28 de junho de 2022

Disney Channel

Catch Me In The Air
Rina Sawayama


Acredito que a intenção do segundo álbum da Rina Sawayama será entregar um trabalho que seja essencialmente pop, passeando pelos vários subgêneros que marcaram especialmente os anos noventa/dois mil. Depois do pop rock de This Hell, a cantora lançou a balada pop Catch Me In The Air que parece ser inspirada no pop teen dos astros do Disney Channel.

Essa comparação não quer dizer que Catch Me In The Air seja uma canção ruim, pois a canção é a visão da Rina sobre esse pop e, por isso, espere algo realmente bem acima da média. Leve, fofa, delicada e inspiradora, a produção que conta com a coprodução do lendário Stuart Price (Madonna, Dua Lipa, The Killers, Kylie Minougue) é muito bem pensada ao saber criar uma batida que lembre a sua influência, mas que adicione uma camada pesada de personalidade e substancia para elevar a ideia em algo concreto. Com uma letra realmente inspirada sobre a relação entre pais solos e seus filhos, Catch Me In The Air é elevado de fato pela presença magnifica dos vocais de Rina que consegue dar uma força emocional para a canção de maneira sublime em pesar a mão e ainda mostrar o seu poder vocal. Não acredito que a canção irá agradar quem esperava algo ousado como as canções do primeiro álbum da cantora, mas quem abrir um pouco a mente irá perceber a realmente intenção da cantora e irá embarcar nessa nova jornada.
nota: 8

O que Teria Acontecido com a M.I.A?

The One
M.I.A.


Dona de uma carreira musical excitante e, por muitas vezes, genial, a M.I.A. vem passando por uma crise artista que afetou a qualidade dos seus últimos trabalhos. Isso sem falar sobre as suas polêmicas recentes como, por exemplo, se pronunciar anti-vacina e espalhar teorias das conspirações. E para piorar é lança a péssima a The One.

A canção não exatamente ruim por si, mas chega ao fundo do poço por ser um trabalho da M.I.A. O resultado da batida completamente sem inspiração é como se fosse um outro artista que sampleou uma canção da cantora e resultou em uma cópia barata e completamente sem criatividade e, não, um trabalho da mesma artista que lançou canções como Paper Planes, Bucky Done Gun e Bad Girls. Chata, repetitiva e sem brilho, The One ainda conta com a performance mais automática da carreira da cantora, parecendo um trabalho demo que ainda precisa se finalizado do que uma canção pronta. Difícil defender a M.I.A. dessa maneira.
nota: 4

O Retorno da Que Realmente Foram: Parte II

Spitting Off the Edge of the World (featuring Perfume Genius)
Yeah Yeah Yeahs

Sempre ouvir falar do Yeah Yeah Yeahs, mas, sinceramente, nunca tinha ouvido nenhuma música deles até o momento. E acredito que perdi algo no mínimo interessante, pois Spitting Off the Edge of the World, canção que marca o comeback de um hiato quase dez anos, é exatamente uma canção interessante.

Uma indie rock sombria e pensada, a canção tem uma atmosfera áspera que parece envolver a gente com uma falsa delicadeza que realmente é difícil de entender, mas é bastante fácil de gostar e se envolver. Spitting Off the Edge of the World é com aquele calafrio que vem do nada e deixa uma marca na gente sem ao menos sabermos sobre o que é de verdade. Densa, elegante e misteriosa, a performance da Karen O é perfeita para a atmosfera da canção, conseguindo passar toda a forma da enigmática e madura composição. Existe, porém, um erro grande na canção devido a má utilização do cantor Perfume Genius renegado a cantar sozinho apenas duas frases. Todas as vezes que o cantor entoa a sua parte, a canção se eleva devido ao seu belíssimo timbre e o contraste perfeito com a voz de Karen. De qualquer forma, Spitting Off the Edge of the World é um comeback de uma banda que está altura de todo o seu hype.
nota: 8

Crônica de Um Filho da Puta

Fils de joie
Stromae


Poucos artistas tem a qualidade de fazer de um tema espinhoso algo que seja inteligente, ácido e profundo como é o caso do Stromae. Esse é caso de Fils de joie.

