31 de maio de 2020

Encontros Para Juventude

Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo) [feat. Zeca Pagodinho & Tokyo Ska Paradise Orchestra]
Emicida

A pluralidade da MPB é algo que deveria ser ainda mais exaltado pelo povo brasileiro, mas, infelizmente, existe uma discrepância enorme entre o que é atualmente ouvido no mainstream. E é por isso que encontros como o do Emicida com a lenda viva do Zeca Pagodinho em Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo) é para ser celebrada.

Gravada para o álbum AmarElo (2019), Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo) é uma refinadíssima samba/pagode/rap que faz a gente se sentir orgulho da nossa música. Dona de um instrumental monumental e de uma qualidade primorosa, a canção é ode ao passado de grandes nomes do samba, mas, também, uma fusão exemplar de estilos que parecem na teoria tão diferentes que se encontram nas periferias brasileiras. Falando de forma terna e emocionante sobre o poder da amizade, Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo) tem a impagável participação de Zeca Pagodinho que dá para a canção um charme completamente especial que combina com a contida e leve performance do Emicida. A canção é uma celebração do que existe de melhor no nosso cancioneiro.
nota: 8,5

Uma Deusa Chamada Elza

Carinhoso
Elza Soares

Alguém ainda duvida que a Elza Soares é a deusa da música popular brasileira? Dona de uma das carreiras mais ricas, longevas e importantes da nossa música, Elza não parece disposta a aposentar tão cedo ao continuar presenteando o público com a regravação do clássico Carinhoso.

Uma das canções mais importantes do nosso cancioneiro, Carinhoso ganha uma versão modernosa com Elza sem esquecer a sua melodia atemporal. Seguindo o modelo dos últimos três álbuns da cantora, a regravação é uma densa, elegante e sensual que ressignifica a canção de forma sincera e orgânica. Com um instrumental impressionante, a canção erra só na sua duração um pouco longa demais, mas isso é compensada pela magnífica presença de Elza em uma performance delicada e que mostra a sua imensa versatilidade sem perder a sua distinta personalidade. E cada vez mais acredito que o mundo é da Elza e a gente apenas vive nele.
nota: 8

24 de maio de 2020

Gótica Suave

Wasted On You
Evanescence

Mesmo depois de altos e baixos, hiatos e comebacks e várias trocas trocas de membros ao longo dos anos, o Evanescence continua na ativa com um legado de fãs daqueles nostálgicos dos anos dois mil. Chegando ao quinto álbum (The Bitter Truth), a banda lançou o single Wasted On You.

Wasted On You é uma balada pop rock/nu-metal que a banda sabe como entregar desde o começo, mas que aqui parece não encontrar o seu chão de forma segura. O principal problema é a instrumentalização equivocada na parte dos versos que parece fazer uma alusão ao uma caixinha de música que não tem a mesma força que nas partes do refrão. É quase como se fossem duas canções diferentes que receberam uma edição para se juntarem em apenas uma. Felizmente, quando o arranjo é mais direto e sem muito firula, Wasted On You ganha dinâmica e poder suficiente. Em uma performance boa e segura, Amy Lee, diva dos góticos suaves, tem um momento brilhante bem no começo ao entoar o ótimo refrão. Uma pena que a canção seja tão instável, pois poderia ser muito bem um grande trabalho nostálgico.
nota: 6,5

Um Chuchuzinho

Stuck with U
Ariana Grande & Justin Bieber

Eu gosto de chuchu. O legume é um alimento complicado, pois, devido a ser quase todo feito de água, o mesmo não tem exatamente um gosto próprio e depende muito de como é feito e temperado para ter sabor. Então, existem músicas que podem ser classificadas como sendo um verdadeiro chuchu como é o caso da parceria entre Ariana Grande e  Justin Bieber em Stuck with U.


