22 de julho de 2024

Um Presente Do Passado

#19
Aphex Twin


Quantas vezes uma música lançada há trinta anos tem a capacidade de poder ser considerada um dos melhores lançamentos da atualidade? Até o momento apenas a genial e deslumbrante #19 (ou Stone in Focus) está elegível para esse título.

Para quem não conhece, Richard David James, conhecido como Aphex Twin, é considerado um dos mais importantes e influencias artistas eletrônicos de todos os tempos. Em 1994, o artista lançou o seu segundo e aclamado álbum intitulado Selected Ambient Works Volume II e devido a capacidade dos CD’s da época, a canção ficou apenas nas edições do vinil e de cassete. Depois de trinta anos, a faixa foi lançada pela primeira vez em streaming e, queridos leitores, que oportunidade incrível é escutar essa joia. Com seus mais de dez minutos, #19 é uma viagem deslumbrante em que podemos perceber facilmente toda a criação genial de uma sonoridade quase transcendental. Apesar de linear, a complexidade sonora da canção é de uma força monumental devido a maneira como Aphex Twin cria o soberbo instrumental que fundi perfeitamente ambient com eletrônico. Ouvir a canção tem a mesma sensação de estar diante do grande vasto espaço sideral, pois é um sentimento quase devastador e, ao mesmo tempo, inspirador e cativante. E assim temos a demonstração que a força da música ultrapassa facilmente a barreira do tempo quando é realmente boa. 
nota: 9

O Pop Critico

Russian Roulette
Knock Yourself Out XD
Porter Robinson

Quando o Porter Robinson começou a sua nova era dando um tapa na cara pensei que isso apenas uma faceta do seu novo trabalho. Todavia, o DJ/produtor resolveu continuar a acertar com força com os lançamentos de Russian Roulette e Knock Yourself Out XD.

O motivo de Cheerleader ser um soco é o fato da canção ser “uma inteligentíssima, honesta e amadurecida crônica/reflexão sobre a relação entre artistas e seus fãs”. E nos dois singles essa tendência continua de maneira desconcertante, começando com Knock Yourself Out XD. Dessa vez, porém, o artista reflete sobre a sua relação com a fama, a indústria, a expectativa que tem sobre ele e os haters de maneira a criar uma letra ácida, mas mais reflexiva em que podemos perceber os pensamentos conflitantes do artista. É inspirada, inteligente e engraçadona que no fundo dá uma sensação estranha de ouvirmos uma letra de uma canção pop falando de maneira tão desconcertante sobre o mundo em que admiramos de alguma forma. E aí o outro tapa na cara. Sonoramente, a canção é menos inspirada que as outras canções até o momento ao ser uma electropop/bitpop redonda, mas que não vai muito além das exceptivas devido a sua ideia de realmente ser uma canção pop mais redonda e comercial. Em Russian Roulette, porém, Robinson volta com tudo para entregar outra musica realmente sensacional.

A grande qualidade da canção é a sua inesperada mudança rítmica na parte final da canção em que saímos de uma batida electropop para uma emocional e sentimental parte pop rock/emo-pop para logo depois mudar novamente para uma parte mais eletrônica e trance que termina a faixa de maneira inesperada e genial. A ponte entre as partes é de uma fluidez impressionante e que faz a gente fica desconcertado ao escutar pela primeira, notando o quanto as mudanças fazem sentido perante ao teor da canção e o como a temática é trabalhada ao longo da canção. Russian Roulette muda o foco das duas canções já citadas para ser bem mais intima aos sentimentos do Robinson em relação a sua arte e como a mídia e o público a percebem, tentando encontrar o real sentido para ser um artista e, também, viver. E assim o Porter Robinson abre espaço para um dos álbuns mais hypados no ano que já se prepara para ser uma “pancadaria” para quem escutar.
notas
Russian Roulette: 8,5
Knock Yourself Out XD: 8

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

I Write Sins Not Tragedies
Panic! at the Disco


Quando a banda Panic! at the Disco lançou I Write Sins Not Tragedies em 2006, que se tornou o seu maior sucesso e a música assinatura, eu tinha exatamente vinte anos de idade. E era basicamente parte do publico alvo da banda, mas o meu gosto musical nunca se associou com o estilo deles. Quase vinte anos depois, eu analiso a canção em um lugar mais aberto e amadurecimento. Devo admitir que, mesmo não sendo genial, a canção é bem divertida e bem melhor que a minha versão jovem achava.

