20. Disco
Kylie Minogue
“Décimo quinto álbum da carreira da cantora, Disco é como se fosse uma porta para que o público possa voltar a dois passados distintos: de um lado, os anos setenta e a sua inesquecível disco music e, do outro lado, os principais ápices da carreira da Kylie. Após o flerte pesado e morno com country do álbum anterior (Golden), Disco traz de volta a todo o vapor a áurea da persona mais diva que a cantora já alcançou. Sem em nenhum momento querer ou tentar reinventar a roda, a produção entrega uma madura, elegante e carismática coleção post-disco/dance-pop que tem no charme da sua interprete o ponto de ebulição perfeito para elevar tudo a um outro patamar. Para quem conhece um pouco da carreira de Kylie sabe bem que a qualidade técnica de seus trabalhos sempre foi um dos diferencias na sua carreira. E quando essa característica encontra com uma persona artística inspirada como é visto em Disco, o público é agraciado com um verdadeiro presente em forma de álbum.”
Resenha19. Circles
MAC MILLER
“Nas mãos de Jon, Circles se torna um refinado, elegante, maduro e elegante trabalho de rap com neo soul que, ao mesmo tempo, eleva a sonoridade de Mac ouvida anteriormente e se mostra como um destino do que já estava sendo construído. Cheio de nuances que adicionam camadas interessantes a sonoridade, o álbum que não parece quer ser perfeito, mas quer mostrar o talento de Mac tinha e que ainda poderia ser visto. Longe de ser um artista comercial ou mesmo querer seguir tendências atuais, Mac buscava o seu próprio lugar ao Sol da maneira que percebia o seu oficio. A faixa Blue World e o seu toque old school e batida cadenciada deixa bem claro o artista que Mac queria ser. Coube a Jon a aparar as arestas, lixar os cantos e adicionar o verniz para unir toda a visão já estabelecida. E isso, o produtor faz com maestria em todo álbum sem se sobressair ou deixar as canções inacabadas. Por isso mesmo, o álbum é tecnicamente perfeito, pois apresenta um complexo e completo trabalho instrumental respeitando, porém, a pegada low profile da sonoridade do rapper. Mesmo assim, ouvir Circles é um trabalho penoso já que as suas composições mostram uma pessoa em busca de algo que, infelizmente, o mesmo não parece ter encontrado em vida.”
Resenha18. Song for Our Daughter
Laura Marling
“Delicado, melódico, contido e com uma produção que prefere constantemente trabalhar a simplicidade instrumental, Song for Our Daughter é o que pode ser chamado de slow burn. Começando devagar e aumentando aos poucos a sua força, o álbum só chega ao seu ápice na sua parte final em que, dentro das suas características sonoras, explode emocionalmente em dois momentos impressionantes: a country/folk Hope We Meet Again e as suas lembranças amargas de uma história de amor e a devastadora The End of the Affair sobre o fim de um romance e as suas consequências. Dona de uma lirica poética, direta e simples, Laura tem aquela qualidade de contadora de história que está em falta atualmente. E, queridos amigos, as histórias que a mesma conta são de uma profundidade e elegância tão refinados que fica difícil não se emocionar e se envolver a cada verso. Devido a essa qualidade de ir desembrulhando as emoções aos poucos, Song for Our Daughter tem um começo não tão inspirado quanto a sua parte final, gerando uma certa barreira para quem começa a escutar o álbum, não tendo tanta familiaridade com a artista ou/e gênero. Passando esse começo, o público é presenteado com um trabalho inteligente e impressionante dentro de um escopo relativamente pequeno. Além das canções já citadas, outros momentos de destaque ficam por contada da confortante Only the Strong, a tocante homenagem para Paul McCartney em Blow By Blow e a canção que dá nome ao álbum Song for Our Daughter em que Laura, assim como em todo o álbum, escreve pensando em uma filha fictícia. Ouvir esse álbum foi como um verdadeiro detox sonoro para uma mente ainda em espiral.”
