Djo
O cantor Djo é possivelmente um dos nomes mais surpreendentes em alguns anos a lançar um álbum que facilmente deve entrar na lista de melhores trabalhos ao final do ano. E você pode estar perguntando qual o motivo dessa inclusão é pelo que Djo é nada mais, nada menos que o ator Joe Keery, conhecido pelo papel de Steve Harrington em Stranger Things. Além de não saber que o ator tinha uma carreira musical, outra grande revelação é o talento do mesmo que é mostrado em um álbum com personalidade de sobra.
Segundo álbum da carreira do artista, Decide é um maduro, elegante, inspirado e climático trabalho que mistura vários subgêneros do pop como, por exemplo, indie pop, psychedelic pop, indie pop, pop rock, synthpop e electropop em um homenagem/aceno/reconstrução/aceno para sonoridades dos anos oitenta e noventa. Essa descrição parece até que caberia para outros trabalhos recentes e, sinceramente, isso é até verdade em vários pontos. Todavia, existe uma sinceridade genuína no que o Djo entrega durante os deliciosos trinta e seis minutos de duração do álbum. Acredito que é apresentado aqui é a visão do que a geração Z (que Joe faz parte) pensa sobre essa sonoridade pop de forma sarcástica e levemente pedante, mas, felizmente, existe um verdadeiro amor e conhecimento pelo material emoldurado. Isso deixa o resultado com uma clima verdadeiro em que a superficialidade estética e substituída por uma noção de sinceridade sobre o que o mesmo quer apresentar ao não soar como uma parodia/piada. Consigo ligar o álbum com o recente filme Morte Morte Morte em que um grupo de amigos de vinte poucos anos se veem em presos em uma casa devido ao uma tempestade em meio a um mistério de “quem matou”. Apesar do cenário já ter sido usado em outros filmes, o grande destaque é a sátira/crônica dessa geração e as suas idiossincrasias como as redes sociais e as visões sobre as relações interpessoais. O que difere na minha opinião o filme com o álbum é que Djo não faz uma sátira, mas, sim, uma celebração entre a forma homenageada (os estilos musicais) e a substância da sua geração.
On and On é uma espetacular e deliciosa mistura de synthpop/indie pop com toques de soul, rock psicodélico e post-disco que a transforma em uma reluzente joia que a coloca na categoria de melhor de Decide. Apesar da atmosfera quase alegre, a composição é bastante sombria e quase desesperançosa ao tratar sobre assuntos modernos como, por exemplo, o colapso da natureza, pandemia a fixação pela pelas mídias digitais. Djo logo no primeiro verso já mostra o tom da composição:
In my bed
On my phone
Locked away
Free to go
TV on
Every night
Scrolling on
A faixa é a mais direta ao tocar nesses assuntos que o ligam com a geração Z. E mesmo que as outras letras caminhem em uma direção mais “artística” para expressar essas mesmas noções é possível facilmente notar essas aspirações. A trindade inicial de Decide é o exemplo perfeito dessa característica. O álbum abre com a excelente indie pop/synthpop/pop rock Runner (Now you act surprised that you're alone/ Dishonestly is honestly the mark that you must live with), a aspereza dançante de Gloom (I know, my hair looked good in the bathroom at the bar) e, por fim, a experimental e sombria Half Life (I fight the urge to search my name/There's a better me, I swear). Mesmo que essa seja uma das qualidades que mais se destacam em Decide, o trabalho precisa ser reconhecido pelo ótimo trabalho de produção e instrumental. Devo admitir que acho que o álbum ainda falte certa maturidade sonora para dar um passo a mais na construção da persona do Djo, especialmente devido ao fato de faltar um toque de quebra de expectativa para finalizar com um laço de ouro. Além disso, Djo precisa ainda de mais presença vocal, especialmente devido algumas escolhas da produção vocal em algumas faixas. Isso não apaga o fato do cantor ter uma interessante voz que quando usada de maneira inteira eficiente e aproveitando do carisma do artista é capaz de segurar uma balada mid-tempo envolvente como End of Beginning ou a sensual I Want Your Video com toques de Prince. Decide é um álbum que consegue surpreender por vários motivos, mas que deixa claro e sem nenhuma surpresa que talentos como Joe Keery merece ser elogiados.
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