27 de novembro de 2020

Lady Rina GaGa Sawayama

Lucid
Rina Sawayama



Dona de uma das melhores trajetórias em 2020, Rina Sawayama ainda não atingiu infelizmente um público mais mainstream dentro do pop. Nem sei se essa é intenção, mas o lançamento de Lucid parece apontar para essa direção ao mirar diretamente a sonoridade da Lady GaGa. 

Não acredito que a ideia tenha sido fazer uma canção da GaGa na voz de Rina, mas a produção também não tenta ocultar muita coisa ao ser construída por BloodPop, responsável por dar forma ao Chromatica. Felizmente, Lucid é uma boa “cópia”, pois consegue ser melhor que várias faixas do álbum da GaGa. Isso se deve especialmente devido ao carisma e refrescância que a presença de Rina causa no comando da canção. Um bom e dançante dance-pop/electropop, o single que marca o começo dos trabalhos do lançamento da versão delux do debut de Rina, a canção caí em alguns momentos no lugar comum em uma batida farofa. Todavia, as nuances e o ótimo refrão salvam a canção inteira de ser apenas genérica para uma ser deliciosamente genérica. Espero que em algum momento um público maior possa descobrir a Rina Sawayama por seus méritos e, principalmente, a mesma não desça mais em qualidade apenas para agradar. 
nota: 7,5

Respingos

Monster
Shawn Mendes & Justin Bieber

Sinceramente, eu tento ver o lado bom da carreira do Justin Bieber, mas o canadense não parece colaborar com a minha vida. Depois de reclamar de barriga cheia no seu próprio single, o cantor resolveu respingar o seu white people problem na canção Monster do Shawn Mendes.


Sonoramente, Monster é a música mais ousada da carreira dos dois artistas ao ser uma sólida pop/pop rock com toques R&B que parece mostrar evolução da carreira de Shawn. Faltou, porém, um aprofundamento das ideias para dar mais corpo a batida, mas é necessário elogiar a produção Frank Dukes. O grande problema aqui é a composição que poderia ser ótima, mas acaba ressoando aquela sensação de ouvir os dois artistas reclamando de barrida cheia. Dessa vez, porém, o resultado final é melhor que a canção solo do Justin, pois parece mais sincera e original. Todavia, o verso de Bieber repete exatamente os mesmos erros que em Lonely a ser um desabafo raso, vitimista e reclamão. Sem grandes performances dos envolvidos, mas segurando a onda bem no resultado final, Monster poderia ser melhor se não tivesse sido respingado por erros herdados de outra canção. 
nota: 7

Sucesso Curioso

Hawái
Maluma

Hawái (Remix)
Maluma & The Weeknd


Entender o sucesso atual de Hawái do Maluma é algo bastante curioso, pois a canção não faz necessariamente os requisitos para ser um sucesso comercial latino atualmente. E menos sentido ainda faz o “remix” com a presença do The Weeknd. 

Devo dizer que gosto da canção em alguns pontos, mas que não faz o resultado final ser melhor que apenas mediano. Hawái é um reggaeton com cadencia lenta que quase o transforma em uma balada. E por isso, o sucesso comercial que a canção vem alcançando parece não fazer muito sentido, pois, normalmente, canções com batida mais “animadas” parecem ser melhores aceitas pelo mainstream comercial. Além disso, a parte inicial que recaí mais para a balada funciona melhor que a batida massificada que Hawái assume da primeira metade para frente. O remix não remix com o The Weeknd não altera nada, tirando o fato de ouvir o cantor estadunidense cantar em espanhol. Sendo a canção que pode finalmente transforma o Maluma na estrela mundial que vem prometendo algum tempo, Hawái ganha um peso que não teria se tivesse sido mais um single lançado. 
notas 
Versão original: 6 
Versão remix: 6

New Faces Apresenta: Arlo Parks

Green Eyes
Arlo Parks

Sempre fiquei atento ao que R&B/soul feito na Inglaterra pode trazer para o jogo da indústria, pois, de tempos em tempos, surge um nome que estoura mundialmente com o público e a crítica. E é por isso que ouvir a novata Arlo Parks é reflorescer esse sentimento de expetativa. Ainda mais com uma canção tão bom quanto Green Eyes. 

