29 de julho de 2018

Primeira Impressão

Palo Santo
Years & Years


Em dez anos de blog aprendi a esperar o inesperado em todos os momentos, principalmente quando se refere ao mundo pop. Entretanto, de tempos em tempos, eu sou pego de calças curta com o lançamento de um álbum que vira a minha percepção sobre o gênero de ponta a cabeça. Essa é a minha sensação ao terminar de ouvir o segundo álbum da banda britânica Years & Years, o genial Palo Santo.

Seria um sacrilégio afirmar que não tinha conhecimento do talento da banda liderada pelo Olly Alexander, pois desde o delicioso álbum de estreia Communion já era claro a capacidade deles. O que acontece aqui, todavia, é que a banda eleva qualquer expectativa para um outro nível quase cem vezes maior que era o esperado. E nem mesmo o sensacional primeiro single (Sanctify) pode dar uma noção exata sobre o que estava guardado em Palo Santo, pois o álbum é um verdadeiro suprassumo do pop em toda a sua glória.

Palo Santo é um álbum que entrega uma personalidade esplendida ao saber reverenciar o passado com o olho no presente. Resumidamente um álbum pop em seu cerne mais intimo, o trabalho busca na sonoridade pop/dance-pop dos anos noventa uma base para sustentar a suntuosidade rítmica que a banda desenvolve no álbum. A produção dividida entre nomes mais conhecidos (Steve Mac, Greg Kurstin e Jesse Shatkin) e nomes em ascensão (GRADES, Two Inch Punch e Mark Ralph) consegue dar para o trabalho uma força descomunal ao ir direto ao núcleo central sobre o que é constituído o pop sem precisar de subterfúgios para tal feito. Frenético do começo ao fim, Palo Santo não perde a cadencia nem quando aparece canções com pegadas de baladas. Inspirado em todos os momentos, Palo Santo não tem faixas fillers já que consegue manter a mesma qualidade em todas. Coeso e fluido, Palo Santo é tipo de álbum que a gente ouve inteiro várias e várias vezes. Divertido, cheio de referências, carismático, dançante, emocionante e de um senso estético perfeito, Palo Santo é uma obra que não se prende a fazer apenas o pop perfeito.

Tecnicamente, o Years & Years constrói para o álbum uma das mais ricas instrumentalização dos últimos anos para um trabalho pop. Consistente o tempo todo e de uma beleza cheia de nuances e texturas sensacionais, Palo Santo é dono de uma atmosfera que parece transitar entre o erótico, o sombrio, o despretensioso, o sagrado e o profano sem perder a essência de ser um álbum pop. Na verdade, esse é um dos melhores atributos do álbum ao parece ser apenas um álbum pop, mas, na verdade, ter uma profundidade verdadeira e tocante. Parte dessa característica vem das excepcionais composições capitaneadas pelo vocalista da banda Olly Alexander. É dele que vem as temáticas principais do álbum ao elaborar letras que tocam em assuntos delicados como culpa, sexo, religiosidade e amores disfuncionais, sendo explorados a traves de uma visão queer que dá uma nova dimensão para as canções. 

Dimensão e também complexidade, pois as composições em Palo Santo mostram um nível de pessoalidade e intimismo ao dar para os ouvintes uma visão sobre a vida de Olly, ajudando a criar uma faceta quase pouco vista no mainstream pop. Normalmente, recheado por divas que arrastam multidões de um público formado em boa parte por LGBTQs, o Years & Years mostra um outro lado, dando ainda mais voz para esse público sem precisar exatamente "militar". Só da presença da banda nessa configuração já é algo importantíssimo para a comunidade. E isso não é apenas a principal qualidade lirica do álbum, pois esteticamente estamos diante de trabalhos perfeitos com refrões viciantes ao extremo e uma inteligencia em construir versos da mais perfeita síntese pop. 

Completamente dono do álbum e confiante em todos os momentos, Olly entrega vocalmente uma coleção de performances de puro brilhantismo, aproveitando do seu doce e melancólico timbre para dar uma cara completamente único para cada canção em Palo Santo. Além disso, os efeitos vocais são usados na medida certa para tirar o melhor de cada performance sem estragar o resultado final em nada. Sem a presença do vocalista, o álbum provavelmente não teria o mesmo impacto. É complicado falar quais os melhores momentos do álbum, pois são quase todas as faixas. Então, tentei resumir nas faixas que considero apenas a nata de Palo Santo: começa com o brilhante primeiro single Sanctify, passa pela dançante dance-pop Hallelujah, a balada emocionante Hypnotised, o outro sensacional single If You're Over Me, a genial que dá nome ao álbum Palo Santo e duas que fazem parte da versão deluxe Howl e Don't Panic. Entregado o melhor álbum até o momento de 2017, o Years & Years pode irá surpreender muitos com essa obra de arte pop que deveria virar inspiração para muitos artistas, inclusive até mesmo para os grande nomes. E isso é algo que deve ser louvado. Amém.


Um comentário:

RAFAEL disse...

Ele deu uma cópia vinil pra Rihanna... Muito fofo!!