8 de janeiro de 2023

Os Melhores Singles de 2022 - Parte V






25. All The Good Times
Angel Olsen


"Single do seu próximo álbum intitulado Big Time, All The Good Times é uma comovente e sóbria indie rock/folk/country que apresenta uma excepcional instrumentalização. Conseguindo recriar uma sonoridade tradicional que remete aos grandes momentos dos gêneros citados, especialmente do country/folk, a cantora entrega um trabalho que parece emoldurar os trabalhos de lendas como Pasty Cline e Loretta Lynn com uma dose de modernidade classudo, elegante e encorpado. A performance de Angel é de uma força emocional impressionante sem precisar de cair em lugares comuns ou exageros vocais. A cantora parece entoar All The Good Times em uma performance ao vivo em um pub vazio, mas cheio de memorias doloridas e densa fumaça de cigarros. E a composição é o tiro no coração que faz arrancar uma lágrima sincera dos corações mais gelados. E com tudo isso correndo ao seu favor, All The Good Times deve tirar outras emoções de cada um que escuta e é por isso que o seu resultado é extremamente precioso."

24. CUFF IT
Beyoncé


"Uma das canções mais “simpáticas” do álbum, Cuff It é uma deliciosa, excitante, contagiante, sexy, atemporal e viciante mistura de disco, pop e funk que mesmo não sendo a melhor artisticamente em comparação com outras ainda se torna um destaque devido ao seu brilho. Acredito que a principal característica da canção é que a produção adiciona várias texturas e nuances ao longo da sua duração que criar claros bolsões da momentos que facilmente geram dancinhas virais, mas que o resultado final se mostra com um trabalho coeso e fluido em todos os momentos. A presença sensual, suculenta e simplesmente radiante da Beyoncé é outro imenso acerto, pois deixa claro o prazer que a mesma teve para gravar a canção. Apesar de achar que a dona Beyoncé estar perdendo a oportunidade do seu maior sucesso da carreira tenho que admitir que é uma tática invejável uma artista chegar num patamar que pode “esquecer no churrasco” um hit já pronto. "
Resenha

23. L'enfer
Stromae


"Em francês, a canção consegue impressionar mesmo antes da gente saber sobre o que se fala, pois a produção entrega uma genial mistura de art pop, hip hop e eletrônico que impressiona desde os primeiros acordes e continua devido as nuances espetaculares e as saídas nada fáceis da produção. Além disso, a poderosa e única interpretação de Stromae em uma mistura divina de cantar, declamar e rap é algo que eleva qualquer canção. Entretanto, ao descobrir a tradução da composição é que L'enfer se revela na sua verdadeira e magnifica faceta: uma devastadora crônica sobre depressão e pensamentos suicidas."

22. King
Florence + The Machine




"O single é um trabalho que consegue ser simultaneamente um trabalho típico da banda e um ponto relativamente novo na sua discografia. Produzido pela vocalista Florence e o onipresente Jack Antonoff, King apresenta os traços marcantes da banda como, por exemplo, o complexo instrumental, a atmosfera grandiosa e força emocional impressionante, mas aqui tudo é envolvido em uma nevoa contida que transforma a canção em uma slow burn impactante que vai entrando cada vez mais fundo na nossa pele a cada nova audição. O estilo de Antonoff é percebido ao notar que King é uma indie rock com inspiração dos anos setenta e, felizmente, essa decisão parece fundir com perfeição com o estilo da banda de maneira a criar uma canção que tem a personalidade única deles do começo ao fim. Novamente, Florence entrega uma performance simplesmente avassaladora ao mostra uma restrição vocal que não apenas combina com atmosfera da canção e, também, com a profunda e sempre pungente composição que fala sobre a individualidade de uma pessoa em um relacionamento visto do ponto de vista feminino"

21. Fossora
Björk



"Divido sonoramente em duas metades, a canção começa com o lado mais orgânico, delicado, contemplativo e melódico para ir tendo batidas sendo agregadas ao longo da sua duração para terminar de maneira explosiva com uma batida frenética eletrônica/tecnho que a faz subir vários níveis devido a sua complexidade em unir dois “mundos” tão diferentes de maneira tão singular e perfeita. Dá para perceber que Fossora é a mesma canção em momentos diferentes sem perder o seu intuito inicial e, principalmente, a continua elaboração da persona da Björk. E a cantora entrega uma performance espetacular ao não se curvar para saídas fáceis e entregar uma força emocional e técnica que apenas a sua presença é capaz de mostrar."

