28 de maio de 2023
Lições
WHERE SHE GOES
Bad Bunny
Bad Bunny
Já li por alguns que não gostam do Bad Bunny que o mesmo só entrega um tipo de canção ao se “escorar” no reggaeton, mas isso não é verdade já que o rapper vem experimentando e integrando uma grande gama de gêneros a sua sonoridade. Entretanto, o lançamento de Where She Goes é prova cabal da sua abrangência sonora.
Longe das raízes latinas, a canção é uma interessante excursão ao mundo do eletrônico com uma batida bem trabalhada e com originalidade. Explorando o gênero jersey club, subgênero do eletrônico criado em New Jersey que mistura house e hip hop, Bad Bunny acerta ao entregar uma canção que o faz soar disposto a procurar novas fronteiras sem perder a sua imensa e distinta personalidade. E isso é uma verdadeira lição para rappers como, por exemplo, o Drake que tentam fazer essa transição, mas vem falhando miseravelmente. É obvio que devido a sua persona ainda está marcada com fogo e ferro em Where She Goes, a canção não é para aqueles que já não gostam do artista. Entretanto, o resultado final mostra que o Bad Bunny parece pronto para evoluir sonoramente e continuar a sua dominação mundial.
nota: 7,5
Toda Barbizinha
Dance The Night
Dua Lipa
Dua Lipa
Um dos eventos midiáticos do ano é o lançamento do filme Barbie e isso vai se estender para a parte música, pois a sua trilha sonora está recheada de quem é quem no atual cenário pop. E como primeiro single foi lançado Dance The Night da Dua Lipa.
Com uma participação no filme como a Barbie sereia, a cantora emoldura a sua era Future Nostalgia em uma canção tão colorida como o mundo da Barbie. Com produção de Andrew Watt, Mark Ronson e duo Picard Brothers, Dance The Night é uma leve, divertida, dançante e despretensiosa post-disco/dance-pop que segue a cartilha a risca sem grandes novidades, mas com uma realização tão bem feita que fica difícil resistir. Dua Lipa domina a canção com propriedade adicionando a sua iluminada presença para dar vida a canção. Com uma letra fácil, rápida e deliciosamente despretensiosa, a canção era no refrão ao não dar a explosão necessária para que o mesmo exploda plenamente, quase preferindo mandar uma certa linearidade em relação ao resto da canção. Tirando isso, Dance The Night é o típico banger da Dua Lipa que dá ainda mais hype para um dos filmes mais hypados de 2023.
nota: 7,5
Karma is a Meh!
Karma (Remix) (featuring Ice Spice)
Taylor Swift
Taylor Swift
Existe uma relação de altos e baixos entre a minha percepção com a Taylor Swift que nesse momento se encontra no lado mais baixo. E canções como Karma não ajudam nada.
Single do relançamento de Midnights, a canção agora tem a participação da atual sensação do rap Ice Spice. E, queridos leitores, apesar de nem tentar entender como foi o processo de pensar que a rapper combinaria com a canção, acredito que a presença de Ice nem é tão ruim. Na verdade, o seu estilo combina até bem com a proposta da canção ao entregar um bom refrão em que a sua presença dá algum peso para o resultado final. O problema de Karma é que a canção já não é realmente boa e esse “remix” não faz melhorar nada. Esse electropop/synth-pop asséptico, massificado e com os mesmos cacoetes de canções da cantora em outras eras é manjado, mesmo que continue a ser sempre muito bem planejado tecnicamente. E a canção é novamente um desfile de “white girls problems” tem o seu público cativo, mas, sinceramente, está bem cansativo. E por enquanto, Taylor não tem previsão de mudar essa sua nora era mediana.
nota: 6
Toque de Midas
un x100to
Grupo Frontera & Bad Bunny
Grupo Frontera & Bad Bunny
Apesar de ter se tornado um dos maiores nome da indústria musical mundialmente, o Bad Bunny se mantém fiel as raízes da musica tradicional latina. E é por isso que ver un x100to, parceria com a banda Grupo Frontera, fazer sucesso adiciona mais significado para o sucesso do rapper.
