28 de fevereiro de 2021

Primeira Impressão

Cor
Anavitória

New Faces Apresenta: Tkay Maidza

Kim (feat.Yung Baby Tate)
Tkay Maidza

Com o mercado e o interesse do público se abrindo cada vez mais para as mulheres no rap nada mais justo que uma avalanche de novos rostos faça fila para ter o seu lugar ao Sol. E um desses nomes é da zimbabuana Tkay Maidza.

Criada na Australia, Takudzwa Victoria Rosa Maidza, nome de nascimento da rapper, pode até não ter ainda destaque comercial, mas tem aquela áurea de a qualquer momento surgir com um sleeper hit arrasa quarteirão. Em Kim, a rapper entrega uma espetacular candidata para tal feito ao conseguir unir de maneira quase perfeita o lado o artístico com uma pegada comercial. Misturando trap e eletrônico, Tkay Maidza entrega uma explosão em forma de canção que parece grudar na cabeça logo na primeira escutada. Divertida e cheia de personalidade, Kim tem uma batida extremamente marcante que poderia afastar o público mainstream, mas, felizmente, a produção consegue tirar qualquer resquício devido a construção compacta, direta, viciante, rápida e rasteira. Entregando uma performance sensacional, Tkay é uma rapper que parece não ser de firulas, mas tem versatilidade suficiente para segurar uma canção no lado mais “pop” como Kim como, também, uma canção restritamente rap/hip hop. A participação da também rapper Yung Baby Tate é o tipo que serve para mostrar como não desperdiçar um bom verso com quem não vai acrescentar nada. Espero que o caminho que está sendo aberto para as mulheres no rap possa trazer ainda mais nomes excitantes para como é o caso de Tkay Maidza.
nota: 8

New Faces Apresenta: Griff

Black Hole
Griff

Dar espeço para que as mais diversas vozes possam ter espaço dentro da música é algo que precisa ser algo incorporado de forma rotineira. Não estou falando apenas de estilos/gêneros diferentes e, sim, de pessoas completamente diferentes que o mainstream sempre empurrou ao longo dos anos. E é por isso que ouvir músicas de pessoas de diferentes origens é algo importante e necessário. Esse é o caso de Black Hole da novata Griff.

Britânica de nascimento com pai jamaicano e mãe chinesa, Sarah Faith Griffiths, nome de nascimento da cantora, é o tipo de artista que provavelmente não teria voz alguns anos atrás devido a ser simplesmente quem é. A possibilidade e o espalho que a jovem tem, apesar de não ter sido descoberta pelo grande público, é algo que precisa ser elogiável, pois ajuda a jogar luz para aqueles que não se encaixam em um padrão. Claro, talento é a peça chave para um espaço que valha a pena ser usado, mas apenas da cantora estar ocupando esse lugar é de uma importância ímpar. Felizmente, a cantora também é talentosa, pois Black Hole é o tipo de canção que poderia ser melhor, mas mostra pinceladas de talento nato.

Black Hole é uma dark pop misturado com synth-pop que pode não ser a descoberta de uma nova galáxia, mas apresenta personalidade para ter força suficiente para dar para a cantora verdadeira alcunha de promessa. Acredito que o problema da canção seja trabalhar em um minimalismo sonoro que parece ser puxado pela sonoridade de artistas contemporâneas. Essa decisão tira um pouco da explosão que Black Hole poderia ter, mas isso não tira o fato da canção ter um delicioso toque original na sua construção. Além disso, vocalmente Griff é dona de uma voz bem interessante que segura bem o rojão que apenas precisa achar uma canção que dê uma base mais complexa para trabalhar. De qualquer forma, Griff é a prova que, aos poucos, as coisas estão melhorando para que todos possam ter a sua voz ouvida.
nota: 7

