29 de dezembro de 2020

Primeira Impressão

Women in Music Pt. III
HAIM


A Delicadeza da Genialidade

Bless Me
Moses Sumney

Existe uma infinidade de maneiras diferentes de falar sobre o mesmo assunto, mas normalmente é dos jeitos mais surpreendentes que surgem as melhores formas de abordar um tema. Em Bless Me, Moses Sumney fala sobre sexo de uma maneira ímpar e inesquecível ao usar da delicadeza efusiva. 

Single do genial Græ, a canção não é exatamente apenas sobre sexo, mas, sim, sobre o momento que antecede o fim de um romance. Todavia, esse fim é acompanhado de sexo e Sumney entrega uma linda, elegante, simples e envolvente composição que tem a capacidade de pender para o intelectual sem soar pretencioso. Na verdade, a fluidez orgânica da letra é aparada pela belíssima instrumentalização que faz uma mistura cirúrgica de R&B, indie, blue e soul, criando uma peça rara e instigante. Em uma performance contida, mas cheia de sentimentos, Moses Sumney parece soar como anjos caídos em um cantar sensual e deslumbrante. E nada disso sem soar desnecessariamente pomposo, pretencioso e exagerado. 
nota: 8,5

Uma Ninfa Japonesa

Porcelain
Ichiko Aoba


Descobrir novos sons é uma das minhas maiores alegrias aqui no blog e 2020 foi o ano que mais mergulhei na imensidão de mares nunca navegados. E em uma dessas minhas expedições pelo desconhecido encontrei a cantora japonesa Ichiko Aoba e a sua delicadeza em forma de música com o ótimo single Porcelain. 

Com uma carreira já estabelecida desde 2010, Ichiko Aoba não tem nada haver com a onda atual de k-pop, pois a cantora segue uma linha indie pop/folk que a transforma em uma rara ninfa para os ouvidos. Em Porcelain, a cantora entrega uma das músicas mais delicadas do ano em uma canção de ninar contida e instrumentalmente deslumbrante. Uma mistura fina e elegante de folk com dreamy pop, o single parece saído das gravuras campestres que representam deuses e deusas da floresta. Dona de uma voz terna e quase etérea, Ichiko entrega uma performance que beira o canto de uma sereia misturado com a elegância de um anjo. Não consegui achar uma tradução oficial para a letra em japonês e por isso algo parece se perder na tradução por Google tradutor que fiz, mas, ao que parece, a cantora parece seguir um caminho poético para as suas composições. Essa percepção ajuda a aumentar a sensação de estarmos diante de uma artista única e que merece ser descoberta antes do ano terminar. 
nota: 8

27 de dezembro de 2020

Bang Bang Brasil

MODO TURBO (feat. Anitta & Pabllo Vittar)
Luísa Sonza

O reencontro da Anitta com a Pabllo Vittar na canção MODO TURBO da Luísa Sonza poderia ser finalmente a nossa versão de Bang Bang. Entretanto, o resultado final é uma canção capenga e bem abaixo do que poderia ser esperado. 


MODO TURBO é o suco puro do mainstream do pop nacional ao ser um funk pop com toques de dance-pop feito para um público na procura de um divertimento rápido e descartável. E isso não é nenhum problema, mas até para esse tipo de canção é necessário manter certa qualidade. A produção entrega uma batida frenética, repetitiva e com uma linearidade pouco interessante não deixando a canção explodir como poderia. O pior, porém, é a péssima composição que segue na mesma toada ao parecer não ter versos e refrão definidos e, sim, um verso continuo e sem nenhuma criatividade ao repetir os mesmos velhos clichês. O que salva de alguma forma MODO TURBO é a força das suas interpretes, especialmente a Pabllo que quase rouba a canção para si. Queríamos um bang bang, recebemos uma bomba. 
nota: 5,5

O Dono da Bola

chinatown (feat. Bruce Springsteen)
Bleachers

Nos últimos anos um pedaço do pop foi moldado por um único homem: Jack Antonoff. Levado ao conhecimento do grande público pelo sucesso da banda Fun., o artista ganhou notoriedade mesmo com as produções para nomes como Lorde, Carly Rae Jepsen, The Chicks, Lana Del Rey e, especialmente, a Taylor Swift. Depois de um hiato trabalhando apenas nos bastidores, Antonoff volta para frente dos microfones sob o pseudônimo de Bleachers com o lançamento da ótima chinatown com a presença ilustre da lenda Bruce Springsteen. 

Ouvir chinatown é perceber as principais características da produção de Antonoff e, ao mesmo tempo, observar o mesmo indo em uma direção diferente do que o público se acostumou a ouvir. Um estilizado, tocante e nada comercial indie rock/pop com leves pitadinhas de americana e country, o single remete ao uma sonoridade dos anos oitenta envernizado pesadamente com o toque já conhecido de Antonoff. Apesar da parte vocal do artista estar fortemente sob efeitos existe uma sutileza e emoção em sua performance que realmente dá vida a composição romântica e em forma de crônica que realmente remete aos trabalhos de Bruce Springsteen. E é nesse momento que chinatown realmente ganha vida, pois o lendário roqueiro ganha um espaço na parte final suficiente para colocar a sua marca e elevar o material de forma natural e extremamente bem vinda. E como o dono da bola, Jack Antonoff pode se dar o luxo de mostrar o seu oficio através da sua própria visão. 
nota: 8

New Faces Apresenta: Romy

Lifetime
Romy

Em um ano tão recheado de lançamentos de qualidade ficou fácil perder algum trabalho realmente excitante. Esse é o caso de Lifetime, primeiro single solo da Rommy, vocalista da banda de indie pop/eletrônico The xx