Preparando para lançar o seu primeiro álbum, a cantora de apenas vinte anos vem chamando atenção nos últimos tempos ao figurar em listas conceituadas como a da BBC e da revista NNE. E em Green Eyes fica claro perceber essa expectativa para a sua carreira. A canção é uma deliciosa pop soul/R&B que fica entre a sonoridade do começo da carreira da Lily Allen misturada com algo que a Lianne La Havas entregaria. Todavia, Arlo tem personalidade artística suficiente para limpar o ar e deixar essas comparações apenas como influências, criando uma canção que se sustenta perfeitamente por si. Elegante melódica, a canção conta a história de um amor que acabou por causa do preconceito das pessoas em aceitar um casal do mesmo sexo. Assumidamente bissexual, a cantora coloca mais um tijolo na construção de toda uma geração de artistas queers ao usar a sua envolvente e levemente áspera voz para dar voz ao uma canção deliciosa do começo ao fim. E assim continua a levar a bandeira de todo gerações de artistas R&B/soul britânicos. 
nota: 7,5

26 de novembro de 2020

Single do Ano - Votação 2

A segunda enquete para definir o Single do Ano será o histórico número um na Billboard do BTS com Dynamite contra o remix de Savage da Megan Thee Stallion com a presença da Beyoncé. Votem!


22 de novembro de 2020

Quentinho

Fever
Dua Lipa & Angèle


Tentando tirar tudo que pode como se fosse uma laranja espremida até a última gota de Future Nostalgia, Dua Lipa lançar uma nova canção como single, mas, dessa vez, é uma inédita: Fever com a participação da francesa Angèle. 

Fazendo parte da versão deluxe francesa, a canção é, ao mesmo tempo, diretamente ligada com a sonoridade do álbum e um trabalho que parece distância da era disco-pop. Bem menos inspirada que as canções já lançadas, Fever tem uma batida mais cadenciada, contida e sensual. Existe um leve, mas pontual, verniz de massificação da produção, mas que não chega a atrapalhar de forma considerável o resultado final. Acredito que o principal problema aqui seja a química baixa entre a Dua e a Angèle, soando um pouco deslocado a mistura de versos em inglês e o francês. Espero que a canção seja o canto do cisne e que a Dua Lipa posso começar a trabalhar no próximo álbum. 
nota: 6,5

Bons Frutos

Golden
Harry Styles

Apesar de um ano complicadíssimo para quase a totalidade das pessoas, o Harry Styles pode afirmar com certeza que 2020 foi o seu melhor ano artisticamente. Ao consolidar a sua carreira solo, o britânico se tornou uma das maiores potencias pop da atualidade, impulsionado especialmente pelo sucesso de Watermelon Sugar. Pretendendo se beneficiar ainda mais do ótimo desempenho foi lançado o quinto single de Fine Line: a deliciosa Golden. 
Canção que abre o álbum, Golden é uma animada, cativante e apoteótica indie rock com pop rock e indie pop que mostra a capacidade de Harry de entregar uma música comercial sem precisar apelar para clichês fáceis. Muito bem instrumentalizada, a canção tem uma produção certeira que sabe dá um toque vintage sem soar datado ou uma cópia barata. Claro, Harry ainda precisa adicionar uma dose mais potente de personalidade, mas Golden tem em seu carisma a sua maior arma para compensar certa falta de força sonora. De qualquer forma, Golden tem tudo para se tornar um novo sucesso na carreira de Harry Styles. 
nota: 7,5

Para Todas as Tribos Baterem Cabelo

Only Time Makes It Human
King Princess

É gratificante e excitante ver nos últimos tempos uma ascensão de artistas queers/LGBTGIA+ no cenário pop tendo reconhecimento dos analistas de música e, claro, do grande público. Um ótimo nome para ser descoberto é a da Mikaela Mullaney Straus que performa sob a acunha de King Princess. Chegando ao seu segundo álbum, a cantora se denomina como gay e genderqueer lançou a ótima Only Time Makes It Human. 