Tenho que apontar que I Write Sins Not Tragedies é uma canção que ao ser olhada atualmente fica um pouco datada, pois é uma cria quase estática de um movimento bastante demarcado que foi o “emo” dos anos dois mil. E isso cria certo ruido, mas que é tirado de lado devido a impressionante produção de Matt Squire que transforma a canção em uma épica e showstopper mistura de post-punk, glam rock e pop punk. Épica e com uma estrutura ousada, a canção é uma pequena grande jornada que só teria esse resultado pelo ótimo instrumental. Entretanto, o grande trunfo da canção é a extraordinária performance do vocalista Brendon Urie que consegue captar toda a grandiosidade da produção com um display incrível de versatilidade e potencial. O que impede a canção de não ser sensacional é a pretenciosa composição que tenta ser mais inteligente e profunda do que realmente é, mesmo sendo esteticamente bem trabalhada. Escutar a canção tantos anos depois sem ter um apelo nostálgico ajuda a entender a sua qualidade e também ver o motivo para que um eu jovem não foi atraído para esse tipo de canção. E isso apenas a maturidade é capaz de dá. 
nota: 7,5



Simbólico

Reason Why
SOPHIE, Kim Petras & BC Kingdo
m


A trágica morte da Sophie privou o mundo de uma das mais excitante e talentosas artistas que surgidas nos últimos vinte anos. Felizmente, a gente vai poder ter um pouco de conforto com o lançamento do álbum que leva o seu nome ainda esse ano que a mesma estava trabalhando antes da sua passagem. E a primeira canção lançada é a boa Reason Why.

Sonoramente, a canção é um trabalho com a marca da artista ao ser uma deliciosa e refinada electropop com influencias de EDM/house. Não é espetacular, mas é um trabalho que mostra o amadurecimento que a Sophie estava passando ao produzir a sua batida. A canção perder força, porém, na sua composição apenas boa e que não parece ter força para estar a altura da sua produção. Também não gosto da produção vocal no refrão inicial, mas a presença da Kim Petras melhora consideravelmente na segunda metade para frente e o duo BC Kingdom entrega uma performance sólida. Apesar de um pouco abaixo do esperado, Reason Why é uma canção que representa bem o legado da Sophie.
nota: 7,5

O Cover do Cover

Take Me to the River
Lorde


Assim como o Paramore, a Lorde também está na trilha do relançamento do Stop Making Sense do Talking Heads com uma regravação. O interessante é que Take Me to the River é um cover de um cover.

Escrita e gravada em 1974 pelo Al Green, a canção ficou famosa com a regravação do Talking Heads quatro anos depois. Na versão da banda a canção é uma new wave/soul, mudando a versão original que vai para o lado R&B/gospel. Com a Lorde, a canção ganhou um verniz pop rock/indie pop que cai bem com a canção, especialmente devido a personalidade que a cantora adiciona para o trabalho. O melhor desse cover é ter a feito a canção ganhar os contornos da Lorde sem fazer com a sua excepcional melodia fosse afetada ou alterada de maneira drástica. Esse cover é basicamente melhor que todo o último álbum da Lorde. Quem sabe essa sonoridade não possa ser o seu novo caminho?
nota: 8


21 de julho de 2024

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Guilty Pleasure
JoJo Siwa



Soul & Suingado

Junebug (feat. JPEGMAFIA)
Raveena


Se existe um gênero que sinto falta na sua essência é o neo-soul. E é por isso que é sensacional ouvir canções com a excelente Junebug da cantora Raveena com participação de JPEGMAFIA.

Tecnicamente, a canção é adicionada de toques de R&B, funk e rap, mas é essencial uma belíssima e divina neo-soul sem dúvidas. E não apenas uma ode ao gênero, mas, sim, um trabalho completo e maduro do gênero que faz a gente realmente entender a força que o mesmo sempre apresenta ao ser feito de acordo. Doce, romântica, cadenciada, deliciosa, cativante e tocante, Junebug é ápice do que pode ser chamado de elegante em uma canção, mas sem parece frio ou distante. Sua batida é quente e envolvente, especialmente com a presença radiante de Raveena que carrega com graça todas as qualidades de uma cantora do gênero adicionando uma carga de personalidade adorável. O verso de JPEGMAFIA é muito bem-vindo, pois o rapper dá textura para a canção sem a mesma perder a sua forma e doçura. Um trabalho que precisa ser descoberto para qualquer um que gosta de uma boa música.
nota: 8,5

Respeito

Angel Of My Dreams
JADE


Gosto muito um artista que simplesmente chuta o pau da barraca para mostrar algo que seja realmente novo sonoramente na sua carreira. Isso acontece com o single de estreia da carreira da Jade Jade Thirlwall em Angel Of My Dreams. O problema é que a canção é apenas boa.

