30 de outubro de 2022

Primeira Impressão

Dirt Femme
Tove Lo



Desde o lançamento do seu debut em 2014 (Queen of the Clouds) a Tove Lo vem construindo uma carreira sólida, excitante e sempre de qualidade, mas nunca tinha encontrado a glória. Entretanto, a sueca vinha demostrando pelos singles lançados que algo estava sendo preparado e que poderia ser o ápice da sua carreira até o momento. Obviamente, tudo o hype poderia ser um tiro no pé com novamente a cantora entregando um bom, mas ainda aquém de todo o seu potencial. E isso não acontece com Dirt Femme, o melhor trabalho de longe da carreira da Tove Lo.

É fácil notar que um dos responsáveis para esse feito é o fato que Tove Lo lança o seu quinto álbum de forma independente. Livre de amarras mais profundas com alguma gravadora e completamente dona do seu nariz, a cantora é capaz de entregar de maneira plena a sua visão sobre o pop. E o resultado é o suco mais puro da sonoridade da Tove Lo ao ser uma vibrante, excêntrica, excitante, divertida, elegante, emocional, criativa e elegante de dance-pop, electropop, R&B e eletrônico. Tenho uma visão que o álbum parece estar dentro do mesmo panteão pop do Future Nostalgia. Enquanto, o álbum da Dua Lipa está na seção colorida, mainstream e cheia de glitter, Tove Lo está do lado do metálico, sombrio e com confeites translúcidos. A pegada aqui parece ser menos “querer simplesmente entreter pelo simples fato de entreter”, mas, sim, criar uma envolvente atmosfera que na verdade se revela uma densa teia de emoções reais que transitam entre o melancólico e o sensual, partindo de uma visão mais contida sonoramente. É claro que isso coloca Dirt Femme mais perto do experimental, mas a produção consegue dar o verniz que as elevam para verdadeiras bagers devido aos revestimentos adicionados como, por exemplo, toques que transitam do eurodance, EDM e synthpop que se misturam com toques de folk, indie e new wave. E principalmente é nas atmosferas construídas para cada canção que consegue transmitir de maneira exata de qual é exatamente a visão do pop da Tove Lo.

A produção do álbum nunca percorre caminhos fáceis para a construção da sonoridade e isso fica claro quando notamos que faixas que poderiam ser trabalhos clichês conseguem quebrar expectativas ao dar uma guinada de 180° ao se apegar a atmosferas que desmontam ideias do que poderia ser o resultado final. E o grande ápice dessa tática/estilo é a sensacional No One Dies From Love: “a grande sacada aqui é a construção atmosférica que começa contida e sufocante e vai se tornando grandiosa e libertadora ao decorrer da canção, sendo espelhada pela composição”. Call on Me em parceria com o DJ/produtor SG Lewis apresenta como base o sample de You Spin Me Round (Like a Record) do Dead or Alive e, claramente, uma deliciosa pegada new wave/synth-pop do começa da década dos 1980. Todavia, a produção de Lewis ao lado do também DJ/produtor Totally Enormous Extinct Dinosaurs dá uma finalização com toques de pc music misturado com EDM que distancia essa sensação para algo mais refrescante e original. Essa maior liberdade também é sentida em os outros aspectos do álbum, principalmente nas suas composições.

Tove Lo sempre teve uma lírica bastante única ao saber como discutir assuntos delicado embelezados em estéticas pop precisas e comercialmente viáveis. Entretanto, Dirt Femme parece ser de longe o álbum mais intimo, autoral e confessional da carreira da cantora em que as mesmas qualidades de escrita se revelam de forma em quase estado de graça pleno. E é impressionante que a cantora transite de temas completamente diferentes de forma tão madura sem perder, porém, a sua deliciosa acidez e melancolia tocante. Por exemplo, a synth-pop How Long, tema da série Euphoria, “narra a descoberta de uma traição(...) em que a Tove Lo pega o caminho difícil ao não apenas apontar os erros do outro, mas, também, mostrar os seus erros dentro desse relacionamento em ruinas. Os versos “How, how long have you tried to end it/ While I'm blamin' myself to fix it?” são de uma honestidade tão grande que fui pego de surpresa verdadeira como poucas vezes dentro da música pop”. No mesmo lado da moeda, mas de forma romântica, a cantora entrega a sensual True Romance em que a composição continua a mostrar “a intensidade da cantora em conseguir criar letras de uma força emocional impressionante e, ao mesmo tempo, entrega uma estética pop excepcional, mesmo que aqui tenha uma estrutura diferente do que a cantora normalmente entrega”. Entretanto, o melhor momento lírico de Dirt Femme é na devastadora Grapefruit. Canção que a mesma revelou que demorou dez amos para escrever da maneira certa, a faixa é um relato emocionante e de uma sinceridade cortante sobre os problemas que a artista enfrentou com a bulimia e dismorfia corporal. Quando um artista pop consegue entregar algo tão poderosos emocionalmente em uma canção “dançante” sem afetar a mensagem principal é para receber elogios altíssimos.

Completamente dona da jornada e ouvida em Dirt Femme, Tove Lo entrega grandes performances, sabendo dosar os efeitos e a sua delicada voz natural. Entretanto, o grande trunfo da cantora é a sensação da mesma estar totalmente dona de si, exalando um aroma de ser fodona com a dona de p*rra todo que arremata todos os momentos com perfeição. Em 2 Die 4, “Tove Lo entrega uma performance tão sua que fica impossível ver outro pessoal conseguindo entoar o single sem a perda de qualidade final”. Mudando de estilo, a cantora mostra versatilidade ao entoar a delicada indie pop Cute & Cruel ao do duo folk First Aid Kit que adicionam uma apetitosa textura quase acústica para a canção. Outros momentos que merecem ser destaque é a sombria critica as regras sobre o amor em Suburbia, a sensual EDM/house/hip hop Attention Whore com a presença do rapper Channel Tres e, por fim, a divertida e safadinha Pineapple SliceDirt Femme é o álbum que a Tove Lo vem prometendo desde o começo da sua carreira e surge no melhor momento da sua carreira. E que assim continue.



Nenhum comentário: