Confusão em Dose Dupla

I'm Ready
Sam Smith & Demi Lovato

Não sei exatamente o que está acontecendo com a sonoridade do Sam Smith, mas os seus últimos lançamentos não estão dando muito certo. Dessa vez, o britânico se uniu com a Demi Lovato para lançar a confusa I'm Ready.

O grande problema da canção é não saber exatamente o que quer ser. Seria uma electopop com toques de eletrônico? Seria electropop com uma batida que transita entre a balada, o mid-tempo e o dançante? Seria um pop com toques de gospel? Ou seria tudo isso? Isso não seria um problema se a produção de Ilya Salmanzadeh conseguisse acertar o tom da canção. Infelizmente, I'm Ready é uma colcha de retalhos mal costurada que só fica junta devido as performances dos envolvidos, mesmo com pouco química e Demi aparecendo timidamente. Infelizmente, I'm Ready é outro tiro no pé para os dois artistas. Uma pena.
nota: 5,5

Kelly, a Poliglota

I Dare You
Kelly Clarkson

Não irei mentir: durante muito tempo tinha certo problema com a Kelly Clarkson. Sempre achei a primeira vencedora do American Idol talentosa, mas devido a alguma coisa a sua sonoridade não dava liga para mim. A mudança veio, provavelmente, depois da emancipação da cantora ao assumir os rumos da sua carreira. Como prova dessa evolução, a cantora lançou I Dare You com seis versões em línguas diferentes.

Primeiramente, o fato da cantora cantar em seis línguas diferentes não apenas um verso, mas, sim, a canção toda, é extremamente louvável. E as parcerias ajudam a dar mais dinâmica para cada canção e, claro, lugar de fala para os nativos. Faltou, porém, a versão em português, né dona Kelly? Quem sabe na próxima? Em segundo, a canção é um trabalho exemplar e tradicional da Kelly Clarkson, resultando em uma épica mid-tempo/balada pop que tem na magistral performance da cantora o seu porto seguro. E, novamente, Kelly entrega vocais poderosos em uma performance exemplar em todas as línguas, deixando, porém, os seus parceiros brilharem. Entre as versões, o seu melhor resultado internacional é na versão alemã. A versão em inglês é dona de uma composição sólida que flerta pesadamente com a autoajuda, mas se salva pela força da sua mensagem nesses tempos sombrios. E a decisão de fazer várias versões com a mesma qualidade de I Dare You mostra o imenso talento da Kelly Clarkson.
nota: 7,5

The New Life of Ms. Kelly

Coffee
Kelly Rowland

Sempre defendi que a Kelly Rowland era uma artista tão talentosa como a sua "prima" Beyoncé, mas que, infelizmente, não teve o mesmo reconhecimento e as mesas possibilidades de explorar o seu oficio. Dito isso, a cantora está preparando um novo álbum, lançando como primeiro single a canção Coffee. Ao que parece, a canção marca um novo começo para a carreira da cantora.

Ao que parece, a nova era da cantora será a sua Lemonade, pois, além de ser a sua exaltação a sua negritude, é uma mudança sentida na sua sonoridade. A canção é uma muito bem produzida mid-tempo R&B/pop com uma batida minimalista e sensual. Equilibrada do começo ao fim, Coffee erra ao soar mais como parte de algo maior dentro de um contexto do que um single que funciona sozinho. Isso não tira o brilho do fato da Kelly estar claramente buscando uma evolução sonora. Além disso, a letra sexy sem ser vulgar e performance contida e envolvente ajudam a dar mais personalidade para Coffee. Espero de verdade que essa seja uma reviravolta na carreira da Kelly Rowland para alcançar um posto legitimo.
nota: 7,5

Primeira Impressão

111
Pabllo Vittar

Internacionalizadah

Tímida
Pabllo Vittar & Thalía

Ganhando ainda mais credibilidade internacional, Pabllo Vittar lançou a parceria com uma dos nomes mais conhecidos da América Latina, eterna Maria do Bairro, a Thalía na divertida Tímida.