A canção é uma estilosa e old fashion dance-pop que poderia ter sido lançada no final dos anos oitenta ou durante dos anos noventa sem nenhum grande problema. Essa característica é uma qualidade imensa, mas também um passo quase em falso já que parece que a canção fica levemente sem personalidade. Felizmente, a produção acerta no tom exato de chorar e dançar na pista de dança que sustenta a boa composição sobre tentar entender o motivo da outra pessoa ter quebrado da narradora. Sem ter medo de se utilizar o pronome “she” (ela) para se referir a ex, King Princess faz de Only Time Makes It Human um hino sobre ter orgulho de quem é e de quem ama, ajudando a aumentar essa já crescente onda de artistas queers a encontrarem o espaço que é de direito. 
nota: 7,5

21 de novembro de 2020

Single do Ano - Votação

É chegada aquele momento do ano em olhamos para trás e fazemos um balanço de tudo que aconteceu nos messes que se passaram. Em 2020, o ano em que não vivemos, tivemos centenas de acontecimentos que será nada bom relembrar, mas, felizmente, existem algumas boas que devemos celebrar. E uma delas é o bom ano para a música de forma geral. Grandes álbuns, artistas no pico do seu talento e músicas memoráveis são apenas algumas coisas que serão colocados em destaque nesse tradicional especial de Melhores do Ano. Para começar é hora das primeis escolhas feitas por vocês leitores: Single do Ano. Qual foi a maior canção de 2020? Aquela de maior sucesso e que não saiu da sua cabeça em nenhum momento? O primeiro duelo para decidir as cinco finalistas será entre a glicose bem vinda de Watermelon Sugar do Harry Styles contra a versão original de Say So da novata Doja Cat. A votação está aqui do lado do blog! Votem!

17 de novembro de 2020

White People Problems

Lonely
Justin Bieber & benny blanco

A gente tenta ser positivo em relação a carreira do Justin Bieber, mas o próprio não ajuda com os lançamentos de um single pior que o outro. Dessa vez, porém, Lonely não é tão ruim sonoramente, apesar de ser bem mediana. O problema é o conteúdo que a canção apresenta: o ápice do white people problems, isto é, problemas de pessoas brancas. 


Ok, acredito de coração que a fama tão cedo na vida de Justin causou problemas sérios ao longo dos anos, principalmente psicológicos. O problema é que a composição expõe de maneira tão rasa que tudo parece reclamação de um menino minado que está tentando remendar a sua imagem ao recorrer para o vitimíssimo. Ao não fazer mea culpa sobre a sua reponsabilidade em atos que fez no passo, Justin mostra todo o potencial do white people problems, pois, sejamos sinceros, se o cantor fosse negro ou latino não teria todas as chances que teve. Sonoramente, Lonely conta a produção do Benny Blanco e do Finneas, irmão da Billie Eilish, é uma pop com toques de indie e dreamy pop que se baseia em uma batida low-profile que até tem alguma personalidade, mas não tem exatamente carisma para elevar a canção. Infelizmente, Bieber ainda vai lançar muitas canções como essa para continuar a sua saga de mediocridade. 
nota: 5

Gloria R&B

A Tua Voz
Gloria Groove


Devo admitir que tenho uma queda pelo R&B desde muito cedo, mas, infelizmente, não conheço muito o que é feito em terras tupiniquins. E é por isso que ouvir A Tua Voz da Gloria Groove é uma ótima porta de entrada. 

Versátil e dona de uma voz poderosa, Gloria parece ter nascido para entoar esse tipo de canção que ganha na sua voz força para carregar a estética estadunidense com a pegada brasileira. Sonoramente, A Tua Voz não entrega nada de novo sob o Sol, mas faz um delicioso arroz com feijão com uma batida sensual, dramática e classuda. E a entrega vocal da drag é forte, elegante e com personalidade suficiente para deixar claro o alcance vocal e, principalmente, a sua capacidade de colocar personalidade de forma natural. Claro, que a canção não representa nenhum décimo sobre o que o Brasil tem a oferecer, mas é um bom começo para um mergulho de cabeça nesse subgênero.
nota: 8

Sucesso Invisível

Damage
H.E.R.

Mesmo sustentado duas indicações ao Grammy de Álbum do Ano sem nunca ter lançado um álbum de verdade e, sim, apenas mixtapes e construindo uma carreira elogiável pela crítica, a cantora H.E.R. ainda não alcançou nenhum grande sucesso comercial até o momento. E isso parece que não acontecer com a boa Damage. 