26 de fevereiro de 2021

Recontar

Love Story (Taylor's Version)
Taylor Swift


Apesar de saber claramente que a indústria fonográfica é um negócio como qualquer outro, ainda fico chocado com certas cosias que acontecem. Uma dessas coisas é o fato que muitos artistas não são realmente “donos” das suas próprias canções, mesmo tendo escrito e/ou produzido todo o seu catalogo. Depois de uma briga homérica, Taylor Swift finalmente poderá ser dona das suas canções do começo da carreira após regrava-las em lançamentos dos seus primeiros álbuns. Como primeiro single de divulgação do projeto, a cantora lançou Love Story, o seu primeiro sucesso a cruzar a divisa do pop.

Lançada como single do seu segundo álbum (Fearless), Love Story é uma balada country pop que, sinceramente, não tinha boas memorias quando foi lançada. O curioso nessa versão é que, mesmo não alterando muito sonoramente, tenho alguns elogios sinceros a fazer. Acredito que o crescimento em qualidade é devido a maturidade artística que Taylor coloca nessa regravação, especialmente na melhoria considerável da sua performance vocal. Assim como bom vinho, a cantora dá sabor e cor para Love Story (Taylor's Version), deixando a canção com um estofo muito bem vindo. Além disso, a produção da cantora ao lado de Christopher Rowe dá um toque refinado de folk/indie para aparar as pontas aqui e ali. E mesmo que a composição ainda reflita os sonhos românticos de uma jovem, Love Story (Taylor's Version) é um importante passo para Taylor começar a recontar a sua história da sua maneira.
nota: 7

Um Parto de Remix

Monument [Olof Dreijer remix]
Röyksopp & Robyn


De todos os remixes que foram lançados até o momento, Monument [Olof Dreijer remix] é de longe o mais inusitado de todos. Não pelo resultado final, mas, sim, pelo simples fato de existir em 2020. Parceria do duo Röyksopp com a Robyn, a canção original foi lançada em 2014 como parte do EP colaborativo Do It Again. Apesar dessa nuvem de dúvida que paira sobre a canção, Monument [Olof Dreijer remix] é um trabalho bem acima da média.

Menor em duração e com uma batida mais comercial, Monument [Olof Dreijer remix] é o tipo de trabalho que não entrega nada de novo, mas faz com qualidade o que se propõe a realizar. Uma fusão de EDM, dance-pop e synth-pop que acerta ao não cair para a farofa descontrolada, adicionando uma camada de elegância e criatividade. Devo admitir que a presença de Robyn poderia ter sido melhor trabalhada, mas isso também é um erro na versão original e, por isso, relevo em certa instancia esse erro aqui. De qualquer forma, Monument [Olof Dreijer remix] consegue fazer o a maioria dos remixes de canções “novas” não tiveram a capacidade de entregar: um remix de qualidade que não soa desnecessário e, principalmente, tem algo para adicionar a canção original.
nota: 7.5

A Ladra Gentil

Man's World (Empress of Remix) [feat. Pabllo Vittar]
MARINA

Estou pensando seriamente em fazer uma categoria nos Melhores do Ano apenas para contemplar os melhores remixes de 2021, pois a moda parece que não vai ter um descanso tão cedo. A mais recente a aderir foi a britância Marina que lançou o remix para o single Man's World com o subtítulo de Empress of Remix devido ao trabalho da cantora/produtora Empress Of. A grande surpresa dessa versão é que uma das convidadas especiais não apenas rouba a cena, mas, também, ajuda o resultado final ser melhor que o original. E, sim, essa convidada é a Pabllo Vittar.