Ao ajudar a colocar uma canção de cumbia, estilo tradicional colombiano, misturado com norteño, gênero tradicional mexicano, no top 5 da Billboard é algo quase imaginável não tem muito tempo, mas a presença do Bad Bunny ajuda o seu imenso publico a ser exposto a esse tipo de canção. E isso já vale alguns pontos. Felizmente, un x100to é uma canção bastante simpática que consegue conquistar quem escuta de maneira natural ao ser carismática como uma balda romântica deveria ser. Gosto de como não importa o estilo, o Bad Bunny coloca a sua marca na canção de maneira indiscutível. E esse deve ser o legado do rapper. Justo.
nota: 7
21 de maio de 2023
O Mundo de Acordo com a Beyoncé
America Has a Problem (feat. Kendrick Lamar)
Beyoncé
Beyoncé
Finalmente a Beyoncé começou a “divulgar” o Renaissance com o início da tour que tomou conta das redes sociais e notícias sobre a indústria da música nas últimas semanas. E agora vem o lançamento de America Has a Problem na sua versão remix com a presença ilustre de Kendrick Lamar.
Devo admitir que a canção não está na minha lista de favoritas do álbum, mas é ainda um ponto interessante dentro do álbum. Uma miami bass, subgênero do hip hop misturado com eletrônico e dance music, que não tem o glitter explosivo de outras canções do álbum devido a seguir uma batida mais linear, mas é produzido de maneira tão estilosa e refinada que consegue acompanhar a ritmo que o álbum impõe. A versão “remix” não muda nada sonoramente e isso é um ponto negativo, especialmente se comparado com os outros remixes lançados. Entretanto, o inspiradíssimo verso de Lamar logo no começo de America Has a Problem é uma dose de excitação e quebra de expectativa que faz a canção ganhar alguns pontos consideráveis. Agora só falta a Bey decidir lançar em algum momento os visuais de Renaissance, mas isso só Deus sabe se vai acontecer algum dia.
nota: 8
A Doce Farofada da Kylie
Padam Padam
Kylie Minogue
Kylie Minogue
Ao chegar ao seu décimo sexto álbum da carreira intitulado Tension, a Kylie Minogue continua a mostra que apesar dos seus trinta e cinco anos dedicados a música está bem longe de se contentar em ficar no mesmo lugar. Em Padam Padam, primeiro single do álbum, a cantora explora um novo lado da sua persona.
Provavelmente, Kylie é uma das cantoras pop que navegou basicamente por quase todos os estilos que o pop pode oferecer. E novamente estamos diante de uma faceta que parece ser uma novidade para a sua carreira ao entregar uma deliciosa farofa house, eurodance e eletrocpop. Produzido por Lostboy, a canção apresenta de maneira todos os clichês desse tipo de canção e, ao mesmo tempo, apresenta uma camada de refinamento reluzente que parece ligado sempre aos trabalhos da cantora. E isso é aproveitado de maneira sensacional devido a ótima construção sonora que dá nuances para o que normalmente seria apenas uma batida linear. Gosto da composição de Padam Padam que se aproveita da onomatopeia do título que imita o som de um coração batendo para construir todo a atmosfera em volta da letra sobre se apaixonar na pista de dança, entregando um efetivo refrão. A canção, porém, apresenta dois problemas que a impedem de voar plenamente: o uso exagerado de efeito na voz da Kylie, mesmo que a cantora segure bem, e a falta de clímax explosivo para elevar o resultado final. De qualquer forma, Padam Padam é um começo auspicioso para a nova era de uma carreira inigualável da Kylie Minogue.
nota: 7,5
Artpop
Freak Mode
Dorian Electra
Dorian Electra
Existe uma fina linha entre o que podemos considerar artpop e o que podemos considerar pretensiosidade que é difícil de navegar, mas quando alguém navega exatamente em cima é possível criar algo realmente extraordinário. Esse é o caso de Freak Mode de Dorian Electra.
Já deveria ter notado a presença du artista antes, pois elu tem dois álbuns lançados e parceria com alguns nomes como, por exemplo, Charli XCX, Sega Bodega, Rebecca Black, entre outros. Feliz que agora posso conhecer um pouco du artista e acredito que Freak Mode é um ótimo começo. Uma mistura de hyperpop, industrial e electropop que resulta em uma canção ruidosa, explosiva, suja, ácida e nada comercial. Essa visão tão única é difícil de ser algo feito para atrair um grande público, mas acredito que essa não seja a intenção Dorian e, sim, expressar sua visão tão única. Igual a sua performance tão “balls to the wall” que vai se transformando em uma montanha russa de sensações/texturas de estilos vocais que faz gente perder o folego. E para coroar Freak Mode está a sua composição que é construída na base da fusão entre o trash com o campy como um bom filme do John Waters. Passa bem longe de ser um passeio no parque para agradar a todos, mas quem se deixar levar será recompensado pela sensacional visão de Dorian Electra.
nota: 8
Aveludado
Silent Running (feat. Adeleye Omotayo)
Gorillaz
Gorillaz
Apesar de um álbum menor do Gorillaz, Cracker Island guarda algumas perolas como é caso de Silent Running.