17. La vita nuova
Christine and the Queens
“La vita nuova, parte de um projeto áudio/visual, é um trabalho que quebra qualquer expectativa em poucos segundos ouvindo já a primeira faixa. People, I've been sad é uma triste, melódica e cadenciada electropop que é elevado a um nível diferente devido ao seu requintamento poético. Por ser um trabalho essencialmente electropop, a esperança é que o mesmo seja feito para cantar a plenos pulmões enquanto faz dancinha da pista. Ledo engano, pois Christine and the Queens quer mesmo é sofrer por amores tóxicos, paixões melancólicas e corações estraçalhados. Tudo isso é construído em letras adultas, desconcertantemente diretas, poeticamente refinadas e com um senso estético impressionante. Esse último requisito é principalmente visto na escolha de cantar em três línguas diferentes: o francês, língua materna da cantora, o inglês e o italiano.
Equilibrando as três ao longo do EP, Christine consegue saber se utilizar do melhor de cada uma das três línguas para melhor expressar os complexos sentimentos expostos em cada canção. E, por essa qualidade, Je disparais dans tes bras se transforma na melhor canção do EP. Uma crônica sobre um relacionamento tóxico que tem o seu significado amplificado devido a sonoridade da língua francesa, elevando o seu poder a outro patamar. Essa importância da escolha da língua fica bem claro ao ouvir ao final do EP a versão em inglês da canção: I disappear in your arms tem o arranjo, vibe e uma composição inspirada, mas algo de importante se perde na tradução. Apesar de contar muito para o resultado final, as composições não são a principal base de La vita nuova.”
Resenha16. Letter To You
Bruce Springsteen and the E Street Band
“No álbum anterior, Bruce voltou os olhos para uma sonoridade misturada de americana, country e folk. Ao voltar a gravar com a sua banda the E Street Band, o roqueiro retoma de cabeça a sonoridade original que o fez ser a lenda que é: um poderoso e cheio de personalidade rock com doses cavalares do chamado heartland rock. E, por isso, Letter To You não apresenta nada de novo sob o Sol, mas isso é compensado pela gigantesca qualidade técnica e artística que a produção coloca a todo segundo na construção do álbum. E boa parte disso é devido ao fato de Bruce e a sua banda gravarem todo o álbum ao vivo, juntos em um estúdio e, normalmente, tocando apenas uma vez cada canção. Devido a essa característica, o álbum se torna uma experiência rara para um trabalho gravado em estúdio, mas com uma sensação de show ao vivo pungente. Com uma instrumentalização grandiosa e pomposa, mas orgânica e fluida, Letter To You mostra a importância de prestar atenção a cada instrumento, pois existe um lugar para cada no tecido sonoro e que deve ser valorizado mesmo tudo fazendo parte de um grande quadro final. Isso fica claro na canção que dá nome ao álbum: a faixa Letter To You é uma caixa imaculada de tudo que é de bom na música de Bruce Springsteen. Entretanto, o ponto alto do álbum é o encontro desse maduro e contemplativo Bruce com aquele que ainda nem tinha tido o primeiro sucesso ainda.”
Resenha15. Ungodly Hour
Chloe x Halle
“Em Ungodly Hour é o momento que a dupla está exigindo que o público note a sua presença. Não pedindo ou avisando, mas, sim, ordenando que a atenção seja voltada para as jovens artistas. As personalidades das artistas parecem transbordar para fora do álbum, mostrando mulheres donas de si, empoderadas, talentosas e exalando carisma e magnetismo. Do It, excelente single do álbum, é sobre se sentir bem, sair com os amigos e se divertir sem pensar em nada. Parece clichê, mas a composição acerta ao fazer tudo soar realmente cool e desatencioso. E assim que as composições do álbum são construídas. Sem nunca se aprofundarem em assuntos como, por exemplo, relacionamentos tóxicos, empoderamento, traição e solidão, mas entregando letras centradas, deliciosamente divertidas, maduras e com uma noção pop preciosa, Chloe x Halle navega em águas já exploradas por nomes como o TLC e o Destiny's Child na direção certa para encontrar o porto que as pertencem.”
Hayley Williams
“A grande sacada do álbum é conseguir soar como uma sequencia da sonoridade que a Hayley estava fazendo com o Paramore nos últimos anos e, ao mesmo tempo, começar a construir uma sonoridade sólida e única para a carreira solo da vocalista. Esse feito é algo incrível e nada comum já que a maioria esmagadora de casos de integrantes de banda/grupos quando começam a carreira solo querem de alguma forma se distanciarem da sonoridade feita anteriormento, indo para algo totalmente pessoal. Em Petals for Armor, porém, Hayley Williams dá o dedo do meio para essa regra ao contar com Taylor York, guitarrista companheiro de banda, para co-escrever várias canções e, principalmente, produzir todo o trabalho. Felizmente. como dito antes, o álbum também é a porta de entrada para o começo da elaboração da sonoridade da cantora de forma eficiente. Por isso, não é exagero falar que o álbum é tem essa complexidade única que consegue amarrar duas pontas opostas de forma espetacular ao não pesar para nenhum lado em uma simetria finíssima.”
