29 de abril de 2022

New Faces Apresenta: Doechii

Crazy
Doechii


Existem alguns artistas novatos que fico feliz em “descobrir”, mas outros termino furioso de não ter conhecido bem antes. Esse é o caso da rapper Doechii que lançou a genial Crazy.


Nascida Jaylah Hickmon e conhecida anteriormente Iamdoechii, a rapper vem começando a ganhar notoriedade desde ano passado com o sucesso viral de Yucky Blucky Fruitcake (que irei ter que falar em um especial em breve). Devido a isso, Doechii assinou com uma grande gravadora e deve lançar o primeiro álbum ainda esse ano. Como single foi lançada essa pancada chamada Crazy. É um pouco difícil comparar o que a rapper entrega na faixa, mas o melhor link que posso fazer é com a lendária 212 da Azealia Banks. Frenética, ambiciosa, experimental e de uma produção espetacularmente inteligente, Crazy é assim como 212 uma hip hop/eletrônica/house que explode na nossa cara feito uma gramada, deixando quem escuta fascinado e desnorteado. Entretanto, Doechii entrega uma canção mais áspera, feroz e quase animalesca devido a sua espetacular performance que consegue deixar a canção ainda mais revigorante. Se pudesse comparar com uma atriz, a rapper entrega uma atuação que seria digna de ser indicada ao Oscar simplesmente pela qualidade do que por campanhas mediáticas que poderiam ser feitas. Existe uma urgência nos versos diretos e concisos da canção que é como o toque final de gênio de Crazy. Espero que a rapper possa conquistar o apelo de um público maior nos próximos anos, pois apenas por esse começo já sabemos que a mesma tem um talento realmente especial.
nota: 9

O Céu de Ava

Maybe You’re The Problem
Ava Max


Pode se dizer que não gosta da Ava Max, mas nunca pode acusar a cantora de não ser persistente. E com essa característica que a cantora lança o seu melhor single com a ótima Maybe You’re The Problem.

Não espere que a canção seja exatamente original, mas, sim, uma excitante e divertida synth-pop com forte influencia dos anos oitenta que tira inspiração diretamente do The Weeknd. Felizmente, a canção tem uma boa produção que consegue não ser uma cópia barata, especialmente devido a injeção de personalidade que a cantora oferece com uma presença sólida e com carisma bem definido. E isso deveria ser sempre o ponto forte das canções da cantora, pois Ava é uma ótima cantora com instrumental para ainda ser melhor e que precisa ainda achar um pouco de seu próprio caminho. Outro ponto positivo de Maybe You’re The Problem é a sua clichê, mas muito bem escrita composição sobre perceber a pessoa tóxica com que se relaciona e descobrir que nem sempre os erros de um relacionamento é divido por dois. Se toda canção lançada daqui para frente tiver essa mesma qualidade, a Ava Max pode se tornar a próxima mega diva pop mainstream.
nota: 8



Filler de Respeito

Plan B
Megan Thee Stallion


Nem sempre uma boa música serve para ser um single, pois falta algum componente que vire essa chave essencial para o sucesso comercial. Um bom caso disso é a interessante Plan B da Megan Thee Stallion.

Possível single do seu próximo trabalho, a canção é uma das mais interessante em questão sonora lançadas pela rapper. Uma fusão suculenta de hip hop/rap com uma dose de funk/soul que referencia diretamente a origem dos gêneros lá nos anos oitenta. Entretanto, a produção adiciona uma dose áspera de personalidade que faz de Plan B realmente original, mesmo não sendo genial. A presença de Megan é outro ponto alto da canção, pois a rapper se mostra em uma performance direta, marrenta e estilosa ao usar a sua personalidade para entoar mais uma canção de empoderamento muito bem escrita. Apesar de toda a qualidade, o single não é o tipo de canção que parece ser feita para o sucesso, especialmente devido a sua estilização, a falta de um refrão poderoso e a sensação de ser um filler. Uma filler, sim, mas um que vale mais que muitas canções no topo das paradas.
nota: 7,5



A Mesma Canção

Thousand Miles
The Kid LAROI

Um dos principais nomes dessa onde post-pop punk/emo, o australiano The Kid LAROI entrega novamente a mesma canção em Thousand Miles.