Um dos pontos altos do álbum Multitude, Fils de joie é uma crônica alegórica em que o rapper se coloca na pele de um filho de uma prostituta que questiona como a sociedade trata a mãe, criando uma poderosa reflexão/critica sobre preconceito e hipocrisia da sociedade. Adicionando uma dose de humor, mas sem perder a seriedade do tema, a canção é um exemplo claro da facilidade que Stromae possui em meter o dedo da ferida de maneira criativa e sempre honesta. Com uma performance sensacional que mistura perfeitamente o rap com o cantar, Fils de joie é outro acerto sonoramente ao ser uma moderna mistura de tango, música clássica e hip hop refinadíssimo e de um cuidado técnico impressionante. E assim que Stromae é considerado um dos artistas mais instigante do mainstream mundial.
nota: 8,5


23 de junho de 2022

Antes Tarde do Que Nunca

Judy
Judy Garland



Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Kellyoke
Kelly Clarkson




A Devastadora Honestidade

Glimpse of Us
Joji


Existem canções que não precisam de grandes produções para serem geniais. Ás vezes, o que precisa é de uma honestidade tão grande e desconcertante que tudo se torna algo realmente genial. Em Glimpse of Us, a cantor Joji alcança esse patamar em uma canção simplesmente devastadora.

Nascido George Kusunoki Miller, o artista começou a chamar a atenção do público como uma personalidade da internet com sketches de humor e música, usando os nomes artísticos de Filthy Frank e Pink Guy como uma espécie de Whindersson Nunes. Em 2017, o mesmo decidiu abandonar a carreira na internet para se dedicar a música em tempo integral. Com dois álbuns já lançadas sobre a alcunha de Joji, o cantor está preparando para lançar o terceiro e como provável primeiro single foi lançado Glimpse of Us. Sinceramente, quando peguei a canção para resenha sem saber nada sobre a sonoridade do cantor fiquei realmente chocado com o resultado avassalador da canção. E boa parte dessa percepção vem da sua genial composição.

Glimpse of Us é uma sincera, melancólica e quase sem esperança canção de amor sobre realizar que o amor verdadeiro estava em que se perdeu. Essa contestação se dá no momento que o narrador percebe que vivendo um novo amor perfeito na teoria, o amor verdadeiro é imperfeito e que não precisa realmente de razão para existir. Isso já poderia ser já algo poderoso, mas como Joji constrói cada verso é de uma força tocante e poderosa. O tom confessional é algo tão intimo que parece um segredo contado ao pé do ouvido, deixando a canção ainda mais devastadora. O meu momento preferido é no começo do refrão em que Joji declara que: “'Cause sometimes I look in her eyes/ And that's where I find/ A glimpse of us”. Sonoramente, a canção não reinventa a roda de maneira nenhuma, mas entrega uma elegante e tocante balada pop com toques de art pop que parece o meio termo entre a melancolia do James Blake e a classe do Elton John. E que grata surpresa é a sublime performance de Joji em entrega todos os sentimentos de Glimpse of Us de maneira contida e de uma tristeza quase palpável. E, queridos leitores, essa é a força da honestidade na música ao ser capaz de fazer a gente se emocionar com a sua força.
nota: 9

Uma Canção No Meio Do Caminho

Viva Las Vengeance
Panic! at the Disco


Devo admitir que nos últimos tempos comecei a gostar dos trabalhos do Panic! at the Disco que agora é a banda de um homem só com apenas o Brendon Urie como componente. Entretanto, devo admitir que ouvir Viva Las Vengeance, primeiro single do próximo álbum de mesmo nome, é um banho de água fria.

Uma power pop/rock, a canção erra grandiosamente na sua péssima produção/mixagem de vocais, deixando a voz de Brandon abafada e completamente off em relação ao resto da música. Obviamente, um efeito desejado que deixa o resultado ainda mais problemático, pois tira o brilho da maior qualidade de Brendon: a sua potente voz. Apenas no final que é possível ouvir o que poderia ser uma música realmente ótima. A produção sonora também não acerta totalmente devido um resultado com quebras estranhas durante a canção e um instrumental exagerado aqui e ali, mas a proposta é até interessante e bem pensada. O que realmente salva Viva Las Vengeance é a sua ótima composição, especialmente no eficiente refrão que não se destaca plenamente devido ao erro da canção como geral. Agora é esperar para ver se o Panic! at the Disco vai entregar um álbum que continue a valer a minha mudança de visão.
nota: 6

21 de junho de 2022

Beyoncé Goes House

BREAK MY SOUL
Beyoncé


Eis que surge a noticia que ninguém acreditou que seria possível nesse ano: o retorno da Beyoncé. Depois de um hiato de seis anos sem lançar um novo álbum solo, a cantora finalmente anunciou e começou a divulgação do seu sétimo álbum intitulado Renaissance. Como primeiro single foi lançada Break My Soul em que a cantora volta de cabeça ao pop em um trabalho que é preciso ter certo conhecimento prévio para captar toda a sua grandiosidade.