Tímida é, assim como todo o álbum da Pabllo, uma boa e dispensável latin pop/brega que tem no carisma das suas interpretes a sua principal qualidade. Dançante, sensual e com um bom apelo radiofônico, Tímida peca na sua composição que erra na sua composição ao não acertar o equilíbrio entre inglês e espanhol. Um trabalho para ser ouvido, curtido e esquecido.
nota: 6,5

Um Hino para a Quarentena

Level of Concern
Twenty One Pilots

Serei bastante sincero: não lembrava da existência do duo Twenty One Pilots. Apesar de um fandom forte, alguns sucessos e um Grammy, o duo americano não levantava nenhuma memória na minha cabeça. Isso muda com o lançamento de Level of Concern, primeiro hino sobre a quarentena.

Level of Concern é o tipo de canção boa, mas que parece ter alguma coisa que a impede de ser realmente ótima. Uma bem produzida dance-pop/disco-pop/pop rock que pode não combinar com a atmosfera que estamos vivendo, mas é relento de animação e divertimento para tempos sombrios. Divertida e despretensiosa, Level of Concern tem a sua força reduzida devido a instrumentalização arrastada e que não parece explodir como poderia. Além disso, a sua duração de mais de três minutos e meio também ajuda a dar essa sensação de arrastamento. A composição também está nessa mesma toada ao ser até boa, mas que parece carecer de um refinamento ao falar com otimismo e esperança sobre o tempo em que vivemos. Level of Concern é o tipo de canção que faz a gente bater os pezinhos acompanhando a batida, mas que deveria ser o tipo de canção para fazer a gente dançar como se não houvesse amanhã. 

nota: 7

Ócio Criativo

forever

Charli XCX

Apesar do título, acredito que o ócio criativo é uma falácia criada para que a gente ache que em momentos como o que vivemos todos precisam criar com o mesmo nível e com a mesma velocidade que se estivéssemos vivendo na normalidade. Dito isso, é louvável ver pessoas conseguindo realmente criar algo durante a quarentena, especialmente algo tão bom como é forever da Charli XCX.

forever é uma canção que a Charli XCX adora fazer ao ser um híbrido de electropop com eletrônico experimental que funciona devido o carisma da cantora. Transitando no limite entre ser uma canção e uma coleção de ruídos, a canção não é o tipo de trabalho comercial que muitos podem esperar, mas tem uma construção riquíssima em que a produção parece brincar despretensiosamente com o que pode dar certo ou não. Perigoso? Sim, mas em forever tudo dá certo ao deixar claro que a canção não é exatamente feita para ser comercial e, sim, uma experiência destemida. O mais impressionante é que essa crônica sobre um relacionamento distante foi produzida em apenas dois dias enquanto a cantora está em quarentena. Claro, esse feito é impressionante, mas é algo que não é a regar para o resto da humanidade. Que bom que a Charli XCX está produtiva.
nota: 8

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

La vita nuova
Christine and the Queens

Pequena Grande Canção

Kyoto
Phoebe Bridgers

Quase que vinda do nada, a cantora Phoebe Bridgers vai se tornando um nome importante para a música em 2020. Depois de dois singles inspiradíssimos, um solo e outro em parceria, a cantora lançou a também interessante Kyoto.

Apesar de não ter a mesma força dramática distinta de Garden Song, o single é uma slow burn que tem o seu impacto nos pequenos detalhes. Uma falsa alegrinha indie rock com uma relevante influência do rock dos anos sessenta que escode um significado bem mais profundo que se deixa transparecer. Não que isso interfira no resultado, pois, além da instrumentalização muito bem feita, o antagonismo entre conteúdo e estética ajuda a dar importância para Kyoto. Ao falar sobre se decepcionar com alguém que gosta, Phoebe entrega uma composição descolada, mais profunda que as aparências e cheias de ótimas passagens, como por exemplo:

You called me from a payphone
They still got payphones
It costs a dollar a minute
To tell me you're getting sober
And you wrote me a letter
But I don't have to read it

E 2020 é realmente o ano mas estranho que vivemos.
nota: 8

Lembranças de Um Verão Qualquer

Aries (feat. Peter Hook and Georgia)
Gorillaz

Não importa em qual momento em que esbarro com Gorillaz sempre terei uma lembrança extremamente positiva da banda virtual. Isso é devido o fato que a banda surgiu em 2000, ano que entreva na minha adolescência e, também, começava a ter acesso as mídias de veiculação de música, especialmente a finada MTV Brasil. Aquela imagem de desenhos cantando e tocando músicas "estranhas" criaram uma memória afetiva imensa para mim. E, por isso, ouvir uma canção nova do Gorillaz em pleno 2020 é uma verdadeira alegria.

