Natalie is The New Jolene

Natalie Don't

RAYE

De tempos em tempos aparece uma canção que surge meio que do nada e se torna uma verdadeira surpresa gratificante. Recentemente, o mais novo caso é Natalie Don't da britânica RAYE.

Sumida aqui do blog tem um bom tempo, RAYE parece que agora está solidificando a sua carreira e preparando para lançar o seu primeiro álbum. Como possível primeiro single foi lançada essa pequena joia chamada Natalie Don't que consegue unir em apenas uma canção a tendência do momento e uma homenagem ao passado que é completamente diferente da sua estética. Explicando: Natalie Don't é uma dance-pop/disco com toques de R&B que remete diretamente a lendária Jolene, canção country da atemporal Dolly Parton. Essa mistura estranha funciona melhor que o esperado em uma faixa deliciosamente envolvente. A produção não aposta em algo explosivo, mas acerta da batida quase mid-tempo envolvida em uma dramaticidade bem orquestrada. Vintage na medida certa, Natalie Don't é dona de letra sensacional ao contar a história de uma mulher que pede a outra para não "tirar" o seu homem dela. Não é apenas o mesmo tema de Jolene modernizada, mas a letra faz uma referência direta a canção de Dolly. Inesperadamente inspirada, a canção é até o momentos uma das melhores canções de 2020 que você não deve conhecer.

nota: 8

Pequenos Erros, Grande Acertos

Holiday

Little Mix

Enquanto muitos comemoravam o aniversário de formação do One Direction, a outra força pop saída do The X Factor UK estava lançando o seu mais novo single. Provando que continuam fortes como uma das principais girl band do mundo, o Little Mix lançou a legal Holiday.

Holiday é uma canção que claramente poderia ser bem melhor, mas o resultado final ouvido é realmente inspirado. Misturando algumas referências dos anos oitenta em uma cruza de Debbie Gibson com The Pointed Sisters que quase não funciona, o single consegue ter uma personalidade diferente e, ao mesmo tempo, condizente com o atual cenário pop. Leve e despretensiosa, a produção poderia dar um clímax bem mais poderoso para a canção. Além disso, a canção também poderia ter usado um sample da sua homônima Holiday da Madonna para dar aquele toque final na construção da instrumentalização que seria a cereja em cima do bolo. Felizmente, a canção consegue se sustentar em pé sozinha devido, principalmente, do refrão cativante e as performances sólidas de todas as integrantes da girl band. Erros a parte, Holiday é uma canção que se encaixa bem na narrativa de 2020.
nota: 7,5

Primeira Impressão

VELVET
Adam Lambert

A Hipocrisia

WAP (feat. Megan Thee Stallion)

Cardi B

O ano é de 2020 e ainda existem pessoas que se sentem ofendidas e/ou horrorizadas quando mulheres decidem falar sobre sexo com a mesma linguagem que homens sempre falaram. O lançamento de WAP, parceria da Cardi B com a Megan Thee Stallion, é a prova da imensa hipocrisia que a nossa sociedade ainda vive, colocando dois pesos e duas medidas para homens e mulheres. Enquanto rappers homens sempre falaram de forma explicita, vulgar e, por muitas vezes, machistas e não tinham tantos odiadores, duas mulheres que resolvem fazer o mesmo ao "reclamar o seu ponto de vista", o mundo parece que irá cair do firmamento. E, por isso, WAP ganha uma importância ímpar que não teria em outros contextos. O mais interessante, porém, é que a canção é melhor do que poderia ser esperado.

WAP, sigla para Wet-Ass Pussy, é sobre as duas rappers buscarem por prazer sexual. Simples, direto e, por várias vezes, explicito. E isso não é nenhum problema, pois a composição é super divertida em sua metáforas e muito bem construída. Com uma divisão ótima entre as duas rappers de espaço, a canção não funcionaria se não tivesse duas artistas tão carismáticas como Cardi B e Megan, entregando duas performances bem diferentes com a primeira em uma cadencia mais devagar e a segunda com uma força acelerada e com uma química ótima. O mais importante é que as duas exalam poder que ajuda imensamente a canção não ser apenas mais sobre sexo e, sim, uma ode ao prazer feminino. Sonoramente, a canção é bem melhor que eu poderia ter prevido, apesar de alguns tropeços aqui e ali. A produção acerta ao "poptizar" a batida trap para dar um toque comercial mais amplo, mas esquece de dar mais substância para a batida. O uso do sample de Whores in This House é bem vinda e dá personalidade para WAP, mas poderia ter sido restrito em alguns momentos chaves. Além disso, a transição seca entre os versos das duas rappers deixa um gosto meio estranho. Felizmente, WAP é o tipo de canção que não veio para agradar a gregos e troianos, mas veio para marcar uma discussão importante sobre o quanto hipócrita ainda é o tratamento da mulher em nossa sociedade.
nota: 7,5