É extremamente interessante que a mesma tenha decido se arriscar tanto nesse primeiro momento da carreira, mostrando uma vontade de realmente fazer uma carreira que se diferencia do que a mesma fez no Little Mix. Entretanto, Angel Of My Dreams não desce tão bem depois que a gente passa a surpresa inicial. A canção é um reluzente dance-pop, electro house, progressive pop e synth-pop unidos em uma produção com várias quebras de expectativas criativas, mas que, infelizmente, parecem vazias ao final de uma analise com mais cuidado. É fato que a canção é marcante, diferente e eletrizante, mas parece que não existe profundida para acompanhar essas decisões, terminando com um belo vazo sem muita coisa dentro. Lindo de olhar sem, porém, muita utilidade de fato. O que realmente segura a canção é a segura e inspirada performance da Jade que se mostra pronta para carregar esse tipo de canções com graça. Faltou o que dizer de fato em uma produção que priorizou a estética. Todavia, meu total respeito para esse começo de carreira que faz a gente realmente ter esperança para a Jade.
nota: 7

Tá, Mas Pra Que?

MTG CHIHIRO
Mulú & Duda Beat


Fico extremamente feliz com o destaque mundial que os artistas brasileiros estão conquistando nos últimos tempos, fazendo o mundo da música olhar para a nossa música com novos olhos. Não entendo, porém, é a existência do remix de Chihiro pelas mãos do DJ Mulú.

Entendo como chegou a esse momento, pois depois de lançar a versão sem autorização, o DJ recebeu o sim da Billie Eilish e a sua equipe para o lançamento. O que não entendo é o fator de existir um remix da canção que não tem a presença da cantora. Ao invés disso, quem assume os vocais é a Duda Beat. Gosto da brasileira, mas a sua voz e performance não combinam com a canção em nenhum momento até mesmo nessa versão remix/cover. Perde-se boa parte do encanto da original devido ao não impacto da performance de Billie. Enquanto ao trabalho da produção de Mulú é até interessante ao dar batidas de funk carioca para a canção, criando uma batida hibrida até legalzinha e inofensiva. Mesmo assim, o resultado é apenas ok devido as peças parecerem não se conectar, ficando essa clara e forte pergunta pairando: pra que?
nota: 6,5


Meio Esquecida

Forget About Us
Perrie


Enquanto fazia a resenha para o debut single da Jade Thirlwall lembrei que também a Perrie Edwards também lançou o seu primeiro trabalho solo. Infelizmente, Forget About Us não ajuda em nada a gente se lembrar da carreira solo da Perrie.

Longe de ser o pior que alguma ex-Little Mix tenha lançado, a canção é basicamente esquecível. Sabe aquele tipo de canção que a gente ouve em uma loja de departamento uma vez para depois nunca lembrar? Então, Forget About Us é um pop bem feitinho, redondinho e sem gracinha. E sem tem algo que uma canção pop não pode ter é essa relação de adjetivos de uma vez só, pois é receita para a sua canção ser completamente dispensável. E a composição ter as mãos do Ed Sheeran é ainda mais fácil de uma canção com essas qualidades, mesmo sendo tecnicamente bem escrita. O pior é que nem no refrão a canção realmente ganha vida. O que dá alguma personalidade para a canção é a performance solida de Perrie. Infelizmente, a canção é um começo bem morno para a carreira da cantora.
nota: 6

17 de julho de 2024

Encontro Celestial

Satellite Business 2.0
Sampha & Little Simz


Se existi algo que não estava na minha cartela de bingo para acontecimentos em 2024 era a parceria surpresa do Sampha com a rapper britânica Little Simz. Só que essa é a realidade da sensacional Satellite Business 2.0.