A canção é uma volta da Ariana a sonoridade dos seus primeiros trabalhos ao ser uma R&B/pop soul com raízes old school. Para Justin, Stuck with U é a melhor canção que esteve envolvido em anos. Todavia, nada disso parece realmente dar liga verdadeira para Stuck with U. Faltou tempero para elevar a boa instrumentalização. Faltou química real para fazer os dois artistas realmente conectarem. Faltou inteligência para fazer uma composição que pudesse ser mais que apenas simpática. A intenção da canção é ótima, pois tudo que será arrecado com a canção será destinada para crianças que tiveram a vida afetadas pelo covid-19. Entretanto, o resultado final de Stuck with U é sem graça e quase sem gosto.
nota: 6,5

22 de maio de 2020

A Volta do Prisma

Daisies
Katy Perry

Ainda tentando encontrar o primeiro single perfeito para o próximo álbum, a Katy Perry lançou a boa Daisies em uma clara volta a sua sonoridade inicial, especialmente aquela ouvida em Prism. E a questão que fica: vale a pena?

Daisies é uma comercial, inspirada e bem produzida pop/electropop que tem a mesma pegada épica que várias canções da era de Roar tinham. Felizmente, o resultado final de Daisies é levemente mais inspirada devido a estrutura quebrada que surpreendentemente se beneficia de versos curtíssimos e um longo e substancial refrão. Para uma canção pop não deveria ser uma escolha correta, mas a construção instrumental do single ajuda a fazer funcionar. Outro ponto importante é a composição que apela para o lado auto-ajuda pop que se assemelha com a proposta de Roar, sendo menos viciante e com uma pegada mais dramática. Em uma performance inspirada, Katy parece voltar aos trilhos da sua carreira ao voltar para para o que já deu certo. Sonoramente, é uma boa aposta. Comercialmente, acredito que é outro flop. Pena.
nota: 7,5

Saudade do Refrão, Minha Filha?

Rain On Me (feat. Ariana Grande)
Lady Gaga

Eis que finalmente a tão aguardada parceria da GaGa com a Ariana Grande está entre nós. Felizmente, Rain On Me não é uma grande decepção, mas também não está exatamente a altura das envolvidas. E isso é devido principalmente a uma parte importante da canção.

Uma dançante e envolvente dance-pop com toques de EDM, Rain On Me erra em um dos elementos que as cantoras sempre conseguiram se sobressair, especialmente a GaGa: o refrão. Donas de refrões lendários e com um força épica, Rain On Me tem um refrão quase anticlimático que não faz a canção realmente decolar como poderia e deveria. Não é um refrão ruim, ainda mais que no final parece ser recuperar, mas é um verdadeiro banho de água quase fria demais. Rain On Me, porém, consegue se salvar muito devido a sua produção bem redonda, a batida que contagia em uma crescente sem ousar demais e, principalmente, os ótimos vocais da GaGa e a boa química com a Ariana. Mesmo assim, ainda ficarei imaginando como Rain On Me com um refrão inesquecível.
nota: 7,5


19 de maio de 2020

Mammys

Baby Mama (feat. Chance the Rapper)
Brandy

Com os dias das mães desse ano em um momento tão complicado com o que estamos passando nada melhor que celebrar a data com uma canção para enaltecer a figura materna através da canção Baby Mama da Brandy.

Lançada antes dos dias das Mães, Baby Mama é uma empoderada declaração as mães de todos os tipos, celebrando a força das mulheres. Temática muito pouco usada e, por isso, ainda mais importante para ser discutida. Sonoramente, o single que abre os trabalhos do próximo trabalho da cantora é um eficiente R&B/trap dançante que não faz muito, mas é sustentado pelo vocais distintos de Brandy e pela boa participação do Chance the Rappe. O problema da canção é que a instrumentalização soa um pouco fora de tom em alguns momentos, especialmente no refrão. Erro esse que não ofusca completamente a bonita homenagem as mães.
nota: 7

Legal

Be Kind
Marshmello & Halsey

Sabe aquele tipo de música que a gente ouve e pensa: legal. E apenas isso vem a mente, pois a canção é apenas legal. Não é ruim. Não é ótima. Não é marcante. Não é exatamente descartável. É apenas legal. Então, esse é caso da parceria do DJ Marshmello com a Halsey em Be Kind.