A Maturidade Pop

Something More

Róisín Murphy

As novas divas pop são ótimas, né? Mas vocês já deram uma chance de verdade para aquelas artistas já bem estabelecidas? Em especial para aquelas fora do mainstream? Se não, você está perdendo verdadeiras pérolas como o novo single irlandesa Róisín Murphy, a sensacional Something More.

Something More é uma post-disco/eletrônica que parece flutuar em campo de papoulas enquanto nos envolve em uma névoa de riqueza, beleza, melancolia e uma elegante nostalgia. Construção de imagem estranha, mas perfeita para traduzir o que senti ao ouvir essa gloriosa canção que faz parte do próximo álbum da vocalista do duo Moloko. Ouvir Something More é como estar de volta aos Studio 54 em pleno 2020 vestido de dourado e cercado pela nata da sociedade underground. Claramente, a batida cadenciada não é nada comercial impossibilitando o sucesso comercial da canção, mas a madura composição sobre ter todas as coisas do mundo e, mesmo assim, sentir que existem coisas mais importantes para se conquistar na vida é um trabalho reluzente. O refrão poderia ser, porém, mais pungente na sua construção, deixando para a parte final o seu grande momento. Um fato curioso é que ao contrário de outras canções, a versão estendida de mais de sete minutos funciona melhor que a versão normal com apenas quatro minutos, pois parece preencher algumas lacunas sonoras ao encorpar a construção instrumental, especialmente o seu avassalador começo. De qualquer forma, Róisín Murphy e a sua maturidade entrega uma canção pop para mostrar que as novas divas pop precisam comer muito arroz com feijão para chegar aos seus pés.

nota: 8,5

Há Coisas Boas Em Ser Mediano

What's Love Got to Do with It

Kygo & Tina Turner

Depois da surpreendente versão remix de Higher Love com a voz da Whitney Houston, o DJ Kygo aposta em uma versão remix do clássico What's Love Got to Do with It. Dessa vez, porém, o resultado não passa de apenas mediano, mas, felizmente, existe uma ótima notícia: a volta aos holofotes da lendária Tina Turner.

Ao contrário do remix com a voz de Whitney de uma canção que originalmente foi lançada como bônus de um álbum nos anos oitenta e que quase ninguém conhecia, What's Love Got to Do with It é uma das canções mais conhecidas da mesma década, faturando os Grammys de Canção e Gravação do Ano. Além disso, a canção é uma das assinaturas da lendária carreira da Tina Turner ao fazer dela um dos maiores nomes da música mundial. Por isso, qualquer mudança no original aqui será sentida de forma profunda e significativa. E isso acontece nesse remix que não vai além de um mediano tropical house que qualquer DJ/produtor poderia entregar. Existe, porém, dois lados bons do remix What's Love Got to Do with It: o primeiro, Kygo não alterou a melodia icônica da canção e, também, não adicionou muitos efeitos vocais na voz de Tina, deixando quase como na versão original e, o segundo, o remix é a chance da Tina Turner voltar aos holofotes para uma nova geração ter a oportunidade de conhecer a lenda. E isso já é algo para celebrar.

notas
Remix: 6
Original: 10

A Falta de Respeito

Levitating (The Blessed Madonna Remix) (feat. Madonna and Missy Elliott)

Dua Lipa

Dua Lipa resolveu lançar um álbum de remixes de Future Nostalgia com a participação de grandes nomes do pop. Intitulado Club Future Nostalgia, o álbum conta como primeiro single o remix de Levitating com o featuring da Madonna e da Missy Elliott. Após o lançamento do single notei a grande falta de respeito em torno da canção.