Uma deliciosa synth-pop com pinceladas generosas de R&B e funk, a canção é a amostra clara que quando as peças estão no lugar certo é possível ouvirmos o velho frescor da banda a pleno vapor. Seguindo com uma batida mais envolvente do que explosiva, Silent Running é aquele tipo de canção que fica tocando na nossa cabeça bem depois da gente escutar como se fosse trilha de uma loja de departamento, mas que não é esquecível. O grande destaque da canção é a presença inspirada de Adeleye Omotayo entoado a sua aveludada voz para dar suporte a performance sólida de Damon Albarn. E mesmo longo do ápice é possível ainda se envolver pelo Gorillaz.
nota: 8
Uma Tema do e para o The Weeknd
Double Fantasy (feat. Future)
The Weeknd
The Weeknd
Agora o The Weeknd é ator. O astro irá estrelar a série The Idol em que interpreta um guru espiritual que se envolveu com uma promessa pop interpretada por Lily-Rose Depp. Além de atuar, o The Weeknd também criou, produz, escreve e é responsável pela trilha sonora da série da HBO. E como primeira amostra da trilha foi lançada Double Fantasy.
A canção não está nem perto de ser uma das melhores da carreira do astro, mas é um bom exemplo sobre a habilidade do cantor mesmo quando não está no seu melhor momento. Uma climática, sensual e madura mistura de R&B e synth-pop que faz o ótimo arroz com feijão sem maiores tropeços, mas também sem maiores grandes momentos. Falta aqui certa personalidade do The Weeknd, pois Double Fantasy quase parece que poderia ter sido gravada por qualquer artista no mesmo campo. Além disso, a presença do rapper Future é bastante dispensável já que não adiciona nada de novo para a canção, mesmo que também não atrapalhe. Agora é esperar e ver como o The Weeknd irá se sair nessa nova empreitada, pois apenas pela canção tema não dar para saber muito bem.
nota: 7
Uma Volta Não Lembrada
Kelly Time
Owl City
Owl City
Quem se lembra do Owl City? Projeto musical do cantor/produtor Adam Young teve o seu grande ápice comercial entre 2009 quando foi lançado o single Fireflies que alcançou o primeiro lugar da Billboard e com uma vendagem de cerca de quinze milhões de cópias. Em 2012, o projeto teve um novo momento quando se aliou com a Carly Rae Jepsen na canção Good Time. Mesmo continuando a lançar álbuns e singles, o Owl City nunca mais alcançou nenhum grande destaque. Não acho que Kelly Time, single do álbum Coco Moon, não irá fazer esse milagre acontecer novamente, mas é de longe a canção mais “WTF” do ano.
Com cinco minutos e meio, Kelly Time é inofensiva, fofa e morna synth-pop/pop rock que parece perdida em tempo e espaço, conseguindo soar datada ao mesmo tempo que tem uma qualidade atemporal. Nada de novo sob o Sol, mas também longe de ser sensacional. O que diferencia a canção para ser digna de ressuscitar a memória do Owl City é que a composição narra a história do filme Naufrago, estrelado pelo Tom Hanks em 2000. Na verdade, a letra é do ponto de vista de Wilson, a bola de vôlei que o personagem se torna amigo durante os anos que passa em uma ilha deserta. Sim, é exatamente isso que você leu: Kelly Time é sobre o ponto de vista de uma bola de vôlei. E o que mais é incrível é que assim como no filme, Owl City faz funcionar devido a uma verdadeira conexão que se estabelece sobre amizade e companheirismo, misturando momentos de puro constrangimento com momentos de pura emoção. Especialmente, o quarto verso que é a despedida de Wilson: “And when I wonder where ya are now, I'll probably never know/ But my friend, I hope you made it and somehow you finally made it home”. Kelly Time é uma canção que precisa ser escuta para acreditar que entre trancos e barracos uma concepção tão absurda funciona melhor que o esperado.
