1 de janeiro de 2023

Os Melhores Álbuns de 2022 - Parte II

 


Parte I


24. How To Let Go
Sigrid


"Depois de um mediano, mas promissor debut com Sucker Punch em 2019, a cantora retorna com um trabalho que entrega realmente o que promete: um ótimo álbum pop. Todavia, How To Let Go consegue ir mais além da sua entrega ao ser dono de composições que conseguem serem realmente profundas. Obviamente, não estamos diante de um trabalho de cunho lírico que esteja a altura de uma Joni Mitchell, mas com uma intenção que tenha de verdade reflexões verdadeiras, honestas e de um tino pop fino e bem apurado. Durante todo o álbum, Sigrid confessa sobre corações quebrados, relacionamento tóxicos, autoconhecimento e amores complicados assim como outras cantoras pop, mas a sua lírica apresenta um acabamento clean e de uma inteligência madura que fico realmente surpreso da cantora ter apenas vinte e cinco anos. E isso também se dever aos seus parceiros de escrita: Sylvester Sivertsen (também produtor principal do álbum) e Caroline Ailin. O melhor momento do álbum é a que também apresenta a melhor letra: It Gets Dark “entrega uma letra inteligente, forte e de uma beleza simples e rara”. Sonoramente, How To Let Go é competente e sólido trabalho que traz a tona realmente o que o pop pode ter de melhor."

23. Home, before and after
Regina Spektor


"Excêntrico, divertido, climático, estranho e lindamente instrumentalizado, Home, before and after parece uma caixa de música que guarda canções das mais variadas origens, entoadas pela delicada e angelical voz de Regina. E todas essas canções são envernizadas pela imensa personalidade da artista e da produção de John Congleton, resultando em um adulto, moderno e visceral trabalho art pop, indie rock e baroque pop. Acredito que a melhor definição da sonoridade ouvida aqui para alguém que não conheça a cantora seja uma versão light do último álbum da Fiona Apple misturado com toques de Kate Bush, Tori Amos e toques de leves de Bjork. Quem conhece tem a noção que apesr de poder criar links com todas essas artistas, Regina apresenta uma atmosfera completamente única que a faz transpirar personalidade em todos os momentos."

22. Hold The Girl
Rina Sawayama


"Hold The Girl é uma clara mistura de várias tendências que dominaram o gênero nos anos noventa e começo dos dois mil, especialmente vindo de nomes como Madonna, Mariah Carey, Janet Jackson, P!nk, Alanis Morissette e Shania Twain. Pode parecer um caldeirão estranho que consegue funcionar muito melhor que o esperado devido a essa solidez estética vinda da excepcional instrumentalização e, principalmente, a visão primorosa sobre como construir as ideias propostas. E o grande triunfo aqui é que tudo soar algo com a personalidade da Rina e, não, os nomes citados como influência. Em questão de estilos, o álbum é uma mistura interessante, bem amarrada, fluida e levemente estranha de power baladas com dance/indie/electropop que pode não explodir plenamente ou ser um profundo experimento sonoro, mas termina sendo uma ótima pedida para quem quer ouvir um álbum de cabo a rabo sem maiores tropeços ou solavancos. O ápice do trabalho é a canção que dá o seu nome: Hold The Girl. “O single é um elegante, emocionante, grandiosa, inteligente, linda e nostálgica mistura de synth-pop, pop rock e EDM que remete diretamente a uma sonoridade dos anos noventa, especialmente uma ouvida na Europa na parte final da década”. Parte da primeira metade do álbum, a canção está inclusa na melhor sequencia durante os primeiros momentos do trabalho que tem faixa como This Hell em que “a produção de Clarence Clarity e Paul Epworth entrega uma canção realmente sólida e com um instrumental sensacional com pontos extras para o ótimo solo de guitarra”, a power balada pop rock Forgiveness e a faixa que abre o álbum a delicada balada indie pop Minor Feelings."