Com uma recepção predominantemente negativa por fãs, Levitating (The Blessed Madonna Remix) parece que está condenada a ser a bomba do ano para muitas pessoas. Felizmente, aqueles que realmente entenderam a ideia pro trás do remix conduzido pela DJ The Blessed Madonna (sim, esse é o nome artístico de Marea Stamper) baseado no trabalho de Koz e StuarPrince podem notar a clara referência a um sub-gênero que teve o seu ápice durante os anos noventa e começo dos dois mil: os remixes de canções que eram vendidos em CDs singles de grandes nomes do pop. Mariah Carey, Jennifer Lopez, Beyoncé, Whitney Houston e, claro, a própria Madonna tem dezenas de canções nessa mesma categoria que transitavam sonoramente entre o club house e o eletrônico. E é nesse nicho que fica a nova versão Levitating, mas muitos "fãs" parecem não ter essa referência clássica do pop e acusaram a canção de "destruir" a versão original. Além disso, parece que esses mesmos críticos parecem não saber qual a definição de o que é um remix.

Ao contrário de vários exemplos recentes, Levitating (The Blessed Madonna Remix) não se limita apenas a colocar um novo verso para incluir uma participação especial. O trabalho aqui é mais profundo e modificador ao alterar a estrutura da versão original, passando de uma electropop/disco com toques de R&B e eletrônico para uma direta electro/club house com boas pinceladas de future bass. A mudança é drástica, mas para aqueles que realmente entendem o conceito é um verdadeiro presente nostálgico de uma era de pop que ainda está vivo na memória de muitos. Poderia ser melhor? Sim. O remix parece não explorar todas as possibilidades que esse sub-gênero apresenta, apesar que a parte final flerta com ideias bem interessantes. Mesmo assim, o remix é um trabalho sólido, divertido e muito bem segurado pela presença das três artistas. Dua perde espaço, mas continua carismática. Madonna está presente na sua melhor canção em anos. E a Missy Elliott mostra para o que veio de forma primorosa. Para aqueles que não gostaram da canção aconselho procurar saber sobre a influência em Levitating (The Blessed Madonna Remix) para depois julgar realmente se achou bom ou ruim. 

notas

Versão Original: 7,5

Versão Remix: 7,5

Casualidade da Pandemia

Hallucinate

Dua Lipa

Apesar de ser um dos maiores sucessos do ano e, surpreendente, um dos álbuns mais aclamados do pop em anos, o Future Nostalgia poderia ser ainda maior se a pandemia não tivesse impedido a Dua Lipa de promover devidamente o álbum ao redor do mundo. E a maior prova disso é o lançamento do single Hallucinate que poderia ter um clipe de verdade e não apenas um em desenho animado, promoção digna e um desempenho nas parada bem melhor. Apesar disso, a canção é outro acerto em um álbum de grandes acertos.

Mesmo não sendo a melhor das faixas ou mesmo a minha preferida, Hallucinate é uma rica e cheia de personalidade dance-pop com toques de disco, house music e psychedelic que parece fazer uma ponte entre a sonoridade dos anos noventa com a dos anos oitenta de forma natural. Viciante, dançante, divertida e com uma batida feita para fazer um verdeiro show de coreografia nas baladas da vida. Dominando a canção com propriedade, Dua Lipa tem a capacidade de elevar uma canção que nas mãos de outras poderia ser mais do mesmo. O único defeito de Hallucinate é o seu ok refrão que poderia claramente ser bem melhor. Uma pena que a pandemia minou boa parte da força que a Dua Lipa poderia alcançar esse ano. E seria algo para entrar para os livros.

nota: 7,5 

Melancias, Refrões e Doses Cavalares de Açúcar e Carisma

Watermelon Sugar
Harry Styles

Vem ser tornando o sonho de qualquer artista é conseguir se manter revelante e estável comercialmente durante um bom tempo. Quanto mais tempo as pessoas se interessam por uma música, mais streamings conseguem e as vendas digitais aumentam. Chegar ao primeiro lugar é algo que parece interessar mais os fãs do que as gravadoras e os próprios artistas, pois ser o primeiro das paradas não serve para nada se o boom for apenas durante um tempo. E um dos reis dessa nova prática é o Harry Styles que emplaca outra canção: a adorável Watermelon Sugar.