E ainda tem mais surpresa nesse lançamento, pois a canção é uma espécie de remix de uma faixa que funcionou como intro no álbum Lahai do ano passado. O resultado desse aprofundamento na produção é a criação de uma espetacular e deslumbrante canção que apenas corrobora com o já presente sentimento que o Sampha é um gênio. Satellite Business 2.0 é estigada ao seu total potencial ao ter a sua batida inspirada de R&B alternativo com eletrônica, neo-soul e hip hop incrementada de maneira a conseguir criar uma nova canção sem perder a essência da original. Apesar de estar presente em apenas um verso que poderia ser bem maior, a presença marcante e poderosa da Little Simz é o toque de Midas da canção ao contrastar com a serenidade e bela performance do Sampha. E assim do nada Satellite Business 2.0 se torna um dos grandes momentos de 2024. Quem dera todas as surpresas fossem nesse nível de qualidade.
nota: 8,5

New Faces Apresenta: Angelina Mango

La noia
Angelina Mango

De tempos em tempos, eu sou realmente surpreendido por alguns achados que faço ao pesquisar sobre novos artistas. E até o momento, a maior surpresa desse ano é para a sensacional La noia da cantora italiana Angelina Mango.

Escolhida como a representante da Itália para o Eurovision desse ano, terminando em sétimo lugar. E mesmo não tendo escutado outras canções tenho que afirmar que foi injusto, pois La noia é uma música simplesmente sensacional. A grande qualidade da canção é a sua impressionante, e refrescante e surpreendente produção que consegue unir lantin pop, dance pop, dancehall, folk e cumbia em um verdadeiro deslumbre sonoro que consegue ser ao mesmo tempo comercial, ousado, inovador e familiar. Apesar de ter apenas três minutos, a canção é repleta de surpresas devido a suas mudanças rítmicas inesperadas e eletrizantes, fazendo a canção soar grandiosa sem ser exatamente gigantes. A composição em italiano é inteligente que sabe brincar com as possibilidades sonoras que a batida dá e ainda ter certa profundida temática interessante. E a cereja em cima é a performance destruidora da Angelina Mango que dá a personalidade final para a canção. La noia é o tipo de canção que deveria ser descoberta para quem está precisando de uma nova obsessão e ser surpreendido por uma nova e excitante artista.
nota: 8,5

Uma Nova Onda

A Bar Song (Tipsy)
Shaboozey


E o legado de Cowboy Carter já começa a dar frutos. Apesar de ter já feito trabalhos voltado para o country, incluído duas participações no álbum da Beyoncé, o cantor Shaboozey alcançou o primeiro lugar na Billboard com a canção A Bar Song (Tipsy).

A maior e melhor qualidade da canção é fazer com estilo o atual country comercial ao entrega uma produção encorpada, marcante e muito bem instrumentalizada. E outra qualidade de A Bar Song (Tipsy) é uso do sample da canção Tipsy do rapper J-Kwon que dá um toque ousado para a canção, sem pesar demais para não descaracterizar a canção que é uma country/country pop mais tradicional. Gosto da performance forte e marcante do Shaboozey, ajudando a dar uma vida para a composição rasa que poderia facilmente ter bem mais força que a que é vista aqui. Espero que esse seja apenas o começo do surgimento de novos artistas que possam a continuar a quebrar barreiras que nem deveriam existir.
nota: 7,5


Sonífero Que Dá Ouvir

feelslikeimfallinginlove
Coldplay


Acho que o Coldplay já entrou em uma fase que não dá para ter esperança para eles voltarem a fazerem música boa. E quando tem algum mediano como Feels Like I'm Falling in Love é algo para comemorar.

Primeiro single do álbum Moon Music, a canção é uma pop rock/synth-pop chapa branco que não empolga em nenhum momento, mas também não chega a ser uma bomba. Boa parte da qualidade da canção é devido a ótima performance de Chris Martin que entrega emoção verdadeira para a canção. Todavia, Feels Like I'm Falling in Love tem uma composição tão fraquinha e monótona que dá sono só de ler os versos sobre a sensação de se apaixonar. E o mais grave é que a composição é assinada por oito pessoas diferentes, sendo uma creditada devido ao uso do sample da canção Funeral Singers da Sylvan Esso. Para quem quer dormir está aí uma grande canção.
nota: 6

Morninho Ok

Rockstar
LISA


Tenho que admitir que tenho certa esperança nos lançamentos envolvendo o Blackpink, pois acredito que a girlband e a suas integrantes tem potencial real. Todavia, sempre fico decepcionado com o resultado final. E esse o caso de Rockstar da Lisa.