21. Dawn FM
The Weeknd


"Apesar de se manter na zona de conforto sonora, o cantor consegue apostar em alguns momentos ousados para incrementar o resultado final. Especialmente durante a parte pop de Dawn FM, a produção corre alguns riscos interessantes que não mudam completamente o que esperar do artista, mas é um verniz especial e muito bem-vindo. Em Gasoline, a modelação vocal criada é um momento que pode criar certo ruido, mas, felizmente, o resultado final cria uma canção marcante e original. A faixa Here We Go... Again é uma envolvente, sensual e cadenciada R&B/synth-pop que quase cria uma balada que tem a sua força aumentada pela presença inesperada do Tyler, the Creator. Já em Take My Breath, The Weeknd mergulha na sua canção mais retro do álbum em “uma classuda e nostálgica post-disco/synthpop que busca beber da fonte dos sintetizadores de I Feel Love da Donna Summer”. Pode parecer pouco e que essas ousadias não fazem peso para o resultado final, mas Dawn FM é realmente o melhor trabalho do The Weeknd exatamente por esses pequenos detalhes. Outro fator importante aqui é a evolução das composições que se mostram as mais maduras da carreira do artista."

20. The Hardest Part
Noah Cyrus


"Ao contrário de irmã, Noah não mudou drasticamente a sua persona artista, mas, sim, amadureceu a sua sonoridade ao entregar um trabalho maduro, sóbrio, refinado e seguro de uma mistura bem feita de country pop/indie pop/folk que tem como ponto a fluidez de como tudo parece soar no lugar certo na voz da jovem. Produzido principalmente por Mike Crossey, conhecido pelo seu trabalho ao lado da banda The 1975, The Hardest Part que nunca vai muito além do que se propõe, mas entrega perfeitamente exatamente o que se pretende a fazer de maneira tão honesta e pura que chega a ser tocante. Outro ponto importante para que o álbum funciona tão bem é a clara vontade de não seguir apenas tendências que sejam comercias como, por exemplo, da Taylor Swfit. Na verdade, existe uma clara preocupação de pegar várias influencias e criar algo que seja distinto sem perder o senso estético e sempre se apoiando em uma coleção de influencias. Isso dá para o resultado final um senso de completude e personalidade que mesmo não seja revolucionário, acaba terminando como autentico."

19. Last Night In The Bittersweet
Paolo Nutini




"A grande diferente entre o trabalho e o anterior (Caustic Love de 2014) é a mudança perceptível na sonoridade apresentada ao ir de um soul/R&B/rock para uma miscelânea de gêneros que tem como base principal apenas rock. A produção parece que quer fazer uma coleção de vários gêneros, estilos, estéticas e influencias diferentes, mas que todos os caminhos levas para o entorno do rock. Assim como fez o Father John Misty em Chloë and the Next 20th Century, porém, o resultado aqui é bem mais fluido devido a não ter as gigantescas quebras entre uma canção e outro. O resultado é ousado, gigantesco, hipnotizante, elegante, rico e deslumbrante ao mesmo tempo que é levemente confuso e toques de pretensão que, felizmente, funcionam devido a serem agentes catalizadores das grandes ideias por trás da produção."

18. The Gods We Can Touch
AURORA


"A melhor definição para o resultado de The Gods We Can Touch é mágico. Produzido pela própria cantora e seu colaborador de longa data Magnus Skylstad e algumas poucas coproduções, o álbum é o tipo de trabalho que mostra que a artista tem uma definição própria sobre o que é o pop. E, principalmente, como a mesma deve construir canções que essencialmente apresentam bases conhecidas. Teoricamente, o álbum é uma mistura delicada, etérea, angelical e celestial de indie pop, folk pop e toques de electropop, mas essa definição é usada apenas para dar uma “cara” para o álbum já que a produção explora os limites desses gêneros para entregar um trabalho maduro e original. Essa característica já tinha sido mostrada com o lançamento dos singles, especialmente o ótimo Giving In to the Love ao ser “uma mistura refinada e complexa de art pop com indie pop que consegue ser complexa devido a seu bem construído e substância arranjo. Sem medo de criar uma canção que não seja exatamente comercialmente viável, a produção encontra o equilíbrio em saber referenciar sem soar como uma cópia ou pretensiosamente artístico”. Esse resultado mostra muito bem a maturidade que Aurora se encontra em The Gods We Can Touch."