Sobre a versão original escrevi que “percebo a canção com um indie pop/pop alternativo que fica na beirada exata entre ser pretencioso e descolado”. Na versão remix, o verniz EDM/electropop dado pela Empress Of ajuda a canção a ganhar vida com cores mais forte e divertidas. Não estou falando de uma revolução no resultado final, mas, sim, de uma adição de personalidade que a versão original precisava. Todavia, o grande destaque de Man's World (Empress of Remix) é o belíssimo trabalho vocal da Pabllo e a sua química inusitada e suculenta com a Marina. Existe uma sinergia poderosa entre as duas artistas que, apesar de tão diferentes, parecem se completarem de forma fluida e orgânica. Além disso, algumas passagens entoadas por Pabllo ganham um novo significado que dão ainda mais força para a composição. Mesmo sendo quase roubada por Pabllo, Man's World (Empress of Remix) mostra que é possível um remix ter razão verdadeira de existir.
nota: 7,5

22 de fevereiro de 2021

Antes Tarde do Que Nunca

Confessions on a Dance Floor
Madonna


As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer

Nem todos as músicas de um artista lendário pode ter a mesma importância com o passar dos anos, especialmente quando o público define bem quais são aquelas de maior prestigio com o passar dos anos. Nesse As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer irei evidenciar uma das canções que melhor entram nessa categoria. Hoje, a escolhida será..



19 de fevereiro de 2021

Grammy 2021

Decidi fazer esse especial sobre o Grammy 2021 apenas agora, pois queria uma visão clara sobre os acontecimentos que motivaram a grande polêmica envolvendo as suas indicações: a total falta de indicações para o The Weeknd. Com a poeira baixa é ainda mais fácil notar o total desprezo sobre o cantor, mas, sinceramente, alguns outros nomes poderiam também geral essa indignação tão violenta. Irei fazer um esmiuçamento pelas principais categorias nesse especial.


17 de fevereiro de 2021

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Heaux Tales
Jazmine Sullivan


A Linda Menina Deixado de Lado

When The Lights Go Out
Gabrielle Aplin

Em 2012/13, a jovem cantora Gabrielle Aplin estourou na Inglaterra com o ótimo cover de The Power of Love da banda Frankie Goes to Hollywood. Apesar do sucesso da canção e do álbum English Rain, a cantora não conseguiu manter o mesmo nível de relevância e acabou desaparecendo do radar. Apesar disso, Gabrielle lançou dois álbuns, vários singles e recentemente divulgou a boa When The Lights Go Out.

Diferente da sua canção de maior sucesso, When The Lights Go Out caminha em uma direção mais comercial ao ser uma bonitinha mistura de syhth-pop, EDM e indie pop que funciona em algumas partes. Sem apelar para batidas farofentas, o single cativa pela delicadeza que cria a batida limpa e sentimental. Todavia, a tentativa de criar algo mais comercial, especialmente na parte do refrão, não ajuda a canção a realmente ter personalidade, deixando um gosto de déjà-vu. O que realmente eleva a canção é a voz angelical e reconfortante de Gabrielle e a boa composição sobre agradecer a pessoa que a ama pode entender todos os seus defeitos. Uma pena que a cantora não tenha mais reconhecimento do mercado e do público, pois talento a mesma tem de sobra.
nota: 7

New Faces Apresenta: Slayyyter

Troubled Paradise
Slayyyter

Nem sempre a gente ver o talento de um novo artista quando o mesmo lança uma música genial, pois pode ocorrer de um trabalho mediano mostrar boas amostras do potencial verdadeiro. Esse é o caso de Troubled Paradise, single da novata Slayyyter.

Começando a fazer barulho na cena menos comercial do pop, Catherine Slater, seu nome de nascimento, ainda precisa aparar algumas arestas para pode explorar todo o seu potencial. Troubled Paradise deixa isso bem claro no momento em que a produção erra na escolha de efeitos vocais que tiram parte da força e do brilho, especialmente na primeira parte que a voz de Slayyyter parece estar em off. Além disso, o começo soa arrastado e pouco convidativo com a batida electropop massificada. Felizmente, a canção melhora bem após o seu primeiro minuto no instante que é adicionado uma camada interessante de EDM que faz da canção uma “prima” da sonoridade da Charli XCX. E a batida fica ainda melhor na parte final, pois consegue criar uma personalidade bem definida. Sem precisar ser um trabalho ótimo, Troubled Paradise dá boas previas do que a Slayyyter pode entregar. Veremos.
nota: 6,5

15 de fevereiro de 2021

O Meme da Nazaré

We're Good
Dua Lipa


Aproveitando até a última gota do Future Nostalgia, a Dua Lipa lançou uma versão deluxe/especial com subtítulo de The Moonlight Edition. Como single foi lançada a confusa We're Good.

