Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
10. Free
Florence + The Machine
"A canção é uma incrível mistura de indie pop, indie rock e toques de electropop embalados em uma camada experimental que consegue soar como um trabalho da banda e, ao mesmo tempo, se diferenciar com os toques de sonoridade de artistas como Bruce Springsteen e The Killers. E é nesse momento que a canção se torna o trabalho mais indie dos últimos tempos da banda. A produção da Florence ao lado de Jack Antonoff e Dave Bayley consegue emendar todas essas caraterísticas em uma canção lindamente instrumentalizada que usa toda a força de uma atmosfera sublime, ambígua e reconfortante para jogar todo esse peso de Free de ser várias coisas ao mesmo, mas ser primeiramente uma canção do Florence + The Machine em estado bruto. Isso só poderia acontecer dessa forma, pois a canção é dona de uma composição genial. Falando sobre o peso da ansiedade em nossas vidas ao relatar o dia a dia de uma pessoa que vive com essa doença, Free apresenta um tom até esperançoso ao mostrar que é possível lutar contra esse mal em uma letra tocante, revigorante, emocionante, expiatória e eletrificada."
9. Free Yourself
Jessie Ware
"Deixando de lado certa contemplação da disco do trabalho anterior, a nova canção mergulhar diretamente no gênero sem nenhuma amarra com uma perfeita, elegante, deliciosa, dançante e poderosa disco/house com forte influência da chamada ítalo disco, subgênero dos anos setenta criado na Itália. É claro que a canção é inspirada, mas a produção do lendário Stuart Price parece tirar essa característica ao fazer de Free Yourself quase como uma canção saída de uma maquina do tempo direto para 2022. E quem não sabe que é o Stuart é necessário apontar que o produtor tem no currículo apenas a produção de Confessions on a Dance Floor da Madonna como um dos seus pontos altos. Outro ponto importante da canção é sublime performance de Jessie que sabe adicionar toda uma galeria de texturas para conseguir dar toda as emoções e nuances para a canção sem perder a sua elegância natural. Se no trabalho anterior a mesma questionava qual era o nosso prazer, Free Yourself pede que a gente se solte e desfrute de cada momento como se não houvesse amanhã. Clichê sim, mas lindamente bem escrita e com um refrão viciante e marcante."
Allison Russell
"Regravação da banda Our Native Daughters que a própria fazia parte, You're Not Alone é uma tocante, bela e inspiradora ode ao amor em que a mensagem é sobre esperança para aqueles que se sentem sozinhos e desesperados sem encontrarem a saída. A belíssima e revigorante composição ultrapassa todas as possibilidades de se tornar clichê devido ao esmero da sua construção inteligente e de uma poesia encantadora. E quando surge os versos em francês parece que canção ganha uma emoção ainda mais vigorante devido a surpresa. A produção entrega uma linda mistura de americana/folk que sabe ter as qualidades de uma power balada sem perder a essência raiz dos estilos. Entretanto, o grande destaque de You're Not Alone são os devastadores vocais de Allison e da participação da sempre ótima Brandi Carlile, especialmente como as duas se intercalam de maneira única em que as vozes se complementam e brilham individualmente. E continuo a minha jornada de ser apresentado por artistas do genial calibre de Allison Russell, ajudando a revigorar a minha paixão pela música."
7. On the Run
Kelela
"On the Run é um sexy, melódica, envolvente e deliciosa electro-R&B produzido de maneira refinadíssima e com um senso estético espetacular. Apesar de contido, a canção é de uma riqueza de texturas e nuances que a faz ser épica sem precisar de uma grandiosidade instrumental evidente. A atmosfera é uma mistura de sensualidade aveludada com uma toques de desejo ardente que faz a canção ser ousada e, ao mesmo tempo, abrangente para todos os públicos. A performance de Kelela exala exatamente essa sensação o ser doce, picante e emocional na medida certa para performance a composição sobre querer fisicamente alguém com todas as suas forças."
6. Goodbye, Mr. Blue
Father John Misty
"Continuando a sua exploração por diversos gêneros que deve ser o mote do álbum Chloë and the Next 20th Century, o cantor entrega no novo single uma melódica, tocante, atemporal e classuda mistura de country e folk que ganha pela simplicidade da ideia e pela genial realização. O resultado soa natural e completamente fluido, mostrando claramente o alcance do Father John Misty como artista e, principalmente, como cantor. A sua performance vocal é de uma beleza precisa e rara ao conseguir se adequar ao estilo da canção como se sempre tivesse cantado exatamente esse tipo de canção sem esquecer, porém, a magnitude da sua personalidade. Entretanto, o que realmente faz de Goodbye, Mr. Blue uma canção avassaladora composição sobre o exato momento que alguém percebe que o relacionamento chegou ao fim. Não é sobre exatamente o que aconteceu para chegar ao fim ou também sobre as consequências, mas, primordialmente, sobre a realização que não há nada para fazer e aceitar que esse é o momento da despedida: “This may be the last time/ Last time I get out of bed/ Put coffee on and try, in your words/ "To show some initiative"”. Goodbye, Mr. Blue é o tipo de canção que acerta diretamente no coração e parece que não vai sair tão cedo dessa nova moradia."