Apesar de não ser a melhor canções da banda, Aries é um trabalho que funciona devido a qualidade técnica por trás. Sombria, adulta e com uma batida que mistura synth-pop com indie rock/ new wave em uma batida que vai crescendo em que ouve com uma cocheira no meio da noite. A canção ganha mais peso devido a participação contida, mas significante, da cantora Georgia e o lendário músico Peter Hook.  Lembrando algo que o David Bowie poderia ter feito na sua fase mais pop com um toque envernizado de punk, Aries erra, infelizmente, na sua sólida, mas não muito interessante composição que parece ter algo importante para dizer sem conseguir alcançar esse feito. Isso não tira muito a qualidade da canção e, claro, as boas lembranças que o Gorillaz traz para mim.

nota: 7,5

Primeira Impressão

After Hours
The Weeknd

Sofrência 1986

In Your Eyes
The Weeknd

Se existe um artista que melhor consegue juntar a sofrência com uma forte carga nostálgica do que o The Weeknd não tenho conhecimento. Apenas o cantor consegue entregar uma canção como In Your Eyes.

Lançada como terceiro single do álbum, In Your Eyes é uma deliciosa, dançante e envolvente synth-pop que parece ter saído de algum álbum lançado em 1986. Não é apenas uma influência que se vê aqui, mas uma criação com os dois pés fincados nessa sonoridade ao construir um arranjo que emana como pomada para cabelo com permanente. Especialmente a sensacional adição de um sax que faz a canção subir de nível. Outro ponto positivo é a composição sobre as dores de um relacionamento ioiô que não faz bem para nenhuma das partes. Canção perfeita para sofrer na pista de dança.

nota: 8

Dois Pesos, Duas Medidas

Toosie Slide
Drake

Se você não acredita ou que diminui a existência de dois pesos, duas medidas se tratando da relação entre mulheres e homens é só olhar a carreira do Drake. Enquanto uma mulher precisa "criar" uma nova era para tentar se manter relevante e, nem sempre, isso adianta muito, o Drake precisa apenas fazer uma canção ruim para conseguir alcançar o topo das paradas. E Toosie Slide é a prova cabal.

Toosie Slide é, sem nenhuma dúvida, uma das piores canções do Drake. E olha que o rapper já lançou canções ruins. Uma trap/hip hop sem graça ou mesmo com o fator viciante que várias das música dele são donas. A batida é de uma monotonia assustadora, saindo de lugar para nenhum para chegar a lugar nenhum. Cuspindo palavras como se tivesse anestesiado, Drake parece ter gravado a canção as cinco da manhã depois de uma festa que foi até as quatro e meia. E mesmo assim, uma parte do público comprou a canção em todos os sentidos a levando para o número da Billboard. Se fosse uma mulher já estria cancelada, flopada e com a carreira na lama.

nota: 3

2 Por 1 - Frank Ocean

Dear April
Cayendo
Frank Ocean

Desde que começou a sua carreira, Frank Ocean não decepcionou nenhuma vez em seus lançamentos, sendo álbuns, EPs ou canções soltas. E até quando o mesmo parece lançar algo menor, a qualidade ainda é alta como mostra o double single Dear April e Cayendo.

As duas canções levam a marca registrada de Frank Ocean: ótimas produções R&B que são orbitadas por gêneros como indie/pop em uma construção instrumental minimalista, mas com uma força emocional poderosa. Dessa vez, porém, o resultado não bateu tão forte em mim como outros trabalhos do cantor. Acredito que o motivo disso são as composições que não funcionaram como normalmente acontece, especialmente na bilíngue Cayendo. O que não muda, porém, é a performance vocal do cantor. Em Dear April, o cantor entrega uma interpretação delicada, frágil, bela, contida e de uma força emocional inspiradora. Claro, não são nem de perto trabalhos ruins, mas não chegam a serem os melhores da carreira do Frank. E isso já é acima da média.

notas

Dear April: 7,5

Cayendo: 7,5

A Nova Era de Troye

Take Yourself Home
Troye Sivan

Nos últimos anos o australiano Troye Sivan foi de um youtuber/ator que estava tentando uma carreira na música para uma verdadeira força pop. Depois do seu esplêndido segundo álbum, Troye está se preparando para o terceiro ao lançar o single Take Yourself Home.