Tenho que admitir que a canção não é ruim, mas, sim, morníssima. Com produção do Ryan Tedder, Rockstar deveria ser uma explosiva e marcante mistura de k-pop, rap, hip hop e alt pop que quase passa batido demais em sua experiencia nada inspirada. Não chega ser ruim, pois tem vislumbres até legais de uma canção realmente divertida. E o principal é a presença da Lisa que carrega muito bem a canção. Todavia, a canção é limitada e não dar espaço para a rapper/cantora realmente alcançar voo como pode e deve. E o outro motivo para a canção não funcionar de verdade é a sua fraquíssima composição que termina sendo uma sucessão de clichês datadas que nem funciona no seu refrão morno. Uma pena que estão entregando coisa tão mediana para as meninas que deveriam estar com material incandescente nas mãos.
nota: 6

12 de julho de 2024

Primeira Impressão

MEGAN
Megan Thee Stallion



Primeira Impressão

Las Mujeres Ya No Lloran
Shakira



Primeira Impressão - Outros Lançamentos

HEAT
Tove Lo & SG Lewis



Idiossincrasias do Pop

Woman's World
Katy Perry


Tenho que admitir que pensei bastante antes de fazer essa resenha, pois ao faze-la ia contra umas das regras que institui para o blog ao não falar de nada que tenha sido produzido/escrito por certo produtor por questões morais. Então, abri uma exceção dolorida para falar sobre o comeback da Katy Perry em Woman's World.

Apesar de aguardado e esperado, a que seria o momento triunfal para a cantora tem essa mancha imensa que realmente atrapalha fortemente para todos aqueles que não passam pano. É incompreensível a Katy voltar a trabalhar com esse indivíduo, mesmo sabendo que é dele o alguns dos maiores sucesso da sua carreira. E pergunto: por sucesso é certo vender a sua alma ao capeta? E o pior é que Woman's World é uma canção completamente mediana em todos os sentidos. A produção é genérica ao extremo e completamente datada ao não referenciar o pop do começo dos anos dois mil, mas fazer uma canção que parece ter saído diretamente dessa era com cheiro de naftalina. O pior, porém, é a sua pobre, rasa e sem vergonha composição sobre empoderamento feminino que contradiz com a maneira como a Katy escolheu para seguir nessa nova era. Tenho que admitir que o refrão é eficiente e a cantora entrega uma sólida performance, mas isso não é nem perto o bastante para tirar essa sensação de decepção e tristeza pela decisão da cantora. 
nota: 5,5


11 de julho de 2024

As Crônicas de Guerra de Lamar

Like That
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar


euphoria
meet the grahams
Not Like Us
Kendrick Lamar

Se você não estiver vivendo debaixo de uma rocha ou simplesmente não ligar para isso de acontecimento é fácil apostar que você ficou sabendo da guerra entre o Kendrick Lamar e o Drake. Quero dizer que esse post não vai explicar nada sobre o que aconteceu, pois é mais fácil fazer uma pesquisar do que resumir toda essa treta. Esse é post é para afirmar que o Lamar venceu de maneira incontestável ao não apenas fazer simples diss tracks, mas, sim, músicas simplesmente geniais uma atrás da outra. Antes de entrar no prato principal é preciso analisar o aperitivo que começou esse banquete para o rapper em Like That.

A canção é menos inspirada que as canções que estavam por vim, pois não é uma canção do Lamar e, sim, do projeto rapper Future com o produtor Metro Boomin em que Lamar é “apenas” um convidado. E, queridos leitores, Lamar com apenas um verso foi capaz de criar uma verdadeira guerra. Por isso mesmo, o rapper é a grande atração da canção com uma performance poderosa e tão marcante que faz a canção ganhar pontos valiosos. Liricamente, a canção realmente ganha vida com o verso do Lamar e o viciante refrão, pois o resto é basicamente mais do mesmo para o padrão de rapper como o Future. E olha que a sua performance em Like That é até bem aceitável. Outro ponto forte da canção é a produção do Metro Boomin que dá substancia para a batida sombria e bem amarrada, mesmo terminando a faixa meio que numa vibe anticlimática. Analisando agora, a canção se torna quase como o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando para a guerra entre o Lamar e o Drake.