Sonoramente, a canção é exatamente como os seus outros lançamentos de sucesso, especialmente Stay e Without You. Uma pop rock/pop punk mid-tempo com base de violão e efeitos vocais pesados na voz do cantor, Thousand Miles é amontoado de frases feitas e lugares comuns sonoramente que não chega a ser uma imensa bomba e, sim, uma canção completamente esquecível e dispensável. E o problema não é o estilo em si e, sim, a mesma estrutura sonora, vocal e lírica que se repete em todas as canções do cantor, mostrando que o alcance do mesmo é até o momento é restritíssima a uma coisa apenas. Está funcionando até momentos, mas a pergunta é: até quando?
nota: 5

26 de abril de 2022

A Mais Indie da Rainha dos Indie

Free
Florence + The Machine


Seria capaz do Florence + The Machine lançar uma lançar uma canção mais indie que a média de todos os seus lançamentos? Eis que surge Free para responder essa questão.

Novo single do aguardado Dance Fever, a canção é uma incrível mistura de indie pop, indie rock e toques de electropop embalados em uma camada experimental que consegue soar como um trabalho da banda e, ao mesmo tempo, se diferenciar com os toques de sonoridade de artistas como Bruce Springsteen e The Killers. E é nesse momento que a canção se torna o trabalho mais indie dos últimos tempos da banda. A produção da Florence ao lado de Jack Antonoff e Dave Bayley consegue emendar todas essas caraterísticas em uma canção lindamente instrumentalizada que usa toda a força de uma atmosfera sublime, ambígua e reconfortante para jogar todo esse peso de Free de ser várias coisas ao mesmo, mas ser primeiramente uma canção do Florence + The Machine em estado bruto. Isso só poderia acontecer dessa forma, pois a canção é dona de uma composição genial. Falando sobre o peso da ansiedade em nossas vidas ao relatar o dia a dia de uma pessoa que vive com essa doença, Free apresenta um tom até esperançoso ao mostrar que é possível lutar contra esse mal em uma letra tocante, revigorante, emocionante, expiatória e eletrificada. Estranha, nada comercial do de vista atual, dançante e completamente mágica, a canção vai pavimentando o caminho para que o Florence + The Machine tenha um dos melhores trabalhos da sua genial carreira.
nota: 8,5

New Faces Apresenta: Isaac Dunbar

Bleach
Tainted Love
Isaac Dunbar

Descobrir novos artistas é algo que realmente tenho uma excitação verdadeira durante os meus anos de blog. E descobrir um artista como Isaac Dunbar é ainda melhor, pois o mesmo consegue entregar dois dos melhores singles do ano nas sensacionais Bleach e Tainted Love.

Fã de Lady GaGa e EDM music, o cantor assinou em 2019 o contrato com uma grande gravadora depois de lanças suas canções de maneira independente. Sem ainda lançar um álbum, Isaac Dunbar vem preparando o lançamento do EP Banish the Banshees para final de Maio. Como singles desse trabalho foram lançado duas canções que mostram o seu gigantesco potencial. Bleach é uma eletrizante, refrescante, contagiante e classuda mistura de R&B, dance-pop, post-disco e indie pop que realmente funciona devido a inteligência na condução da canção. Leve e divertida, a canção nunca é, porém, dispensável ou esquecível com a produção adicionando uma dose reluzente de nuances que incrementam o resultado final sem perder a sua base original. E é na luminosa performance Isaac que a canção ganha ainda força para se completar de maneira inspirada. Em Tainted Love, o cantor não perde folego ao entrar um trabalho também espetacular. Mergulhando ainda mais na influencia disco, a canção é uma romântica e deliciosa post-disco, pop soul e R&B que poderia facilmente ser um cover de uma canção dos anos setenta, mas é de uma originalidade cativante. A composição é simples, suculenta, inteligente e de uma fluidez impecável ao saber contar uma história de uma noite romântica, sabendo explorar ideias líricas extremamente eficientes e conseguir expressar toda a eletricidade de um encontro entre duas pessoas apaixonadas. Vocalmente, Isaac é um diamante que pode ser ainda refinado, mas se mostra já maduro e lindamente envolvente com a sua grande versatilidade. Queridos leitores, guardem esse nome Isaac Dunbar, mesmo não podendo estourar comercialmente é sempre bom conhecer talentos desse tamanho.
notas
Bleach: 8,5
Tainted Love: 8,5

Encontrando o Caminho

Memories
Conan Gray

Desde a sua “estreia” aqui no blog com a mediana Overdrive, a trajetória do Conan Gray tem sido uma ascensão realmente louvável. E agora o mesmo entrega o seu melhor momento até agora com a ótima Memories.