Watermelon Sugar é a canção mais simpática e fofa de todo o Fine Line. Com uma produção quase inofensiva demais, a canção é um delicioso funk pop que resulta em um refrescante vício pop que conquista quase tão rápido quanto a vodka subindo para a cabeça depois de virar o copo de um drinque bem forte a beira do mar em uma noite de verão. Essa sensação é perfeita para explicar o quanto forte é o fator comercial de Watermelon Sugar, ajudando a explicar o seu sucesso estendido e conquistado aos poucos. Isso não quer dizer que a canção não apresenta problemas. Assim como todas as canções de Harry no álbum citado falta a elevação da composição para algo que possa ser mais que agradável e bem estruturada. Isso é eclipsado pelo imenso carisma de Harry e o refrão fácil, rasteiro e viciante que complementa a graciosidade de Watermelon Sugar que vai se transformando em um dos maiores sucesso de 2020.
nota: 7,5

Abençoada Seja Nossa a Kylie

Say Something

Kylie Minogue

Para corar com um laço de ouro a nova era da disco/dance-pop, a Kylie Minogue resolveu voltar ao pop depois de sua incursão ao country que, digamos, passou bem longe do memorável. E começando a divulgação do bem apropriado intitulado décimo quinto álbum Disco, a deusa do pop lançou a auspiciosa Say Something.

Antes de acharem que Kylie está simplesmente surfando na atual onda é necessário dizer que a cantora já tinha feito essa volta ao disco lá no começo dos anos noventa e em vários outros momentos posteriores na sua carreira. Por isso, Say Something é um lugar confortabilíssimo para a cantora que entrega uma canção de um refinamento puro e de uma maturidade elegante. Devo dizer que a pegada disco com toques de synth-pop e pitadas de pop rock não é exatamente um acerto no que diz respeito ao fator comercial. Além disso, o refrão é um pouco esquisito ao apostar em deixar a voz da cantora em off boa parte da sua duração. Entretanto, esses poréns não afetam a qualidade da produção que construí um final inesperado, apoteótico e inspirado. Em uma performance digna de seus status de diva plena do pop, Kylie Minogue parece prometer outro ápice para a nova era do pop.

nota: 7,5

Primeira Impressão

Petals for Armor

Hayley Williams

Levemente Off

Love Me Land
Zara Larsson

Meio que deixada de lado ao não cumprir a promessa de ser a próxima grande diva pop, a sueca Zara Larsson voltou ao meu radar com o lançamento da imperfeita e interessante Love Me Land.

O single que deve ser o primeiro do seu próximo álbum é um trabalho que poderia ser um verdadeiro estouro, mas que também apresenta algumas boas ideias. A canção é o famoso caso de uma produção que, apesar da inspiração inicial, parece não consegue colocar na prática o que na teoria ser um acerto garantido. Nada previsível na sua construção, Love Me Land erra no mediano refrão que não consegue elevar a canção para um patamar de hino pop. Cheia de quebras sonoras e com uma performance sólida de Lara, a canção apresenta uma composição com sacadas ótimas que escorrega ao não dar mais substância para suas próprias ideias. Uma pena que a canção não dá certo totalmente, pois seria sem nenhuma dúvida uma das melhores do ano.

nota: 7

Levemente Off 2

Troye Sivan

Easy

Cada vez se afirmando como um verdadeiro oásis do pop, o australiano Troye Sivan  parece quase imune em fazer música ruim. Quase é a palavra correta, pois o seu mais novo single, Easy, é uma escorregada na sua ótima discografia.

Lançada como single do seu EP  In a Dream, a canção possui as mesmas características da sonoridade do cantor: um indie pop com um forte flerte com dance-pop/dream pop. Dessa vez, porém, o resultado parece levemente deslocado do que normalmente Troye entrega. Provavelmente, a batida cadenciada mid-tempo é a responsável por essa sensação, pois o resultado final soa estranho e fora de lugar sonoramente. Ainda mais ao se juntar com a atmosfera da canção que pede algo mais solene. Não é de longe ruim já que a canção tem um refrão realmente inspirado e uma composição que continua a mostrar Troye como um aurato de sentimento de delicadeza para sentimentos complexos. Todavia, Easy é uma canção off que poderia ser bem melhor finalizada.
nota: 7

Sonhos de Uma Noite de Verão

Are You Even Real?