20. Tainted Love
Isaac Dunbar


"Em Tainted Love, o cantor não perde folego ao entrar um trabalho também espetacular. Mergulhando ainda mais na influencia disco, a canção é uma romântica e deliciosa post-disco, pop soul e R&B que poderia facilmente ser um cover de uma canção dos anos setenta, mas é de uma originalidade cativante. A composição é simples, suculenta, inteligente e de uma fluidez impecável ao saber contar uma história de uma noite romântica, sabendo explorar ideias líricas extremamente eficientes e conseguir expressar toda a eletricidade de um encontro entre duas pessoas apaixonadas."

19. Strangers
Ethel Cain


"A canção mostra uma das características da artista ao ter a religião como um dos envolvidos nas suas crônicas. Strangers é sobre os sentimentos de contradição entre querer seguir os seus sentimentos e desejos ou respeitar a sua criação com ênfase na religiosidade que cercaram a sua criação. E isso é representado de maneira impressionante pela bela, delicada, angustiante e cortante composição de Ethel que meio que esconde em as suas intenções verdadeira em falsa noção de romance entre os seus versos. Entretanto, quando se olha com um pouco mais de atenção se perceber a força real da canção, especialmente no verso final quando a mesma toma a visão de olhar para trás ao ponderar sobre tudo que viveu. Sonoramente, a canção é uma espetacular power balada indie pop/rock que consegue transmitir bem toda a força lírica ao ser uma slow burn, começando de forma delicada e calma para se transformar em uma explosão a base de guitarras para depois terminar de maneira minimalista e delicada."

18. It’s Not Just Me, It’s Everybody
Weyes Blood


"A canção alcança um outro patamar quando Weyes afirma que esse sentimento é algo que realmente todos passamos em algum momento, deixando a canção com gosto ainda mais dolorido e potente. Sonoramente, It’s Not Just Me, It’s Everybody amplifica a mensagem ao ser uma contemplativa e melódica indie/ chamber pop com uma instrumentalização sensacional que ao escolher por caminhar em uma crescente que não chega a explodir drasticamente, preferindo seguir uma linha intima que parece remeter a uma conversa calma em um fim de noite. E com a performance tocante, melancólica e sóbria de Weyes Blood, It’s Not Just Me, It’s Everybody se torna um dos trabalhos mais marcantes de 2022 ao ser de uma sinceridade cruel e verdadeira."

17. BREAK MY SOUL
Beyoncé



"Break My Soul é, essencialmente, uma deliciosa house/dance com toque de R&B e hip hop que consegue derivar especificamente da era mencionada sem soar datada, adicionando um espetacular verniz moderno e radiante. A produção acerta em cada ponto sonoro, indo desde a construção instrumental, a atmosfera dançante e, principalmente, o uso dos samples que ressaltam bem as influencias. De um lado, a presença clara dos vocais da lendária rapper e pioneira do bounce Big Freedia retirados da sua canção Explode de 2014. Do outro, o contido, mas enriquecedor, uso do sample do clássico Show Me Love da Robin S. Na verdade, ao escutar pela primeira vez associei a canção diretamente com o sucesso de 1993 sem nem saber do uso do sample. O resultado é um trabalho radiante, viciante e com uma energia refrescante, especialmente quando a gente lembra que é a Beyoncé fazendo novamente pop. Vocalmente, Break My Soul é outro acerto já que a cantora adiciona a mesma vibe das canções de usadas de inspirações, pois adiciona o seu encorpado e poderoso vocal de forma azeitada para elevar o resultado final. A composição poderia ser melhor tematicamente já que não passa de uma edificante e clichê letra de autoajuda. Entretanto, o trabalho em si é ótimo ao conseguir emoldurar qualidades da era house como, por exemplo, as frases de efeitos e as rimas fáceis e, ao mesmo tempo, ser liricamente um trabalho redondo com vários momentos viciantes."

16. Hard Out Here
RAYE


"Conhecida mais pelo seu lado pop, Raye entrega uma espetacular mistura de hip hop, rap, uk bass e R&B com um instrumental de uma riqueza e criatividade impressionante. Poucas canções recentemente conseguem ter uma produção tão distinta como a de Hard Out Here que apresenta uma reapresentação de uma artista que parecia destinada a um estilo de sonoridade, mas que é feito uma guinada de 180° para um som realmente maduro, provocante e encorpado. Entretanto, a canção não tem apenas na sua produção uma quebra de expectativa desse nível, pois Raye também se mostra uma artista com mais potencial ainda ao entregar uma performance áspera, poderosa e de uma versatilidade gigantesca ao encontrar um equilíbrio entre cantar e o rap primoroso e com uma identidade única. O perfeito pacote se completa com a poderosa e profunda composição que é basicamente uma reintrodução da cantora ao expressar seus sentimos sobre o tratamento que a indústria fonográfica e a sociedade vem fazendo a mesma passar durante a sua vida toda."