Take Yourself Home é uma inusitada união da sonoridade do comecinho da carreira do cantor com a sua versão mais atual, embrulhando por um laço elegante e surpreendente. Madura e com uma produção inteligente, a canção se torna uma mid-tempo synth-pop que vai crescendo aos poucos para se desdobrar em uma batida eletrônica que agrega uma atmosfera de ousadia para a canção. Sem essa quebra, Take Yourself Home poderia resultar em uma canção apenas mediana, mesmo que essa decisão cause um estranhamento em quem escuta. Todavia, o grande mérito da canção é a sua composição que deixa claro a capacidade de Troye de entregar composições com significados mais profundo que o normal de uma canção pop. Dessa vez, o cantor parece lidar com as dores delícias de ser adulto, fechando um ciclo que começou lá em Blue Neighbourhood. Não é exatamente um trabalho comercial, mas aponta para um possível e interessante futuro para a sonoridade de Troye Sivan.
nota: 8

Um Momento Genial

Jesus Christ 2005 God Bless America
The 1975 & Phoebe Bridgers

Pode ser o momento em que vivemos ou mesmo um sentimento de identificação, mas ouvir Jesus Christ 2005 God Bless America foi um verdadeiro choque emocional. Algo que já fazia um tempo que não acontecia e que não tinha a esperança de sentir esse ano.

Jesus Christ 2005 God Bless America, nome extremamente curioso e significativo para a canção, não tem nada de revolucionário em sua construção, pois o seu cerne é de indie rock/folk com uma base simples de violão que a transforma em uma canção contida e melancólica. Mesmo assim, o efeito que causa é de um verdadeiro soco no estômago. Primeiramente, a canção tem uma composição avassaladora sobre se sentir deslocado do resto de mundo devido a sua condição sexual. Ao narrar uma crise existencial de uma pessoa tem que lidar com sentimentos que vão contra o que a sociedade a sua volta diz ser errado, especialmente em relação a religião e os seus dogmas. Com uma impressionante simples composição, Jesus Christ 2005 God Bless America entrega uma profunda, complexa e tocante letra que emociona verdadeiramente e deixa uma marca profunda em quem ouve. O ponto alto da canção, porém, são as interpretações do vocalista Matty Healy que com a magistral participação de Phoebe Bridgers que sem precisarem de muito conseguem emanar toda as emoções expostas na composição. E é assim que surge um momento genial.
nota: 8,5

Primeira Impressão

Future Nostalgia
Dua Lipa

Dançado Na Sua Própria Batida

Break My Heart
Dua Lipa

O que mais gosto na sonoridade como um todo da Dua Lipa é tudo segue uma cartilha bem definida sobre o pop, mas, ao mesmo tempo, consegue caminhar com as suas próprias regras. E assim que nasce a ótima Break My Heart.

O grande trunfo de Break My Heart é o uso excepcional do seu sample: Need You Tonight da banda australiana INXS. Nada de novo em usar um sample para construir a batida, mas a escolha de uma canção tão icônica sonoramente e que está longe do dance-pop que se transforma Break My Heart apenas mostra o quanto bem assessorada a Dua Lipa está. Elegante, dançante, levemente melancólica e com pitadas generosas do carisma de Dua, a produção acerta perfeitamente na construção de canção única e com um refrão avassalador que, no final das contas, se torna um excepcional pop comercial que havia tempos que não era visto. E, queridos leitores, esse é o tipo de pop que a gente pediu e estava esperando. Posso ouvir um amém?

nota: 8

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

Telephone (feat. Beyoncé)
Lady Gaga

Hoje irei falar de uma música que já passou aqui pelo blog vários anos atrás, mas que ao longo dos anos comecei a criar uma impressão diferente em relação aquele que tive quando a mesma foi lançada. O motivo para revisitar Telephone, a agora lendária parceria da Lady GaGa com a Beyoncé, é perceber que a canção vai se tornando um dos mais importantes momentos do pop em toda a sua história.