James Blake

Em meio a tanta loucura que vivemos, o James Blake parece um arauto da paz ao ser capaz de falar sobre amor da maneira mais romântica e delicada possível. E assim a base do seu ótimo novo single Are You Even Real?.

Apesar de soar levemente parecida com o single anterior You're Too Precious, Are You Even Real? tem uma qualidade a mais devido a sua excepcional instrumentalização que flerta pesadamente com uma musicalidade clássica em um trabalho de um refinamento primoroso. Seguindo basicamente a mesma sonoridade indie/eletrônica, James Blake não adiciona exatamente nada de novo na sua sonoridade, mas o resulta delicado adiciona suavidade para os tempos em que vivemos. Falando de amor de forma metafórica sobre a maravilha de estar apaixonado, Are You Even Real? parece a trilha sonora de uma noite morna de primavera em que o ar está perfumado pelas rosas recém brotadas. Parece um sonho, mas isso é escapismo necessário atualmente.

nota: 8

Rainha Rina

XS

XS (Bree Runway Remix) (feat. Bree Runway)

Rina Sawayama

Assim como quem não quer nada, a britânica Rina Sawayama vai se tornando um dos nomes mais importantes do atual cenário pop. Lançada esse ano, o genial single XS ganha uma versão remix que mostra a força criativa de Rina em plena forma.

XS, faixa do magistral álbum debut da cantora, é o tipo de canção que você não sabe muito bem o que está acontecendo, mas que acaba amando de qualquer forma. Uma mistura esquisita e genial de art pop com indie, pop rock e electropop, criando um híbrido surpreendente, ousado, comercial e completamente viciante. Cheio de nuances primorosas e quebras de expectativas que apenas agregam ao resultado final, XS deixa bem claro que Rina tem disposição e talento para dar um passo além dentro do pop para fazer da sua sonoridade substancial e diferenciada. Falando de forma divertida e com uma acidez picante sobre consumismo e a necessidade de manter as aparências a todo o custo por meio da ostentação, a canção é entoada por uma inspirada Rina que se mostra uma diva pop com uma versatilidade e alcance monstruosos. A versão remix sofre do mesmo problema que esse tipo de canção são acometidas nos últimos tempos ao não mudaram exatamente quase nada na sua produção instrumental. Felizmente, a qualidade de XS é tão alta que o efeito dessa "tapeação" afeta quase nada. Além disso, a presença da rapper Bree Runway e o seu divertido verso é bem vinda, mesmo que poderia ter sido mais explorada. De qualquer forma, Rina Sawayama entregou uma das melhores canções do ano em um nível quase inalcançável. 

notas

XS: 9

XS (Bree Runway Remix): 8,5

A Garota do Momento

Girls in the Hood
Megan Thee Stallion

Se confirmando como um dos nomes mais importantes de 2020, a rapper Megan Thee Stallion continua a sua recente dominação com o lançamento da ótima Girls in the Hood.

Fazendo uma espécie de atualização do clássico do rap Boyz-n-the-Hood do Eazy-E de 1987 ao samplear, Girls in the Hood é uma direta e classuda hip hop sobre o poder de Megan Thee Stallion. Pode até ser clichê na sua ideia central, mas a novata faz da canção um hino empoderado e empoderador com uma mensagem certeira. Com uma composição muito bem escrita e cheia de ótimas saídas, Girls in the Hood erra apenas no seu morno refrão que deveria ser o estopim para a canção estourar sem nenhuma amarra. Mesmo assim, a performance grandiosa e de uma força cavalar de Megan amarra algumas pontas soltas, mostrando o talento bruto de Megan em sua melhor forma até o momento. E assim a rapper vai ser tornando a garota do momento.
nota: 7,5

A Música de Uma Carreira

Midnight Sky

Miley Cyrus

Não que seja uma surpresa para os parâmetros de 2020, mas ver Miley Cyrus entregar a sua canção de toda a carreira até o momento em Midnight Sky é algo realmente surpreendente. E a canção não é apenas boa para os parâmetros da Miley e, sim, um verdadeiro acerto em todos os sentidos.

