19 de março de 2023

Primeira Impressão

This Is Why
Paramore



Ao chegar no sexto álbum da carreira, o Paramore entrega o seu melhor trabalho até o momento com um maduro reflexão sobre os tempos que vivemos. E, apesar da qualidade de This Is Why, o álbum também soa como uma parada importante para a consagração definitiva da banda.

Deixando de lado de vez qualquer toque pop mais relevante, a banda se joga plenamente no rock em uma coesa, certeira e adulta em uma mistura de post-punk, alternativo, art rock, new wave e toques de alt rock. Não é de longe revolucionário, mas é de um revigorante senso estético sobre a sonoridade pretendida pela banda que nunca se perde, nunca pega atalhos fáceis e sempre consciente de onde quer chegar. E o que parece ser o combustível para a banda é a sua maturidade artística e pessoal. Com todos os três integrantes estão com mais de trinta anos, o Paramore não parece em nada com saudades do passado, mas, sim, sempre a procura de um crescimento que ajuda a evoluir verdadeiramente a estética sonora da banda para algo que seja de verdade o resultado da construção de toda uma história que começou lá em 2005 com o debut All We Know Is Falling. Não há tempo para nostalgia merecedora de ser revisitado ou muito menos a de teor barato.

O Paramore quer e consegue se mostrar atual ao ser uma banda que reflete o seu tempo e, ao mesmo tempo, reflete a sua história. Apesar dos créditos desse resultado serem da banda é preciso dar os elogios para o produtor Carlos de la Garza que trabalhou coma a Hayley nos seus dois álbuns solos (Petals for Armor e Flowers for Vases / Descansos). Apesar de algumas semelhanças entres os projetos, De la Garza consegue guiar e lapidar This Is Why para que não soe como um trabalho da Hayley Williams “apresenta a banda” e, sim, um álbum do Paramore completo e com a cara da banda. Isso é um dos elementos que fazer o trabalho se tornar tão especial, pois é literalmente o resultado dos caminhos de todos os evolvidos. E um dos momentos que melhor deixa claro isso é a ótima The News “uma mistura espetacular de post-punk e rock progressivo que entrega um instrumental poderoso, agressivo e impressionante. Não existe uma sensação de forçamento de barra pela banda, mas, sim, uma fluidez natural já que a canção soa como algo que amadurecido do que a banda fazia no começo da carreira. Maduros e completamente seguros, a banda consegue fazer da faixa também um manifesto sobre as reflexões sobre a atual situação da sociedade ao usar a ansiedade com a guerra na Ucrânia como o catalizador”. Entretanto, This Is Why tem um problema que o impede de ainda ser melhor que também é um possível indicativo sobre o que podemos esperar do futuro da banda: a sua aparente sensação de ser fugaz.

Com dez faixa e um pouco mais de trinta e cinco minutos, o álbum soa rápido demais para o seu escopo tão intrigante, bem pensado e inspirado. Obviamente, elogio a banda por não cair no lugar comum atual de entregarem um trabalho com 17, 18 ou 19 e com mais de uma hora de duração que iria possivelmente se tornar arrastado. O problema é que aqui parece que faltou um pouco mais de estofo para que This Is Why pudesse se mostra ainda mais completo. E por causa disso, a banda parece que fez sem perceber o famoso álbum de transição e que os próximos trabalhos serão aqueles que lapidaram o que é ouvido aqui para entregar a carta magna do Paramore. O interessante é notar que mesmo com esse tropeço, a banda preenche essas lacunas com um trabalho lírico simplesmente espetacular.

Como apontado anteriormente, This Is Why é uma reflexão sobre os tempos que vivemos. Sempre com uma pegada potentemente autoral, a coleção de letras do álbum acerta ter a dose de sarcasmo sem soar cínico, ácida sem precisar ser intragável, profunda sem ser devassadora e humorada sempre ser uma piada pronta. E tudo isso é envernizado por uma forte sensação de urgência, pois o Paramore parece colocar um espelho bem na nossa cara e deles próprios para buscar as reflexões mais verdadeira possíveis. Aliando-se a isso está a impressionante parte técnica. Todas faixas foram escritas pelos integrantes em uma sinergia ímpar, revelando uma lírica simples na parte da semântica e, ao mesmo tempo, complexo na construção das suas imagens e narrativas. E um dos melhores momentos em relação a brilhantismo lírico é a post-punk/dance punk Running Out Of Time em que é feito uma desconcertante crônica sobre a falta de tempo das pessoas de fazer coisas que importantes devido a correria do dia a dia e o quanto a gente perde: “Said I was gonna take some flowers to my neighbor/ But I ran out of time/ Didn't wanna show up to the party empty-handed/ But I ran out of time”. Na balada mid-tempo pop punk Big Man, Little Dignity é uma extraordinária e cortante reflexão sobre a masculinidade tóxica e a falta de entendimento que alguns homens tem sobre o seu próprio ego/privilegio. Não apenas de canções com essa critica social que vive This Is Why, pois a banda ainda entrega poderosas composições com teor mais pessoal como é o caso da bela e melancólica Liar que retrata parte do romance de Hayley e seu colega de banda Taylor York, mostrando o quanto a mesma lutou contra os seus sentimentos até poder finalmente revela-los. Outros bons momentos do álbum são a sentimental e dramática Thick Skull e o single que dá nome ao álbum This Is Why “uma interessante, sóbria, madura e vigorosa mistura de post-punk, new wave e art rock que mostra a banda deixando ao menos por aqui o toque pop que marcou os lançamentos dois álbuns anteriores. Isso faz a banda perder certo apelo comercial que construíram de forma única, mas, sinceramente, deixa claro a vontade de evolução constante da banda”. Não acho que o álbum seja o melhor que o Paramore possa entregar, mas é sem nenhuma vida o melhor que eles já entregaram até o momento. E isso já é dizer muito.

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