30 de abril de 2019

O Cristal Quebrou?

ME! (feat. Brendon Urie of Panic! At The Disco)
Taylor Swift

Nunca fui exatamente fã da Taylor, mas sempre admiti que a jovem cantora fez uma transição do country para o pop de forma exemplar e conseguiu alcançar um padrão pop da sua maneira. E admito que gostei do seu último álbum com algumas ressalvas. Então, esperei que pudesse gostar de verdade do primeiro single do seu próximo álbum, mas a Taylor resolveu fazer de ME! uma aposta arriscada que, infelizmente, não parece ter dado certo.

ME! consegue ser ao mesmo tempo uma canção com cara da Taylor e um trabalho que não parece com a cantora. Na verdade, a canção soa mais como alguém tentando imitar o estilo de Taylor e falhando em quase todos os aspectos. Começa pela sua maçante, mal realizada e genérica produção que tenta juntar o electropop clean que a cantora construiu ao longo dos últimos anos com uma batida bubblegum pop, resultando em uma quase aberração sonora que não funciona para nenhum lado. E o pior: ME! é dona do pior refrão que Taylor já cantou até ao momento. Irritante e liricamente pobre, o refrão parece que saiu de uma outra canção e caiu de paraquedas em ME!. O resto da composição em si também não é lá grandes coisa, apresentando apenas relances da qualidade lirica que o público já tinha acostumado da cantora. A única coisa realmente boa é a decisão de ter chamado Brendon Urie para participar, mas, infelizmente, os dois cantores têm um total de zero em química. Agora é esperar pelos novos lançamentos para descobrir que se o cristal da Taylor quebrou de fato ou ME! é apenas uma pequena rachadora.
nota: 5

29 de abril de 2019

A Maravilha de Ver um Homem Sofrer

Paris
Baco Exu do Blues

O título dessa resenha pode soar bem estranho: como assim é bom ver alguém sofrer? Primeiro, não é ver alguém e, sim, um homem sofrer. E não é bom como prazeroso, mas como revigorante que existam homens que deixam a máscara do machão cair para poderem serem vistos como passíveis de sentir emoções e sentimentos que parte da sociedade abomina em homens. É melhor explicar através do ótimo single Paris do rapper Baco Exu do Blues.

Dono de um dos melhores álbuns do ano passado, Baco é representante de uma nova geração de homens que não tem nenhum medo de exibirem de forma clara os seus sentimentos. Em especial, aqueles que vão contra a construção da chamada masculinidade perante parte da nossa sociedade como, por exemplo, tristeza, melancolia e depressão. E é exatamente sobre essa terceira que o ótimo single Paris discorre ao narrar de forma sóbria, tocante, sincera e com sobriedade que não anula a parte sentimental da canção. Narrando o fim de um relacionamento que gerou muita dor para o rapper e até mesmo pensamentos suicidas, Paris é um exemplo de trabalho feito para ajudar a combater a masculinidade tóxica sem necessariamente falar sobre o assunto. Sonoramente, a canção é outro acerto de Baco ao ser uma envolvente e bem trabalhada mistura de hip hop com soul/R&B, apresentando ideias interessante como um diálogo em francês em vários momentos. Obviamente, qualquer um que esteja sofrendo precisa procurar ajuda especializada, mas poder ver homens tendo a coragem de expressar para todos sentimentos que eram escondidos para debaixo do tapete é um momento realmente de uma beleza rara.
nota: 8

28 de abril de 2019

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

THE LOVE TRAIN
Meghan Trainor


Coisas de 2019

Old Town Road
Old Town Road (feat. Billy Ray Cyrus) [Remix]
Lil Nas X

Se 2019 já não tivesse estranho o suficiente eis que surge o aparecimento do que pode ser o maior sucesso do ano na figura do rapper Lil Nas X e o seu country rap Old Town Road. E para acrescentar mais estranhamento é o fato que o remix da canção que ajudou a leva-la ao topo da Billboard é com a presença de Billy Ray Cyrus, pai da Miley Cyrus. A cereja em cima fica por conta da constatação que, apesar dos pesares, Old Town Road é uma boa canção.