A canção pode não ser o suprassumo do pop lançado em 2020, mas é um começo auspicioso e de qualidade inegável para a cantora na sua carreira sozinha. Lifetime é uma fusão certeira de dance-pop com synthpop que conquista pela sua instrumentalização complexa, elegante e madura que invoca uma deliciosa mistura de Robyn com a própria sonoridade do The xx. O diferencial e o que realmente faz Rommy se tornar uma aposta para o futuro é que o resultado da canção ganha uma dose de personalidade distinta que a faz ter força suficiente para ter iniciado a sua carreira solo de forma inspirada. O único problema aqui é a decisão de colocar os vocais em um patamar abaixo do arranjo devido aos efeitos utilizados. Não é algo que atrapalhe pesadamente o resultado final, mas tira um pouco do brilho principalmente quando a voz da cantora é ouvida naturalmente deixando claro que o resultado poderia ter sido bem melhor se todo o vocal fosse nessa mesma pegada. De qualquer forma, Lifetime é uma canção que merece ser ouvida na categoria de “melhores músicas que você não deve ter ouvido em 2020”. 
nota: 7,5

A Genial

Shameika
Fiona Apple

Irei escrever sobre o Grammy em uma postagem separada, mas é necessário dizer que ver Fiona Apple indicada apenas em três categorias nichadas com o seu genial Fetch the Bolt Cutters é uma ofensa imperdoável. Ainda mais quando a cantora é dona da melhor música de 2020 com a incomparável Shameika. 

Tentar definir de forma concisa qual a sonoridade de Shameika é tão complicado quanto definir o próprio álbum que a música saiu. E a canção é de longe a mais acessível de todo álbum. Tentando achar algumas palavras para classificá-la  seria um indie jazz/rock alternativo com pinceladas fortes e marcantes de experimental e acid jazz. E mesmo assim parece faltar algo que consiga expressar toda a grandiosidade e genialidade por trás da espetacular, complexa e poderosa construção instrumental que vai colocando camadas por cima de camadas e que transforma Shameika em um verdadeiro desbunde sonoro. Liricamente, a canção é que apresenta a composição que mais chamou a minha atenção ao ser um trabalho ácido, divertido e sincero sobre o bullying quando criança e como a ajuda de uma desconhecida chamada Shameika a ajudou Fiona perceber o seu talento. E, queridos leitores, assim como uma Nostradamus moderna, Shameika acertou em cheio em sacramentar que Fiona Apple tinha potencial. 
nota: 9,5



26 de dezembro de 2020

Single do Ano - Votação Final

É chegada a hora da última enquete de Melhores de 2020 com a disputa para definir qual foi o Single do Ano. Votem!



22 de dezembro de 2020

Primeira Impressão

Disco
Kylie Minogue

Eu Acredito

Magic
Kylie Minogue

Gostar da Kylie Minougue é algo extremamente fácil não apenas pela sua simpatia, carisma e humildade que a australiana sempre mostrou ser, mas, também, pela sua imensa qualidade artista. Em Magic, segundo single de Disco, a cantora deixa bem claro que a mesma consegue fazer a gente até acreditar que o mundo realmente pode melhorar. 
Uma deliciosa, elegante, dançante e envolvente disco-pop que parecido saído de uma máquina do tempo, Magic tem no seu sincero alto astral a sua maior qualidade. A produção constrói uma batida leve e refrescante que não sai do esperado para um disco-pop comercial, mas entrega todo de forma luminosa desde o primeiro segundo até o seu derradeiro final. A presença magnética de Kylie em uma performance que apenas uma diva do seu gabarito tem a capacidade ajuda dar vida e a despretensiosa e muito bem escrita composição sobre aproveitar o momento antes de acabe, especialmente em seu sensacional refrão, ajudam a incrementar o resultado final. Respondendo a questão que a cantora faz na canção: sim, eu acredito em mágica. Na mágica da Kylie. 
nota: 8

Um Oscar Para Diane Warren

Lo Sì (Seen)/Seen (Lo Sì)
Laura Pausini

É bem possível que o nome Diane Warren não te traga nenhuma lembrança, mas clássicos como Because You Loved Me (Céline Dion), I Don't Want to Miss a Thing (Aerosmith) e There You'll Be (Faith Hill) irá trazer algumas lembranças na hora. E sabe o que todas essas canções tem em comum? A sua compositora Diane Warren e, principalmente, que todas foram indicadas ao Oscar de Melhor Canção. Conhecida compositora de grandes baladas de vários gêneros, Diane já foi indicado a um total de onze vezes ao Oscar sem nunca ter vencido na categoria. Ao que parece, a compositora pode ter o seu momento de glória ao chegar a sua décima segunda indicação pela canção Lo Sì (Seen)/Seen (Lo Sì). 

Entoado pela italiana Laura Pausini, a canção, tema do filme The Life Ahead que marca o retorna da lendária atriz Sophia Loren, não é nem perto um dos melhores trabalhos da Diane Warren. Todavia, o ano não está sendo exatamente um bom celeiro de grandes competidores para a estatueta dourada já que Billie Eilish não tem chances devido ao não lançamento do novo filme do 007. Além disso, a canção tem as características básicas que a Academia adora premiar. Uma balada pop com uma carga sentimental forte e uma composição que não tem vergonha em querer sensibilizar quem escuta ao se encaixar perfeitamente com o filme que é tema. Gravada em vários idiomas, a versão que deve entrar na disputa deve ser a inglês, mas isso não altera o problema principal da canção: a sua produção um pouco entediante demais que parece que parece ter medo de meter o pé no acelerador e entregar uma power balad em toda a sua glória clichê. Felizmente, a performance elegante e sólida Laura consegue dar a emoção necessária para a canção. Espero de verdade que a canção dê o Oscar para Diane, pois a compositora merece pelo conjunto da obra. 
nota: 6,5

Um Acerto

Rainha da Favela
Ludmilla


Depois de tantas polêmicas pessoais que ficaram acima da sua carreira artística, Ludmilla parece que voltou a focar com mais clareza na música com o lançamento da sua melhor canção em muito tempo com Rainha da Favela. 