5. Ancestress
Björk
"Apesar de continuar a explorar imagens complexas, a cantora deixa muito bem claro que a composição é sobre a morte da sua mãe. E essa percepção vem de momentos de vários momentos de uma clareza tocante da lírica de Ancestress. A artista continua a criar imagens surreais, mas aqui o público é contemplado com versos diretos na sua intenção de mensagem que faz a gente até ficar desconcertados devido a visão clara quem temos do ser humano Björk como, por exemplo, o relato dos momentos de declínio da saúde da sua mãe ( “The doctors she despised/ Placed a pacemaker inside her”) ou de visões de como era a sua personalidade (“She had idiosyncratic sense of rhyth/ Dyslexia, the ultimate freeform/ She invents words and adds syllables”). Com a mistura desses tipos de versos com os de construção mais poéticas e metafóricos, Ancestress se tornar uma devastadora, impressionante, sentimental e tocante homenagem da Björk que encontram um lugar entre o sublime e o humano como poucas. Apesar de genial, a canção não alcançaria o mesmo nível sem a sua espetacular produção que faz dos mais de sete minutos de duração uma viagem no mais puro suco da sonoridade da Björk."
4. BREAK MY SOUL (THE QUEENS REMIX)
Madonna & Beyoncé
"Em questão de remixes, a Beyoncé tem um ótimo desempenho como, por exemplo, a sua presença em Savage (Remix) da Megan Thee Stallion e, claro, o inesquecível Flawless Remix com a participação da Nicki Minaj. Entretanto, a versão de Break My Soul sub intitulado como THE QUEENS REMIX é algo para entrar para história. Primeiramente, a canção tem o uso de Vogue da Madonna com interpolações que vão além do simples uso do samples e, sim, a construção de uma nova canção que casa dois mundos de maneira extraordinária e de uma genialidade sem precedentes para a carreira das envolvidas. Ao escolher a canção, Bey volta aos olhos para a primeira canção mainstream que deu holofotes para a cultura queer/house/ballhouse e homenageia a importância da rainha do pop na história da música. E, queridos leitores, isso poderia ser apenas um ato bonito se não fosse trabalhado da maneira que esse remix é construído. As duas canções se fundem de maneira natural, excitante e impressionante sem que nenhuma seja engolida uma pela outra, mas sabendo que a canção da Bey é a base e que Vogue é o toque de gênio por trás. E isso é possível devido a produção revigorante que sabe que um remix nesse porte precisa ser reconstruído com adição não apenas do sample, mas, também, com a mudança de estruturas originais para ser um remix de verdade. Em segundo, THE QUEENS REMIX é também uma homenagem importante aos nomes importantes da cultura negra e queer.
3. Walkin
Denzel Curry
"Teoricamente, a canção não inventa a roda ao entregar uma mistura de hip hop, rap e soul, pois a união dos gêneros sempre andou de mãos dadas. Na prática, a produção entrega uma intrigada canção devido a genialidade por trás de cada elemento. A performance de Daniel é um fluxo de força impenetrável que não deixa escapar nenhuma possibilidade de significação ou deixar espaços vagos ao preencher cada momentos com um carisma esmagador. Sem recorrer a gracinhas, o rapper apresenta uma forma “tradicional” de entoar os versos que é extremamente bem vida já que ajuda a estabelecer o artista entre os melhores rappers da história. A produção é de uma inteligência ímpar sem querer roubar os holofotes de Daniel e sem ser apenas um detalhe para fazer “peso”. Ricamente instrumentalizada e com uma batida encorpada e com ótimas nuances, Walkin apresenta uma composição inteligente, poderosa, bem escrita e com um cadenciado impressionante de ideias. E assim Denzel Curry entrega o famoso chef’s kiss ao mostrar que música boa é aquela que é realmente boa."
2. Welcome to Hell
black midi
"Explosiva, complexa, gigantesca, exuberante, atordoante, intrigante, inesperada, intricada, épica e de tirar o folego. Esses são apenas alguns adjetivos que consigo encontrar para qualificar a experiência de ouvir Welcome to Hell. A produção simplesmente pega todas as qualidades da banda e a adiciona em uma canção de apenas quatro minutos que tem como único defeito o fato que a mesma tem um fim. Essa sensação de estamos ouvindo algo gravado que parece uma impressionante improvisação é simplesmente genial, pois dá para a canção uma vibe de sempre se renovar a cada nova audição. A impressionante instrumentalização é algo que não há muitas palavras para descrever, pois é de uma grandiosidade meticulosa de estontear. Nas mãos de outra banda, cada mudança de caminho a canção faz nesse caldeirão de art/avant/experimental rock poderia render uma canção, mas o black midi transforma em apenas uma com uma coesão espetacular. A composição é de uma genialidade absurda ao ser uma crônica feroz e desoladora sobre as consequências desoladoras da guerra. Welcome to Hell é o tipo de canção que a gente não sabia que precisa ouvir, mas que depois se torna algo que a gente não sabe como viveu sem conhecer."
1. The Heart Part 5
Kendrick Lamar
"Parte de um sequencia de lançamentos com o titulo The Heart, a canção é um dos melhores trabalhos da carreira do rapper até o momento. Começa pela sua soberba e genial produção capitaneada por Beach Noise que transforma a canção em uma impressionante, grandiosa, poderosa e impecável conscious hip hop que agrega camadas vigorosas de jazz, soul e funk, especialmente devido ao sample de I Want You do Marvin Gaye de 1976. Imponente, épica e de uma criatividade única, The Heart Part 5 se beneficia dessa sensação que o jazz traz de improvisação que transforma o resultado em algo revigorante já que cada vez que se escuta parece a primeira vez. Kendrick Lamar entrega uma performance devastadora como em qualquer grande música da sua carreira, mas a sua entrega aqui parece ainda mais madura, refinada e incrivelmente atemporal. E acredito que a temática da canção ajuda para essa performance, pois, novamente, Lamar entrega uma magistral e urgente crônica sobre o que é ser um homem negro na nossa sociedade. Com um começo tão genial é obvio que o Kendrick Lamar está prestes a lançar um álbum com qualidade que apenas Kendrick Lamar pode entregar."
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