Nunca o meme da Nazaré confusa fez tanto sentido enquanto escuto a canção, pois, sinceramente, não consegui entendi o motivo da sua existência. Indo completamente ao contrário da essência post-disco/dance-pop do trabalho central, We're Good é uma cadenciada mistura de electropop com tropical que não faz nenhum sentido. Combinando mais com o primeiro trabalho da britânica, a canção termina como uma demo que foi finalizada apenas para dar estofo para o relançamento do álbum. Longe de ser ruim, We're Good é apenas mediana no seu resultado final, mas com alguns pontos positivos. O maior deles é a presença forte de Dua Lipa que mostra que é dona de uma versatilidade imensa que dá possibilidades enormes para o seu futuro não ficar presa em um mesmo nicho. Para isso, porém, a cantora precisa ter em mãos algo bem mais excitante e menos confuso que We're Good.
nota: 6


A Mulher de um Milhão de Dólares

Pressure (featuring Tove Lo)
Martin Garrix

Assim como a capacidade de um ator ou atriz conseguir salvar um filme mediano, a Tove Lo é uma dessas artistas que a sua presença ajuda a melhor uma canção morna. A sua nova façanha é em Pressure do DJ Martin Garrix.

A presença sexy, elegante e carismática da cantora é a principal razão para que a canção realmente funcione melhor que o esperado. Da sua performance, a canção tira toda a força necessária para ganhar personalidade e se sobressair até em relação ao próprio catálogo de Martin Garrix. Apesar de ser a grande estrela, Tove Lo não é a única responsável pela surpreendente qualidade de Pressure, pois a produção do DJ consegue lapsos de criatividade ao entregar uma EDM com toques de drum bass que foge de alguns lugares comuns. Claro, ainda estamos diante de uma farofada, mas, por sorte, Pressure é uma farofada de primeira devido ao tempero deliciosa da Tove Lo.
nota: 7

Palavras Eternas

It's a Sin
Years & Years


Para quem já acompanha o blog sabe que normalmente analiso músicas em quatro partes diferente: produção (sonoridade, arranjo e produção, composição, vocais (performance e interpretação) e como o todo se encaixa no resultado final. Nem sempre, porém, tudo é levando em conta para declarar que uma canção é boa ou não, pois acontece que existe a possibilidade de um desses fatores se sobressair. Esse é o caso de It's a Sin da banda Years & Years.

Clássico lançado em 1987 pelo duo Pet Shop Boys, a canção dá nome ao seriado britânico em que o vocalista do Years & Years, Olly Alexander, é o protagonista. Sonoramente, a verão é uma decepção em partes, pois a banda tira do o brilho syhth-pop original para fazer uma badala a base de piano. É especialmente frustrante essa decisão artística, pois o Years & Years é uma banda pop com talento para criar algo cheio de personalidade. Todavia, a versão ganhar contornos importantes no instante que ligamos a triste e devastadora composição com a trama da série que retrata a vida de jovens gays durante os anos oitenta perante a crise de HIV/AIDS. E, por isso, o resultado dessa versão muda bem, pois adiciona uma camada dramática e real em versos como, por exemplo, “When I look back upon my life/ It's always with a sense of shame”. Além disso, a tocante performance Olly adiciona uma camada de emoção genuína. Às vezes, esse tipo de coisas que fazem valer a pena a existência de uma canção.
nota: 7

12 de fevereiro de 2021

Abundancia Interminável

Remember Where You Are
Jessie Ware

Apesar de ter sido lançado no ano passado, o incrível What's Your Pleasure? da Jessie Ware é um presente que não para de nos surpreender ao jogar as suas raízes em 2021. E o lançamento de Remember Where You Are é uma dessas ramificações.