Rainha da Favela é uma direta e comercial funk pop que não reinventa a roda, mas é bastante divertida. Obviamente, não espero nenhuma poesia em forma de composição e por isso que vejo a letra do single como um eficiente trabalho que consegue entregar alguns momentos realmente interessantes. Ao exaltar a favela e, principalmente, a sua negritude misturando com frases de endeusamento da sua bunda, Ludmilla mostra que tem consciência do seu público e, ao mesmo tempo, do seu lugar perante o mainstream pop brasileiro. E isso é outro fator importante para Rainha da Favela: ter ramificações que vão além de ser apenas uma boa canção. Um acerto para a Ludmilla. 
nota: 7

19 de dezembro de 2020

Artista do Ano - Votação

É chegada a hora de decidir quem foi o maior Artista de 2020. Os indicados são: o reizinho do The Weeknd, a aclamada Fiona Apple, a arrasa quarteirão da Taylor Swift, o fenômeno do BTS e a nova rainha do comeback Lady GaGa. Votem!



18 de dezembro de 2020

Quase um Remix de Sucesso

Easy (feat. Kacey Musgraves & Mark Ronson)
Troye Sivan

Em um ano com tantos remixes lançados nada mais justo que terminar o ano com o lançamento de novos remixes. O caso mais recente é o da nova versão do single Easy do Troye Sivan com parceria com a Kacey Musgraves e produção do Mark Ronson. O mais curioso aqui é o fato da nova versão não melhorar a original e, também, não “piorar” o resultado final. 

Na minha resenha da canção original afirmei que “a canção possui as mesmas características da sonoridade do cantor: um indie pop com um forte flerte com dance-pop/dream pop. Dessa vez, porém, o resultado parece levemente deslocado do que normalmente Troye entrega. Provavelmente, a batida cadenciada mid-tempo é a responsável por essa sensação, pois o resultado final soa estranho e fora de lugar sonoramente”. A verão remix não altera drasticamente a instrumentalização de Easy, mas adiciona nuances interessantes devido a produção sempre encorpada de Ronson. Isso não altera drasticamente o resultado final, pois ainda causa certo estranhamento a sua batida levemente off. E apesar de serem dois cantores de talento, Troye e Kacey não tem quase nenhuma química que não ajuda a melhorar o resultado final, mas também passa longe de comprometerem a qualidade da canção. Acredito que a boa composição seja a cola que junta tudo e, principalmente, eleve Easy para um patamar um pouco mais alto que o poderia resultar. Simpática e sem maiores dissabores, a versão Easy passa no teste para ser considerada um bom remix. 
nota: 7

As Três Tenoras do Pop

Oh Santa! (featuring Ariana Grande & Jennifer Hudson)
Mariah Carey

Conhecida nos últimos anos como a nova mamãe Noel, Mariah Carey encontrou no Natal o seu nicho perfeito para se manter relevante comercialmente devido ao sucesso atemporal de All I Want for Christmas Is You. Entretanto, a cantora precisa mostrar certo “frescor” a todo para não cair na mesmice. Esse ano, a cantora escolheu lançar o especial Mariah Carey's Magical Christmas Special na Apple TV+ e como canção divulgação foi laçada a versão de Oh Santa! com a participação da Ariana Grande e da Jennifer Hudson. 

Lançada em 2010 como single de Merry Christmas II You, a nova versão não altera nada da instrumentalização R&B com verniz festivo/natalino da canção que não é tão icônica como All I Want for Christmas Is You, mas é um bom trabalho e perfeito para o período natalino. O grande destaque aqui é obviamente o encontro de três vocalistas poderosas. O resultado é longe do que a gente poderia esperar, mas, felizmente, não é um desastre total. Claro que o foco é para a Mariah, mas tanto a Jennifer quanto a Ariana ganham destaque em momentos que realmente mostram a qualidade vocal de cada uma. E mesmo não sendo usadas como deveriam, as duas convidadas colocam as suas marcas. Ouvir o poder vocal de Jennifer e a harmonização entre Mariah e Ariana com falsetes é um momento que vale a pena ouvir Oh Santa!. 
nota: 7

Para Quê?

Blinding Lights (with ROSALIA) - Remix
The Weeknd


Em um ano com vários remixes de canções que não são verdadeiramente remixes eis que surge uma que me pegou de surpresa: Blinding Lights do The Weeknd com participação da ROSALIA. Uma pena que a positividade vinda da surpreendente parceria não repetiu na qualidade do “remix”. 

Blinding Lights é uma música ótima essencialmente e não precisaria de nenhum remix para ganhar qualquer tipo de qualidade. A presença de Rosalia não atrapalha o resultado final, pois a sua iluminada presença dá um toque especial para a canção com a sua voz melódica e os versos em espanhol. O problema é que praticamente nada é alterado nesse remix sonoramente, deixando a grande pergunta no ar: para quê? Artisticamente, não há nada que justifique essa nova versão, ainda mais que a química dos dois artistas não parece algo suficientemente forte para justificar. Comercialmente, a canção volta a ter relevância nos streamings depois de tanto tempo do seu lançamento e logo após a esnobada gigantesca que levou do Grammy. Existe, porém, um momento que essa versão de Blinding Lights mostra realmente para que veio: a partir do terceiro minuto de duração, o instrumental é mudado drasticamente para combinar com a sonoridade de Rosalia, criando um momento de verdadeiro brilho ao combinar os dois envolvidos de forma real e orgânica. Se toda a canção fosse nessa mesma pegada, o remix de Blinding Lights seria um verdadeiro musicão. 
nota: 7

16 de dezembro de 2020

Revelação - Votação

É chegada a hora de decidir qual foi a maior Revelação de 2020. Seria a rapper sensação do momento Megan Thee Stallion? A dona de uma maiores hits do ano Doja Cat? O rapper fenômeno DaBaby? A sensação do k-pop BLACKPINK? Ou a ovacionada Rina Sawayama? Votem!