nota: 6
14 de maio de 2023
Replay: Antes Tarde do Que Nunca
Fruto Proibido
Rita Lee & Tutti Frutti
É quase impossível ouvir alguém em sã consciência dizer que a Rita Lee não é um dos nomes mais importantes da música brasileira e a verdadeira “mãe” do do rock tupiniquim. E pensar que boa parte da sua história se deve ao fato de a cantora ter sido “convida a se retirar” dos Mutantes devido aos integrantes não acharem que a cantora iria se adaptar com a mudança para uma sonoridade mais progressiva que estava em ascensão naquela época. Como forma de resposta, a cantora resolveu se dedicar a carreira solo e lançar o seu quarto álbum com seu nome ao lado da banda Tutti Frutti. O resultado foi o marco Fruto Proibido, um dos álbuns mais importantes da história brasileira.
Logo após sair dos Mutantes, Rita recebeu o convite da Som Livre para gravar um álbum de maneira sem restrições. A cantora se juntou com a banda Tutti Frutti, que a acompanhou entre 1973 até 1978, durante messes para criar um álbum que pudesse refletir a personalidade da cantora. Lançado em Junho de 1975, Fruto Proibido é mais que apenas uma revolução/pioneiro sonoramente, mas também uma dialogo preciso e importante de Rita com os tempos em que vivia. A década de setenta foi uma época de grande rebuliço cultural, político (a Ditadura Militar), social e intelectual, criando um caleidoscópio perfeito para que uma jovem Rita pudesse expressar todos os seus pensamentos, vivencias e experiências em forma de música.
Ápice dos movimentos de direitos humanos, a década de setenta foi a responsável por popularizar o movimento feminista, mesmo que no Brasil tenha sido de forma mais discreta devido as repressões políticas. Entretanto, Fruto Proibido pode ser considerado um marco feminista, pois é possível ouvir uma mulher encontrando o seu lugar no mundo ao chutar as portas imposta pela sociedade. Não tenho ideia se essa foi a intenção de Rita, mas acredito que mergulhada naquele cenário é possível apontar que alguma noção sobre o que estava fazendo estava alinhada com a teorias feministas. E isso fica bem claro com a presença de blues rock/glam rock Luz del Fuego. Levando o nome artístico da vedete Dora Vivacqua e símbolo feminista, a canção é quase como um grito de liberdade e de autoafirmação sobre a força da mulher e a sua capacidade não importa qual o problema. E o álbum mantem essa mesma força lírica em todo o álbum, criando alguns dos momentos mais icônicos da carreira de Rita Lee.
Na lendária Ovelha Negra, Rita parece ciente do seu recente lugar no mundo que não necessariamente tinha um lugar para a jovem em busca de afirmação. A grande força da canção é sua simples, mas devastadora composição que parece reverberar em vidas de jovens com esse mesmo dilema mesmo depois de mais de quarenta e cinco anos de seu lançamento. Outro momento histórico de Fruto Proibido é a genial Esse Tal de Roque Enrow. Canção que dialoga mais diretamente sobre a geração de Rita, a canção narra o relato de uma mãe que tenta entender os novos comportamentos de filha e o novo mundo que a cerca. Além disso, a canção também estabelece a confirmação que o rock, no caso de Rita seria Roque Enrow, como a música/voz da sua geração. E o álbum estabelece também Rita como essa força da natureza de um carisma único e inigualável.
Produzido por Andy Mills, Fruto Proibido não repete os gêneros que eram ouvidos lá fora de nomes como David Bowie e os Rolling Stones, mas, felizmente, transforma essas referencias diretas em um trabalho com o DNA brasileiro e, claro, o de Rita Lee. Na rock/blues Agora só Falta Você não se mostra um cópia bem feita e, sim, uma edificação original, excitante e cheia de personalidade de uma artista tão explosiva como qualquer nome da época vindo do UK ou USA. Divertida, deliciosamente rebelde e com o dom de dar leveza para qualquer canção, Rita Lee impregna cada momento como tinta de cabelo vermelho na pia. Com eletricidade da juventude e uma coragem de quem não saber, mas está fazendo história, a cantora deixa claro quem é desde o começo apoteótico do álbum com a presença da contagiante e empoderada Dançar pra não Dançar. Outros momentos importantes ficam por conta de O Toque, a romântica Cartão Postal e, por fim, a explosiva Pirataria. Sempre irreverente, mas com um senso de lucidez quase desconcertante, Rita Lee não é apenas uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos, mas é uma instituição que se mantem relevante até os dias de hoje e que precisa ser celebrada, festejada e ovacionada todos os momentos possíveis. Vida longa Rita Lee!