A busca pela sua identidade artista parece ter um caminho que busca inspirações no que deu certo para outros artistas, mas sem nunca parece uma cópia apagada ou repeti dos originais. Liricamente, a clara inspiração é da Taylor Swift com a sua verborragia elegante e sentimental. Em Memories, Conan relata um relacionamento tóxico que, apesar de todos os seus esforços, a outra pessoa não o deixar curar as feridas e a deixar no passado. Muito bem escrita e com uma inteligência lírica refinada, a canção poderia ter um refrão mais direto para explorar todo o seu potencial cativante. Em questão de sonoridade, a produção não necessariamente bebe diretamente de uma fonte, mas essa pop rock/indie pop parece querer mostrar profundidade e versatilidade de Conan para o mostrar como um artista maduro como apostou o Harry Styles desde o começo da sua carreira solo. Conan Gray vem construindo uma carreira uma discografia elogiável que precisa apenas encontrar o caminho para o sucesso mainstream.
nota: 8

Caminho Desviado

That’s Hilarious
Charlie Puth


Recentemente, o Charlie Puth revelou que teve uma epifania quando o Elton John falou que a musica dele era ruim e isso o fez pensar sobre a sua carreira. Apesar da melhora nos últimos tempos, acredito que That’s Hilarious não era exatamente o oposto que o Elton queria dizer.

That’s Hilarious é completamente dispensável. Apesar do bom começo, mostrando que poderia entregar algo com estofo e dramático, Charlie vereda por outros caminhos ao criar uma batida esquecível, massificada e boba de eletropop que não acrescentada nada de novo ou excitante. É apenas monótona. A canção tem até uma produção sólida e uma composição decente, mas That’s Hilarious é como uma massa de pão crua e sem sal. E isso mostra que Charlie Puth não ainda seguido a risca o conselho que lhe foi dado.
nota: 6

22 de abril de 2022

As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer

Com a quebra das barreiras que existiam entre gêneros distintos é cada vez mais difícil encontrar uma canção que seja puramente de um gênero ou subgênero. Entretanto, quando olharmos para trás é fácil entrar uma canção que se mantem em apenas um gênero sem nenhum tipo de nuance que fuja da sua base principal. E é de uma canção com essa característica que irei falar nesse As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer ao resenhar a...



Uma Segunda Chance Para Bodak Yellow

Bodak Yellow
Cardi B


O estouro comercial que aconteceu com Bodak Yellow foi responsável para que tirasse a Cardi B no semianonimato, na época a rapper era conhecida mais pela sua participação em uma reality show, e a catapultar para o estrelato. Apesar da minha boa resenha da canção, o single se mostra muito mais interessante depois de cinco anos do seu lançamento. E a maior responsável é a própria Cardi B.

A performance da rapper é simplesmente devastadora. Uma metralhadora verborrágica, Cardi preenche cada centímetro da canção com o seu flow áspero, rustico, rude, direto, genuíno e de uma personalidade única. É uma presença tão grandiosa, potente e vibrante que Bodak Yellow se torna uma tour de force apenas pela presença da rapper. Acredito que nas mãos de um rapper menos talentosa teríamos um resultado até bom, mas nada realmente marcante como é a entrega da Cardi B. Se fosse uma performance em um filme seria fácil a rapper ser indicada ao Oscar. E essa performance é que realmente faz a canção realmente se destacar, pois sonoramente não existe tantas qualidades no mesmo nível. Isso não quer dizer que a produção entregue uma canção ruim. Longe disso, pois Bodak Yellow é uma viciante, bem estruturada e inteligente ao usar o sample de No Flockin do rapper Kodak Black. Entretanto, a sua batida não entrega nada revolucionário, deixando para a Cardi B o peso de carregar a canção nas costas. E isso a rapper fez de uma maneira que lançou a sua carreira a estratosfera como poucos artistas conseguiram na história.
nota: 8

19 de abril de 2022

De Volta aos Bons Tempos

About Damn Time
Lizzo

Elevada ao posto de diva ao explodir com os sucessos de Good as Hell e Truth Hurts e, também, a sua magnética personalidade e presença artista, a Lizzo está de volta para mostrar que não apenas um fogo de palha resistente. Depois do desempenho bom, mas abaixo do esperado, de Rumors ao lado da Cardi B, a cantora lança a divertida About Damn Time.