Lançada por Lil Nas X de forma independente no final do passado após Lil Nas X comprar a batida de um DJ dinamarquês que, por sua vez, sampelou a mesma de uma canção da banda  Nine Inch Nails, a canção gerou um burburinho tão grande que rapidamente uma grande assinou com o rapper para lançar a canção de forma oficial. E não demorou muito para que a canção começasse a gerar ainda mais barulho, principalmente depois de ter sido barrada de alcançar o topo da parada country da Billboard ao ser "acusada" de não ser country o suficiente. Para burlar esse obstáculo, Old Town Road ganhou um remix com participação de Billy Ray. Essa manobra ajudou a canção a ganhar ainda mais destaque, impulsionando-a a conquistar o primeiro lugar geral da Billboard e tornando-se apenas a quinta canção country ao alcançar tal feito desde o começo dos anos oitenta. Além disso, Old Town Road é a quinta menor canção ao fazer tal feito e a menor desde 1965. Se já não bastasse todo esse backgroundOld Town Road é, como já dito, uma boa canção. 


Uma das principais qualidades Old Town Road é saber equilibrar perfeitamente o seu lado country e o seu hip hop, criando um híbrido refinado, autentico e inspirado. Não é algo revolucionário, mas a sua madura instrumentalização e a inteligência da produção é algo que deverá abrir um novo caminho para outros artistas em buscarem novas maneiras de explorar estilos que normalmente não parecem combinarem. O grande problema da canção, porém, é uma das suas características principais: a rápida duração. No momento em que a canção parece que vai decolar de fato, o clímax é interrompido de forma abrupta e bem broxante. Esse problema é melhor trabalhado na versão remix que, na verdade, apenas é a mesma canção adicionando os versos de Billy. Com a presença do cantor, Old Town Road ganha um corpo melhor formado, mas não perde completamente a sensação de ser uma canção que poderia render mais. Liricamente, a canção é sobre realmente aproveitar a vida, principalmente se você for um milionário e viver na "roça". Mesmo com essa temática nada original, a canção tem um charme todo seu que ajuda a criar uma áurea em torno da canção. Um trabalho inesperadamente elogiável. E assim 2019 vai construindo a sua história para o futuro.
notas
Old Town Road: 7
Old Town Road (feat. Billy Ray Cyrus) [Remix]: 7,5

24 de abril de 2019

Coisas de Madonna

Medellín
Madonna & Maluma

A essa altura do campeonato não tenho a menor dúvidas que a Madonna está pouco se fudendo para qualquer opinião que qualquer um possa ter em relação a sua carreira, não importando se for positiva ou negativa. Entretanto, eis que a cantora resolver mandar um "bom dia mundo, boa tarde Portugal" e botar a cara no sol para lançar o seu décimo quarto álbum da carreira. Intitulado Madame X, o álbum promete outra mudança sonora na carreira, provavelmente tendo fortes inspirações de latin pop, fado e outros gêneros "globais". Isso fica claro com o lançamento do primeiro single, a parceria com a Maluma em Medellín.

A melhor definição que possa dar em uma única palavra para Medellín é montanha-russa. Ouvir a canção com quase cinco minutos de duração é um verdadeiro jogo de quente ou frio em que fiquei pensando "acho que estou gostado" para depois pensar "isso não está legal" e logo em seguida acreditar que era "interessante" para depois concluir que "isso é bem ruim", mas também achar que "tem potencial". E, sinceramente, ainda não cheguei ao uma conclusão definitiva, mas consigo ter alguns insightsMedellín não é a pior canção da carreira da cantora e nem chegar perto da ruindade de outros lançamentos que tinham parcerias masculinas como, por exemplo, a esquecível 4 Minutes ao lado do Timberlake. Entretanto, a nova canção comprova que a Rainha do Pop não funciona perfeitamente ao lado de um outro artista masculino. E pior: Maluma quase rouba todos os holofotes da cantora. Carismático e participando de uma quantidade bem maior que o ideal, o colombiano está bem mais a vontade nesse latin pop/reggaeton mid-tempo. Apesar de cumprir o seu papel razoavelmente bem, a cantora soa meio perdida vocalmente, principalmente devido a produção vocal equivocada que quase a enterra em auto-tunes. Co-produzindo a canção ao lado do francês Mirwais, Madge tem uma visão até instigante para Medellín que, infelizmente, não parece ter sido alcançada plenamente. Parece que a canção é feita de retalhos bons sonoros que não chegam a formar uma colcha inteira, mas é suficiente para sustentar a produção em pé. Entre altos e baixos, o que posso concluir sobre a nova era da Madonna é que a mesma está se lixando para o que o vai ser falado, pois a mesma vai entregar o que realmente quiser sem ter nada a dever para ninguém. Imagina para alguém como eu.
nota: 6,5