Be Kind é uma decente e delicada EDM que não supera nenhuma expectativa, mas passa bem longe de ser uma bomba. Provavelmente, a decisão da produção de criar uma batida suave e melódica em uma cadência mid-tempo ajuda a canção a se distanciar da massificação que normalmente esse tipo de canção recorre para ser comercial. Outro fator é a boa performance de Halsey que sem maiores esforços consegue entregar vocais carismáticos. O resultado final é legal e nada mais.
nota: 7

18 de maio de 2020

O Ano é De 1975

If You’re Too Shy (Let Me Know)
The 1975

Firmando-se como um dos maiores nomes de 2020, The 1975 lança mais outro grande acerto do álbum Notes On a Conditional Form com a oitentista e sensacional If You’re Too Shy (Let Me Know).

Completamente diferente de todas as canções lançadas até agora, If You’re Too Shy (Let Me Know) é uma nostálgica, inspirada e deliciosa pop rock com toques fortes de new wave que nos transporta diretamente para uma trilha de um filme dos John Hughes lançado na metade dos anos oitenta. É como se estivéssemos ouvindo o single dentro de maquina do tempo, caindo em um quarto de uma adolescente ouvindo a canção em seu novos toca fitas. Tirando as referências sobre tecnologia moderna, a composição da canção narra uma típica, clichê e ainda extremamente eficiente historia de amor teen em que garoto tímido se apaixona por garota descolada e vivem "tremendas aventuras". Sem em nenhum momento ter cheiro de naftalina,  If You’re Too Shy (Let Me Know) apenas consolida o The 1975 como sendo donos e proprietários do ano. Espero que o álbum seja assim por inteiro, pois se não seria um verdadeiro banho de água fria.
nota: 8,5

Planando

Fire In Bone
The Killers

Depois de um começo com um quase tropeço em Caution, o The Killers parece colocar as coisas nos trilhos com o lançamento da inspirada Fire In Bone.

Segundo single do álbum Imploding the MirageFire In Bone parece ser uma canção que poderia muito bem ter sido feita pelo David Bowie lá nos anos oitenta. Claro, sem a mesma genialidade, mas com a mesma sinceridade. Uma new wave/indie rock com uma batida dançante, adulta e sensual que foi construída por uma instrumentalização elegante e envolvente. A composição segue a pegada da banda ao ser uma crônica sobre sentimentos complexos emoldurados em uma letra rebusca e estilizada, mas que em Fire In Bone não tem o impacto emocional esperado. Felizmente, a performance poderosa e bem mais contida que em relação ao single anterior do Brandon Flowers ajuda a rematar a parte emocional da cação de maneira satisfatória. E isso é uma clara evolução em relação ao single anterior. 
nota: 7,5

15 de maio de 2020

Potencial Perdido

THE SCOTTS
the scotts

Com poucos nomes que tenham realmente peso artístico no rap/hip hop lançando música atualmente, o cenário parece um deserto em que tudo parece ser a mesma coisa. E é por isso que trabalhos como a canção THE SCOTTS ganha um destaque maior que deveria.

Trabalho colaborativo entre o Travis Scott e o Kid Cudi, a canção não é de longe um bom exemplo de uma boa canção rap/hip hop. Entretanto, também está longe de ser a bomba que o gênero vem sofrendo recentemente. O principal motivo para THE SCOTTS não ser ruim é a sua interessante e promissora instrumentalização. Flertando pesadamente com o eletrônico, a produção dividida em cinco pessoas cria uma consistente, refinada e estilosa batida que poderia ser bem melhor explorada e construída em uma canção que fosse além dos parcos dois minutos e quarenta e oito segundos. Outro problema é que, apesar de talentosos, os dois rappers entregam versos rasos como pires quebrados e que não ajudam em nada o resultado final. A parceria entre os dois é promissora, mas é preciso aparar várias arestas para conseguir realmente chegar em algum lugar.
nota: 6

Amor em Tempos de Guerra

You're Too Precious
James Blake

Mesmo com as nossas vidas viradas do avesso ainda existe espaço para sentimentos que não estejam exatamente atrelados ao estado de espírito em que vivemos. E por que não o amor? Essa é a premissa da interessante You're Too Precious do britânico James Blake.