A canção não mostra um lado da cantora, mas, sim, continua a sua capacidade de entrega uma divertida, energética e empoderada pop/R&B em que a força da cantora é combustível necessário para fazer a canção funcionar. A sua performance é sensacional e continua a deixar claro a sua imensa versatilidade ao mesclar entre o cantar o rap de maneira fluida e dinâmica como poucas artistas conseguem no cenário pop. A produção também acerta ao adicionar o sample Hey DJ de The World's Famous Supreme Team, criando uma deliciosa atmosfera post-disco que perdeu um pouco o embalo da onda dos últimos tempos. Devo admitir que About Damn Time não avança artisticamente a carreira da Lizzo, mas é um trabalho irresistivelmente contagiante.
nota: 7,5

La Belleza Contenida

Cayó
Arca


Um dos nomes mais prolíferos da cena indie/eletrônica atualmente, a produtora/cantora/DJ/rapper venezuelana Arca é uma especialista em subverter expectativas. E isso é a base da assombrosa Cayó.

Uma mistura perfeita entre art pop e ambient pop, a canção encanta pela construção contida e o verniz sombrio que a mesma é revestida. Com uma pincelada de música sacra na sua atmosfera, Cayó parece ser uma obra menor na discografia da artista que se desabrocha em uma intrigada instrumentalização e sensacional condução. Existe algo assustado em seu interior que faz da canção um trabalho único e, ao mesmo tempo, passa um sentimento familiar. Os vocais de Arca são a cereja em cima do bolo, pois são os condutores perfeitos dessa áurea densa da produção e adiciona um toque de emoção muito bem vinda. E mesmo não sendo o seu trabalho mais memorável, Cayó é uma canção sensacionalmente marcante.
nota: 8,5

Uma Joia Chamada Phoebe

sidelines
Phoebe Bridgers

Existem artistas que possuem um talento tão precioso que dá vontade de guardar em uma caixinha para que seja protegido de todo o mal que pode acontecer. Apesar de ser piegas, a sensação é que tenho ao ouvir a Phoebe Bridgers na recém lançada sidelines.

Música que faz parte da trilha da série Conversations with Friends, sidelines é uma tocante indie pop/folk que conversa bem com a incrível sonoridade apresentada da cantora nos seus últimos trabalhos. Entretanto, a canção mostra um lado mais otimista da lírica da cantora ao ser uma declaração de amor. Phoebe encaminha para essa constatação de maneira incrivelmente dramática, pois afirma que até conhecer a pessoa não tinha medo de nada e, agora, teme devido ao fato da possibilidade de perder. Apesar de ser uma temática batida, Phoebe constrói uma letra tão inteligente e inspirada que parece algo completamente inovador e único. A produção, porém, é o grande acerto de sidelines que vai aos poucos adicionando camadas para conseguir chegar ao clímax de forma robusta para que seja mostrado a força emocional da canção perfeitamente e sem fazer a gente realmente esperar por essa pungência final. E isso torna maior a vontade de guardar a Phoebe Bridgers em potinho para que a mesma não perca essa capacidade de emocionar de maneira tão natural.
nota: 8,5

O Que Teria Acontecido com a Nicki?

We Go Up
Nicki Minaj & Fivio Foreign


Tirando todas as polêmicas envolvendo a sua vida pessoal nos últimos anos, a grande questão envolvendo a Nicki Minaj é saber o que aconteceu com a rapper artisticamente? Já faz muito tempo que não vemos uma canção que realmente mostre o lado que acostumamos ouvir a mesma desde que surgiu. E nem mesmo uma canção como We Go Up ajuda a tirar essa impressão.

Parceria com o rapper em ascensão Fivio Foreign, a canção é uma direta canção rap/hip hop que tem como principal base o drill. Sub gênero do trap, o gênero tem como fundação o uso de sintetizadores para criar uma batida encorpada. Em We Go Up, o resultado não muda muito o direcionamento original do estilo, mas resulta em uma canção madura e muito bem estruturada. O que deveria elevar o resultado final seriam as performances dos envolvidos, mas isso não acontece devido aos dois rappers entregarem apenas bons desempenhos, especialmente a Nicki. E o qual o motivo disso ser um ponto negativo é o fato da rapper já ter entregados momentos geniais em canções até piores sonoramente. Falta aquela força quase sobre-humana que fez a rapper se tornar uma das maiores da história. É uma performance sólida, forte e combina com o estilo de We Go Up, mas ainda falta a Nicki ser a Nicki Minaj.
nota 7

12 de abril de 2022

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

Say It Right
Nelly Furtado

É bem provável que uma boa parcela de quem ler essa resenha não tem a menor ideia do imenso sucesso que a Nelly Furtado em 2006/2007. Depois de estourar com a classuda I'm Like a Bird em 2000, a canadense parece destinada a ser uma one hit wonder. Entretanto, a cantora renasceu das cinzas ao se reinventar com o lançamento de Loose. A guinada na sonoridade e estética ajudou a cantora a vender cerca de dez milhões de cópias e alcançar vários topos de paradas com os seus singles. E um deles é que irei finalmente fazer uma resenha dezesseis anos depois, pois a canção ajuda a provar o quanto genial foi essa era da Nelly.

