19 de janeiro de 2021

Primeira Impressão

Song Machine, Season One: Strange Timez
Gorillaz




Ouvir o projeto Song Machine, Season One: Strange Timez, sétimo álbum da banda virtual Gorillaz, é uma experiência que posso chamar de curiosa no mínimo. Guardando ótimas surpresas, o álbum consegue criar uma imagem extremamente inusitada na minha cabeça ao ser uma orgia sonora que parece que não foi convidado para participar. E sim, queridos leitores, a imagem é um pouco impactante, mas irei explicar de uma maneira que faça sentido. 

Projeto do músico Damon Albarn da banda Blur e do artista Jamie Hewlett criado em 1998, Gorillaz sempre entregou uma qualidade inquestionável ao logo dos anos. E a principal característica da banda foi unir o alternativo com o verniz comercial de uma maneira perfeita, sabendo dosar o lado artístico com o lado vendável. Apesar de não terem o mesmo desempenho nas paradas como no começo dos anos dois, a banda continua com um nível de qualidade altíssimo. Em Song Machine, Season One: Strange Timez, compilado das canções lançadas no projeto visual em 2020, a banda continua a demonstrar essa qualidade ao longo das dezoito canções, mas, infelizmente, algo parece criar uma barreira entre o que é mostrado no álbum e o que chega aos nossos ouvidos. Explicando a comparação que fiz no primeiro parágrafo: todos os elementos estão dispostos na nossa frente com uma clareza e acessibilidade, mas há uma espécie de ruído que não deixa quem ouve mergulhar de cabeça dentro dessa imensidão sonora. Aos poucos, porém, o álbum vai se abrindo em uma complexa teia que capta a nossa atenção, mas não é suficiente para criar um impacto total na percepção do álbum. Acredito que exista um fato claro para esse problema. 

Nove faixas do álbum foram lançadas como parte do projeto visual da banda desde o começo do ano passado. Provavelmente, essa decisão criou em Song Machine, Season One: Strange Timez uma imagem de ser mais uma compilação de singles do que um álbum por completo. E é por isso que parece não existir uma coesão que de alguma forma consiga unir toda a profusão sonora que banda entrega em todas as faixas. E isso fica ainda mais claro quando a gente percebe que a melhor parte do álbum está nas faixas da versão deluxe, pois nenhuma delas fizeram parte do projeto visual. Faixas como a synth-pop/indie pop Simplicity com os vocais da Joan As Police Woman, With Love to an Ex e a sua deliciosa inspiração africana devido a participação da cantora sul-africana Moonchild Sanelly e deliciosamente fofa e estranha bubblegum pop/hip hop MLS com a mistura inusitada do JPEGMafia com as japonesas do CHAI consegue se juntarem um bloco direto, coeso e inspirado. Entretanto, nenhuma delas chega perto da força de Opium e a sua mistura eletrizante de acid jazz com hip hop e soul com a participação sensacional do duo EarthGang. E apesar de funcionar melhor na parte deluxe, Song Machine, Season One: Strange Timez ainda guarda grandes surpresas ao longo da sua duração. 

Sem ter exatamente um gênero especifico como base, mas, sim, uma abundância de influências que vão do electropop ao indie rock, passando britpop ao R&B, Song Machine, Season One: Strange Timez tem nos seus ilustres convidados um pilar tão forte e precioso que até consegue jogar um holofote que distraí em partes os erros do álbum. Logo abrindo os trabalhos está a presença contida, mas marcante, de Robert Smith, lendário vocalista do The Cure, na urgente indie rock Strange Timez. O rapper Schoolboy Q coloca a sua voz marcante na divertida Pac-ManAries é “sombria, adulta e com uma batida que mistura synth-pop com indie rock/ new wave em uma batida que vai crescendo em que ouve com uma cocheira no meio da noite” que tem a presença da cantora Georgia e o lendário músico Peter Hook. Nomes menos conhecidos do grande público também brilham como é caso da malinesa Fatoumata Diawara na sensacional Désolé ou do rapper britânico Kano e a cantora Roxani Arias na envolvente Dead Butterflies. Existe também a ótima e cool Momentary Bliss com participações de Slowthai e Slaves. Todavia, nenhuma delas chega perto da genial da classuda e densa The Pink Phantom que conta com a presença de Elton John ao lado do rapper 6lack. Song Machine, Season One: Strange Timez é tipo de álbum que não parece entregar tudo que a gente esperava, mas parece abrir um espaço apenas seu e com possibilidade de crescer ao envelhecer. E isso é algo impressionante para uma banda constituída por personagens animados.

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