O single não é nada surpreendente, pois James continua entregar a sua sonoridade indie pop/eletrônico com qualidade e, principalmente, personalidade. O que muda, porém, é que You're Too Precious parece ser a canção mais romântica da carreira do britânico. Uma declaração de amor para sua namorada, You're Too Precious é uma delicada, contida e orgânica canção que resulta em uma gostosa quentura no coração. E nem precisa estar amando para sentir a canção, pois a batida criada é envolvente na medida certa. Faltou, porém, uma lapidação que pudesse fazer a boa estrutura da canção ser realmente genial. Não é exatamente o melhor trabalho da carreira de James, mas é um acalanto em forma de música em tempos sombrios.
nota: 7,5

10 de maio de 2020

Guerra dos Remixes

Say So (feat. Nicki Minaj)
Doja Cat

Savage (Remix) [feat. Beyoncé]
Megan Thee Stallion

E no meio do caos eis que surge uma guerra. Felizmente, essa guerra é inofensiva, pois é sobre quem lançou o melhor remix recentemente. De um lado temos Megan Thee Stallion ao lado da Beyoncé em Savage. Do outro lado marca a presença de Doja Cat com a Nicki Minaj em Say So. E a pergunta: quem venceu?

Canção que está fazendo Doja Cat se tornar a próxima grande promessa, Say So pode até ser uma canção envolta em problemas, mas é um trabalho inspirado e um dos sucessos de 2020. A sua versão remix é, infelizmente, uma grande decepção. O principal problema é que a presença de Nicki Minaj é completamente aleatória, desnecessária e que não acrescenta em nada o resultado final. Pior: surgido do nada, o verso da rapper quebra o clímax ao mudar a batida para algo minimalista e sem graça. A música continua quase intacta após a aparição de Minaj, ajudando a canção não desandar mais ainda. O mais triste é que o verso da rapper é sozinho um bom momento que foi completamente desperdiçado. Saindo-se bem melhor está Megan Thee Stallion.

Canção de maior sucesso da rapper, Savage ganha uma versão remix com intuito de reverter todos os lucros para ajudar as vitimas do corana vírus na cidade de Houston, cidade onde as duas artistas nasceram. O resultado sonoramente não pode nem ser chamado de remix, pois está mais para um reconstrução e criação de uma nova canção. E o principal acerto é a presença magistral da Beyoncé. Exercitado o seu lado rapper, a cantora está completamente confortável nesse papel entregando uma performance inspiradíssima e com uma personalidade radiante, sexy e madura. Além disso, Bey não faz apenas uma rápida aparição, mas, sim, verdadeira participação. Na verdade, essa versão de Savage parece mais como Beyoncé feat. Megan Thee Stallion do que ao contrário, mesmo que a dona de verdade tenha seus momentos de brilhar. Todavia, os versos icônicos que Queen B entrega já entram para a categoria de momentos íconicos de 2020. Sonoramente, Savage pega o melhor da versão original, adiciona nuances e entrega uma viciante e substancial trap pop. Acredito que está bem claro quem vence essa disputa, não é?
notas
Say So: 6,5
Savage: 8

Titãs

Living In A Ghost Town
The Rolling Stones

Um dos resultados da quarentena parece ser o ressurgimento de um interesse mais natural pela música e o seu papel de unir, distrair e inspirar as pessoas. E, por isso, alguns lançamentos que poderiam passar meio que desapercebido estão ganhando grande destaque como é o caso de Living In A Ghost Town do The Rolling Stones.

Living In A Ghost Town é um canção honesta sonoramente e de uma atualidade lírica desconcertante. Apesar de está sendo trabalhada desde o ano passado, a canção foi terminada durante a quarentena da banda com algumas mudanças da composição para refletir diretamente os efeitos da pandemia. E o resultado é certeiro: escrita por Mick Jagger e Keith Richards, Living In A Ghost Town é uma crônica do sentimento que atinge praticamente todas as pessoas no mundo ao olhar ao redor e ver que o mundo completamente mudado. Direta, bem escrita e com uma mensagem que vai se tornando atemporal, Living In A Ghost Town ganha mais pontos devido a sua produção madura, refinada e classuda que cria uma sólida blues rock com pitadas de reggae que não é o melhor trabalho da banda, mas é o melhor deles em muitos anos. E isso já basta para mostrar a grandiosidade da banda.
nota: 8

Disco Na Veia

Ooh La La
Jessie Ware

Continuando a caminhada para ser tornar a verdadeira rainha da disco renascença, Jessie Ware lançou o segundo single do seu próximo álbum: a old school Ooh La La.