17. CAPRISONGS
FKA twigs


"Ao ser uma mixtape, o trabalho dá para FKA twigs a possibilidade de pisar de jaca da melhor maneira possível ao poder explorar cantos da sua personalidade artística que poderia não ser atingidos com essa facilidade. Acredito que falar que uma artista que tem a sua principal característica as experimentações sonoras resolveu experimentar é meio que chover no molhado, mas é necessário entender que a descoberta da cantora está em busca de extrapolar os seus limites como artista. Buscando inspiração de sua própria sonoridade até a nomes populares como, por exemplo, Doja Cat e SZA, FKA twigs entrega um trabalho que consegue ter a sua única personalidade e mostra que a mesma pode ser mainstream. E, queridos leitores, isso é algo realmente impressionante já que o choque entre polos tão opostos não gera uma explosão destrutiva e, sim, uma explosão de cores, texturas, sons e, principalmente, ótimas perspectivas para o futuro. Parceira com o rapper britânico Pa Salieu, honda é uma excepcional dancehall mistura com art pop que retira dos dois gêneros o melhor para criar uma canção com capacidade de virar um viral que não perde o seu lado mais excêntrico sonoramente. Enquanto isso, Tears in the Club com participação do The Weeknd “é exatamente a batida de frente entre os estilos dos envolvidos”, sendo que a “produção consegue criar um sedoso, edificante e fluido creme do suprassumo das melhores qualidades de ambos”. Não é um trabalho, porém, que acerta na mosca em todos os momentos, deixando alguns espaços vazios aqui e ali, mas isso impede que CAPRISONGS seja um acerto impressionante."

16. Banish The Banshee
Isaac Dunbar



"Como oito faixas, o trabalho é praticamente um mini álbum em tamanho e, principalmente, em completude já que é possível facilmente perceber toda a estética e substancia do que Isaac Dunbar é como artista. Uma efervescente e original mistura de pop, alternativo, R&B, indie e dance que cria uma sonoridade extravagante, refrescante, divertida, empolgante e deliciosa do começo ao fim. Ouvir o EP é como anda em uma montanha russa multicolorida e inesperadamente divertida sem nenhum momento previsível ou monótono em um parque de diversões repleto de brinquedos sem graça. Tudo começa com a power pop/pop rock Sunburn. A sua batida extremamente marcante e frenética é um aviso preciso para o que o resto do trabalho tem para oferecer. Em seguida, o EP apresenta um dos seus pontos altos com Bleach ao ser “uma eletrizante, refrescante, contagiante e classuda mistura de R&B, dance-pop, post-disco e indie pop que realmente funciona devido a inteligência na condução da canção. Leve e divertida, a canção nunca é, porém, dispensável ou esquecível com a produção adicionando uma dose reluzente de nuances que incrementam o resultado final sem perder a sua base original”. E quando a gente pensa que esse vai ser o caminho de Banish The Banshee surge a genial Gummy.

Deixando a efervescia de lado, a faixa é uma sexy, áspera e densa pop rock/indie rock/funk sobre sexo e fluidez sexual que é uma versão ainda queer dos trabalhos do Prince. E esse tipo de mudança tão drástica não poderia ter o mesmo efeito se Isaac Dunbar não fosse um cantor tão talentoso. Na verdade, o artista é simplesmente excepcional e com um poder vocal impressionante que é capaz de performance impressionantes, especialmente quando usa o seu registro mais agudo. Money On That mostra exatamente essa qualidade com o contraste da batida marcada e os vocais que bebem da influencia de grandes nomes do R&B/soul. Outro ponto de brilho para o artista é a sua sempre primorosa lírica que sempre usa da relativa simplicidade gramatical para encontrar as palavras perfeitas para expressar toda a cadeia sobre amor que o EP transita. Tainted Love apresenta uma “composição é simples, suculenta, inteligente e de uma fluidez impecável ao saber contar uma história de uma noite romântica, sabendo explorar ideias líricas extremamente eficientes e conseguir expressar toda a eletricidade de um encontro entre duas pessoas apaixonadas”. Um dos ápices do EP é com a presença da power balada pop Fool's Paradise com uma produção instrumental espetacular, vocais angelicais e uma composição poderosa que apresenta momentos geniais: “I said I'm tired of insanity and melodramatic excuses/ I said I love you but I don't love when you take what I say for amusement”. O termina ainda mostrando o talento de Isaac Dunbar ao entregar duas canções que facilmente poderiam ser consideradas fillers em comparação com as outras, mas que ainda são trabalhos primorosos: a faixa que dá nome ao trabalho em Banish The Banshee ao ser uma estranha e delicia indie pop e a delicada e fofa This Is An Intermission. Banish The Banshee é um trabalho que abre um caminho promissor para o Isaac Dunbar continuar a quebrar expectativas sobre o que deve ser um artista pop atualmente."

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