A canção é uma agradável R&B que mistura bem uma pegada moderna com uma deliciosa vibe vintage que dá corpo para a produção. Poderia ter alguma ousadia que permitisse a canção a ter mais profundida, mas a instrumentalização encorpada e classuda dá uma personalidade que condiz com a personalidade artística de H.E.R. A parte final é especialmente interessante, pois ajuda a canção a ter mais força sonora. Uma pena, porém, que a cantora não encontre mais espaço perante o mainstream para emplacar as suas canções e não ser um verdadeiro sucesso invisível. 
nota: 7,5

15 de novembro de 2020

Dor nas Costas

Don't Stop (feat. Young Thug)
Megan Thee Stallion


Enquanto muitos rappers parecem terem perdido o senso entre qualidade e sucesso comercial, as rappers estão conseguindo equilibrar em 2020 essas duas faces da mesma moeda. E um dos nomes é a meteórica Megan Thee Stallion que mostra em Don't Stop o seu lado mais selvagem. 

Depois de dois sucessos em primeiro lugar na Billboard em que dividia com dois nomes femininos e que meio que ficou de coadjuvante, a rapper toma todo o protagonismo em uma performance direta, feroz e poderosa que não deixa espaço para Young Thug tentar roubar o seu holofote. Todavia, a grande qualidade de Don't Stop é sua ótima produção madura e estilosa. Encorpada do começo ao fim, a canção tem uma batida marcante que passa longe do minimalismo pretencioso que costuma pairar sobre o rap ultimamente. E mesmo que não tenha a melhor composição que poderia ter, a canção entra com facilidade entre as melhores do gênero no ano, deixando mais peso nas costas da Megan por ajudar a carregar em 2020. 
nota: 8

Passado, Presente e Futuro

Baby, I'm Jealous (feat. Doja Cat)
Bebe Rexha

É interessante notar que em Baby, I'm Jealous é possível ver duas artistas que, apesar de diferentes em personalidade, apresentam exatamente o mesmo caminho em etapas diferentes: de um lado a dona do single Bebe Rexha que foi considerado uma grande promessa, mas que agora precisa lutar para tentar se manter relevante e de outro a Doja Cat que está vivendo o momento de ser considerada a grande promessa, mas precisa provar definitivamente que tem condições de se confirmar como tal promessa. Infelizmente, a canção não é o veículo necessário para nenhuma das duas, mesmo que a não seja nada ruim.


Baby, I'm Jealous é uma surpreendente e divertida mistura bem azeitada de pop com soul, R&B e hip hop que surpreende devido a sua refinada produção. Não ter força suficiente para ser impactante, mas é uma canção pop agradável e até com personalidade se não se exigir muito. O problema aqui é as duas artistas envolvidas não parecem entregarem performances realmente impactantes. Bebe tem um timbre bem interessante e aqui mostra boa desenvoltura, mas não tem o carisma suficiente para elevar o material. Já a Doja Cat entrega exatamente o que vem mostrando nas várias participações recentes sem adicionar nada de novo para a canção. E isso depõem muito em relação a situação de ambas em relações as suas respetivas carreiras: Baby, I'm Jealous funciona dentro de limites, mas poderia ser bem melhor se tivesse duas artistas em momentos seguros da carreira. 
nota: 7

New Faces Apresenta: Celeste

Hear My Voice
Celeste


Normalmente, o espaço aqui para novos artistas é para dar uma luz sobre quem pode ser o próximo grande nome da música. Dessa vez, porém, o espaço irá ser aberto para uma possível vencedora do Oscar, pois a cantora Celeste tem em Hear My Voice a sua chance de ter uma estatueta de ouro em casa.