15 de dezembro de 2020

Criminosa Meia Boca

Bandida (feat. POCAH)
Pabllo Vittar


Apesar de ter enfrentado uma campanha rodeada de fake news e um caminhão de pessoas que torciam contra, a Pabllo Vittar consolidou a sua carreira como um dos maiores nomes pop da atualidade no Brasil. E é por isso que ver o relançamento de 111 em uma versão deluxe chegar ao topo dos streamings mundiais é uma vitória que precisa ser comemorada. Uma pena que a canção escolhida como single, a parceria com POCAH em Bandida, não é tão divertida como as outras canções do álbum. 

A canção é o que a Pabllo Vittar sabe fazer de melhor: uma mistura radiofônica de funk, brega e pop/electropop. Todavia, a produção não parece saber bem como equilibrar todos os elementos de uma forma a transformar a canção em uma metralhadora explosiva. É divertida, mas também é levemente apática em alguns momentos. Além disso, não parece existe uma química refinada entre Pabllo e a POCAH, deixando a canção ainda menos interessante que a gente poderia esperar. O grande mérito da canção é o usar o sample de Ai Como Eu Tô Bandida da MC Mayara que ajuda a canção a ter um carisma único. Mesmo não sendo o melhor que a Pabllo já entregou, Bandida deve encontrar um público fiel e, possivelmente, ser um hit maior que o esperado. 
nota: 6,5

Radiação Musical

GIRL LIKE ME
Black Eyed Peas & Shakira


Muitos falam que a perca de relevância e qualidade do Black Eyed Peas foi devido a saída da Fergie. Primeiramente, apesar de grandes sucessos, o grupo nunca foi exatamente conhecido pela sonoridade refinada. Em segundo, não importa quem está ao lado do agora trio, pois o momento deles passou faz um bom tempo. Isso fica bem nítido com a tenebrosa GIRL LIKE ME com a participação da Shakira. 

Ouvir o single do álbum Translation, lançado esse ano quase sem nenhuma repercussão, é como enfiar uma agulha bem dentro do ouvido. Nos dois lados para a desgraça ser comparável. Sinceramente, a Shakira sempre foi uma artista que manteve uma qualidade vocal sólida, apesar de um timbre que não agrada a todos. A sua participação em GIRL LIKE ME, porém, é um verdadeiro show de equívocos desde a sua interpretação estranha até as escolhas vocais terríveis, especialmente no odioso e insuportável refrão. E se isso não fosse digno de vergonha, a produção dividida entre o will.i.am e a própria Shakira entrega uma irritante tentativa de latinização do grupo em uma batida clichê, repetitiva e completamente rasa. E fechando da pior forma está a péssima composição que mistura inglês e espanhol canhestro dos integrantes do grupo em que o único momento de destaque é a citação da Anitta. E assim GIRL LIKE ME entra na disputa não da pior canção do ano e, sim, na dianteira da medalha de pior dessa década que se inicia. 
nota: 3,5

O Pop No Art Pop

On The Floor
Perfume Genius


Não importa o quanto arte uma canção pop pode ter se a mesma não tiver uma dose considerável de pop não há como a mesma ser considerada um trabalho de art pop. Em On The Floor, o cantor Perfume Genius mostra como fazer o equilíbrio perfeito para alcança tal nível de excelência. 

Segundo single do excelente Set My Heart on Fire Immediately, On The Floor é uma exuberante mistura de dance-pop/indie pop com uma adição precisa de funk e pitadas vigorosas de psychedelic pop. A mistura poderia desandar feio ao se deixar levar por qualquer tentação de dar mais força para algum lado da balança: mais pop teria se transformando em uma peça boa, mais plastificada, ou mais art teria se tornado uma obra pretenciosa ao extremo. Todavia, a maneira delicada e, ao mesmo tempo, segura da produção de Blake Mills consegue colocar esses fantasmas para escanteio em uma canção envolvente, sensual, inteligente, surpreendente e com uma instrumentalização madura. A ótima composição está a nessa mesma toada: apesar de ser um trabalho inteligente e poético, a temática sobre tentar de todas as formas esquecer aquela pessoa é algo que cria um veículo mais amplo, especialmente devido a construção lírica direta e sem muitas firulas. E por isso que On The Floor é um exemplo da genialidade que a arte pode trazer para o pop e o carisma que o pop pode trazer para a arte.
nota: 8,5

Renascimento de Uma Lenda

Show Them The Way
Stevie Nicks


Conhecida como um dos principais nomes femininos do rock de todos os tempos devido ao seu trabalho solo e como vocalista do Fleetwood Mac, Stevie Nicks termina 2020 com um novo sopro de vitalidade comercial na carreira devido ao sucesso viral de Dreams. E, para completar, depois de um hiato de seis anos, a cantora coroa esse ótimo momento com o lançamento da ótima Show Them The Way.

Show Them The Way é praticamente um conto que mistura fantasia com a realidade ao narrar os encontros de Stevie com nomes importantes da história política dos Estados Unidos enquanto a mesma faz a sua jornada de autoconhecimento. Baseado em um sonho que a cantora teve, a canção mostra bem o poder de uma contadora de história ao passar em uma composição um campo magnético que atrai quem escuta para a sua órbita. Com uma instrumentalização espetacular, Show Them The Way se torna uma poderosa, climática e old fashion rock que conta com a performance brilhante de uma verdadeira diva da música que exala mais personalidade em uma música que muitos em toda uma carreira nem chegaram perto de entregarem. Sem reinventar a roda, Stevie Nicks mostra que o talento sempre vence no final. 
nota: 8

13 de dezembro de 2020

Primeira Impressão

Plastic Hearts
Miley Cyrus



A Reinvenção de Miley Cyrus

Midnight Sky (Edge Of Midnight) (feat. Stevie Nicks)
Miley Cyrus

Vivendo o seu melhor momento artístico com a sua reinvenção surpreendente, Miley Cyrus continua seu auspicioso caminho com o lançamento do remix de Midnight Sky: Midnight Sky (Edge Of Midnight) é uma ótima e nostálgica mash up com a clássica Edge of Seventeen da Stevie Nicks. 

