Ava Max
Qual é o problema com o velho e bom pop? Estamos tão acostumados a ouvir nos últimos tempos o gênero mergulhado em um verdadeiro oceano de influências, contrastes e experimentações que a gente esquece que o pop puro ainda pode ser divertido e interessante. E é por isso que ouvir Heaven & Hell é uma experiência muito bem vinda, pois o debut da Ava Max é um trabalho desavergonhadamente pop em todas as suas estancias. O problema aqui é que o resultado final é tão genérico como o esperado e não ajuda a Ava a colocar o seu nome no topo do estrelato.
Essencialmente, Heaven & Hell é um álbum despudoramente pop, sendo recheado de subgêneros como electropop, dance-pop e synth-pop. Sem tempo para tentar soar elevado ou profundo, o debut de Ava tem como principal qualidade essa honestidade quase desconcertante de agregar as principais características do pop como qualidade ao ter uma produção despretensiosa, rasteira, descomplicada e de fácil consumo. Assim como um lanche fast-food, a sonoridade do álbum é para ser apreciada de uma vez e sem prestar maiores detalhes para possíveis erros, servindo apenas para matar a vontade de ouvir um pop e nada mais. E qual o problema disso? Nenhum caso você esteja realmente procurando por canções como a electropop farofa My Head & My Heart ou o dance-pop com pinceladas de post-disco de OMG What's Happening, pois você estará ciente de estar ouvido trabalhos genericamente bem feitos e nada mais. Acontece que Heaven & Hell sofre de ter sido lançado em 2020 e, não, no começo da década.
Atirando para todos os lugares devido a várias inclusões de subgêneros do pop, o álbum soa como um trabalho que se encaixaria perfeitamente no cenário de dez ano atrás. E é por isso que a comparação mais nítida que vem a mente é o The Fame da Lady GaGa. Lançado em 2008, o debut da mãe monstro tinha basicamente as mesmas características de Heaven & Hell, mas tendo a vantagem de ter sido lançado na época certa e tendo uma personalidade que, apesar de diluída, dava sinais verdadeiros do surgimento de uma grande estrela. Devido principalmente a produção meio desorientada e sem muita criatividade, Ava Max soa sem personalidade definida, mesmo construindo um álbum intencionalmente conceitual. Dividido entre a persona divina e a persona infernal, o álbum não apresenta de fato uma mudança que realmente justifique essa ideia, pois as canções apresentam as mesmas qualidades e os mesmo defeitos. Provavelmente, um toque mais dark pop na parte final seja esse lado sombrio, mas isso não impede que tudo soe formulaico e já ouvido várias vezes em mãos mais capazes. Todavia, quando a gente desliga o interruptor critico é impossível não se divertir com momentos como os singles Kings & Queens e, o primeiro sucesso da cantora, Sweet but Psycho. E é possivelmente devido a Ava Max que Heaven & Hell funcione melhor que o esperado e indo contra até mesmo a concepção do trabalho.
Apesar de certa falta de personalidade vocal que deve ter sido causada pelas constantes mudanças de tom e atmosfera das canções, Ava mostra uma força imensa, técnica, versatilidade e um brilho especial, principalmente nas canções que conseguem se sobressaírem entre a multidão. Em So Am I, a cantora coloca uma carga emocional nesse synthpop de auto ajuda que colabora para passar a mensagem da sua composição organicamente. Uma delicada melancolia na performance em Born to the Night dá o toque necessário para a canção ganhar personalidade. Entretanto, o melhor momento de todo Heaven & Hell é a surpreendente Take You to Hell em que Ava mostra uma prévia excitante do que é capaz em uma canção realmente interessante e com substância necessária para ter personalidade própria, mesmo que ainda seja uma synth-pop com toques sombrios. Outros momentos que podem ser citados é a prazer culposo Belladonna que realmente lembra o começo da carreira da GaGa e a fofa, mas esquecível, Torn que tem um toque de ABBA escondido no seu instrumental. Prato cheio para os apreciadores do pop na sua face mais comercial, Heaven & Hell pode ser o portal para uma carreira inspiradora de Ava Max. É esperar para saber em qual caminho a cantora irá seguir daqui para frente.
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