral estão no outro álbum, mas aqui também guardam algumas boas surpresas como é o caso da delicada e tocante No Excuses com a participação do genial Kamasi Washington. Outros bons momentos é a sensual In the Night com as participações da Jorja Smith e Amaarae e a poderosa Lithonia. Apesar de estarem longe da perfeição, os dois trabalhos mostram o tamanho da genialidade do Donald Glover.

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