Ao contrário de SpotlightOoh La La é muito mais fiel a disco e, também, adiciona uma dose cavalar de soul/funk para criar uma batida vintage, deliciosamente datada e com uma carga nostálgica poderosa. Obviamente, quanto mais old school menos comercial o trabalho se torna, mas isso é compensando pela magnética e quase perfeita composição que consegue emoldurar o estilo de uma canção disco/soul saída diretamente dos anos setenta. O único problema de Ooh La La é outro fator que ajuda a canção ser tão exata na sua construção: escolhendo cantar a canção inteira com backvocais como várias canções da época, Jessie priva o público de apreciar o seu maravilhoso timbre. Problema que não chega a atrapalhar de fato a verdadeira rainha do disco de 2020.
nota: 7,5


Fadas Em Ascenção

Catch Up (feat. Swae Lee & Mike WiLL Made-It)
Chloe x Halle

Apadrinhadas pela Beyoncé, as irmãs Chloe e Halle parecem estarem a beirada de se tornarem grandes nomes da indústria, principalmente depois da Halle foi escolhida para dar vida a protagonista de A Pequena Sereia no live action da Disney. Infelizmente, acredito que a canção a começar essa nova fase para a carreira da dupla não é a boa Catch Up.

O single não é a melhor canção da dupla, mas ajuda bem a dar um pouco da dimensão do talento que as duas irmãs possuem. Uma boa R&B/pop com toques de rap/hip hop, Catch Up tem nos ótimos vocais das irmãs, especialmente a Halle, a sua viga mestra para elevar o resultado final. E até mesmo a presença do rapper Swae Lee faz sentido dentro do contexto da canção. A produção de Mike WiLL Made-It poderia ser mais eficiente ao não ousar em uma instrumentalização redondinha demais e sem grande criatividade. Felizmente, o talento das meninas é suficiente para carregar a canção. Imagem quando Chloe x Halle tiveram uma música a sua altura.
nota: 7

7 de maio de 2020

Fritação de Primeira Qualidade

Idontknow
Jamie xx

Não sou e nunca seria uma pessoa que vá curtir uma rave como se estivesse sendo fritado no óleo quente. Passei do peso e da idade para isso. Todavia, não posso deixar de notar que poderia abrir uma exceção se fosse para uma apresentação do DJ/musico britânico Jamie xx, um terço da banda The xx. E se fosse ao som de músicas como a espetacular Idontknow seria ainda melhor.

Idontknow é o tipo de canção que deixa claro que um DJ/produtor precisa em primeiro lugar saber como fazer uma música boa para depois ser considerado um bom DJ. Sem precisar de parceiros para assumir vocais e entoar letras rasas como pires, Jamie xx entrega uma sensacional faixa eletrônica que apresenta substância, nuances e uma construção que não parece que está reciclando/repetindo a mesma batida várias vezes. Idontknow tem personalidade suficiente para se sustentar como uma faixa completa e única, principalmente devido a leve, mas importante, de uma sonoridade do oriente médio. E assim que um verdadeiro DJ deve fazer música eletrônica e, não, se apoiar em show de luzes e pirotecnia exagerada.
nota: 8,5




Primas

Crave
Kiesza

Assim como um cometa passando perto da Terra, o boom da cantora Kiesza durou quase como um piscar de olhos com o hit mundial Hideaway. Felizmente, assim como outros one hit wonders, a cantora vai continuando a sua carreira com dignidade e qualidade. Preparando para lançar o terceiro álbum, a cantora já divulgou o single Crave.