Uma Segunda Chance Para: Motivation
Motivation
NormaniPreciso admitir que fui um pouco injusto com a Normani no lançamento do seu primeiro single solo. Entretanto, quase quatro anos após o lançamento de Motivation é necessário admitir que a canção é uma das melhores canções debut de uma ex-girl group desde Crazy in Love da Beyoncé.
Não é genial, mas a produção de Ilya Salmanzadeh entrega uma excitante mistura de pop, hip hop e R&B que deveria ter feito a carreira da Normani estourado na estratosfera. Divertida, despretensiosa, atemporal e completamente radiofônica, Motivation apresenta uma batida deliciosamente leve que não parece querer soar mais do que realmente é, mas também tem esse cuidado de construir uma base sólida com um instrumental bem amarrado. Essa vibe anos noventa/começo dos anos dois mil funciona tão bem artisticamente quando é tratado de maneira correta ao não soar como uma pastiche e, sim, uma remodelagem refinada como é o caso da canção. Todavia, a canção só funciona de verdade devido a efervescente, sexy e graciosa performance da Normani que domina a canção e mostra o motivo de ser a Beyoncé do Fifth Harmony em questão de talento e carisma. Uma pena que a carreira da cantora não teve até o momento o reconhecimento que merece, mas quem sabe o futuro não guarda uma grande surpresa. Milagres acontecem quando menos se espera.
nota: 8
2 Por 1 - Kesha
Fine Line / Eat the Acid
Kesha
O quinto álbum da Kesha é provavelmente um dos mais importante da sua carreira: Gag Order é o último que a mesma precisa lançar para se ver livre do contrato com a gravadora do seu abusador. E a mesma parece que irá de maneira memorável como mostra os surpreendentes singles Fine Line e Eat the Acid.
Bem diferente que a cantora mostrou até o momento, ambas canções pendem pesadamente para o indie/experimental pop ao mostra uma nova faceta da sua sonoridade. Não deve ser apreciado por aqueles que esperavam o pop/electropop do começo da carreira ou o pop/rock de Rainbow e High Road. Entretanto, ao passar a surpresa é possível perceber uma Kesha realmente interessante, especialmente ao notarmos o quanto honesta, vulnerável e original a mesma está sendo nos singles. E Fine Line é o ápice dessa nova fase. Coproduzido pela lenda Rick Rubin, a canção é uma tocante art pop/lo-fi/indie rock que caminha entre o minimalista e o complexo de maneira a criar uma excepcional instrumentalização que vai aos poucos crescendo na nossa mente sem precisar de um grande arrombo sonoro. Boa parte dessa sensação é devido a sombria, madura e sentida performance da Kesha que consegue explorar sentimentos profundos e pesados de maneira a expressar toda a força da espetacular composição. Refletindo de maneira desconcertante sobre a sua vida pessoal e profissional nos últimos tempos com referencias a fatos que aconteceram com a mesma como, por exemplo, a citação direta com o seu hit expiação Praying no verso “God, some things never should be forgiven”, a cantora entrega o tipo de letra tão crua, honesta e sem firulas que falta para várias das suas contemporâneas. Em Eat the Acid, Kesha dá uma amenizada na parte lírica, mas procura compensar com uma produção mais ousada ao adicionar uma camada pesa de eletrônico e neo-psychedelia para criar uma batida sombria e quase hipnótica que cria uma atmosfera pesada, ácida e levemente perturbadora. Funciona devido a boa condução da produção e, principalmente, como o seu arranjo vai fluindo de maneira natural para o grande clímax final. Com esse começo, Kesha está pronta para fazer de um fim do ciclo o começo de uma nova e avassaladora era.
notas
Fine Line: 8
Eat the Acid: 8
Monáe Menor
Lipstick Lover
Janelle Monáe
Janelle Monáe
Depois de um hiato de cinco anos em que se dedicou para outros projetos como o cinema, a Janelle Monáe anunciou o sucessor de Dirty Computer: The Age of Pleasure. E como single foi lançada Lipstick Lover.