Última faixa do álbum, Remember Where You Are é como a chave de ouro cravejada de diamantes que fecha tudo de forma grandiosa, espetacular e de uma elegância perfeita. Misturando disco, soul e R&B, a canção remete pesadamente aos trabalhos da Diana Ross devido ao refinamento estiloso e a seu carisma deslumbrante. Envolvente como um cobertor quentinho em dia de frio, Remember Where You Are é tipo de canção que faz a gente sentir bem de verdade, esperançoso e feliz. A mensagem positiva e a performance doce e aveludada de Jessie confirmam essa sensação. E com o anuncio de uma versão deluxe para o álbum esperamos que mais músicas desse nívl esteja no futuro da Jessie Ware.
nota: 8,5

Bomba Latina

BICHOTA
Karol G


Com a nova invasão latina dentro do mainstream mundial aparece um tsunami de artistas e canções de todas as qualidades possíveis. Lançada ao sucesso mundial com Tusa, Karol G entrega a péssima BICHOTA.

Obviamente, uma mulher aparecer chutando a porta para ter o seu espaço dentro dessa indústria é sempre muito bem vindo, inclusive isso se aplica a Anitta. Entretanto, a qualidade da canção entrega é algo decepcionante. BICHOTA é uma sonolenta e desnecessário reggaeton que parece ter sido feito no automático. Tentando soar sexy, mas entregando sonolência, a canção não tem um pingo de verniz divertido até o seu final que muda a batida por apenas uns trinta segundos. Isso não é o bastante para mudar o resultado final, pois a canção ainda é tem a performance fraca e sem carisma de Karol G a última pá de cal. Uma verdadeira bomba latina.
nota: 4

New Faces Apresenta: Squid

Narrator
Squid & Martha Skye Murphy


Descobrir novos nomes para resenha aqui no blog é algo que nos últimos anos parece ter ficado preso a artistas pop, pois quando encontro algum artista que foge desse nicho, o mesmo já está bem longe de ser chamado de “new face”. Todavia, o artista de hoje consegue se enquadrar fora do eixo pop e, também, ser um novo nome a ser realmente descoberto. Formada em 2017, a banda britânica Squid irá lançar o primeiro álbum esse ano e como single foi lançada a sensacional Narrator.

É melhor dizer que o som da banda não é para qualquer um, pois o Squid é uma banda de post-punk nada comercial. Entretanto, tirando esse pequeno obstáculo, Narrator é uma viagem densa, complexa e inesquecível que irá mexer sentidos de vários níveis. Na sua versão original, o single tem quase oito minutos e meio de uma construção que mistura post-punk, toques de post-disco, funk e rock alternativo para criar uma jornada psicodélica, surpreendente e inesperada que começa em um caminho para chegar em outro completamente diferente e, queridos leitores, apoteoticamente genial. Especialmente a sua parte final em que o arranjo dá uma quinada sombria e de uma força descomunal. O vocalista Ollie Judge é como um anfitrião que vai enlouquecendo em uma crônica sobre sentimentos cruéis e completamente confusos que tem a contraparte a presença da cantora Martha Skye Murphy em passagens realmente significativas sem precisar ser um verdadeiro dueto. Espero que Narrator não seja apenas um lapso de genialidade, mas que o Squid repita a qualidade no seu promissor álbum de estreia.
nota: 8,5

9 de fevereiro de 2021

Primeira Impressão

Evermore
Taylor Swift

2 Por 1 - O Passado e o Presente de Taylor Swift

willow
no body, no crime (feat. Haim)
Taylor Swift


Os dois primeiros singles lançados de Evermore mostram claramente a união da velha Taylor com a nova Taylor. De um lado, a ousada cantora que flerta com o indie rock em willow e, do outro lado, a cantora que busca inspiração no seu passado em no body, no crime.