Sem soar forçada, a versão/remix é, provavelmente, a canção desse tipo que melhor consegue se sustentar por ser um passo orgânico em relação a versão original. Primeiramente, Midnight Sky tem samples de Edge of Seventeen que causa uma aproximação natural entre as duas canções. Em segundo, a canção mantém perfeitamente o espirito das duas canções sem fazer o clássico dos anos oitenta dominar ou ser deixado de lado ao ser usado apenas como uma isca. Na verdade, Midnight Sky parece ser completada com a adição de partes sonoras e líricas da canção de Stevie. E em terceiro e, provavelmente, o mais importante: a lendária cantora de rock realmente participa da canção ao regravar partes de Edge of Seventeen e gravar passagens de Midnight Sky. O encontro funciona com se fosse a união de velhas amigas em uma canção que une passado e o presente como um passar de tocha respeitoso, fluído e que ambas saem com maiores que entraram. 
nota: 8

A Reinvenção da Miley Cyrus: Segunda Parte

Prisoner (feat. Dua Pipa)
Miley Cyrus

Parece que é realmente oficial que a nova era da Miley Cyrus irá marcar a sua ascensão artística de forma definitiva. Depois da sensacional Midnight Sky e o seu remix tão bom quanto, a cantora se juntou com a Dua Lipa para entregar a excitante Prisoner. 

Confirmando que a persona roqueira é que dá os rumos para o álbum Plastic Hearts, Prisoner é uma envolvente, inteligente e lindamente produzida rock com forte e precisas pinceladas de post-disco. Conseguindo unir de forma eficaz as duas interpretes sem soar forçada, a canção mostra que Miley parece ter realmente encontrado o seu verdadeiro lugar sonoramente. A canção, porém, merece elogios não apenas sonoramente, mas, também, no quesito de saber dar espaço igual para as duas estrelas brilharem sem tirar o foco de quem é a dona de fato. Além disso, Miley entrega novamente outra performance vocal poderosa e com personalidade de sobra enquanto Dua faz a sua parte com louvor ao contrastar a colega com sua intepretação mais aveludada e sensual. O único problema da canção é a falta de um clímax poderoso para ser a base perfeita para encerrar a canção de forma grandiosa. Sem esse detalhe, Prisoner soa um pouco linear na sua parte final, deixando um gostinho levemente amargo. Entretanto, esse detalhe não impede do single continuar com louvor a jornada de reinvenção da Miley Cyrus.
nota: 8

11 de dezembro de 2020

Single do Ano - Votação Final

Chegada a hora da última disputa para decidir os finalistas de Single do Ano com a presença de dois grandes encontros femininos em 2020: Rain On Me da Lady GaGa com a Ariana Grade contra o encontro da Cardi B e a Megan Thee Stallion em WAP. Votem!



Velhas Coisas Sob o Sol

Let Me Reintroduce Myself
Gwen Stefani


Considerada um dos grandes nomes do alternativo que chega ao mainstream dos anos noventa e ter estourado como diva pop na metade da década retrasada, Gwen Stefani ainda sofre para se mostrar para a nova geração. Em Let Me Reintroduce Myself, a vocalista do No Doubt, tenta atrair um público nostálgico ao voltar para o passado e, ao mesmo tempo, atrair uma nova parcela de fãs. E ela quase acerta. 

Let Me Reintroduce Myself não é uma volta ao começo da sua carreira solo, mas, sim, um aceno direto a sonoridade que fazia com o No Doubt ao ser uma gostosinha, divertida e carismática mistura de reaggae, ska e pop. É o tipo de canção que quem conhece um pouco da história da cantora irá dar um sorriso verdadeiro e, possivelmente, lembrar de bons tempos. Para aqueles que não a conhecem dessa época ou nem sabia que Gwen foi uma diva alternativa não há muitas possibilidades de ser atraído, mas pode ser envolvido devido a surpresa da sonoridade. O problema da canção é a sua obvia e pouco inspirada composição que não tem a criatividade suficiente para brincar com o fato de ser uma canção comeback e, ao mesmo tempo, contradizer essa afirmação ao mostrar que Gwen continua a mesma de sempre. Perdida tematicamente, mas com uma boa ideia na cabeça, a nova era da Gwen Stefani pode ser algo realmente interessante. 
nota: 6,5

A Glória do Acaso

Plastic Love
CHAI


Nem sempre é fácil procurar conteúdo para escrever aqui no blog, pois, apesar de dezenas de lançamentos todo o dia, é preciso fazer uma filtragem para ter um equilíbrio entre artistas comerciais, novatos e aqueles nichados. E em uma dessas minhas pesquisas voltei a minha atenção para a banda japonesa CHAI. Desde que a banda feminina esteve aqui com o divertido álbum Punk no ano passado não tinha ouvido nada delas até o momento que me deparei com o ótimo single Plastic Love. Entretanto, ao procurar mais informações sobre o lançamento descobri que a canção é um cover de uma artista famosa no Japão e que virou um viral em 2017 devido ao remix postado no YouTube. E, queridos leitores, essa descoberta é algo que serei grato por muito tempo.

Lançada originalmente por Mariya Takeuchim, Plastic Love, apesar de não ter sido sucesso na época, foi parte de dois movimentos importantes da cultura musical japonesa chamados j-pop e city pop. Ambos eram a inclusão de elementos e gêneros ocidentais na construção da sonoridade das canções no Japão, sendo esse primeiro influenciado primeiramente pelos grandes nomes do pop como, por exemplo, os Beatles e o segundo é um subgênero com alcance mais regional e tendo como referência gêneros dos anos setenta e oitenta como disco, funk, soft rock e vários outros. Mesmo sendo um grande nome da música no Japão com vários sucessos nacionais, Mariya só viu Plastic Love virar um hit internacional quando em 2017 essa mistura de disco e funk deliciosamente romântica e envolvente se tornou uma queridinha ao ser descoberta devido um vídeo postado no YouTube. E por causa do sucesso é obvio que a canção ganhou alguns covers e é então que surge o CHAI que regravou a canção esse ano. E essa versão da banda pode não ser tão boa como a original, mas, felizmente, é um trabalho divertido, respeitoso a sua forma original e com personalidade própria. 