A Falta da Cereja

Thinkin Bout You
Ciara

Prestes a lançar o seu novo álbum, a Ciara tem em mãos um single ideal para alguém que não fosse a Ciara. 

Thinkin Bout You é uma eficiente e, sinceramente, empolgante mistura de dance-pop com R&B com toques de EDM que consegue ser sexy, leve e bastante divertida. O problema é que a Ciara é conhecidamente dona de uma voz limitada e um timbre que pode soar um pouco irritante dependendo de como a mesma emposta certas notas. E em Thinkin Bout You, a cantora não tem o instrumento necessário para segurar uma canção com esse tipo de pegada, apesar de se esforçar ao máximo. Devido a esse problema é que a canção perde a oportunidade de ser um musicão. Se fosse, por exemplo, na voz de uma Jennifer Hudson, por exemplo, o resultado seria um acerto do começo ao fim.
nota: 7


23 de abril de 2019

Um Novo Mergulho no Desconhecido

Downhill Lullaby
Sky Ferreira


Recentemente escrevi sobre um mergulho no desconhecido ao resenhar uma canção de um artista que até o momento não tinha escutada absolutamente nada, apesar do mesmo já ser conhecido. Então, acredito que gostei de fazer algo assim, pois eis que estou aqui de novo para falar sobre uma artista que só tinha ouvido falar e, novamente, dar essa chance ao desconhecido. A vez agora é da cantora  Sky Ferreira.

Preparando o lançamento do seu segundo álbum ainda para esse ano, Sky Ferreira é uma incógnita para ainda para mim, mas apenas ouvido Downhill Lullaby começo a acreditar que esse é um mistério que quero desvendar. O single é impactante e penetrante trabalho de rock alternativo mistura com inteligência com art rock e toques surpreendentes de dream pop, criando uma canção sombria, pesada e com uma pegada de adulta. Nada de caminhos fáceis ou soluções previsíveis, Downhill Lullaby e os seus mais de cinco minutos e meio fazem o público entrar em uma espiral sufocante e de uma atração irresistível, principalmente devido a sua difícil digestão. Acredito que parte do sucesso da produção é o fato da canção apresentar uma completa, robusta e impressionante instrumentalização. Com uma composição deliberadamente simples e direta, mas com um cuidado quase cirúrgico de escolher cada palavra de forma extraordinária, Downhill Lullaby poderia ter uma produção vocal um pouquinho diferente, pois, apesar de acertar no estilo quase em off, deixa a cantora em segundo plano. De qualquer forma, a canção é um perfeito portal para começar a mergulhar nesse desconhecido chamado Sky Ferreira.
nota: 8,5

22 de abril de 2019

2 Por 1 - MARINA

Orange Trees
Superstar
MARINA

Existe uma cultura de pensamento que diz que a gente precisa estar aberto para as mudanças nas nossas vidas. Acho válido esse pensamento de forma geral, mas o que não acho válido é o fato que nunca é dito sobre as consequências dessas mudanças podem causar. Infelizmente, essas consequências estão atingindo os novos trabalhos da MARINA, ex The Diamonds, que não estão recebendo uma boa acolhida por parte do público. E acredito que isso seja algo bem injusto.