15. N95
Kendrick Lamar



"A canção é uma cortante, avassaladora e monumental reflexão acida e honesta sobre a loucura que a sociedade embarcou nos últimos tempos, especialmente na época da pandemia. É incrível que o rapper consiga abordar de tantos “pequenos” assuntos para criar uma crônica sobre a hipocrisia humana. A principal linha de raciocino é o fato que enquanto muitos usavam mascaras para proteção contra a Covid-19 de grife existiam pessoas que não tinham acesso em hospitais aos tanques de oxigênio para sobreviverem. Poderoso e desconcertante, N95 tem essa característica do Lamar de ir fundo em suas letras e ainda entregar algo sonoramente original e, ao mesmo tempo, competitivo comercialmente ao entregar uma refinada, substancial e impressionante batida trap com pinceladas profundas de conscious hip hop."
Resenha

14. Glimpse of Us
Joji


"Glimpse of Us é uma sincera, melancólica e quase sem esperança canção de amor sobre realizar que o amor verdadeiro estava em que se perdeu. Essa contestação se dá no momento que o narrador percebe que vivendo um novo amor perfeito na teoria, o amor verdadeiro é imperfeito e que não precisa realmente de razão para existir. Isso já poderia ser já algo poderoso, mas como Joji constrói cada verso é de uma força tocante e poderosa. O tom confessional é algo tão intimo que parece um segredo contado ao pé do ouvido, deixando a canção ainda mais devastadora. O meu momento preferido é no começo do refrão em que Joji declara que: “'Cause sometimes I look in her eyes/ And that's where I find/ A glimpse of us”. Sonoramente, a canção não reinventa a roda de maneira nenhuma, mas entrega uma elegante e tocante balada pop com toques de art pop que parece o meio termo entre a melancolia do James Blake e a classe do Elton John. E que grata surpresa é a sublime performance de Joji em entrega todos os sentimentos de Glimpse of Us de maneira contida e de uma tristeza quase palpável."

13. Crazy
Doechii



"É um pouco difícil comparar o que a rapper entrega na faixa, mas o melhor link que posso fazer é com a lendária 212 da Azealia Banks. Frenética, ambiciosa, experimental e de uma produção espetacularmente inteligente, Crazy é assim como 212 uma hip hop/eletrônica/house que explode na nossa cara feito uma gramada, deixando quem escuta fascinado e desnorteado. Entretanto, Doechii entrega uma canção mais áspera, feroz e quase animalesca devido a sua espetacular performance que consegue deixar a canção ainda mais revigorante. Se pudesse comparar com uma atriz, a rapper entrega uma atuação que seria digna de ser indicada ao Oscar simplesmente pela qualidade do que por campanhas mediáticas que poderiam ser feitas. Existe uma urgência nos versos diretos e concisos da canção que é como o toque final de gênio de Crazy."

12. Through The Echoes
Paolo Nutini



"O grande trunfo da canção é a presença espetacular de Paolo. Dono de uma voz potente e rouca, o cantor sabe dosar lindamente os momentos de contemplação com os momentos estouros para conseguir entregar todas as nuances da canção para no seu final deixar a emoção falar de maneira irrestrita e na medida certa, construindo uma slow burn edificante e realmente tocante. Essa característica casa perfeitamente com a poderosa composição sobre as diferenças entre duas pessoas em um relacionamento e como isso é capaz de salvar quem se ama. A ótima produção entrega uma indie rock/folk com toques de soul que consegue emoldurar todos os sentimentos da canção de maneira fluida."
Resenha

11. The Garden Path
Kamasi Washington


"Quase sem composição, tirando um coro que repete no começo e no fim da canção exatamente seis versos, The Garden Path é o triunfo de uma instrumentalização genial. Explosiva, mas sem perder a ternura. Sufocante, mas nunca sendo exageradamente frenética. Belíssima, mas apresentando uma fúria selvagem. Contemplativa e, ao mesmo tempo, sabendo exatamente o que é do começo ao fim. A canção é essa dualidade de informações, mas que nunca se perder devido ao pulso firme da produção. E o solo de sax de Kamasi é algo realmente triunfal e poderoso como a fúria de vendável. Obviamente, a canção é uma jazz que mistura acid jazz, contemporâneo e toques orquestrais que não é para todos os públicos, especialmente aqueles que estão acostumados com uma sonoridade comercial e mainstream. Entretanto, qualquer um que ouvir a canção não pode dizer que não está diante de uma música impressionante."

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