Antes de ouvir a canção é preciso entender que a fonte que a produção da Bey ao lado do Tricky Stewart e do The-Dream se apoiaram para construir a batida: o house/dance do começo dos anos noventa. Na verdade, não apenas o gênero e, sim, a cultura que envolveu toda essa época que foi levada nas costas por artistas negros e queer. Caso você não tenha notado, a maioria das canções de sucesso daquela época foram cantadas por artistas negros ou tinhas vocais de cantores negros: Gonna Make You Sweat (Everybody Dance Now) do C+C Music Factory, Rhythm Is a Dancer do SNAP!, What Is Love do Haddaway, entre outros. Então, Bey está exaltando a cultura negra em sua canção com um toque vigoroso da sonoridade queer de forma honesta e respeitosa. Se você não conhecer ou não gostar dessa era, queridos leitores, é bem provável que Break My Soul não será algo que você vai realmente gostar.

Break My Soul é, essencialmente, uma deliciosa house/dance com toque de R&B e hip hop que consegue derivar especificamente da era mencionada sem soar datada, adicionando um espetacular verniz moderno e radiante. A produção acerta em cada ponto sonoro, indo desde a construção instrumental, a atmosfera dançante e, principalmente, o uso dos samples que ressaltam bem as influencias. De um lado, a presença clara dos vocais da lendária rapper e pioneira do bounce Big Freedia retirados da sua canção Explode de 2014. Do outro, o contido, mas enriquecedor, uso do sample do clássico Show Me Love da Robin S. Na verdade, ao escutar pela primeira vez associei a canção diretamente com o sucesso de 1993 sem nem saber do uso do sample. O resultado é um trabalho radiante, viciante e com uma energia refrescante, especialmente quando a gente lembra que é a Beyoncé fazendo novamente pop. Vocalmente, Break My Soul é outro acerto já que a cantora adiciona a mesma vibe das canções de usadas de inspirações, pois adiciona o seu encorpado e poderoso vocal de forma azeitada para elevar o resultado final. A composição poderia ser melhor tematicamente já que não passa de uma edificante e clichê letra de autoajuda. Entretanto, o trabalho em si é ótimo ao conseguir emoldurar qualidades da era house como, por exemplo, as frases de efeitos e as rimas fáceis e, ao mesmo tempo, ser liricamente um trabalho redondo com vários momentos viciantes. E assim começamos uma nova era da dominação da Beyoncé.
nota: 8,5

Nostalgia Na Medida Certa

The Funeral
YUNGBLUD


Existem algumas surpresas que realmente surgem do nada para arrancar um sincero sorriso dos meus lábios. E isso foi o caso de The Funeral do britânico YUNGBLUD.

Parte da nova geração que vem fazendo o emo pop/rock renascer, Dominic Richard Harrison, nome de batismo do cantor, pode até cair nos mesmos lugares comuns dos seus contemporâneos, mas tem em The Funeral uma prova cabal que pode ir bem além do esperado. Bebendo diretamente da fonte dos anos oitenta, a canção é uma deliciosa, surpreendente e viciante mistura de punk rock/pop, synthpop e new wave que tem como principal fonte de inspiração nomes como The Cure e Billy Idol. Na verdade, a canção parece uma homenagem/releitura de Dancing with Myself de Idol com um toque mais elétrico e moderninho, mas que não é tão na vista como no caso de Skin Of My Teeth. Entregando uma ótima performance sem precisar ser um grande cantor, YUNGBLUD tem na sombria, rebelde e divertida composição outro ponto alto da canção, especialmente no grudento e marcante refrão. Sabendo usar a nostalgia de forma correta, YUNGBLUD tem uma pérola em mãos que pode até ser a exceção, mas, felizmente, é um ótimo ponto fora da curva.
nota: 8

Saudades

Through The Echoes / Lose It
Paolo Nutini


Sem lançar nada novo desde 2014 com o sensacional Caustic Love, o escocês Paolo Nutini está de volta com os preparativos para o álbum Last Night in the Bittersweet. Como primeiros singles foram lançadas as ótimas Through The Echoes e Lose It. Dono de uma das minhas músicas preferidas da década passada em Iron Sky, o musico mostra novamente o seu talento de emocionar verdadeiramente com a capacidade de criar atmosferas densas de sentimentos. E o ponto alto é poderosa Through The Echoes.