Say It Right foi lançada como quarto single do álbum sendo ajudado pelo hype do mega sucesso anterior de Promiscuous para alcançar o numero um da Billboard. Produzida pelo até então onipresente Timbaland, principal responsável por essa guinada da cantora, ao lado do Danja, a canção é a união perfeita entre a sonoridade anterior de Nelly com a visão pop/R&B dos seus produtores. E com o passar dos anos, a canção mostra se ainda mais espetacular, pois deixa claro a sua genialidade. Uma power balada mid-tempo pop com toques de hip hop e R&B, a instrumentalização da canção é um trabalho intricado, ousado e lindamente finalizado. Rico em nuances, poderosa na atmosfera e com fator viciante impressionante, Say It Right é o tipo de canção que entra no nosso subconsciente para não sair sem a gente realmente perceber ou entender de primeira o motivo. Acredito que a canção tem uma capacidade de conseguir soar ambígua sem soar intimidadora é um dos motivos para fazer da canção tão irresistível. Lindamente cantada, o timbre anasalado da Nelly funciona de maneira perfeita para a vibe da canção, especialmente devido a entrega contida, madura e misteriosa da sua performance. Por fim, a composição é espetacular ao não ter exatamente um sentido direto como a própria Nelly afirma, abrindo as possibilidades para desde o fim de um relacionamento até mesmo uma canção sobre auto descoberta de uma pessoa cantando para o seu “eu” anterior. Estou realmente feliz que Say It Right venha sendo descoberta pela geração Tik Tok para celebrar uma das melhores canções pop dos anos dois mil como o trabalho da Nelly Furtado realmente merece.
nota: 9

Na Base da Nostalgia

First Class
Jack Harlow

Começando a criar uma estrada que pode leva-lo a ser o próximo grande nome do mainstream, o rapper Jack Harlow lança a legal First Class.

Com apelo suficiente para ser um hit comercial, especialmente devido a ter viralizado no Tik Tok, a canção é um rap/pop melhor que o esperado, especialmente depois da mediana Nail Tech. A melhor qualidade da canção é inteligentíssimo uso do sample de Glamorous da Fergie. A canção de 2007 é usada de maneira certeira para que consiga ter a sua personalidade incluída em First Class sem precisar tirar personalidade do trabalho de Jack, mas, também, não ser desperdiçada, especialmente no interessante refrão. Apesar disso, a canção não é perfeita, pois parece depender demais dessa nostalgia para criar algo realmente cativante. Felizmente, Jack entrega uma performance sólida, lembrando a sua ótima participação em Industry Baby. Agora é esperar para saber se esse fogo de palha realmente vai se tornar um incêndio e Jack Harlow será o próximo astro.
nota: 7

A Beleza nas Pequenas Coisas

To Love A Man
Celeste

“Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” foi definido como o lema do movimento do cinema novo pelo cineasta Glauber Rocha. Parafraseando essa frase posso afirmar que para uma boa música basta “uma boa voz e um piano afinado” como é o caso da ótima To Love A Man da cantora Celeste.

Resumidamente, a canção é uma jazz/R&B com instrumentalização apenas com um piano e a cantora entoando uma letra relativamente simples. Entretanto, o resultado é um balsamo para os ouvidos devido a preciosidade de cada detalhe, especialmente devido a performance avassaladora da Celeste. Dona de uma voz rica, atemporal, delicada e com um timbre devastador, a cantora dá vida genuína para a canção sem quase esforço nenhum, deixando a sua voz preencher o delicado arranjo como um liquido em um recipiente. E a sua contida, sentimental e triste performance é a cereja em cima do bolo, pois transforma To Love A Man em uma canção marcante apenas usando a sua voz e um piano.
nota: 8

8 de abril de 2022

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Raving Dahlia
Sevdaliza



Filha do Destino

Treat Me
Chlöe


Depois de provar que não veio para brincar com a ótima Have Mercy, a cantora Chlöe lança a divertida Treat Me em que começa a mostrar qual parece ser o seu caminho na carreira solo.