Então, entre as respostas do Drake em forma das suas diss traks que incluiu o J.Cole (Lamar também mandou indiretas para o rapper na canção inicial), Lamar começou a lançar suas canções com suas respostas. E longo no começo, o rapper já começou com que considero já o enterro da carreira do Drake: euphoria. Ao ouvir pela primeira vez a canção a minha boca a letra a espetacular e devastadora composição em que Lamar simplesmente eviscera Drake. Não é de longe apenas indiretas ácidas e, sim, uma crônica diretíssima sobre todo o que o Lamar pensa sobre o seu “adversário”. Todavia, o imenso trunfo de euforia é a genialidade em que o rapper escreve toda a grandiosa letra em que passa longe de ser apenas uma coleção de ataques em formas de versos, mas, sim, uma composição com estrutura temática impressionante, uma escolha lírica inteligentíssima e uma genial construção rítmica e de rimas que deixa bem claro o tamanho da capacidade do Lamar. E quando a gente pensou que era apenas isso, pois já era algo devastador, o rapper continua o seu ataque pesadíssimo com outro momento genial: meet the grahams.

Novamente, a construção da composição é simplesmente de uma genialidade ímpar, mas aqui o que chama a atenção é a produção da canção. Seria quase impossível acreditar que um artista poderia ter escrito e produzido uma canção como essa em apenas alguns dias, mas sendo do Lamar isso é facilmente acreditar devido ao imenso talento do rapper. Só que tudo isso é elevado a outro nível pela impressionante produção de The Alchemist que dá para a canção uma vibe totalmente diferente da canção anterior e, principalmente, do que a gente espera de diss track. Aqui é construída uma climática e sombria batida jazz rap misturada com hip hop que é de uma força criativa avassaladora devido a sua quebra de expectativa devastadora. Curiosamente, a melodia de meet the grahams é de uma beleza estética que contrasta com brutalidade da composição que Lamar “conversa” com toda a família do Drake que, por fim, contrasta com a performance contida e passiva agressiva do rapper. Entre as duas canções foi lançada apenas no Instagram 6:16 in LA com produção de Sounwave e Jack Antonoff (!!!). Não irei analisar aqui, pois não foi lançada oficialmente. Para colocar os pregos no caixa do Drake de maneira final, Lamar lançou a extraordinária Not Like Us.

Obviamente, todas as canções lançadas pelo Lamar e, também, o Drake tiveram imenso impacto comercial, mas o estouro de Not Like Us é algo impressionante e que vem para consagrar o rapper não apenas como vencedor da guerra como também solidificar ainda mais o seu status de melhor artista da atualidade. E isso vem do fato da canção ser tão comercial e, ao mesmo tempo, representar bem o lado artístico apurado do Lamar. Acredito que provavelmente a base da canção já estava pronta. Na verdade, todas as canções já estavam sonoramente encaminhadas de alguma maneira. Entretanto, é extremamente louvável e impressionante como as canções foram finalizadas e Not Like Us tem um verniz tão incrível e memorável ao criar uma jornada sonora rica, texturizada, impactante e viciante. Entretanto, o grande trunfo da canção é a performance larger-than-life do Lamar que faz realmente a canção funcionar devido a sua habilidade magnifica e quase sobre-humana. Se não bastasse o imenso sucesso de critica e publico da canção (a mesma alcançou o primeiro lugar da Billboard), a canção ganhou um sensacional clipe que finaliza com chave de ouro e diamantes. E assim o Kendrick Lamar se mostra um gênio inigualável que é quase impossível de ir contra o seu poder.
notas
Like That: 7,5
euphoria: 9,5
meet the grahams: 9
Not Like Us: 9

A Amarga Farofada a Kylie

My Oh My
Kylie Minogue, Bebe Rexha & Tove Lo

Depois de revitalizar novamente com o sucesso de Padam Padam, a Kylie Minougue está pronta para a sua nova era com o lançamento de My Oh My. E infelizmente o tiro saiu pela culatre devido a uma produção equivocada que desperdiça não apenas o talento da Kylie, mas como das convidadas Bebe Rexha e Tove Lo.