O grande trunfo da canção é a presença espetacular de Paolo. Dono de uma voz potente e rouca, o cantor sabe dosar lindamente os momentos de contemplação com os momentos estouros para conseguir entregar todas as nuances da canção para no seu final deixar a emoção falar de maneira irrestrita e na medida certa, construindo uma slow burn edificante e realmente tocante. Essa característica casa perfeitamente com a poderosa composição sobre as diferenças entre duas pessoas em um relacionamento e como isso é capaz de salvar quem se ama. A ótima produção entrega uma indie rock/folk com toques de soul que consegue emoldurar todos os sentimentos da canção de maneira fluida. Em Lose It, porém, o cantor segue o caminho de colocar a estética na frente do conteúdo e, mesmo assim, ainda entrega uma ótima música.

A canção é claramente influenciada pelo rock dos anos setenta com um foco em uma guitarra marcante e a criação de uma atmosfera bastante claustrofóbica e pesada, mas sem perder o foco de uma produção refinada. Explorando esse lado novo, Paolo Nutini se mostra versátil e capaz de se modelar facilmente em canções menos explosivas e bem mais climáticas que emocionais. Vocalmente, a canção usa um efeito para deixar a voz do cantor off, mas, felizmente, isso é uma textura bem pensada para elevar ainda mais a magnética, pesada e certeira performance do cantor. E mesmo que Lose It tenha mais destaque pela sua produção, a composição é um outro trabalho inspirado ao retratar as ansiedades e angustias de Paolo de forma honesta e fácil de se identificar. E com esse começo promissor, Paolo Nutini promete entregar um sucessor a altura do álbum anterior e comeback merecedor de esperar oito anos de hiato.
notas
Through The Echoes: 8,5
Lose It: 8,5

Gostinho Bom de Naftalina

Bad Life
Sigrid & Bring Me The Horizon

De tempos em tempos surge uma canção que remete a uma sensação/sentimento tão especifico de nostalgia que fica até difícil não gostar do resultado final mesmo não sendo o melhor. Esse é o caso da Bad Life da Sigrid em parceria com a banda Bring Me The Horizon.

Ao ouvir a canção pela primeira vez lembrei exatamente dos temas da finada Malhação no começo dos anos dois mil: uma balada pop rock redondinho com influencia do pop/emo. A produção não adiciona nada excitante na construção do arranjo bem manjado, mas é muito bem feita e com um instrumental sólido. A composição sobre lidar com nossos problemas mentais e emocionais é cliché ao extremo e, ao mesmo tempo, reconfortante e bem escrita. O ponto alto de Bad Life são os vocais de Sigrid e a boa química com o vocalista Oliver Sykes. A canção seria facilmente um imenso sucesso há uns vinte anos atrás, terminando apenas sendo uma boa nostalgia nova.
nota: 7

16 de junho de 2022

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

HER MIND
Urias




Uma Segunda Chance Para: Green Light

Green Light
Lorde


Existem algumas canções que a gente só consegue entender toda a sua grandiosidade e qualidade depois de algum tempo e, claro, uma revisão sobre as primeiras impressões. Esse é caso perfeito de Green Light que depois de cinco anos do seu lançamento consigo perceber a canção pelo o que realmente é: um pop perfection.