Sem a presença da Billie Eilish devido o adiamento do novo filme do 007, a categoria de Melhor Canção está completamente em aberto. Lançada como um dos temas do filme The Trial of the Chicago 7 da Netflix, Hear My Voice é uma simples, mas eficiente, balada épica soul que tem todas as condições de chegar na cerimonia da Academia. Não digo que a canção já pode ser apontada como favorita, ainda mais que a sua interprete é completamente desconhecida pelo mainstream. Todavia, a contida e emocional performance de Celeste ajuda a canção a ganhar força para emoldurar a delicada composição. Essa por sua vez abusa da simplicidade, mas tem a seu favor a força de mensagem que consegue ressoar sobre a história do filme baseado em fatos reais e no atual momento da história em que vivemos. Agora é esperar as indicações, pois em um ano tão louco não é difícil imaginar a novata Celeste como uma vencedora do Oscar.
nota: 7,5

10 de novembro de 2020

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

In the Air Tonight
Phil Collins

O que faz uma canção ser atemporal? Vários fatores contribuem, mas acredito que nenhuma música possa realmente ser atemporal se não conseguir sobreviver de alguma forma aos intempéries do passar do tempo. E por isso irei falar sobre uma canção que, após quarenta anos do seu lançamento, pode ser considerada um viral moderno, um exemplo de como construir uma atmosfera em uma canção, uma lenda urbana, um dos primeiros grandes sucessos quando os clipes começaram a virar uma parte da cultura musical, uma das principais músicas do rock e dos anos oitenta e uma aula de como quebrar as expectativas. Essa canção é a genial In the Air Tonight do Phil Collins.

Lançada em 1981 como primeiro single solo do Phil Collins após ter feito carreira como vocalista do Genesis, In the Air Tonight se tornou uma das assinaturas da discografia do artista desde o momento que o seu legado começou a ser desenvolvido. Além do sucesso comercial quando foi lançada, especialmente ao redor do mundo, a canção continua a performar muito bem ao longo dos anos. Um dos primeiros fatores para isso é a imensa qualidade de produção ao costurar uma memorável e impressionante balada rock épica que gira tudo em torno da construção de uma atmosfera para ser tudo quebrado em um momento que se tornou algo atemporal. 


Para aqueles que não sabem sobre o que estou falando é o seguinte: In the Air Tonight mantem em cerca de três minutos e quarenta uma atmosfera sombria, low key, climática, densa e dramática a base de guitarra e sintetizadores que parece que vai ser assim durante toda a sua duração para tudo ser jogado para a estratosfera com uma das maiores quebras de expectativas da história da música. E qual essa quebra? Uma falsamente simples introdução de tambores que é acentuado pela técnica de gated reverb que acentua a instrumentalização de maneira impressionante. O efeito causado é uma mudança de ritmo e cadencia que complementa de maneira genial toda a construção climática que foi desenvolvida ao longo de boa parte da canção. Ousado, inesperado e genial são apenas alguns dos adjetivos que podem ser usados para definir a produção em In the Air Tonight. Todavia, o legado da canção vai além da sua produção, pois existe uma verdadeira lenda urbana criada em torno. 

A composição escrita por Phil narra brilhantemente um confronto entre uma pessoa contra aquela que, por algum motivo, traiu a sua confiança de forma mortal. Apesar do cantor não nunca ter afirmado que letra teria significado especifico é claro perceber que a letra se trata sobre sentir raiva sobre as atitudes e quer, no mínimo, algum tipo de vingança que seja literal ou não: 

Well, if you told me you were drowning 
I would not lend a hand 
I've seen your face before my friend 
But I don't know if you know who I am 
Well, I was there and I saw what you did 
I saw it with my own two eyes 
So you can wipe off that grin, 
I know where you've been 
It's all been a pack of lies 

Acontece que essa não confirmação sobre o que realmente se trata a canção gerou uma lenda urbana que pendurou durante anos que In the Air Tonight sobre o momento em que Phill teria visto alguém não socorrer uma pessoa que estaria se afogando. Algumas variações dizem, por exemplo, que o artista teria reconhecido essa pessoa em dos seus concertos anos depois, mas a lenda tem basicamente essa mesma base. Claro, tudo isso passa de apenas uma famosa fanfic bem antes de existir o termo. O que importa é a profundidade que a composição consegue alcançar de maneira direta, seca e de uma força emocional quase tocável que combina perfeitamente com a sua produção. Dona de um dos primeiros clipes que ajudaram a consolidar a era da MTV, In the Air Tonight voltou aos holofotes quando dois jovens irmãos gravaram um vídeo de reação escutando pela primeira vez e se surpreendendo com a mudança instrumental, gerando milhares de visualizações e repercussão com a mídia. E é por todos esses motivos que In the Air Tonight é uma das melhores canções de todos os tempos.
nota: 10

8 de novembro de 2020

Quase um Milagre

Don't Say Goodbye (feat. Tove Lo)
Alok & Ilkay Sencan


O DJ Alok pode ser uma pessoa ótima como se mostra, mas como artista está bem longe de qualquer nota positiva. O ponto fora da curva da massificação da sua sonoridade é Don't Say Goodbye devido a apenas um fator: a presença Tove Lo. 