É bem claro que a canção quer ser uma Padam Padam 2.0, mas não chega nem perto do fator cativante e, principalmente, da sua produção. A produção entrega uma canção que soa datada e 
forçada que parece ter sido feita apenas para surfar em uma onda e, não, ser um trabalho realmente original. Faltou espontaneidade verdadeira para dar razão para dance-pop/EDM realmente funcionar. Entretanto, o grande problema aqui é a péssima produção vocal que simplesmente destrói a voz da Kylie ao dar um efeito que transforma a sua performance em um trabalho estridente e irritante. Além disso, as presenças de Bebe e Tove Lo não geram o peso que seria esperado devido a má utilização das duas, mesmo que a segunda tenha o melhor momento da canção. Infelizmente, My Oh My não bateu com força como os trabalhos recentes da Kylie. Uma pena.
nota: 5

Simpática Referencia

the boy is mine (Remix)
Ariana Grande, Brandy & Monica


Quando fiz a resenha de eternal sunshine apontei the boy is mine como um dos destaques do álbum da Ariana Grande devido ao uso do “sample da canção de mesmo nome da Brandy e Monica consegue dar uma cor inusitada e bem vida para o resultado final”. E eis que de maneira justíssima, a cantora chamou as duas cantoras para a versão remix da canção que consegue fazer certa justiça coma a canção sampleada.

Longe de ser originalmente genial, a canção é uma boa e cativante pop/R&B com toques de trap que está bem no reino da intenção do álbum, mas bem longo do potencial da Ariana. A versão remix não muda isso, mas dá apresenta certo brilho especialmente devido a presença sólida da Brandy e da Monica. Ao contrário do remix com a Mariah Carey, essa versão de the boy is mine tem total sentido para existir, pois, presta homenagem a duas cantoras que fazem parte da estrutura sonora da sonoridade da Ariana com as suas carreiras tendo moldado o R&B dos anos noventa. E isso é feito de maneira sólida e digna, dando espaço para as duas de maneira igualitária ao serem integradas muito bem com a canção e sem deixar de ser uma canção da Ariana. O verso em que as três cantam é a cereja em cima do bolo ao lado da mudança nítida para a melodia da canção das duas artistas no último momento. Poderia ser em si uma canção melhor? Facilmente. Só que é louvável que a Ariana Grande tenha feito essa reverencia tão sincera para a Brandy e a Monica.
notas
versão original: 7,5
versão remix: 7,5

O Melhor do Mediano

Fortnight (feat. Post Malone)
Taylor Swift


Entre todas as canções medianas de The Tortured Poets Department, o single Fortnight é uma das melhorzinhas. E isso é principalmente devido ao fato da canção ter uma leve injeção de originalidade devido a presença do Post Malone.

Mesmo que o rapper/cantor não tenho um verso apenas seu, a sua adição dá um verniz diferente para a canção. Não é algo que faça a canção estourar, mas é toque interessante que faz Fortnight ter um contorno diferente da massa uniforme que compõe todo o álbum. Mesmo não saindo muito da estética básica synth-pop/alt pop da produção do Jack Antonoff, a canção tem uma construção atmosférica sólida que não vai das linhas da sonoridade pré-fabricada, mas é outro ponto de destaque da canção. É aquela história de ser mais do mesmo, mas pelo menos tenta ser algo diferente.
nota: 7


6 de julho de 2024

Uma Aula Magistral

Alibi
Sevdaliza, Pabllo Vittar & Yseult


Existe uma noção que alguns gêneros musicais não podem ser traduzidos em outros línguas, pois perderam a sua essência. E isso é uma bobagem, pois o que falta é na verdade criatividade e inteligência para conseguir unir todas as pontas. E é isso que ensina a sensacional Alibi da Sevdaliza com a participação da Pabllo Vittar e da cantora francesa Yseult.