Na minha resenha original comparei a canção com os trabalhos da Lana Del Rey e do Florence + The Machine e ainda disse que “que em nenhum momento a produção parece saber elevar essa mistura para criar a sonoridade que a cantora precisaria para conseguir se estabelecer como uma artista completa”. Olhando em retrocesso a pergunta que vem na minha mente é: o que eu estava pensando? Obviamente, primeiras impressões podem ser enganosas, mas em Green Light foi um pouco demais. E olha que na época até gostei da canção, mas não dei o seu devido valor. Produzido pelo pela Lorde ao lado do Jack Antonoff e Frank Dukes, a canção é uma preciosidade na sua construção climática ao começar de maneira densa e dramática para depois desaguar em uma explosão emocional e dançante. A mistura elétrica de eletropop, post-disco e indie pop se revela uma decisão acertada com a suas nuances luminosas e um instrumental brilhante. Tematicamente, Green Light é a sucessora de direito para You Oughta Know da Alanis Morissette ao ser uma devastadora e inteligente crônica sobre traição, coração quebrado e um desejo de vingança emocional. E o refrão é um dos melhores da última década. Nada disso poderia possível, porém, sem a devastadora performance da Lorde que consegue trilhar um caminho sinuoso sem perder foco e colocando uma tonelada de personalidade e emoção genuína e crua que dá a finalização perfeito a canção. Ainda acredito que a canção não alcança todo o seu potencial estético, mas isso não tira o fato de finalmente ver Green Light pela ótima canção que sempre foi.
nota: 8,5

O Retorno da Que Realmente Foram

Don't Forget
Sky Ferreira

Desde que lançou o seu aclamado debut (Night Time, My Time) em 2013, a Sky Ferreira vem prometendo o seu retorno tantas vezes que já virou quase uma lenda urbana, especialmente depois de divulgar a ótima Downhill Lullaby em 2019 para depois não tocar mais no assunto. E, novamente, a cantora faz a promessa de novo álbum com o lançamento de Don't Forget.

Uma mudança e tanto do “impactante e penetrante trabalho de rock alternativo” da canção anterior, Don't Forget é uma instigante syntyh-pop, indie rock e generosas pitadas de post-disco que cria uma canção revigorante e surpreendente, especialmente na sua primeira metade. A mudança pode pegar alguns de surpresa, mas, felizmente, a produção adiciona um verniz sombrio para fazer a canção ter a cara da cantora com densidade sombria muito bem vinda. O problema, porém, é a que a segunda metade da canção parece ficar deslocada entre a intenção da produção e os vocais de Sky que estão bem melhor conectados com a atmosfera da canção nos primeiros versos. Não que a cantora entrega vocais ruins, pois o resultado final é muito bem conduzido e a mesma esbanja personalidade durante toda a canção. Faltou, porém, essa química durante a duração de Don't Forget que conta com uma letra muito bem escrita que consegue ser intelectual sem soar demasiadamente pretenciosa. Agora é esperar se Sky Ferreira vai cumprir a promessa ou será apenas uma volta para depois “sumir”.
nota: 8

Frio

Potion
Calvin Harris, Dua Lipa & Young Thug

Desde que o Calvin Harris começou a investir em uma sonoridade voltada para o soul/R&B/funk/disco com o álbum Funk Wav Bounces Vol. 1, o DJ entregou bons momentos que ainda carecem de uma apimentada para dar sabor no resultado final. Novamente, esse é o problema da nova canção do artista: a fria Potion.

Tecnicamente, a canção é trabalho impecável e, na teoria, entrega uma boa post-disco/eletropop muito bem produzida. Entretanto, Potion falta sabor, força e personalidade para conseguir estabelecer uma atmosfera realmente inspirada e irresistível. A canção parece perfeita para ser tocada de fundo em elevador do que ser um trabalho memorável suficiente para ser atração principal. Outro erro é a péssima utilização da Dua Lipa que fica renega a entoar de maneira morno um refrão fraco e esquecível. Além disso, Young Thug também parece um desperdício de talento em uma performance apática. Uma pena que o Calvin Harris tenha a faca e o queijo na mão, mas não consegue aproveitar de maneira realmente eficiente.
nota: 6

14 de junho de 2022

Dona da P*rra Toda

IZA

Com a solidificação da sua carreira em pleno desenvolvimento, a Iza vai podendo se mostrar mais artisticamente. Em Fé, a cantora entrega um vigoroso passo para a sua evolução sonora.