Resenha13. Lianne La Havas
Lianne La Havas
“Artista com uma coleção de influências musicais longa e diversa, Lianne coloca no álbum uma “cadeia” de referências interessantes e surpreendentes. Apesar de ter o neo-soul como pilar central, a cantora cita nomes como Joni Mitchell, Al Green, Destiny’s Child e Milton Nascimento. Sim, o brasileiro é citado nominalmente pela cantora como uma das influências diretas para o álbum e isso fica bem claro em alguns momentos. O principal e melhor deles é na ótima Can't Fight. É fácil notar a presença marcante, bem vinda e poderosa da nossa MPB em uma batida cadenciada que parece flertar com o samba aqui e ali, mas que é claramente a atmosfera da sonoridade do Milton, especialmente o do Clube da Esquina. Obviamente, tudo é diluído e misturado com as outras influências como, por exemplo, R&B e jazz. E é por isso que a cantora entrega um neo-soul em sua melhor tradução, pois adiciona uma carga necessária, rica e diversa que ajudou o gênero a se transformar em um dos mais importantes nos anos noventa. Devido a esse exímio trabalho de produção que a cantora consegue entregar um cover espetacular e grandioso de Weird Fishes do Radiohead. Sem mudar drasticamente a instrumentalização, a versão ganha contornos soul com a mistura indie/rock da banda, mas com a distinta personalidade de Lianne impregnada do começo ao fim.”
12. Future Nostalgia
Dua Lipa
“Com uma produção dividida entre vários nomes, Future Nostalgia entrega tudo o que um álbum pop precisar ser: divertido, dançante, viciante e despretensioso. Só que isso é alçado a um patamar muito acima da média devido ao seu refinamento estético ao criar uma rica e moderna mistura de dance-pop, synth-pop e electropop com uma brilhante e magistral camada disco que ajuda a sonoridade a ganhar uma película atemporal. Tudo isso sem perder, porém, o fator comercial que o pop que sempre aparece em alta em todas as faixas, especialmente nos melhores refrões dos últimos tempos. Outra característica que a Dua Lipa já tinha mostrado na sua sonoridade é o fato de nunca entregar canções lineares e, sim, peças pop com nuances e texturas surpreendentes que apenas encorpam o já ótimo trabalho. Isso fica claro na faixa homônima que abre o álbum: Future Nostalgia é "uma interessantíssima e refrescante dance-pop com toques de electro e funk, comprovando a minha sensação que a cantora precisa quebrar expectativas em todas as suas canções.". Outro ótimo exemplo é a mid-tempo electropop com toques funk Pretty Please que constrói uma batida falsamente minimalista para entregar uma canção deliciosa cadenciada e de uma sensualidade única. E personalidade que não falta para o álbum, pois Dua Lipa é uma artista realmente diferenciada nesse quesito.”
Resenha11. Covers
James Blake
“Aos quarenta e nove do segundo tempo de 2020 eis que surgiu o James Blake para entregar um trabalho que vai entrar na minha categoria de melhores do ano. Apesar de sempre ter acreditado no talento do britânico, a grande surpresa é o fato dessa inclusão entrar através de um EP feito apenas de covers de canções de vários artistas diferentes em um trabalho espetacularmente original e inspirado.
Intitulado devidamente apenas como Covers, o EP contem seis regravações de canções que vão desde o novo pop até o rock alternativo. Como escolhas, as seis canções não parecem ter nenhum tipo de coesão, tirando o fato, claro, da preferência por essas canções do James. O importante aqui não é quais são as canções e, sim, como as mesmas são refeitas nas mãos do britânico. A preciosa qualidade da produção do artista é conseguir dar uma carga pesada da sua personalidade artística sem descaracterizar de forma irreversível as canções escolhidas. E isso é algo raro, impressionante e merecedor de grandes elogios, mesmo que o começo não seja parâmetro para o resultado final.”
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