Apesar de não ser tão boa como a canção anterior, Treat Me é uma deliciosa, old fashion e graciosa R&B/pop que emoldura perfeitamente a sonoridade dos meados dos anos noventa com toques do começo dos anos dois mil. Consegui perfeitamente ver a canção como atualização do que o Destiny’s Child fazia naquela época. Elegante e ao mesmo tempo sensual, a canção apresenta uma Chlöe completamente segura da sua persona pop e entregando uma performance sensacional que tem apenas um pequeno erro: o refrão. Apesar de ser legal, o refrão é entoado em um tom agudíssimo que não casa naturalmente com o resto da canção. De qualquer forma, Treat Me é outro tijolo importante na construção de da carreira da Chlöe que já começa com altas expectativas.
nota: 8

Bang Bang Indie Pop

Head on Fire
Head on Fire (feat. King Princess & MØ)
Griff & Sigrid

De tempos em tempos, o universo conspirar para que o mundo pop entregue o seu novo momento de Bang Bang em que dois ou mais cantora pop irão se unir para tentar unir todas as tribos em apenas uma canção. Dessa vez, a escolhida foi a canção Head on Fire que consegue unir quatro estrelas do indie pop de apenas uma vez: King Princess, MØ, Griff e Sigrid.

Na verdade, a canção original é uma parceria das duas últimas citadas anteriormente, ganhando uma versão “remix” com a presença das duas primeira. Ao contrário de canções recentes que seguem esse modelo de “remix que não é remix”, a versão com as quatro cantoras é melhor que a verão original. E isso é um feito extraordinário, pois apenas a canção base já seria um presente especial para o público. Head on Fire é uma envolvente, contagiante e suculenta mistura de indie pop, pop rock e dance-pop que funciona perfeitamente do começo ao fim. Na verdade, a canção é o tipo de trabalho que a gente não escute frequentemente, pois apresenta uma estrutura bem tradicional com um instrumental encorpado. Outro ponto de destaque é a sua espetacular composição. Apesar de temática ótima ao falar sobre a obsessão que gera ao se apaixonar, o destaque da letra são as escolhas líricas inteligentes e maduras que entregam um refrão simplesmente perfeito. Todavia, a canção realmente estoura de fato com as presenças adicionais das cantoras King Princess e MØ. Além da química original da Sigrid e a Griff, a presença das convidas adicionam para uma força impressionante e novas camadas de personalidades, transformando o que já era boa em um acontecimento. Uma pena que devido ao escopo de alcance de público das cantoras, Head on Fire não será um sucesso comercial, mas, sim, uma pérola dentro do mundo pop.
notas
original: 8
remix: 8,5



5 de abril de 2022

On The Rocks

All The Good Times
Angel Olsen


Uma música sempre faz a gente sentir algum tipo de emoção. Ás vezes, várias emoções de uma vez só em um fluxo constante. Entretanto, poucas músicas são capazes de fazer a gente ter uma sensação real de querer fazer determinada ação que parece estar ligada com um sentimento. Ouvir All The Good Times da Angel Olsen inspira na minha pessoa a vontade de ao final do dia sentar na soleira da minha porta, tomar um whiskey com duas pedras de gelo e um coração quebrado.

Single do seu próximo álbum intitulado Big Time, All The Good Times é uma comovente e sóbria indie rock/folk/country que apresenta uma excepcional instrumentalização. Conseguindo recriar uma sonoridade tradicional que remete aos grandes momentos dos gêneros citados, especialmente do country/folk, a cantora entrega um trabalho que parece emoldurar os trabalhos de lendas como Pasty Cline e Loretta Lynn com uma dose de modernidade classudo, elegante e encorpado. A performance de Angel é de uma força emocional impressionante sem precisar de cair em lugares comuns ou exageros vocais. A cantora parece entoar All The Good Times em uma performance ao vivo em um pub vazio, mas cheio de memorias doloridas e densa fumaça de cigarros. E a composição é o tiro no coração que faz arrancar uma lágrima sincera dos corações mais gelados. E com tudo isso correndo ao seu favor, All The Good Times deve tirar outras emoções de cada um que escuta e é por isso que o seu resultado é extremamente precioso.
nota: 8,5

In The Heart

Goodbye, Mr. Blue
Father John Misty


Existem canções que chegam como verdadeiros tsunamis emocionais que destroem nossas barreiras de maneira irreversíveis. Esse é caso da sensacional Goodbye, Mr. Blue do Father John Misty.