Na teoria, a canção não deveria funcionar, pois mistura ao mesmo tempo funk brasileiro, latin pop, alt pop e reggaeton. Todavia, a produção da própria Sevdaliza ao lado de Mathias Janmaat consegue ligar todas as pontas com uma mestria genial ao criar uma fusão tão perfeita entre todos os gêneros usados que faz de Alibi uma das canções pop mais interessantes dos últimos tempos. Extremamente marcante, explosiva, épica e com um toque comercial que em nenhum momento a transformar em nada massificada, a canção ainda conta com a presença de quatro idiomas diferentes sendo usado: o inglês da Sevdaliza, o português da Pabllo, o francês da Yseult e o espanhol do refrão que faz referência a canção Rosa de Magín Díaz. Isso poderia soar como uma torre de Babel sem nexo, mas a maneira como é construída a transforma em um trabalho fluido e coeso. Na verdade, essas mudanças sonoras das entonações são um dos pontos fortes da canção já que dá são texturas ricas e bem pensadas. E o que fecha o pacote são as performances classudas e poderosas das três artistas, especialmente a da Pabllo que usa seu tom mais grave de maneira inesperada e incrível. Tenho que admitir que Alibi poderia ainda melhor se fosse um minuto mais longo e tivesse mais versos, mas apesar disso estamos diante de um do grandes momentos de 2024. 
nota: 8,5

Um Novo Som

Tough
Quavo & Lana Del Rey


Uma das criticas que é meio recorrente na discografia da Lana Del Rey é a estaticidade da sua sonoridade. E nos últimos tempos a mesma vem se arriscando mais e isso vem sendo um acerto. Mesmo que Tough, single em parceria com o rapper Quavo, não seja ótima, mostra que a cantora está disposta a mergulhar em novas águas.

É necessário afirma que a canção não é para todos, pois a sua produção não parece especificamente voltada para o publico de nenhum dos dois artistas. Além disso, faltou um toque especial ao produto final para elevar a canção de boa para ótima. De qualquer forma, Tough é interessante ao ser uma fusão de trap, indie pop e country que funciona devido a essa estranheza ser bem azeitada e não cria um ruido pesado e, sim, um ruido meio cativante, meio inusitado, meio desconcertante. É como se a canção fosse comercial ao extremo na mesma medida que fosse experimental. Acho que com algumas cortadas de postas soltas poderia ser algo genial. E o que dá liga para a canção é a presença da Lana que entrega uma performance com a sua marca, mas cm um verniz deliciosamente quente e despretensioso. Isso se soma com a presença boa do Quavo e a sua química com a cantora, resultando em dois performance que funcionam mesmo não parecendo que não na teria não deveriam. Tough não é umas das melhores canções da Lana, mas a exploração que ela mostra aqui é sensacional. 
nota: 7,5



O Retorno Final

JOYRIDE
Kesha

E finalmente a Kesha é livre. Depois de uma batalha de anos, a cantora finalmente está livre da sua antiga gravadora que ainda era ligada a certo produtor para lançar a sua carreira de maneira independente. E como primeira canção da sua nova era foi lançada a divertida Joyride.

Voltado com vontade para o seu começo, a canção é uma elétrica e estranha mistura de EDM, eletropop e polka (!!!) que funciona devido a produção fazer um trabalho polidíssimo ao saber unir as pontas de maneira a fazer sentido sem perder esse lado ousado. Tenho que dizer que a produção poderia ser ainda mais explosiva, pois o clímax de Joyride é um pouco chapado demais, mas isso é um pequeno tropeço para o resultado final. A canção é contemplada com uma composição que acerta o tom entre o humor, deboche e o fator icônico, mostrando que a cantora continua com a sua personalidade conseguindo mostrar amadurecimento. É um começo de era promissor, mas que é mais importante pelo fato de ser realmente uma nova vida artística para a Kesha.
nota: 8

Classudas

Lift You Up
Jessie Ware & Romy


Acredito que a melhor definição de classuda para uma música é o encontro da Jessie Ware com a cantora Romy, integrante do The xx, na excelente Lift You Up.

Possivelmente primeiro single do álbum da Jessie, a canção é uma elétrica e, claro, classuda mistura de house, dance-pop e eurodance que acerta na mosca, mesmo que a sua segunda metade não tenha a mesma força que o seu começo promissor alardeia. Todavia, isso não é problema para a ótima produção de Stuart Price que consegue impregnar a canção com essa sensação de música eletrônica para adultos e completamente imune a farofada. Lindamente instrumentalizada, Lift You U conta com as performances aveludadas e incandescentes das duas artistas, mas é a Jessie que brilha um pouco mais devido ao seu sempre maravilhoso timbre e elegância vocal nata. A composição até poderia ser mais profunda temática, mas isso não atrapalha de ser um trabalho refinado e com um refrão sensacional. E assim parece começar a nova era da Jessie que é sem nenhuma dúvida uma das melhores a artista da atualidade.
nota: 8,5