Lançadas como segundo e terceiro singles do trabalho Love + FearOrange Trees e Superstar não são canções geniais, mas apresentam ótimos atributos novo e, claro, já conhecidos da cantora. Com uma pegada solar e um toque de latin music, Orange Trees é um dance-pop delicinha que tem como melhor característica a sua despretensão. Curtindo a vida sob a sobre de um pé de laranja e sem pensar em mais nada que apenas curtir a brisa fresca, MARINa entrega o tipo de canção que não deveria ser motivo para acharem que a cantora não está entregando canções boas ou que esteja perdendo a sua personalidade. A única questão é que a canção mão tem a mesma seriedade que o trabalho anterior da cantora apresentava. E, para aqueles com saudade de uma MARINA mais clássica, Superstar está para aí para agradar esse público ao ser uma elegante e refinada indie pop/electropop. Com uma composição interessante e que, felizmente, não parece carregar certo pedantismo que era na minha opinião o seu maior defeito. Realmente gostaria que as canções fossem melhor recebidas, pois ajudaria a fazer as pessoas entenderem que artistas precisam evoluir em seus ofícios.
notas
Orange Trees: 7
Superstar: 7,5

19 de abril de 2019

Rosalía, a Senhora Está Metida com o J Balvin?

Con Altura
Rosalía & J Balvin & El Guincho

Dona de um álbuns mais celebrados do ano passado, a espanhola Rosalía decidiu fazer uma manobra arriscada e, ao mesmo tempo, compreensível na sua carreira: a massificação. Buscando encontrar um público maior comercialmente, Rosalía lançou o single Con Altura que conta com a participação do J Balvin e o músico El Guincho.

O trunfo de Con Altura é conseguir equilibrar estilos de forma quase perfeita. O single é um carismático e dançante reggaeton/latin pop com fortes toques do pop que a Rosalía entregou no seu álbum que é uma mistura ousada de pop com new flamenco. Sabendo dosar de gêneros parecidos, mas como la resultados artísticos diferentes, a produção consegue criar um trabalho eficiente para todos os envolvido que não compromete ninguém. Outro ponto positivo são as performances de todos os envolvidos: Rosalía comprova a sua versatilidade e apelo mais comercial, J Balvin entrega uma boa performance e El Guincho sem prova uma versão do DJ Khaled bem menos irritante. O problema da canção é a sua mediana composição e a sensação que algo melhor poderia ter sido entregado com uma produção mais robusta. É bom, divertida e que não deixa de ser uma decisão importante para uma estrela em ascensão como a Rosalía.
nota: 7

Melhorzinho Que Possa Imaginar

Pior Que Possa Imaginar
Luísa Sonza

Não é o caso que a jovem Luísa Sonza será a salvadora da pátria da música pop brasileira, mas, surpreendentemente, a jovem é melhor do que a eu poderia esperar. E isso é ouvido na divertidinha Pior Que Possa Imaginar.

Conhecida como a Sra.Whindersson Nunes, Luísa vem tentando emplacar a sua carreira como cantora já tem algum tempo. Ainda não estourou de verdade, mas vem acumulando algum sucesso nos últimos tempos. É necessário dizer que a jovem precisa amadurecer muito, especialmente nas apresentações ao vivo. Todavia, Pior Que Possa Imaginar, o seu novo single, consegue ser uma canção acima da média. Um pop dançante com toques de música latina que não chega a ser ótimo, mas tem uma batida legalzinha e redondinha. O que dá esperança para a carreira da cantora é que a canção foge do esquema das canções pop nacionais que tem a estrutura de "verso+refrão+repetição do primeiro verso+refrão final". Pior Que Possa Imaginar tem um surpreendente segundo verso diferente do primeiro. Claro, isso é algo que soa tão bobo na prática, mas a gente precisa celebrar as pequenas coisas no atual pop brasileiro. A letra por si só é um trabalho raso e rasteiro que consegue desempenhar o seu papel de forma decente. De qualquer forma, Luísa Sonza tem futuro se souber como conduzir a sua carreira, sabendo como continuar a encontrar pontos de ruptura com o que está feito por outros artistas no Brasil.
nota: 6,5

17 de abril de 2019

Confissões de Uma Geração

Confessions of a Dangerous Mind
Logic

Em um gênero que normalmente é conhecido por falar sobre ostentação, mulheres e sexo é algo notável quando um artista sai desse ciclo. Alguns deles são aclamados pela critica e público, mas, normalmente, a maioria encontra uma grande resistência. O rapper Logic é um desses casos.