A canção é, infelizmente, a mais fraca da carreira da cantora até o momento, mesmo sendo acima da média em comparação com outros canções que estão no topo da Billboard. Entretanto, para o parâmetro da Janelle é uma obra menor e bem menos inspirada. Uma simpática e sexy pop reggae que não faz peso na discografia da cantora por não ter o seu toque de genialidade. E uma canção inofensiva para a artista não combina em nada com a sua persona. Lipstick Lover, porém, é uma canção facilmente escutável devido a sua batida delicinha e a presença sempre magnética de Monáe. Agora é espera que nessa nova era de prazer exista a esperança de termos de volta a soberana Janelle Monáe de volta.
nota: 7
Para Chorar Fazendo a Sensual
True love (feat. 070 Shake)
Christine and the Queens
Christine and the Queens
Se existe uma subcategoria que gosto é a canção feita para fazer a gente dançar e chorar ao mesmo tempo. E o Christine and the Queens lançou um exemplo primoroso em True Love.
Apesar de um pouco longa demais com quase seis minutos, a canção é uma sexy, melancólica e envolvente synth-pop misturado com art pop com uma produção especialmente inspirada e madura. Com uma construção instrumental que constrói toda a atmosfera, True Love é o retrato perfeito da capacidade lírica de Christine que ao narrar sobre como a gente se senti sobre se declarar para quem se ama ao ser honesta, crível e poética. E o que arremata a música é a performance tão segura do artista que vai moldado os sentimentos de maneira a complementar todo que é construído a sua volta. Devo admitir que a presença da rapper 070 Shake não adiciona muito mais para o resultado final, mas é uma presença bem vinda que dá um toque de quebra bem vindo para a canção. E o hype para o próximo álbum de Christine and the Queens aumenta ainda mais.
nota: 8
The Return of the Dead Rock Synthpop
Welcome To The DCC
Nothing But Thieves
Nothing But Thieves
Apesar de gostar e muito o que o the Weeknd fez para ressuscitar o synthpop dos anos oitenta tenho que admitir que faz certa qualidade que a banda Nothing But Thieves traz para o excitante Welcome To The DCC: o lado rock.
Sabe aqueles hinos rock capazes de fazer um estádio todo cantar de maneira uníssima apenas com as primeiras notas? Então, Welcome To The DCC tem essa qualidade impregnada desde o primeiro momento até o seu último segundo, fazendo a canção ser explosiva, viciante, grandiosa e com uma batida que mexe com a nossa adrenalina. Não que o the Weeknd não tenha essa capacidade, muito pelo contrário já que a sua canção Sacrifice é usado como samples, mas não tem essa atmosfera que apenas o lado rock do Nothing But Thieves trazem. Além disso, a sensacional performance do vocalista Conor Mason que adiciona uma carga de cores/texturas para a canção devido a sua sua interpretação perfeita para esse tipo de canção. Devo admitir que Welcome To The DCC poderia ter um refrão ainda mais potente, mas isso não tira o fato de termos uma excepcional rock/synthpop que fazia tempo que não ouvia com tamanha qualidade.
nota: 8
A Mainstreamficação da Doechii
What It Is (Block Boy)
Doechii & Kodak Black
Doechii & Kodak Black
Como uma das artistas mais interessantes que surgiu nos últimos tempos, a rapper Doechii ainda não atingiu o mainstream como algumas das suas contemporâneas. E é por isso que What It Is (Block Boy) é o perfeito veículo para isso.
Longe do ousado/experimental que a rapper mostrou em canções como Crazy e Yucky Blucky Fruitcake, o single é uma carismática e viciante mistura de pop rap, R&B e toque de trap que cria uma batida extremamente comercial. Isso tira parte da imensa personalidade da Doechii, deixando a canção com uma sensação de ser massificada. Entretanto, a mesma entrega uma performance bastante sólida que encontra o seu caminho ao mostrar a sua versatilidade. Com uma composição “romântica” que tem um refrão perfeito para virar viral, What It Is (Block Boy) tem também a qualidade de funcionar perfeitamente na sua versão solo ou com os versos do rapper de Kodak Black. Espero que a canção posso fazer a rapper se tornar o grande nome que merece ser, mas que não faz a mesma se torna mais do mesmo.
nota: 7,5
5 de maio de 2023
Um Novo Recomeço
Rescued
Foo Fighters
Recomeçar nunca é fácil, mas recomeçar depois de uma tragedia é ainda mais difícil e doloroso. Esse é o caso do Foo Fighters que vai lançar o primeiro álbum (But Here We Are) depois da trágica morte do baterista Taylor Hawkins. Como primeiro single foi lançada a emocional Rescued.