Continuando a sua exploração por diversos gêneros que deve ser o mote do álbum Chloë and the Next 20th Century, o cantor entrega no novo single uma melódica, tocante, atemporal e classuda mistura de country e folk que ganha pela simplicidade da ideia e pela genial realização. O resultado soa natural e completamente fluido, mostrando claramente o alcance do Father John Misty como artista e, principalmente, como cantor. A sua performance vocal é de uma beleza precisa e rara ao conseguir se adequar ao estilo da canção como se sempre tivesse cantado exatamente esse tipo de canção sem esquecer, porém, a magnitude da sua personalidade. Entretanto, o que realmente faz de Goodbye, Mr. Blue uma canção avassaladora composição sobre o exato momento que alguém percebe que o relacionamento chegou ao fim. Não é sobre exatamente o que aconteceu para chegar ao fim ou também sobre as consequências, mas, primordialmente, sobre a realização que não há nada para fazer e aceitar que esse é o momento da despedida: “This may be the last time/ Last time I get out of bed/ Put coffee on and try, in your words/ "To show some initiative"”. Goodbye, Mr. Blue é o tipo de canção que acerta diretamente no coração e parece que não vai sair tão cedo dessa nova moradia. E assim o Father John Misty vai criando o maior hype de 2022.
nota: 9

Uma Balada Eficiente

I Still Love You
BANKS


Baladas originais são difíceis de fazer, pois, independente do gênero, existe uma cartilha que parece difícil de dispensar. Por isso, a I Still Love You da Banks se destaca na multidão.

Com a ótima produção de Totally Enormous Extinct Dinosaurs, I Still Love You é uma delicada, minimalista e soulful balada pop com toques de art pop e eletrônico que conseguem dar um verniz distinto para a canção. Trabalhando em nuances sutis, a produção consegue incrementar a canção de forma a sua original respeitando certas noções sobre o que é ser uma balada. Com uma composição tocante, outro grande trunfo da canção é sensacional performance da Banks que novamente quebra outra expectativa sobre baladas ao ser poderosa sem precisar de grandes agudos, mas, sim, uma performance contida e linda. E assim a Banks mostra que é possível fugir do clichê sem precisar reinventar a roda.
nota: 8


Drama Fofo

When You’re Gone
Shawn Mendes


Obviamente, o tema das canções do Shawn Mendes para o próximo álbum deve ser sobre seu coração quebrado depois do fim do relacionamento com a Camila Cabello. E esse é o mote central de When You’re Gone.

Uma pop rock mid-tempo bem feitinha que não tem nada de novo para a discografia do cantor, mas mostra que o jovem cantor sabe o que case bem para o seu estilo. O ponto alto da canção é a performance contida de Shawn que consegue apresentar sentimentos genuínos de forma natural. When You’re Gone é uma reflexão sobre o seu termino em que o cantor percebe que era realmente feliz e que não há mais volta. Clichê? Sim, mas feito na medida certa para ajudar o cantor expulsar esses demônios de fim de relacionamento. De maneira fofa, mas ainda assim uma expiação.
nota: 7

O Problema do Refrão

Softly
Arlo Parks


Uma das revelações do ano passado, a Arlo Parks parece começar a preparar o caminho para o segundo álbum com o lançamento da boa Softly. Uma pena que a canção tropece no seu mediano refrão.

Continuando a mostrar a sua ótima capacidade de compositora, a canção é uma crônica precisa e com uma devastadora sinceridade ao revelar os pequenos detalhes das cenas dos últimos momentos de um relacionamento. Os cheiros dos cafés das manhas em silêncio, as pequenas e alegras memorias que vem ao pensamento e os olhares que não se cruzam, Arlo é uma perita em trazer esses detalhes de maneira naturalmente sentimental e retirar verdadeira emoções de cada verso. O problema aqui é o repetitivo refrão que ajudado pela mudança de batida quebra o cadenciado ritmo dessa R&B/pop sem realmente adicionar substância para o resultado final. Tirando isso, Softly é uma canção que continua a mostra o potencial da Arlo Parks de maneira sucinta e preciosa assim como o seu talento.
nota: 7,5

1 de abril de 2022

Um Filler de Respeito

As It Was
Harry Styles

Já estabelecido com um verdadeiro astro mundial com ramificações para o cinema, o Harry Styles anunciou o aguardado sucessor de Fine Line intitulado Harry's House. Como primeiro single foi lançada a interessante As It Was.