Conhecido pelo sucesso 1-800-273-8255, Logic pode até falar sobre os mesmos assuntos de sempre, mas o rapper consegue ir além e tocar em assuntos importantes como, por exemplo, a suícidio. Por algum motivo, os fãs do gênero não curtem muito esse estilo, não dando muito crédito para o rapper. Isso é uma verdadeira bobagem, pois Logic consegue entregar boas músicas de verdade. E Confessions of a Dangerous Mind é um ótimo exemplo. Misturando hip hop/rap com toques de indie rock, a canção que dá nome ao próximo trabalho dele é uma importante, tocante e honesta crônica sobre os problemas emocionais que uma pessoa exposta a fama enfrenta. Relembrando casos recentes entre a própria comunidade do hip hop/rap, Logic abre o seu coração ao falar sobre os seus próprios demônios sem medo de criticas e de forma direta e sem meias palavras. Liricamente, não estamos diante de uma obra de arte em forma de música. Todavia, a sinceridade nas palavras e a importância do discurso compensa qualquer defeito criativo. E esse tipo de canção deveria ser melhor apreciado, pois ajuda a entender e lançar um aviso sobre toda um geração de jovens.
nota: 7,5

A Química Imperfeita

No New Friends
LSD

Nem sempre uma banda necessariamente precisa soar perfeitamente unificados para poderem entregar trabalhos interessantes. A imperfeição é um ingrediente que pode ser uma ótima liga quando atua nos ingredientes certos. Esse é caso do super grupo LSD.

Unindo a Sia, o Diplo e o Labrinth, o super grupo é um ideia estranha no papel e ainda mais estranha na realidade, mas que tem um grande charme. A nova canção deles ajuda a entender: No New Friends é um esquisito, divertido e quase esquecível dance-pop que mais parece uma sequencia de Cheap Thrills. A batida é bem legal e tem algumas nuances interessantes, mas que nunca consegue levantar voo de verdade. A letra é direta, bem escrita e perfeita para o tipo de canção. Todavia, a canção não tem a força criativa que se poderia esperar de todos os envolvidos. Assim como as performances de Sia e Labrinth que não conseguem achar um ponto em comum. E isso é um bem-vindo toque que ajuda a fazer do LSD uma banda que não deveria existir, mas que se sustenta pela suas envolventes imperfeições.
nota: 7

2 de abril de 2019

Um Mergulho no Desconhecido

Patience
Tame Impala

Até o momento de escrever essa resenha sempre tinha ouvido e lido falar sobre a banda australiana Tame Impala, mas nunca tinha ouvido sequer uma canção deles. Na verdade, nem fazia ideia de como era a sonoridade, pois nunca deu muita atenção as informações sobre a banda como, por exemplo, resenhas em sites especializados. Sabia, porém, que a banda é uma queridinha do critica desde o lançamento do primeiro álbum deles em 2010. Eis que por curiosidade resolvi ouvir o novo single deles Patience, primeiro lançamento do novo álbum que deve ser lançado ainda esse ano. Nesse mergulho no desconhecido acabei descobrindo algo realmente surpreendente.

Sem escutar nenhuma outra canção da banda até o momento de escrever essa resenha para não ser influenciado de nenhuma maneira posso afirmar que Patience é um auspicioso primeiro contato, criando ótimas expectativas para o que está por vim e, também, o que já foi lançado. A canção é uma contagiante e inusitada fusão de indie rock com disco, new wave e psychedelic pop que poderia acabar soando pretensioso ou deslocado em mãos diferentes. Isso não acontece devido a inteligência sonora de Kevin Parker (vocalista e praticamente único integrante da banda) que ao produzir a canção consegue misturar esses gêneros de uma forma refinada e respeitosa, conseguindo equilibrar e dar personalidade para esses elementos tão distintos. Na verdade, Patience pode ser considerado uma excepcional canção pop, mesmo que não esteja exatamente dentro desse gênero consegue ter vários atributos compatíveis. Com uma letra simples, direta e eficiente, Patience não é um trabalho para ser apreciado com pressa, ainda mais devido a decisão de Kevin de colocar seus vocais em segundo plano e uma atmosfera que pode ser considerada "entediante" por alguns, mas se vocês realmente estiver pronto para esse mergulho irá descobrir uma pérola moderna.
nota: 7,5