Melhor canção da banda em anos, o single é uma power balada hard rock/rock alternativo com uma instrumentalização madura e sólida que remete aos áureos tempos do Foo Fighters. Apesar de ser um ótimo trabalho sonoro, Rescued tem o seu ápice no potencia emocional por trás. Primeiro, além de ter voltado para trás da bateria para gravar a canção, Dave Grohl entrega uma performance que é possível ouvir a dor por trás de cada nota para entoar uma pedrada em forma de composição. Simples, triste e honesta, a composição é sobre a dor que sentimos quando alguém se vai e como sentimos impotentes perante. E logo nos primeiros versos é como um soco no estomago: “It came in a flash, it came outta nowhere/ It happened so fast, and then it was over”. Rescued marca um recomeço que ninguém quer ter, mas mostra o quanto o Foo Fighters é uma das bandas mais f#das de todos os tempos. E que o Taylor seja luz.
nota: 8
Receita de Sucesso
Princess Diana
Ice Spice & Nicki Minaj
Parece que a carreira da Ice Spice vai decolar de vez. Depois de estourar comercialmente ao participar de Boy's a Liar Pt. 2, remix da canção da PinkPantheress, a rapper faz o caminho reverso com o remix de Princess Diana com a participação da Nicki Minaj.
Mesmo não sendo a melhor do EP Like..?, a versão original representa as principais qualidade da rapper novata ao saber “entregar faixas irreverentes, excêntricas, despretensiosas e com um pé no irritante, sendo feitas para hitar em virais nas redes sociais”. E Princess Diana é exatamente isso com a sua batida drill rápida e sua maquina de atirar versos diretos e cheios de tiradas rasteiras e diretas. Ao contrário que acontece com outras canções, a versão remix é bastante beneficiada com a presença do verso da convidada. Minaj não aparece apenas para dar star power, mas para dar substancia realmente impressionante para a canção com um verso que fazia muito tempo a mesma não entrega. Com uma performance tão descontraída, Nicki lembra os velhos tempos em que a mesma era tão excitante quanto Ice Spice que suas participações eram o ponto alto das canções. Quem diria que seria pela novata Ice Spice que a gente iria relembrar o motivo pela Nicki Minaj é uma das melhores rappers de todos os tempos.
notas
original: 7
remix: 7,5
Can I Get an Amen?
I'm Not Here To Make Friends
Sam Smith
Sam Smith
Uma das melhores canções de Gloria, I'm Not Here to Make Friends prova que Sam Smith pode acerta ao deixar certa pretensão de lado e se deixar embarcar na diversão do pop.
Produzido por Calvin Harris, StarGate e Jimmy Napes, a canção é uma leve e dançante dance-pop com pinceladas bem feitas de disco e electropop que criar uma batida nada original, mas divertida e com bastante apelo. Faltou certo refinamento estético como, por exemplo, o que a Jessie Ware vem fazendo. Todavia, a sólida performance de Sam, a refrão vibrante e o ótimo sample da voz do RuPaul logo no começo compensa esses detalhes de maneira a equilibrar a falta de criatividade. Se todos o álbum tivesse sido nessa mesma pegada. Quem sabe na próxima?
nota: 7,5
Pequena Pérola
Impurities
Arlo Parks
Arlo Parks
Nem sempre uma canção precisa ser grande para ser bom. Às vezes, uma canção é pequena e suficiente para ser adorável. Esse é o caso de Impurities.
Single da britânica Arlo Parks, a canção é uma delicada, fofa e contida indie pop/R&B que conquista por essa delicadeza despretensiosa. Acredito que ao se comparar com as outras canções da artista que fazem o mesmo com impacto maiores, o single careceu de um refinamento mais apurado para chegar nesse patamar. Entretanto, a eficiente, simples e romântica letra sobre encontrar alguém que lhe faz bem de verdade é um trabalho que tem a marca da artista, especialmente no apontamento das pequenas coisas lindas da vida como “You're the rainbow in my soap”. E assim se faz uma pequena pérola musical.
nota: 7
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