8 de dezembro de 2020

Primeira Impressão

Positions
Ariana Grande


Ariana Grande já demostrou por a mais b que é uma das maiores forças do pop dos últimos dez anos. E, gostando ou não, isso é um fato inegável, principalmente quando analisamos que a cantora encontrou uma sonoridade que pode ser chamada de sua, mesmo que não tenha nada de novo. O grande problema, porém, é que a artista decidiu investir na quantidade do que na qualidade e, em um período de sete anos, chega ao sexto álbum com o lançamento de Positions. Infelizmente, apesar da qualidade alta nos cinco primeiros trabalhos, o “efeito Rihanna” chegou com força no álbum lançado, resultando não apenas no pior trabalho da Ariana, mas como um dos momentos mais decepcionantes do pop no ano.

Para quem não se lembra o que é exatamente o “efeito Rihanna”, pois a mesma deixou a carreira musical no churrasco e virou revendedora de Avon de luxo, é o fato da cantora ter lançado sete álbuns em um período de apenas oito anos, começando com o debut Music of the Sun em 2005 até chegar em Unapologetic de 2012. Nesse período, a Rihanna foi crescendo comercialmente e, também, artisticamente, mas a qualidade que começou questionável e chegou até a elogiável foi decaindo muito nos dois últimos álbuns. O motivo principal: a quantidade de trabalho um atrás do outro não deu tempo para Rihanna respirar e reagrupar a tempo suficiente de pensar com cuidado na produção. E é exatamente assim que vejo Positions: um álbum que não teve tempo de ser arejado suficiente para se descolar dos lançamentos anteriores, soando com a coleção de demos e /ou canções descartadas que estão vendo a luz do dia. Isso acarreta o desgaste prematuro da formula de sucesso criada para a sonoridade de Ariana. 

A sensação de estarmos ouvindo algo que já tínhamos ouvido antes é tanta que posso colocar a mesma definição básica da sonoridade que descrevi o álbum anterior (thank u, next) para o novo trabalho: um “trabalho de pop com pinceladas generosas de R&B, dance-pop e hip hop, emoldurados em uma sonoridade que foi construída para ser algo representante da persona da Ariana Grande”. Todavia, retiro todas as qualidades positivas e, infelizmente, devo afirmar que Positions é uma coleção morníssima, repetitiva, sem graça e, infelizmente, beirando o ruim em vários momentos dessa mesma sonoridade que consolidou a Ariana como uma força da natureza. Raso sonoramente, pouco interessante e sem nenhum pingo de ousadia que permeava de forma pungente todos os outros trabalhos da cantora, o álbum deixa claro que essa batida low profile pop/R&B que recorre ao trap como inspiração parece ter tempo de vida curto. E é por isso que recorrer a quebra de expectativas é o que dava liga para a sonoridade da cantora. Possivelmente, o único momento em que parece que as coisas irão se tornar realmente excitantes é quando surge a sensual Off the Table com a sua batida mais marcante e densa, mas, infelizmente, boa parte do leve frenesi que a mesma causa é devido a presença forte do the Weeknd. E tudo é meio que diminuído ao lembramos que os dois já entregaram a ótima Love Me Harder. Também é necessário notar que esse primeiro momento de destaque apenas acontece na quinta faixa com quase dez minutos de duração do álbum. E, queridos leitores, essas quatro primeiras faixas são de longe os piores momentos da carreira da cantora, especialmente a vergonhosa 34+35. E é aqui que entra os pregos no caixão de Positions

Nos últimos dois álbuns, Ariana teceu uma narrativa que se ligou diretamente com a sua vida pessoal. Sweetener mostrou o amadurecimento da cantora. Em thank u, next mostrou a sua emancipação e, principalmente, a expiação de alguns de seus pecados. Em Positions, a cantora já dona de si completamente decidiu mostrar o seu lado sexual. E isso é problema? Nenhum. Ainda mais que esse destino lírico é o mais coerente com a sua jornada até aqui. O problema é a qualidade das composições tecnicamente. Se nos trabalhos anteriores havia um claro senso pop unindo de forma azeita com confissões pessoais e íntimas, o clima aqui é de uma jovem de quinze anos falando sobre sexo e outros assuntos recém descobertos. Não há nada sutil, refinado ou inteligente na maneira que, por exemplo, a cantora de falar sobre a posição sexual 69 na péssima 34+35. O que parece é que Ariana e sua aglomeração de coautores fizeram as letras no automático, rimando o que dava com qualquer palavra que servia e usando temáticas rasas como pires quebrados. E até mesmo em canções com algumas qualidades acima da média, a qualidade duvidosa das letras prevalecem. Na faixa que dá nome ao álbum e que é o primeiro single é a prova cabal disso: Positions tem no seu refrão a pérola “I'm in the Olympics way I'm jumping through hoops”. Na balada quase boa sobre deixar ser amada POV, Ariana declama como se fosse um verso do mais consagrado poema: 

I wanna love me (Ooh) 
The way that you love me (Ooh) 
Ooh, for all of my pretty 
And all of my ugly too 
I'd love to see me from your point of view 

Felizmente, a cantora ainda se mostra de fato como um potencial vocal que realmente encontrou o seu lugar e não pretende abaixar o nível. Na verdade, os vocais da cantora é que não deixa o álbum afundar de vez. Segura, envolvente e com um charme único, Ariana consegue tirar alguma vida da disco-pop Love Language, ser o contraponto ideal para o rapper Ty Dolla Sign em Safety Net, mostrar sensualidade sem cair em clichês na fofa Six Thirty e mostrar versatilidade na legal R&B/soul/pop My Hair. Isso não salva de fato Positions de ser um trabalho extremamente entediante e com uma produção mediana que está longe do talento gigantesco da dona do álbum. Felizmente, existe uma saída para o “efeito Rihanna”: o lançado de um bem pesado trabalho como o ótimo Anti que teve seu tempo de preparo respeitado para dar espaço para o surgimento de novas ideias para evoluir a sonoridade. Resumidamente: Ariana precisa de tempo de descanso. Quem assim seja!

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