Quando lançou o segundo single do EP/deluxe version The Fame Monster, GaGa já era o fenômeno pop que tinha chutado a pprta do mainstream com a força de um furacão. Após o impacto que veio com o primeiro single Bad Romance, a cantora lança o vem a ser a última grande colaboração pop até o momento. Ousada e polêmica essa afirmação, mas olhando com cuidado dá para perceber que existe um fundo de verdade. Primeiramente, em Telephone não estamos diante de uma simples parceria, mas da união de duas das maiores divas contemporâneas. De um lado a estrela em assessão em pleno estado de grasse e de outro uma estrela já consolidada, preparando o caminho para a consagração. Em segundo, Telephone, escrita por GaGa para a Britney, mas que foi descartada pela princesa do pop, é um dos ápices da carreira da Mother Monster.

Sabe quando tudo parece funcionar com se fosse as engrenagens de um relógio suíço? Então, Telephone funciona perfeitamente em todos os sentidos. Começa pela espetacular, inteligente e encorpada produção que criar uma explosiva dance-pop com a adição de ricas camadas que ajudam a elevar o material. Ouvindo despretensiosamente nem dá para perceber, mas a canção é feita a partir de seções que vão se agrupando para formar a coesa e poderosa instrumentalização em um verdadeiro tratado sobre como deve funcionar uma canção pop. Dona de uma composição inesquecível ao falar sobre uma separação de maneira despretensiosa, irônica e com um refrão que não sai da cabeça por nada, Telephone é dona dos meus versos pop preferidos dos anos 2010:

Not that I don't like you, I'm just at a party
And I am sick and tired of my phone r-ringing
Sometimes I feel like I live in Grand Central Station
Tonight I'm not taking no calls 'cause I'll be dancing

E o que falar da explosiva união de GaGa e Beyoncé? Seja em performances lendárias em que as duas colocam o p@# na mesma e mostram o poder vocal de cada sem precisarem ofuscar a outra, a canção é, até o momento, o último trabalho pop que a Queen Bee esteve envolvida, aumentando ainda mais a sua importância. Passados esses dez anos, Telephone não envelheceu em nada e, sim, apenas aumentou a sua áurea de ser uma das bases fundamentais para entender o pop dos anos 2010.

nota: 8,5 

Um Ano Louco

Back To Me
Lindsay Lohan

Em um ano que já está completamente louco com o de 2020 eis que surge quase que do nada a Lindsay Lohan lançando uma nova música depois de um hiato de doze anos, lembrando e/ou assuntando quem nem tinha noção que a bad girl/mean girl de Hollywood tinha uma carreia na música. E o mais assuntador: Back To Me não é ruim.

Na verdade, Back To Me é uma boa electropop que tem ótimos momentos e alguns erros. O principal erro é o seu refrão que, para criar impacto, usa um efeito vocal na voz de Lindsay que não chega a ser irritante, mas fica bem perto. Além disso, existe uma mudança de batida que quebra a elegante e fluida sonoridade dos versos que verdadeiramente são que dão a personalidade para a canção. Sem ser uma grande vocalista, Lindsay entrega uma performance sólida, tirando, claro, a parte do refrão. O mais interessante de Back To Me é a sua composição que toca na vida polêmica da cantora, revelando que a mesma está pronta para um recomeço. Em um ano "normal", esse comeback seria uma grande noticia, mas é só mais uma loucura dentro de muitas loucuras.
nota: 7

O Sample Salvador

I Love You's
Hailee Steinfeld

Depois de um sample salvar uma canção chegou a vez de uma sample ajudar uma canção ser um trabalho realmente bom. E essa canção é I Love You's da cantora/atriz Hailee Steinfeld.