Mudando drasticamente de sonoridade, Kiesza deixa de lado o electropop/eletrônico com pegada dos anos noventa para entregar uma batida synth-pop que lembra muito o que a Carly Rae Jepsen produz como se fossem primas de parte de mãe. Sonoramente, Crave não é necessariamente uma lufada de ar fresco, mas é um trabalho honesto e bem produzido. Mesmo com vocais levemente massificados aqui e ali, Kiesza mostra personalidade no refrão ao deixar claro o distinto timbre vocal. E a leve e romântica composição ajuda a rematar a canção. Poderia ser melhor? Claro que sim. Todavia, acredito que a Kiesza está mais na busca da sua verdade artística do que agradar a todos.
nota: 7

5 de maio de 2020

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

Buttons
The Pussycat Dolls

Hoje irei olhar para uma canção que, apesar de ter feito sucesso, terminou meio que ofuscada pelo sucesso anterior da girl band revelação dos meados dos anos dois mil. Essa canção é a explosiva Buttons das The Pussycat Dolls.

Muitos acham que Buttons é apenas uma imitação de Don't Cha, mas a verdade que isso é uma afirmação mais do que correta. Vamos aos fatos: ambas canções são uma fusão bem elaborada de pop com R&B, ambas são o ápice da carreira da girl band, ambas são a tradução do que é ser sexy, ambas são tematicamente parecidas, ambas são perfeitos veículos para a vocalista Nicole brilhar acima das companheiras e ambas não alcançaram o topo da Billboard apesar do imenso sucesso. Então, você deve estar se perguntando: o que faz de Buttons especial? O seu apelo ainda mais pop. Enquanto Don't Cha a pegada dado pelo produtor CeeLo Green é claramente R&B, Buttons parece uma herdeira diretamente de Toxic da Britney Spears. 

Tanto a música da Britoca como a da PCD buscam a sua inspiração e base sonora no oriente para construir uma canção que consegue cruzar os limites do pop ao mesmo tempo que entrega uma canção pop atemporal. Existe uma grandiosidade instrumental em Buttons que faz da canção um trabalho imponente, classudo e maior que quase toda a média do pop e, principalmente, da discografia da girl band. Divertida, dançante, sensual e com apelo viciante ao máximo, Buttons tem na performance poderosa de Nicole a alavanca perfeita para dar o impulso necessário para elevar a canção. O trabalho das outras integrantes aqui é o que mais faz peso para o resultado final, pois dá corpo e substância suficiente para equilibrar a performance da Nicole e fazer o público lembrar que isso é grupo e, não, um solo. Outro ponto importante é começar a canção já pelo refrão, fazendo o público já empolgar com a batida e entrar no clima envolvente. Além disso, o refrão é um dos mais icônicos dos anos dois mil. Espero que Buttons possa ser lembrado com um dos melhores momentos do pop da década passada.
nota: 8,5

Luz na Escuridão

Light Of Love
Florence + The Machine


Em tempos como o que vivemos a arte será voltada de alguma forma para refletir como estamos sentindo ou/e querendo sentir. Obviamente, a esperança de tempos melhores é um desses sentimos que queremos ouvir em canções lançadas nessa época. E é assim que a Florence + The Machine presenteia com a iluminada Light Of Love.

Descarte do último álbum da banda, Light Of Love é, ao mesmo tempo, devastadora e reconfortante. Lançada nesses tempos de angústia, a canção fala sobre os problemas que a vocalista Florence teve com o abuso de drogas e como isso afetou a vida de quem estava a sua volta. Sincera, poética e desconcertante, Light Of Love poderia ser uma canção triste e soturna, mas passa uma mensagem de esperança ao jogar a luz na escuridão que existe esperança no fim do túnel. Melhor que boa parte do álbum que deveria fazer parteLight Of Love é uma delicada, emocionante e iluminada balada indie pop/indie rock que é defendida com clareza pelos vocais límpidos de Florence sem exagerar em nenhum segundo ou, pior, soar blasé. E no final é disso que estamos precisando: esperança.
nota: 8

Sofrência 1996

Do It
Toni Braxton

Grande nome dos anos noventa, Toni Braxton manteve uma carreira prolifera ao longos dos anos sem nunca repetir o mesmo sucesso, mas com uma qualidade alta. Preparando para lançar o lançamento do décimo álbum, a cantora divulgou a boa Do It.