Nas mãos do CHAI, Plastic Love se torna uma estranhamente fofa, divertida e atemporal mistura de city pop com pop punk que consegue expressar de forma integra o seu material de inspiração e a personalidade única da banda. Algumas diferenças na estrutura da canção ajudam a versão a ter uma cara nova sem descaracterizar o que a canção tem de melhor: a sensação de nostalgia de estar vivendo na década de oitenta através de óculos cor de rosa. Diferenciar as duas versões é como ouvir o tema de um anime japonês que, depois de muitos anos, foi reformulado para atender os fãs antigos e conquistar um novo público. Solar, despretensiosa e radiante, a versão de Plastic Love do CHAI dá uma envernizada bem vida para uma canção que precisa descoberta por mais pessoas que assim como eu não conhecia essa pérola vinda da terra do Sol. 
nota: 8

De Volta Para o Passado

Man's World
MARINA

Curioso entender o momento da carreira da Marina (ex and the Diamonds) que depois de se aventurar em novas sonoridades no álbum Love + Fear e receber uma tonelada de críticas bem negativas do seu público, a mesma resolveu voltar ao passado ao resgatar a sonoridade que mais pareceu agradar os seus fãs. Em Man's World, primeiro single do seu quinto trabalho, Marina retoma quase o mesmo caminho que no seu adorado álbum Froot

Sinceramente, não sou fã do álbum Froot e, provavelmente, por isso acho Man's World apenas um pouco melhor que a média. Não existe nada de errado de verdade com a canção, mas, assim como a era “frutada” de Marina, percebo a canção com um indie pop/pop alternativo que fica na beirada exata entre ser pretencioso e descolado. Sem pender para nenhum lado, Man's World carece de personalidade que o distingue de outros trabalhos do mesmo estilo, mesmo que a produção instrumental seja impressionante. E deve ser por causa dessa característica que a canção consegue ficar acima de média. A sua composição tem um tom urgente e pertinente em relação ao que vivemos como sociedade que poderia ser mais impactante se não fosse os deslizes cafonas como, por exemplo, "Cheeks are rosy like a Boucher cherub/ I'm a strawberry soda". Felizmente, a bela e madura performance de Marina acerta algumas pontas soltas, deixando a canção com um verniz de personalidade superficial, mas bem vindo. Espero que a cantora não embargue em apenas agradar os fãs e possa entregar algo realmente maduro sonoramente. 
nota: 7

O Quase Último Hit

Savage Love (Laxed - Siren Beat)
Jawsh 685 & Jason Derulo

Com o quase banimento do Tik Tok dos Estados Unidos também seria extinto todo um subgênero musical: as canções virais do Tik Tok. O seu último provável grande hit é a horrível Savage Love (Laxed - Siren Beat) do DJ neozelandês Jawsh 685 que foi "apropriado" pelo Jason Derulo.

Lançada apenas instrumentalmente pelo DJ Jawsh 685, a canção viralizou através de desafios de dança no Tik Tok. Vendo o sucesso, Jason Derulo resolveu “roubar” a canção e lançar um remix com os seus vocais sem autorização do criador. Depois de lutar pelo direito legitimo da sua música, Jawsh 685 aceitou o remix, mas na condição que o mesmo tivesse controle da sua criação. Uma pena que Savage Love (Laxed - Siren Beat) não é algo que possa ser chamado de um orgulho artístico. Repetitiva, linear e nada excitante, a canção pode até carregar as origens do DJ que é descendentes de nativos da Samoa, mas a construção da canção não consegue der traduzida de forma tranquila para gêneros populares que nesse caso transita entre o dancehall e reaggaeton. O pior na versão remix é a composição que Jason colocou na instrumentalização: fraca, pobre e sem nenhuma graça. O remix ganhou um remix com a participação do BTS não altera em nada o resultado final, deixando claro que a presença da boy band coreana foi apenas para atrair mais público. Espero que os próximos sucessos virais saídos do Tik Tok sejam melhores que essa bomba, pois se continuar assim é melhor ter fechado com o aplicativo de vez. 
nota 
Versão original, remix e com o BTS: 4,5

8 de dezembro de 2020

Primeira Impressão

Positions
Ariana Grande


Matemática Errada

34+35
Ariana Grande


Falar sobre sexo, especialmente visto do ponto feminino, deveria ser cada vez mais natural e livre de preconceitos. E é por isso que vejo 34+35 como um verdadeiro resultado de um avanço que vem ao longo das décadas. O problema do single da Ariana Grande é que a canção não funciona em nenhum aspecto. 

Parte do mediano Positions, 34+35 repete as mesmas características da sonoridade de Ariana ao ser um R&B/pop low-profile, mas com uma produção apática, sem graça e pouco interessante. É como ver um o reflexo de um espelho embaçado. Só que a grande pedra em 34+35 é a sua letra: apesar de não ter medo de falar sobre sexo (para quem não entendeu: a soma do título é 69), a construção da mesma é de uma forma rasa, boba e que não sabe se quer ser explicita ou ser metafórica, deixando tudo esquisito e com um toque de vergonha alheia. O que salva 34+35 de não ser um desastre total é o carisma de Ariana e a sua performance segura e com personalidade. Entretanto, isso não salva a canção de ser o seu pior trabalho até o momento. 
nota: 5

6 de dezembro de 2020

Single do Ano - Votação 4

A penúltima disputa de classificação de Single do Ano será entre o sucesso que revelou Roddy Ricch em ROCKSTAR com participação do DaBaby contra o outro sucesso da Ariana Grande com Positions. Votem!

