22 de abril de 2020

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

La vita nuova
Christine and the Queens


Um dos adjetivos que gosto de utilizar para elogiar um trabalho é elegante, pois o mesmo abrange vários significados como, por exemplo, requintado, fino, harmônico, leve e nobre. E, por isso, denominar um trabalho como puramente elegante é, provavelmente, um dos maiores elogios que eu possa fazer. E essa é melhor definição do ótimo EP La vita nuova da francesa Christine and the Queens.

La vita nuova, parte de um projeto áudio/visual, é um trabalho que quebra qualquer expectativa em poucos segundos ouvindo já a primeira faixa. People, I've been sad é uma triste, melódica e cadenciada electropop que é elevado a um nível diferente devido ao seu requintamento poético. Por ser um trabalho essencialmente electropop, a esperança é que o mesmo seja feito para cantar a plenos pulmões enquanto faz dancinha da pista. Ledo engano, pois Christine and the Queens quer mesmo é sofrer por amores tóxicos, paixões melancólicas e corações estraçalhados. Tudo isso é construído em letras adultas, desconcertantemente diretas, poeticamente refinadas e com um senso estético impressionante. Esse último requisito é principalmente visto na escolha de cantar em três línguas diferentes: o francês, língua materna da cantora, o inglês e o italiano. 

Equilibrando as três ao longo do EP, Christine consegue saber se utilizar do melhor de cada uma das três línguas para melhor expressar os complexos sentimentos expostos em cada canção. E, por essa qualidade, Je disparais dans tes bras se transforma na melhor canção do EP. Uma crônica sobre um relacionamento tóxico que tem o seu significado amplificado devido a sonoridade da língua francesa, elevando o seu poder a outro patamar. Essa importância da escolha da língua fica bem claro ao ouvir ao final do EP a versão em inglês da canção: I disappear in your arms tem o arranjo, vibe e uma composição inspirada, mas algo de importante se perde na tradução. Apesar de contar muito para o resultado final, as composições não são a principal base de La vita nuova.

Como dito anteriormente, o EP é um trabalho de electropop que consegue ser sonoramente bem mais profundo, rico e elegante que a média dos trabalhos do mesmo estilo. Existe um cuidado em dar substância e personalidade para cada canção sem ter medo de seguir um caminho que aproxima a sonoridade de um indie pop/art pop emoldurado em um verniz emotivo e triste. E isso está estampando da delicada Mountains (we met). Com um leve toque R&B, a faixa tem uma instrumentalização que começa simples e vai ganhando camadas em uma instrumentalização etérea e bastante cadenciada. O tropeço do álbum é Nada que, mesmo sendo um trabalho acima da média, perde pontos devido a sua composição não tão inspirada como as outras faixas. O que dá para elogiar sem problemas é a performance inusitada, contida, sensual e reconfortante de Christine que se coloca como uma cantora de uma requintamento preciso e uma personalidade distinta. O álbum chega na sua parte final com sensual, mundana e romântica faixa que dá nome ao EP: La vita nuova é cantada em italiano e em inglês com a presença da primorosa Caroline Polachek. Com apenas seis faixas e uma elegância atemporal, Christine and the Queens um verdadeiro desfile de alta costura em forma de música.
notas
People, I've been sad: 8
Je disparais dans tes bras: 8,5
Mountains (we met): 8
Nada: 7,5
La vita nuova (feat. Caroline Polachek): 8
I disappear in your arms: 8
Média Geral: 8

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