Apesar de caminhar em uma estrada já movimentada que é da nova onda da disco/post-disco, Miley adiciona em Midnight Sky uma dose generosa e suculenta de rock que claramente remete as divas dos anos setenta como Debbie Harry e, principalmente, Stevie Nicks. Dessa forma, Midnight Sky ganha não apenas personalidade diferenciada em relação ao que está sendo feito, mas, também, uma dose de ousadia que combina com a persona da Miley sem, porém, passar dos limites ou soar forçada. Midnight Sky soa incrivelmente orgânica, parecendo que a cantora sempre entregou esse nível de maturidade e sofisticação sonora. Outro fato de sucesso da canção é a ótima performance vocal de Miley. Sempre tive alguns problemas com o timbre da cantora e, primordialmente, como a cantora performance no limite entre o inteligente e o irritante. Dessa vez, porém, a presença de Miley é espetacular, sabendo impor as características do seu timbre nos momentos certos para realmente colocar a sua marca na canção. Além disso, Midnight Sky é uma empoderada expiação amorosa em que a artista parece colocar de forma honesta o seu ponto de vista em relação as noticias sobre os seus relacionamentos recentes. Espero que realmente a cantora siga esse caminho que parece estar se abrindo a sua frente. E que 2020 seja o ano das melhores surpresas do mundo pop.

nota: 8

A Um Passo do Paraíso

Girlfriend
Charlie Puth

Existe uma sensação que acompanha o Charlie Puth desde o começo da sua carreira que o faz sempre estar a um passo da genialidade, mas algo parece o segurar sempre entre o decepcionante e o aceitável. Com o lançamento de Girlfriend a segunda opção é que prevalesse.

Girlfriend é uma simpática, bem intencionada e com uma boa produção dance-pop com agradáveis toques de R&B e pop soul que poderia ser muito melhor ao ganhar uma pegada ainda mais audaciosa. Em alguns momentos a canção parece que vai realmente decolar, mas é impedido pelas decisões que amarram a canção em uma base fixa. Além disso, a composição não é exatamente um lapso de genialidade, mesmo entregando um bom e redondo refrão. Apesar dos defeitos, Girlfriend é um trabalho que é melhor que parece ser permitido para uma canção do Charlie Puth. Quem sabe na próxima não vem o seu grande momento?

nota: 7

Dois Mundos

How You Like That
BLACKPINK

Conheço o k-pop de uma maneira bastante superficial. Conheço, porém, o pop com uma profundidade que me dá a capacidade de julgar em alguma estância uma canção de algum grupo de k-pop já que um sub-gênero do pop. E é por isso que posso afirmar que How You Like That, nova música da girl band BLACKPINK, é boa, mas decepcionante.

Depois de ouvir o mediano, mas promissor EP KILL THIS LOVE, achava que as meninas poderiam entregar algo realmente interessante para aqueles que não fossem fãs do gênero sul-coreano. As expectativas aumentaram com a parceria com a GaGa. Todavia, ouvir How You Like That é um banho de água levemente fria. Longe de ser uma canção ruim, o single é praticamente uma versão inferior da canção homônima do EP citado, mostrando que parece existir uma "fábrica" de canções do que uma coisa mais orgânica. Repito: How You Like That não é uma canção ruim, pois a sua batida dance-pop/hip hop frenética é perfeita para grudar nos ouvidos. Além disso, as performances das integrantes mostram uma força e versatilidade impressionante e o visual dos seus clipes são de cair o queixo. Isso não tira o fato de How You Like That ser mais do mesmo. Espero que com o boom mundial o gênero possa ir evoluindo ao longo do tempo.

nota: 6,5

2 Por 1 - Jonas Brothers

X (feat. KAROL G)
Five More Minutes
Jonas Brothers

Nunca foi fã dos Jonas Brothers, mas achei legal o comeback que os irmãos fizeram no ano passado. Então, acredito que já está na hora deles voltarem a fazer um hiato como prova o single duplo X e Five More Minutes.