Admirável Pitty

Noite Inteira (feat. Lazzo Matumbi)
Pitty


Enquanto vários nomes do rock nacional surgidos na mesma época perderam a importância, a baiana Pitty continua firme e forte no cenário nacional. E já está preparando o lançamento do seu novo álbum (Matriz) e como primeiro single foi lançado a ótima Noite Inteira.

Provavelmente uma das melhores da carreira da cantora, Noite Inteira é um trabalho notável, pois consegue manter a sonoridade rock da cantora e, ao mesmo tempo, adicionar novas e excitantes nuances. Uma mistura azeitada de rock e toques de música afro-brasileira que entrega um dos trabalhos mais ricos da carreira da baiana. Apesar de ter quase cinco minutos e meio, Noite Inteira é um trabalho fluido e que não parece ter essa duração, principalmente devido a fato que a sua parte final é uma surpresa com a participação do lendário cantor baiano Lazzo Matumbi. Além disso, a composição pode até não ser para todos os intelectos, mas é um trabalho de uma inteligência ímpar que entrega uma das canções mais politizadas da cantora que mostra melhor como a Pitty é um dos verdadeiros cristais da nossa música. 
nota: 8

1 de abril de 2019

Muita Gente, Pouca Música 2

R.I.P. (feat. Rita Ora & Anitta)
Sofia Reyes

Tentando fazer uma versão latina de Bang Bang, a mexicana Sofia Reyes chamou a Rita Ora e a Anitta para entoarem R.I.P.. Uma pena que faltou música para esse encontro.

Estrela em ascensão no México e provável promessa internacional, Sofia Reyes tem em mãos uma canção com potencial, mas que nunca chega a alcançar o mesmo. R.I.P.  é um latin pop bem feito e com uma batida comercial no ponto, mas que não tem uma gota de personalidade. Outro problema é essa vontade de soar multicultural ao misturar espanhol, inglês e um pouquinho de português, criando momentos de vergonha alheia com a pérola soltada pela Anitta: "A gente veio have fun". Apesar de tentar dividir bem as partes para as três cantoras, o resultado final é quase confuso e que não deixa nenhuma das cantoras brilharem de verdade. E pior: só consegui saber quais as partes da Anitta ao ver o clipe. Uma canção com potencial que desperdiça bons talentos.
nota: 6

Preach

King James
Anderson .Paak

A história nos ensinou é quanto mais sombria é a época em que vive, melhor será a qualidade das canções de protesto. E, apesar de não termos muitos exemplos atualmente, ainda é possível encontrar exemplo honráveis desse tipo de canção. O exemplo de hoje é King James de Anderson .Paak.

Chegando ao seu sexto álbum, Anderson .Paak vem construindo uma carreira bastante sólida nos últimos tempos e, mesmo sem atingir um sucesso comercial grande, já pode ser considerado com um dos principais nomes do R&B/soul moderno. E King James é uma ótima prova dessa percepção. A canção é um refinadíssimo e revigorante R&B/jazz com uma batida deliciosamente contagiante. Elegante e instrumentalmente rica, King James tem em sua composição o seu maior trufo: socialmente engajada que ressalta os exemplos positivos dentro da comunidade negra americana como, por exemplo, o jogador de basquete LeBron James (o nome da canção é em referência ao mesmo) e o de futebol americano Colin Kaepernick para mostrar que existe esperança no final do túnel, mesmo que o caminho ainda seja espinhoso e cheio de muros altos. A mensagem é alta e clara e a lírica Anderson .Paak é direta e compreensível para todos, deixando King James ainda mais eficiente na missão de pregar a verdade sobre o que realmente acontecendo.
nota: 8