Mostrando que não tem a menor vontade de ficar parado em um lugar, a canção mostra o cantor explorando com a sua sonoridade ao entregar uma deliciosa, aveludada e inteligente synth-pop/new wave/indie rock com uma batida nostálgica e quase contemplativa. E essas escolhas mostram perfeitamente esse potencial do Harry de sair do lugar comum atual para entregar algo pop, mas com substancia aflorada e suculenta. Continuando evoluindo como compositor, As It Was pode não ser a canção da sua discografia com o melhor refrão, mas apresenta um trabalho lírico apurado em que o cantor faz uma tocante e melancólica reflexão sobre se sentir sozinho. Com uma performance contida e lindamente emocional, As It Was erra ao não ter cara de um primeiro single. Na verdade, a canção tem todas as características de ser um ótimo filler dentro do contexto do álbum, mas como carro chefe de um trabalho deixa a desejar por não ter uma urgência em ser lançada. Entretanto, Harry Styles entrou em uma fase da carreira que se tornou grande de demais para falhar e, obviamente, a canção dever ser sucesso, abrindo espaço para a construção do hype.
nota: 7,5

O Céu De Pabllo

Follow Me
Pabllo Vittar & Rina Sawayama


É nítido o crescimento artístico da Pabllo Vittar, especialmente nos últimos tempos. Com uma carreira já consolidada, a drag queen parece ter mais espaço para se aventurar sonoramente e isso repercute no resultado final de seus trabalhos. E é assim que a artista entrega a sua melhor canção com o lançamento da ótima Follow Me com participação da Rina Sawayama.

Segunda parceria das duas artistas depois do remix de Comme des Garçons (Like the Boys), Follow Me é uma surpreendente mistura de electropop, EDM, toques de latin pop e synth-pop que apresenta uma produção inspirada que consegue sair de qualquer clichê para entregar uma canção explosiva, inteligente, cativante, lindamente construída. Cheia de nuances que vão sendo adicionadas ao longo da sua duração que consegue criar uma canção realmente completa e com personalidade definida, misturando influencias diversas como, por exemplo, o começo dos anos noventa e as batidas feitas para se dançar vogue. Além disso, as duas artistas brilham em suas performances sem ofuscar a outra e mostrando química perfeita. A composição, sim, poderia ser melhor, especialmente o seu refrão, mas o resultado final é bem acima da média e com bons momentos. Se alguém duvidava da potencia pop que a Pabllo Vittar poderia alcançar é só prestar atenção em Follow Me que terá as suas dúvidas respondidas.
nota: 8

Conforto

Waterfall
Disclosure & RAYE

Seguir no seu lugar de conforto nem sempre pode ser o que um artista precisa para continuar a entregar música de qualidade. Esse é o caminho do duo Disclosure ao entregar a boa Waterfall com participação da cantora RAYE.

Conhecidos pelo hit Latch, o duo faz de Waterfall uma simpática, eficiente e reconfortante eletropop/dance-pop que não mostra nada de novo, mas é na familiaridade que o resultado positivo aparece. Com um instrumental sólido e muito bem cuidado, Waterfall se apresenta como uma canção de produção inteligente que sabe valorizar os detalhes para criar algo realmente envolvente. O ponto de elevação da canção é a presença radiante de RAYE em uma performance natural e dinâmica que consegue se casar com a proposta da canção sem perder a sua presença. E é isso tipo de segurança que dá para artistas longevidade.
nota: 7,5


Por Que?

Sigue / Forever My Love
J Balvin & Ed Sheeran


A parceria entre o Ed J Balvin e o Ed Sheeran serve apenas para a gente perguntar: por que? Qual o motivo de “presentear” o público com duas das canções mais ruins do ano de apenas uma vez só com Sigue e Forever My Love.

Vamos ao único positivo dessa parceria: a vontade dos dois artistas em mergulhar no estilo um do outro. Cada uma das canções segue a linha sonora de um com o outro fazendo uma participação especial na mesma pegada. Entretanto, o resultado vai do terrível ao péssimo sem escalas para momentos que sejam apenas medianos. E o ponto de explosão atômica é a tentativa canhestra do Ed cantar em espanhol nas duas canções, soando como um gringo tentando achar o caminho da biblioteca em pais de língua espanhola. Em Sigue, o resultado é o pior das canções, pois estamos diante de uma latin pop/reggaeton batida, repetida e realmente irritante. Forever My Love dá uma leve melhorada, pois não é tão irritante, mas a tentativa do J Balvin a ser um cantor romântica é igualmente péssima. Na boa, as duas canções não existem o menor sentido existirem se não for para tirar o brilho de quem ouve essas bombas.
notas
Sigue: 3
Forever My Love: 4