Primeiros singles do próximo álbum da banda, as canções são trabalhos completamente dispensáveis, pouco criativos e de nada atrativos. X é uma tentativa pífia de colocar um sabor latino a sonoridade dos irmãos, mas que acaba como sendo uma coleção apática de clichê sobre o que é a música latina. Composição que invoca uma sensualidade estereotipada, uma batida massificada e a participação em espanhol da cantora KAROL G, X se salva um pouco devido ao mediano refrão e nada mais. Five More Minutes, porém, consegue ser pior ao ternar soar descolada e lowprofile em uma mistura irritante de pop e R&B que parece projeto musical escolar do que de uma banda com anos de estrada. Então, agora que já mataram as saudades já podem voltar a aposentadoria.

notas

X (feat. KAROL G): 4,5

Five More Minutes: 4

Primeira Impressão

What's Your Pleasure?
Jessie Ware

Bate Cabelo Chic

Save A Kiss
Jessie Ware

Ouvir as canções lançadas pela Jessie Ware recentemente é como entrar em uma capsula do tempo sem sair do lugar. Dessa vez, a cantora britânica nos leva para o final dos setenta e começo dos oitenta ao adicionar uma dose eletrônica em Save A Kiss.

Save A Kiss é uma luxuosa, elegante e envolvente disco/electropop com toques de R&B que parece ter sido feito para ser tocada no ápice de uma noite na lendária boate americana Studio 64. Desde o primeiro acorde até o seu final, a canção é convite gracioso para quem ouvir se deixar levar por essa nostalgia que não tem nada de datada. A performance encorpada de Jessie Ware adiciona a emoção necessária para fazer da letra sobre esperar um pouco para poder amar quem se gosta em um verdadeiro hino atemporal. E assim vai a Jessie Ware se transformando na nova rainha da disco em pleno 2020.
nota: 8

Para Um Grupo Bem Definido

Midnight (feat. Liam Payne)
Alesso

Uma música ser direcionada para um grupo especifico não é problema nenhum, mas quando a mesma resulta em algo que unicamente esse nicho de pessoas irá realmente gostar é, sim, um erro. Esse é o caso de Midnight do DJ Alesso com a participação do Liam Payne.

Midnight é uma EDM padrão feita para um público padrão que não vê muito mais que a batida massificada e sem muita ousadia um tipo de hino para baladas padrões. E, infelizmente, o público para esse tipo de música é basicamente o mesmo sem alcançar outros públicos de música pop. O mais curioso é que Midnight é uma canção desse estilo que consegue ser acima da média. Não é o trabalho mais criativo que exista, mas a produção acerta em dar algumas nuances mais melódicas a construção da batida. Além disso, o ex-1D Liam Payne entrega uma performance esforçada no seu melhor momento vocal até o momento. Se fosse uma canção que tivesse as suas amarras soltas, Midnight poderia ser um verdadeiro musicão.
nota: 6,5

A Saga da Anitta

Desce Pro Play (PA PA PA)
Mc Zaac & Anitta & Tyga

A Anitta enfrenta dois grandes problemas na sua carreira que, infelizmente, são causados pela própria. Primeiro, a sua vida pessoal aparece muito mais que a sua persona musical, sendo mais conhecida como uma personalidade da mídia que uma cantora. O outro problema é que, mesmo em seus trabalhos recentes com alguma qualidade, a cantora fica de escanteio. Esse é caso da decente e até divertida Desce Pro Play (PA PA PA).

Parceria da Anitta com o Mc Zaac e o rapper Tyga, Desce Pro Play (PA PA PA) tinha tudo para a ser a canção que iria fazer a cantora voltar as boas com o sucesso comercial e não apenas mais uma canção que apenas os fãs realmente vão dar importância. A grande qualidade da canção é sua contagiante e grudenta batida que faz uma mistura de funk com pop de forma exemplar com um forte verniz comercial. Poderia ser maior e com mais substância, mas Desce Pro Play (PA PA PA) é a canção com melhor apelo comercial que a Anitta esteve envolvida desde Sua Cara. O problema aqui é a mal utilização da Anitta que é escondida em uma produção vocal equivocada que a faz soar com uma voz que poderia ser de qualquer pessoa. Além disso, a presença completamente dispensável do Tyga é algo que precisa acabar. Se é para ter uma participação internacional que seja para adicionar algo de verdade. Quem realmente brilha na canção é o carismático Mc Zaac que parece viver a sua melhor fase ao se mostrar um funkeiro com carisma verdadeiro. Enquanto isso, Anitta deixa de lado o que poderia ser o seu retorno triunfal. 
nota: 6,5

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

TO FEEL ALIVE
Kali Uchis

Sofrência 1956

Exist For Love
AURORA

Já fazia algum tempo que não ouvia nada da norueguesa AURORA. Apesar de uma base de fãs forte, a jovem cantora não era uma das melhores memorias musicais como mostra a resenha do EP Running with the Wolves de 2015. Eis que em 2020 reencontro a jovem ao ouvir a canção Exist For Love. A minha grande surpresa foi (re)descobrir a cantora em uma canção realmente impressionante.

