Kesha
O sexto álbum da carreira da Kesha, chamado apenas . (Period), é o primeiro em que a cantora está totalmente e irrestritamente livre de amarras criativas e, especialmente, pessoais. É um álbum para ser celebrado por sua razão de existir, mas, artisticamente, é o mais fraco em comparação aos seus três últimos lançamentos. Ainda assim, apresenta bons momentos que compensam os trechos menos inspirados.
Lançado de maneira independente, por meio da própria gravadora da cantora, o álbum é bem orquestrado sonoramente, deixando clara a vontade de Kesha de continuar explorando as noções do pop sem perder, porém, a essência que a fez estourar no início da carreira. E essa essência é uma mistura de hyperpop com electropop e dance-pop, envolta por uma atmosfera que vai do experimental ao comercial, passando pelo conceitual até chegar ao piegas. O problema, no entanto, é que o álbum não possui a vivacidade ou o refinamento que marcaram trabalhos anteriores como Gag Order e, especialmente, Rainbow.
. (Period) acaba habitando o mesmo universo dos álbuns citados, mas segue por um caminho menos inspirado do que poderia. Acredito que o maior problema esteja nas escolhas dos coprodutores do disco, que resultam numa verdadeira montanha-russa sonora: há nomes que entendem completamente a persona da Kesha, e outros que, infelizmente, parecem não ter compreendido plenamente seu potencial. Não que o álbum seja ruim, mas faltou lapidar as ideias por trás das faixas para que todas atingissem um ponto ideal — como ocorre, por exemplo, na já clássica cult Joyride, que é "uma elétrica e estranha mistura de EDM, electropop e polka (!!!) que funciona devido à produção polidíssima, que sabe unir as pontas de forma coesa sem perder o lado ousado, sendo contemplada por uma composição que acerta o tom entre humor, deboche e fator icônico, mostrando que a cantora continua a exibir sua personalidade enquanto revela amadurecimento."
Uma pena que momentos assim sejam poucos no álbum, embora ainda existam faixas destacáveis, como a estilosa e surpreendente abertura Freedom, Love Forever, que poderia facilmente integrar o repertório de Dua Lipa. Destaca-se também Boy Crazy, que “tem um verniz quase sanitário que a impede de explodir de fato, mas que, felizmente, apresenta uma produção inteligente e divertida, entregando uma estilizada mistura de electropop e synthpop”. Curiosamente, a melhor faixa do trabalho está na versão deluxe: a sensacional e explosiva Attention, com participações de Rose Gray e Slayyyter.
. (Period) é um começo tímido para essa nova era da Kesha, mas é um começo que me deixa extremamente feliz por poder testemunhar — ainda mais vindo de uma artista tão talentosa.


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