A canção é o bom e velho R&B basicão que a Toni sempre entregou e, por isso, a qualidade da canção é garantida. Dona de uma das vozes mais marcantes do R&B, Toni mostra mais uma vez o seu domínio e carisma em uma performance contida e sentimental. Não tem a mesma força que trabalhos como Un-Break My Heart, mas é uma performance segura e com personalidade. E poucas sabem como entregar uma canção de sofrência como a Toni já Do It é sobre o fim de um relacionamento em forma de conselho de uma amiga. Parece que estamos lá em 1996.
nota: 7

3 de maio de 2020

Primeira Impressão

SAWAYAMA
Rina Sawayama



Uma Garota para Todas as Estações

Chosen Family
Rina Sawayama

Versatilidade. Essa é uma qualidade importante para a construção de uma diva pop desde os tempos do começo da carreira da Cher. Não apenas esteticamente, mas também sonoramente. Depois da ótima Comme des Garçons (Like The Boys)Rina Sawayama lançou a surpreende conservadora Chosen Family em uma amostra da sua imensa versatilidade.

Ao contrário das canções sonoramente ousadas e/ou dançantes que a cantora vinha apresentando, Chosen Family é uma quase tradicional balada pop rock/indie pop que não tem nada de criativo na sua construção, mas mesmo assim é um trabalho inspirado. A qualidade da canção é mostrar para o público a capacidade de emocionar de Rina com uma performance comovente, forte e revelando um timbre encantador, lembrando aquelas baladas que normalmente ficam no final de um álbum de uma diva pop tradicional. Na verdade, a canção lembra muito a estética e sonoridade desse tipo da canção do final dos anos noventa e começo dos dois mil. E o mais importante de Chosen Family é a sua temática: a família do coração que muitos constrói por não terem uma de verdade por diversos motivos. Rina pode até soar sentimental demais para aqueles que queriam bater cabelo, mas a sua metamorfose colabora para dar mais solidez para a persona diva pop em construção.
nota: 8

1 de maio de 2020

New Faces Apresenta: Au/Ra

Ideas
Au/Ra

Sempre gosto de trazer novos nomes para o blog, principalmente aqueles que estão bem longe de alcançarem o status de verdadeira promessa. Nem sempre, porém, o artista realmente cumpre essa profecia de estrelato, mas sempre é bom descobrir novo nomes como é o caso da jovem Au/Ra.

Nascida Jamie Lou Stenzel, a cantora de apenas dezessete anos parece seguir os passos da sua contemporânea Billie Eilish ao enveredar para um pop/electropop distinto. A decisão para a cantora parece normal já que a mesma é filha de um famoso produtor de música eletrônica alemão. Todavia, Au/Ra (a junção de ouro e rádio na tabela periódica) ainda precisa aparar arestas como mostra em Ideas. A canção começa bem interessante ao criar um clima denso que se diluí ao entrar uma batida mais massificada e um refrão fraco. Com uma produção mais inspirada, a canção poderia ser um trabalho refinado e ainda mais promissor. Felizmente, Au/Ra é dona de uma voz grave que parece ser um trunfo para a distinguir entre outras cantoras novatas. Pode ser que a cantora continue na obscuridade, mas isso apenas o tempo irá dizer.
nota: 7

New Faces Apresenta: Gabby Barrett

I Hope
Gabby Barrett

Existiu um tempo em que o Americal Idol era um programa relevante para a TV americana e, claro, para a indústria fonográfica. Do reality saíram nomes como Adam Lambert, Carrie Underwood, Jennifer Hudson, Kelly Clarkson, entre outros. Depois de uma decadência em audiência, o fim e o renascimento com novos jurados, o programa não é de longe o que foi nos tempos de ouro. E, por isso, os seus participantes não tem o mesmo destaque perante o público. Ao que parece, a exceção é a cantora country Gabby Barrett que vem ganhando destaque com o seu primeiro single.

I Hope é uma decente country contemporâneo/country pop que poderia ser mais, mas é bem melhor que o atual cenário country. O ponto alto da canção é a sua ácida, pontual e bem escrita composição sobre desejar o mesmo para o cara que meteu um par de chifres na narradora em uma mistura de Before He Cheats com You Oughta Know. Dona de uma voz firme, Gabby Barrett tem um timbre parecido com a da Miley Cyrus, mas, felizmente, sem algumas características que poderiam atrapalhar. A cantora parece ter talento para conseguir quebrar a maldição doatual  American Idol ao fazer sucesso após o fim do reality. Veremos.
nota: 7