Uma forte mistura de pop e R&B com uma pesada carga de aforbeat e toques de gospel, a canção é uma celebração das influencias da cantora em uma produção sólida e com um clímax emocional. A produção poderia trabalhar com texturas e nuances para aprofundar a atmosfera que evoca a negritude e a força da crença, mas o resultado de Fé é interessante o suficiente para se sustentar de maneira poderosa. E esse poder vem principalmente do carisma luminoso e única da Iza que não precisa de muito para entregar uma performance deslumbrante. A cereja em cima do bolo é o sensacional video clipe que mostra como casar estética e conteúdo com perfeição. Assim a cantora vai trilhando um dos caminhos mais bonitos do pop brasileiros de todos os tempos.
nota: 8


Celebrity Skin

Skin Of My Teeth
Demi Lovato


Depois de um álbum bem intencionado, mas decepcionante, Demi Lovato está de volta com o lançamento da eficiente Skin Of My Teeth. O problema é que a canção é um refogado sem vergonha de uma das principais canções de rock femininos da história.

Primeiramente, a canção consegue explorar toda a dor e trauma que Demi passou durante a overdose que teve em 2018 que todo o álbum anterior do começo a fim. Com uma letra forte, desconcertantemente honesta e com um ótimo refrão, Demi consegue já no primeiro verso fazer uma expiação sensacional de sentimentos pesados:

Demi leaves rehab again
When is this shit gonna end
Sounds like the voice in my head
I can't believe I'm not dead

Demi entrega uma performance sensacional ao casar perfeitamente com a força roqueira bem dosada com o seu potencial vocal em equilíbrio e muito bem tralhada. A produção entrega uma redonda e pungente power pop/rock que combina com o renascimento do estilo por nomes contemporâneos se baseando na nostalgia dos anos noventa e começo dos anos dois mil. O problema é que Skin Of My Teeth é a cópia quase exata de Celebrity Skin da banda Hole, especialmente na sua primeira metade e o refrão. Não é apenas uma inspiração, mas, sim, o uso do sample na cara dura e sem créditos necessários. Acredito que existe uma boa chance de num futuro próximo a Courtney Love ser creditada como coautora de Skin Of My Teeth. Apesar disso, a canção é um trabalho revigorante de Demi Lovato que volta a um bom momento na carreira.
nota: 7

O Multiverso Pop

Turn Up The Sunshine
Diana Ross & Tame Impala


Se alguém tivesse me falado no começo do ano que estaria resenhando uma canção da parceria da Diana Ross com o Tame Impala produzido pelo Jack Antonoff que é tema de um filme dos Minions seria uma grande risada que teria como resposta minha. Entretanto, Turn Up The Sunshine está para mostrar que loucuras acontecem e até podem ser melhores que os esperado.

Ensolarada, leve e divertida, Turn Up The Sunshine é uma fofa mistura de disco, soul e funk que consegue ser uma boa sucessora do arrasa quarteirão Happy sem o fator de pode se tornar irritante depois de um tempo. Bem produzida, a canção consegue balancear bem o fator nostalgia com um toque moderno e refrescante, mas que erra ao não dar espaço vocal para o Tame Impala já que seria extremamente interessante ver em contraste com a voz da Diana. Felizmente, a presença magnifica da lendária cantora da Motown é suficiente para compensar esse tropeço, pois a sua performance faz a canção ganhar personalidade verdadeira. E nessas loucuras inesperadas que o pop se tornar tão delicioso de acompanhar.
nota: 7,5

Pop Rock Para Boutiques

SUPERMODEL
Måneskin

Depois do imenso sucesso de singles como I Wanna Be Your Slave, Zitti e buoni e, especialmente, Beggin', a banda italiana Måneskin entra na fase de tentar se firmar perante ao mainstream mundial. E a primeira canção a ser lançada nessa fase é a simpática SUPERMODEL.

Obviamente, a canção com produção do Max Martin, Rami Yacoub e Sly tenta repetir as mesmas características que fizeram as canções citadas estourar ao ser uma power pop rock facilmente hitavél e com cara de viral. Felizmente, o resultado é até acima da média devido a produção limpa e direta que sabe o que quer e não tenta ser mais do que realmente é. Outro ponto positivo é a clichê, mas divertida composição sobre as desventuras de uma supermodelo dos anos noventa e a admiração do narrador com a mesma. Além disso, o vocalista Damiano David continua a se mostrar um carismático performer em outro bom momento a frente do Måneskin. Divertida, despretensiosa e descartável assim como uma canção assim deveria ser.
nota: 7,5