Na verdade, I Love You's não apenas usa o sample do sucesso No More I Love You's da lendária Annie Lennox, mas, sim, quase refaz a canção novamente. O curioso é que a canção é produzida por David A. Stewart, parceiro de Annie no Eurythmics, mas que não tem nada haver com a versão original da cantora britânica. Com a experiência de David e a elegância icônica da canção original, I Love You's se torna uma agradável e interessante electropop com toques de synth-pop e R&B que não é genial, mas está bem acima da média. Com uma performance delicada de Hailee, a canção tem uma ótima composição sobre se reerguer depois de ter o ser coração quebrado. Apesar do resultado final, I Love You's não seria a mesma coisa sem o uso genial do seu sample/base. 
nota: 7,5

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Petals For Armor I
Hayley Williams

O Pior da Rosalía

Dolerme
Rosalía

Ninguém é perfeito. Todos erramos em algum momento. E assim também é a Rosalía que entrega na mediana Dolerme o seu primeiro erro.

Apesar de apresentar algumas das suas características mais tradicional, Dolerme é uma mudança profunda em relação a sonoridade que a espanhola vem mostrando. Quase uma balada pop rock que, infelizmente, parece pequena para o tamanho do talento da artista. Nada inspirada e com uma produção tradicional demais, a canção ainda erra ao deixar o auto-tune na voz da Rosalia ao máximo, pois a escolha funciona bem nas canções que se arriscam sonoramente. Todavia, o pior da Rosalía é ainda melhor que a maioria das canções de alguns artistas pop. E isso é muito significativo.
nota: 6

Surpresas

I Got So High That I Saw Jesus
Noah Cyrus

Alguém ainda se lembra da Noah Cyrus, irmã da Miley? Depois do seu começo da carreira musical lá meados de 2016, a cantora sumiu completamente do meu radar nesses últimos anos. Nenhum lançamento de um dos seus singles realmente chamou a minha atenção. Então, corta para 2020 e eis que esbarro com o seu single I Got So High That I Saw Jesus. E qual é a minha surpresa? A canção é excepcional.

Não sei qual foi a trajetória da cantora nos últimos até chegar aqui, mas I Got So High That I Saw Jesus é uma surpreendente country pop/folk que mostra uma maturidade impressionante. A canção consegue juntar de forma impressionante uma atmosfera mais tradicional com a sua produção old fashion sem soar datada com uma pegada modernosa devido a sua composição ousada. Misturando citações bíblicas com uma mensagem sobre o aquecimento global e o fim do mundo, Noah mostra ser uma artista bem mais interessante do que se pode imaginar. Além disso, a cantora entrega uma performance sólida, emocional e de uma beleza simples que ajuda I Got So High That I Saw Jesus elevar o seu resultado final. E apesar de toda a situação que vivemos, uma surpresa como essa é algo muito bem vindo.
nota: 8,5

Invisível

Worry About Me (feat. blackbear)
Ellie Goulding

Ellie Goulding era uma grande promessa que quase se concretizou. Tentando reconquistar o seu apelo inicial, a britânica está apelando para o massificado como é o seu novo single: a fraca Worry About Me.

Worry About Me é o tipo de canção que mais detesto: uma boa promessa que não chega a lugar nenhum. Repetitiva e clichê, essa electropop tem a até uma batida que vislumbra uma boa ideia com o seu começo, mas que termina apelando para o lugar comum em uma produção bem fraca. Nada aqui parece estar a altura da persona indie pop que tinha se transformando em uma promissora diva pop. E a cereja em cima do bolo é a batida participação do rapper blackbear. Resultado disso: a canção passou desapercebida nas paradas. E mereceu.
nota: 5,5

Um Renascimento para o Little Mix

Break Up Song
Little Mix

Já tinha um bom tempo que o Little Mix não lançava uma canção tão boa como Break Up Song, primeiro single do sexto álbum da girl band. E a canção já é uma das melhores da carreira da girl band.

Break Up Song é claramente uma synth-pop com os dois pés fincados nos oitenta com o seus sintetizadores no máximo e a sua atmosfera nostálgica do começo ao fim. Felizmente, a canção não soa datada devido a sua eficiente e inspirada produção que adiciona algumas nuances que ajudam a modernizar a canção. Apesar disso, acredito que Break Up Song poderia ter um refrão menos frenético para combinar com a cadência sonora dos versos. O que arremata de forma perfeita a canção de verdade é a presença das integrantes que entregam novamente performances exemplarem, elevando o material individualmente e em grupo. Espero que esse seja o caminho para o Little Mix, pois não aguentaria um álbum cheio de faixas decepcionantes.

nota: 7,5

Primeira Impressão

Supervision
La Roux