A cantora sueca injeta uma dose cavalar de personalidade na canção com os seus vocais e consegue obter alguns bons resultados, mas sem salvar de verdade a canção. Na verdade, Tove Lo faz Don't Say Goodbye apenas não ser um desastre total que normalmente é esperado de uma canção/remix que tem o Alok envolvido. Dessa vez, o DJ brasileiro dividi a canção com um tal de Ilkay Sencan, mas parece que nenhum dos dois é capaz de sair do lugar comum de entregar uma EDM clichê e feita para aqueles que gostam de fritar em festas eletrônicas sem pensar em mais nada. E apesar de uma composição até bem pensada que só erra no refrão repetitivo, Don't Say Goodbye é uma quase um milagre de ver o Alok fazer uma canção realmente boa. 
nota: 6

La Química

Pa'Ti - Lonely
Jennifer Lopez & Maluma


Recentemente falei sobre a importância da química entre dois artistas dentro de uma parceria. Dessa vez, essa química é ainda mais importante que o normal, pois é dela que boa parte da qualidade do projeto da Jennifer Lopez com o Maluma recaí. 

Pa'Ti – Lonely é um single duplo que está ligado ao filme Marry Me que será lançado no ano que vem e tem J.Lo e Maluma como dois dos personagens principais. Apesar de duas canções que não se diferenciam muito uma da outra, a força motriz aqui é a ótima química entre os dois artistas que ficam ainda mais nítido no clipe/filme lançado para as duas canções. E essa característica que segura as canções de serem apenas medianas. Pa'Ti tem Jennifer como a principal e apresenta uma envolvente e dançante batida reggaeton que combina perfeitamente com a sensualidade aflorada dos dois artistas. O refrão, infelizmente, é repetitivo demais e a canção não vai muito além do proposto. Em Lonely, o protagonismo passa para Maluma, mas a conexão entre os dois continua praticamente intacta em uma boa trap/latin pop que abusa dos efeitos vocais. De qualquer forma, o projeto é exatamente o que propõem ser: um encontro caliente/sexy de dois astros latinos com carreiras em níveis diferentes. 
notas 
Pa' Ti: 6,5 
Pa' Ti (Spanglish Version): 6,5 
Lonely: 6,5

6 de novembro de 2020

Depois do Paraíso

Let Me Love You Like A Woman
Lana Del Rey


Depois de alcançar um novo e altíssimo pico na sua carreira no ano passado com Norman Fucking Rockwell!, Lana Del Rey irá fazer o seu retorno a música com o lançamento do sétimo álbum. Chemtrails Over the Country Club terá a dura tarefa de manter a qualidade e o hype que envolveu a carreira da cantora no último ano. E a julgar pelo primeiro single, Let Me Love You Like A Woman, a expectativas ainda estão boas, mas bem menos promissoras que se poderia esperar.

Let Me Love You Like A Woman é uma canção padrão de qualidade e construção da Lana Del Rey. Não deve atrair novos fãs, mas afaga aqueles que já a conhecem como artista. Uma balda indie pop com toque vintage de rock que tem na performance distinta e na escrita única de Lana como o seu ponto forte e a sua base. Produzida por Jack Antonoff, a canção é, principalmente, uma amostra nítida da capacidade de compositora de Lana em uma composição profunda, estilosa e com uma melancolia refinada que apenas a cantora é capaz de entregar atualmente. Escolhendo continuar em um caminho mais romântica, Let Me Love You Like A Woman é declaração poética sobre querer que as paredes de quem se ama caiam para que possa ser amada. O problema é que que a canção não vai além do que a gente poderia esperar, deixando pairando a sensação de ouvir mais do mesmo ecoando nos ouvidos. Para aplacar isso, Lana precisa continuar elevando a sua sonoridade para um nível alta para não cair de cara na vala do lugar comum.
nota: 7,5