Top 75 Singles - Parte I

Apesar de um ano tão difícil e trágico em vários sentidos, 2020 pode ser olhado como sendo um dos melhores anos em relação a qualidade da indústria fonográfica. Tanto que o tradicional Top 50 virou Top 75 para poder abranger com mais sucesso os melhores singles lançados esse ano. E sem mais demora, vamos a primeira parte do especial.


Encontros Triunfantes

Vênus Em Escorpião
Gaby Amarantos & Ney Matogrosso & Urias

De tempos em tempos sempre aparece uma parceria entre artistas que a gente coça a cabeça e se pergunta: “como isso foi acontecer?”. A mais nova a entrar nessa categoria é a união da Gaby Amarantos, a novata Urias e a lenda Ney Matogrosso em Vênus Em Escorpião. Felizmente, depois de ouvir a canção o ponto de interrogação na cabeça se torna um maravilhoso ponto de exclamação de felicidade. 

Vênus Em Escorpião é uma surpreendente mistura de tecnobrega, tecnomelody, electropop e dance pop que na teoria não deveria funcionar. Na prática, porém, o resultado é uma excitante, classuda e ousada canção que consegue conquistar aqueles que podem ter algum tipo de problema com estilos nacionais, não apenas pela inclusão de gêneros gringos, mas, principalmente, devido a inteligência na produção em valorizar a sua brasilidade. Entretanto, o que dá liga de verdade para a canção são as presenças magistrais dos três envolvidos, mostrando uma química perfeita, ótima divisão e personalidade individual. Em especial, ouvir a força vocal de Ney é algo que as novas gerações deveriam descobrir. O único problema da canção é a sua composição que apesar de carismática e bem pensada faltou encorpar com mais versos diferentes. De qualquer forma, Vênus Em Escorpião prova que até mesmo os encontros improváveis podem ser grandes momentos quando há talento envolvido. 
nota: 8

Híbrido Brazuca

Racha
Urias


Elevada a ser uma das divas da música queer alternativa no Brasil, a cantora Urias é, provavelmente, um dos nomes mais peculiares da nova safra do pop brasileiro. Depois do sucesso da emblemática de Diaba no  ano passado, a cantora lançou a interessante Racha que comprova essa áurea de nova diva alternativa pop em uma canção explosiva. 

Definir a sonoridade da cantora e, por consequência, do single é necessário usar a imaginação ao criar um híbrido entre a Charli XCX com a DJ Sophie e toques da FKA Twigs com um verniz bem brasileiro. Racha é um indie pop com pinceladas de industrial, trap e electropop que apresenta uma produção madura, encorpada e surpreendentemente cheia de nuances que, normalmente, o pop brasileiro não está acostumado a presenciar. Energética, sombria e com uma batida pesadona, o single passa longe do popular e radiofônico da Pabllo Vittar (curiosidade: ambas são amigas de longa data). Isso não tira nenhum mérito da canção ou de Urias, pois ajuda a artista a ter personalidade única como fica claro na maneira de cantar Racha, misturando rap, declamar com cantar em si. Liricamente, a canção poderia ter mais força, mas a construção aqui é simples, direta e poderosa que combina muito bem com a produção. E que assim vai crescendo o alcance e variedade de artistas queers a alcançarem lugares que são seus de direito. 
nota: 8

1 de dezembro de 2020

Single do Ano - Votação 3

A terceira disputa para Single do Ano será entre dois sucessos virais saídos do Tik Tok: de um lado a versão remix de Savage Love (Laxed - Siren Beat) do DJ Jawsh 685 em parceria com Jason Derulo contra The Box do rapper Roddy Ricch. Votem!



A Genialidade Invisível

Pick Up Your Feelings
Jazmine Sullivan

Sempre irei ressaltar que sucesso não é sinônimo de qualidade e vice-versa, pois assim é explicado o quanto de canções ruins fazem sucesso comercial com escalas gigantescas. E, obviamente, o contrário também é verdadeiro, pois apenas assim explica que uma cantora do nível da Jazmine Sullivan não estar nos topos das paradas. Novamente, a cantora comprava o seu imenso talento com o lançamento de Pick Up Your Feelings. 

Depois da densa Lost One que puxava para o blues e o soul, Pick Up Your Feelings é uma tradicional e direta R&B, mas que não perde nada em qualidade. Com uma produção encorpada e que sabe com dar força para uma batida que poderia cair no clichê ao incrementar a instrumentalização com nuances e camadas bem pensadas, a canção tem na presença magnânima, carismática e poderosa de Jazmine que carrega a canção com um toque cool misturado com uma pitada ácida elegante e divertida. E essa interpretação deve-se a ótima composição sobre pisar na ferida do ex boy lixo para o mesmo nunca esquecer da “mulherzona” da po$%a que deixou para trás. Inteligente e cheias de passagens hilárias e/ou poderosas, Pick Up Your Feelings é exemplo clássico que a qualidade é mais importante que o sucesso no final das contas para quem realmente gosta de música.
nota: 8



Aposta Certa

HOLIDAY
Lil Nas X


Depois de assolar o mundo com o monumental sucesso de Old Town Road e seus duzentos remixes, Lil Nas X se prepara para o seu maior desafio com o lançamento do seu primeiro álbum e como primeiro single foi lançado HOLIDAY. E a surpresa é que talvez a aposta o rapper possa ter sido acertada. 

Acredito que a frase que melhor definição da canção tenha saído de um verso da letra em que o rapper diz “Pop star, but the rappers still respect me”. Mesmo sendo um rapper, Lil Nas X entrega em HOLIDAY uma divertida, dançante e com personalidade rap pop com uma batida que transita entre esses dois mundos de forma natural. Não é genial, mas a canção tem um carisma tirado da persona de Lil Nas X que remete diretamente a ícones pop em que às vezes o grande atrativo é a própria presença do artista. A composição poderia ser melhor em termos criativos, mas isso não impede de entregar momentos inspirado, especialmente aqueles que fazer referências pop e os que discutem de forma inteligente a sexualidade do rapper. Agora é esperar para ver ser essa suspeita de Lil Nas X ser realmente um artista para ser levado a sério seja esclarecida com o lançamento do álbum. 
nota: 7

New Faces Apresenta: Tate McRae

You Broke Me First
Tate McRae

Sempre que um artista estourar com uma sonoridade ou/estilo que seja bastante único começa uma tendência de surgir novos artistas que surfam nessa onda ao caminharem artisticamente na mesma pegada. Na esteira da Billie Eilish está o despontar da canadense Tate McRae que tem em You Broke Me First o seu vislumbre de sucesso. 