Exist For Love é uma surpreendente old fashion balada pop que remete a sonoridade dos anos cinquenta de cantoras da época e, principalmente, canções feitas para os filmes da década, especialmente Moon River. É uma imensa surpresa e, felizmente, muito auspiciosa, pois o resultado final é muito acima da média. Delicada, romântica e de uma elegância madura que parece feito por uma artista bem mais velha, Exist For Love é como ouvir o equivalente a um oásis no meio do deserto. Com uma instrumentalização simples e de uma beleza atemporal, a canção faz a gente lembrar que ainda vale a pena amar e ser amado. Que bom que reencontrei a cantora em um momento tão bom como a que encontro em Exist For Love.
nota: 8

Uma Agradável Lembrança

London in the Spring
Passenger

Conhecido pelo sucesso Let Her Go de 2012, o britânico Passenger continuou a sua carreira desde então com uma discografia prolifera alcançando ano passado o seu décimo e primeiro álbum lançado. Recentemente, o cantor prepara o lançamento do seu novo álbum com a divulgação da simpática London in the Spring.

London in the Spring é delicada, rápida e emocional declaração de amor pela vida e os pequenos prazeres como, por exemplo, passear pela cidade olhando a paisagem. Em tempos difíceis, a canção é um verdadeiro aconchego no coração ao dar esperança em pensar no futuro. Sonoramente, a canção é é de uma simplicidade imensa ao ser um trabalho voz e violão, tendo na confortavelmente áspera e contida voz de Passenger o guia perfeito para dar vida a melodia. London in the Spring é uma verdadeira agradável surpresa depois de um bom tempo sem notícias de um artista que merece ser redescoberto.

nota: 7,5

Quase Um Musical

So Will I
Ben Platt

Nos Estados Unidos e em outros países é extremamente comum que cantores sejam cantores e cantores sejam atores. E muitos deles tem uma carreira sólida nos dois nichos. Um exemplo que vem ganhando cada vez mais destaque é o do ator Ben Platt, conhecido pela série The Politician e vencedor do Tony pelo musical Dear Evan Hansen. Depois de lançar o seu primeiro álbum no ano passado, Ben divulgou So Will I como um conforto para as pessoas nessa pandemia.

So Will I é uma balada inspirada e inspiradora com a surpreendente produção de Finneas, irmão e produtor da Billie Eilish. Completamente diferente do pop/electropop da novata, a canção de Ben é uma balada pop contemporâneo que tem semelhanças com uma moderna canção de um musical da Broadway. Dona de uma estrutura encorpada e com uma atmosfera dramaticamente esperançosa, a canção poderia ter um clímax mais poderoso e explosivo, mas, felizmente, a sua produção linda, tocante e revigorante é perfeita para ouvir em tempos tão difíceis. Em uma performance delicada e emocionante, Ben Platt mostra que é possível fundir dois mundos do entretenimento de forma orgânica. Uma pena o Brasil parece ter certo preconceito com esse tipo de artista.
nota: 7,5

Primeira Impressão

how i'm feeling now
Charli XCX

Queen Charli

claws
Charli XCX

Em um ano tão disputado como o de 2020, a Charli XCX elevou o hype pelo lançamento do seu novo álbum em novos patamares. Depois da interessante forever, a cantora lançou a inspirada claws.

Novamente, Charli faz uma canção que apenas a cantora parece ser capaz de entregar ao ser um "híbrido de electropop com eletrônico experimental que funciona devido o carisma da cantora". Dessa vez, porém, a canção parece funcionar um pouco melhor devido ao fato de claws ter uma produção que pende mais para o lado electropop, deixando a canção com uma maior abrangência de público. Rápida e rasteira com apenas dois minutos e meio, o single consegue criar toda uma atmosfera bem construída que poderia soar inacabada nas mãos de alguém menos talentoso. Até mesmo a simples e direta composição é um trabalho inspirado, mesmo que o refrão não tenha todo o peso que esse tipo de canção realmente precisa. Isso não é problema importante para que Charli XCX continuar o seu plano de dominação de 2020.

nota: 8