Cover Competente

Crying at the Discotheque
Sophie Ellis-Bextor


Apesar de ter alcançado o ápice do sucesso comercial no começo dos anos dois mil com a deliciosa Murder on the Dancefloor, a britânica Sophie Ellis-Bextor continuou a sua carreira ao longo dos anos com alguma relevância lá nas terras da rainha. E por isso que a cantora irá lançar o seu primeiro álbum de grandes hits intitulado Songs from the Kitchen Disco e como single lançou o interessante cover de Crying at the Discotheque da banda sueca Alcazar. 


Lançada originalmente em 2000, Crying at the Discotheque é uma nu-disco/dance-pop que parece ter sido criada sob as luzes de 2020. E isso é um ponto positivo para a canção, pois mostra que a tendência de voltar aos anos da discoteca vem em ondas de tempos em tempos. Sem alterar quase nada da versão original, Sophie consegue atualizar a canção devido a sua presença luminosa, elegante e marcante. A vibe da canção se encaixa perfeitamente com a persona da cantora, criando uma canção que soa moderna e única e, não, uma regravação de uma canção de vinte anos atrás. Divertida, alto astral e com um toque dramático devido a sua ótima composição, Crying at the Discotheque é uma um cover bem pensado e melhor ainda construído que consegue preencher todas as lacunas. 
nota: 8

1 de novembro de 2020

Quase

FRANCHISE (feat. Young Thug & M.I.A.)
Travis Scott

Provavelmente o maior nome do rap surgido nos últimos anos, Travis Scott ainda não mostrou exatamente para o que veio artisticamente. Mesmo o elogiável álbum ASTROWORLD de 2018, o rapper parece ainda não ter encontrado o seu lugar definitivo sonoramente. Poderia ser FRANCHISE a canção que pode ser o farol para o rapper? A resposta é: talvez. 

FRANCHISE não é uma canção ótima, mas é melhor que tem direito de ser. E não é só pelo fato da presença surpreendente da M.I.A, apesar desse fato ter um peso importante. Coproduzida pelo próprio Travis Scott, a canção tem uma produção direta, certeira e com uma criatividade acima da média. Misturando rap, trap com toques de electropop aqui e ali, FRANCHISE pode não ser o suprassumo, mas é cativante suficiente para marcar quem ouve com sua batida encorpada. Claro, a grande estrela é a presença da M.I.A que, felizmente, não é apenas uma coadjuvante de luxo e, sim, uma peça fundamental para a canção em momentos inspirados, especialmente da metade para frente. Além disso, a química rola bem com Travis e Young Thug entrega um bom verso. O ponto negativo é a composição que, apesar de apresentar bons momentos, poderia ser claramente bem mais memorável. Se esse caminho for seguido pelo rapper nos lançamentos futuros será possível ver a ascensão como poucos rapper já tiveram. 
nota: 7

Don't Start Now By Melanie C

In and Out of Love
Melanie C

Apesar de ter presenciado o auge das Spice Girls nunca acompanhei a carreira das integrantes em suas carreiras solo. E é por isso que ouvir In and Out of Love, single da Melanie C, é como ouvir uma novata pela primeira vez. O surpreende é notar que uma veterana parece buscar inspiração nas divas pop contemporâneas.

In and Out of Love é perigosamente parecida com o Don't Start Now da Dua Lipa. E quando digo parecida quero dizer, na verdade, quase uma cópia descarada. E não é apenas o fato da canção seguir a onda post-disco/disco pop e, sim, apresentar similaridades melódicas nítidas como, por exemplo, o famoso tamborzinho durante o refrão. Claro, In and Out of Love tem uma estrutura diferente para não ser tão descaradamente igual. Mesmo assim, a produção deixa bem claro qual era a intenção. Isso é algo ruim? Se a Dua e os seus produtores não quererem processar por plágio não vejo nada de mais no final das contas, pois a canção de In and Out of Love é uma legal e dançante canção que dá para a Melanie C cara moderna e divertida. Agora é esperar a cantora encontrar uma cara que seja apenas sua. 
nota: 7