Apesar de ter formação de dançarina, a jovem de apenas dezessete anos foi descoberta por uma gravadora após postar vídeos no YouTube. Com um EP já lançado, a cantora vem encontrado no desempenho comercial de You Broke Me First a porta ideal para começar a escalar os degraus que a sua contemporâneo vem desbravando nos últimos tempos. E a comparação é justa, pois o single é talhado para emoldurar o pop low-profile indie/eletrônico de sucessos como Bad Guy e Everything I Wanted. E, apesar de não ser uma cação ruim, a música é uma cópia bege e pouco inspirada da sonoridade bem pensada e ousada construída pelo Finneas O'Connell. You Broke Me First é uma baladinha pop com toques de indie pop que não passa exatamente a emoção ou excitação que poderia ser a liga que elevaria o resultado final. Se sonoramente a canção não chega a empolgar existe um ponto positivo: a voz de Tate McRae. Completamente diferente do timbre de Billie e com uma forma de interpretar segura, a jovem apresenta uma possibilidade de crescer como cantora e, principalmente, dona de personalidade própria. O precisa agora é encontrar o seu caminho e, quem sabe, navegar a onda criada por ela. 
nota: 6,5

Billie, A Marota

Therefore I Am
Billie Eilish

Entender exatamente o motivo do sucesso da Billie Eilish por completo é algo que ainda preciso de uma reflexão mais profunda, mas é necessário reconhecer que a jovem vem crescendo artisticamente em um ritmo que nunca presenciei. Depois da interessante my future, a jovem lançou a ótima Therefore I Am. 


Na resenha anterior já tinha falado sobre o talento e a importância de Finneas O'Connell para a sonoridade da cantora e, apesar de continuar importante para o resultado final em Therefore I Am, o grande destaque é para a performance de Billie. Continuando o estilo de quase declamar, a cantora entrega nuances e uma interpretação ácida, engraçada e cheia de personalidade para a canção, deixando claro que é dona de uma caixa de surpresas vocalmente. Acredito que a maneira como Billie encara a interpretação é responsável por boa parte da qualidade da mesma, mas isso não impede que outros pontos possam brilhar. O primeiro deles é a ótima e inteligente composição que se usa de uma frase célebre (penso, logo existo do filósofo René Descartes) para construir um ótimo hino sobre levantar o dedo para os haters e não dar bola para as críticas. A produção também é outro acerto ao dar uma atmosfera de galhofa para uma electropop/indie pop que tem a pegada básica da sonoridade da cantora, mas parece se dar espaço para explorar brincadeiras. O único ponto negativo é o seu clímax final que poderia ser bem maior e explosivo, pois a produção parece seguir esse caminho de expectativa durante toda a canção. Isso não tira o brilho de Therefore I Am de ser um trabalho sensacional de um artista que ainda continua sendo um certo mistério. 
nota: 8

27 de novembro de 2020

Lady Rina GaGa Sawayama

Lucid
Rina Sawayama



Dona de uma das melhores trajetórias em 2020, Rina Sawayama ainda não atingiu infelizmente um público mais mainstream dentro do pop. Nem sei se essa é intenção, mas o lançamento de Lucid parece apontar para essa direção ao mirar diretamente a sonoridade da Lady GaGa. 

Não acredito que a ideia tenha sido fazer uma canção da GaGa na voz de Rina, mas a produção também não tenta ocultar muita coisa ao ser construída por BloodPop, responsável por dar forma ao Chromatica. Felizmente, Lucid é uma boa “cópia”, pois consegue ser melhor que várias faixas do álbum da GaGa. Isso se deve especialmente devido ao carisma e refrescância que a presença de Rina causa no comando da canção. Um bom e dançante dance-pop/electropop, o single que marca o começo dos trabalhos do lançamento da versão delux do debut de Rina, a canção caí em alguns momentos no lugar comum em uma batida farofa. Todavia, as nuances e o ótimo refrão salvam a canção inteira de ser apenas genérica para uma ser deliciosamente genérica. Espero que em algum momento um público maior possa descobrir a Rina Sawayama por seus méritos e, principalmente, a mesma não desça mais em qualidade apenas para agradar. 
nota: 7,5

Respingos

Monster
Shawn Mendes & Justin Bieber

Sinceramente, eu tento ver o lado bom da carreira do Justin Bieber, mas o canadense não parece colaborar com a minha vida. Depois de reclamar de barriga cheia no seu próprio single, o cantor resolveu respingar o seu white people problem na canção Monster do Shawn Mendes.


Sonoramente, Monster é a música mais ousada da carreira dos dois artistas ao ser uma sólida pop/pop rock com toques R&B que parece mostrar evolução da carreira de Shawn. Faltou, porém, um aprofundamento das ideias para dar mais corpo a batida, mas é necessário elogiar a produção Frank Dukes. O grande problema aqui é a composição que poderia ser ótima, mas acaba ressoando aquela sensação de ouvir os dois artistas reclamando de barrida cheia. Dessa vez, porém, o resultado final é melhor que a canção solo do Justin, pois parece mais sincera e original. Todavia, o verso de Bieber repete exatamente os mesmos erros que em Lonely a ser um desabafo raso, vitimista e reclamão. Sem grandes performances dos envolvidos, mas segurando a onda bem no resultado final, Monster poderia ser melhor se não tivesse sido respingado por erros herdados de outra canção. 
nota: 7