Canção que atingiu o número um da Billboard no final do passado, willow é uma cuidadosamente bem pensada indie rock com toque de folk que dá para a cantora uma pintura ousada sem precisar, porém, de se aventurar nas águas profundas do alternativo. O verniz pop que é coloca na canção ajuda a canção a manter o brilho comercial enquanto explora novos caminhos para a sonoridade de Taylor. Acredito que a principal razão para isso é a ótima composição, pois a mesma consegue desenhar imagens complexas sem perder o tino comercial, especialmente no seu ótimo refrão. Como dito na resenha do álbum, essa roupagem parece ter um caimento ainda incerto para a Taylor, mas é necessário elogiar que a produção faz a canção dar certo devido ao seu trabalho instrumental excelente. Em no body, no crime, porém, é que tudo funciona da maneira em evidenciar de fato o talento da cantora.

Apesar de ter a presença da banda de indie rock/pop Haim, no body, no crime funciona como uma excepcional, classuda e poderosa mistura de country, folk, rock e indie que cria uma canção ousada e, ao mesmo tempo, familiar para a carreira da Taylor. Lembrando grandes momentos do country feminino, mas com uma dose da sua personalidade, a canção é que conta com a composição mais pungente de todo o álbum. Ao invés de se lamentar por problemas sentimentais, Taylor construí uma sombria, forte e contemporâneo história de vingança que envolve mortes, violência doméstica e uma camada de feminismo que ajuda transforma no body, no crime em pequeno clássico em construção. O único erro da canção é não usar mais a banda Haim de maneira mais destacada, renegando-as para o papel de backvocal de luxo. De qualquer forma, a canção é um acerto e tanto na carreira da Taylor Swift.
notas
Willow: 7,5
no body, no crime: 8

A Ponte

Look At The Sky
Porter Robinson

Existe uma concepção da minha e, provavelmente, a de muitos também que toda a vez que uma música dizer um DJ envolvido que irá surgir uma esquemática EDM/electropop farofa. Felizmente, nem sempre esse é caso, pois existem DJs que consegue construir verdadeira pontes entre o que a gente espera e algo muito mais artístico. O DJ estadunidense Porter Robinson é um ótimo exemplo.

Pronto para lançar o seu segundo álbum, o DJ lançou como single a impressionante Look At The Sky. Ao contrário de qualquer expectativa, a canção é um verdadeiro bálsamo para os ouvidos ao embraçar os clichês para depois subverte-los de forma surpreendente e inteligente. Apesar de uma base forte de stntyhpop com EDM e progressive house, Look At The Sky é construída de forma que a sua batida seja recheada de camadas e nuances que dão um estofo substancial para a canção, ajudando a não apenas a diferenciar das demais do mesmo “estilos”, mas, também, criar uma experiência única. Todavia, apesar de toda a força criativa, a canção pode ser consumida por um público mais amplo sem perder o seu apelo popular. E isso é algo impressionante de ser feito para uma canção tão ousada como Look At The Sky. A mensagem positiva sobre acreditar no futuro poderia ser piegas, mas, felizmente, existe uma sinceridade tocante na letra que faz a gente realmente se sentir inspirado. Até mesmo os vocais distorcidos e auto-tunados de Porter funcionam, principalmente devido ao contraste da voz feminina adicionada como backvocal. Ouvir Look At The Sky é como cruzar uma ponte que do outro lado está as mesmas coisas que tinham do lado de que a gente veio, mas tudo está coberto de ouro.
nota: 8,5

O Pior da Anitta

Loco
Anitta

Sinceramente, não tenho mais esperança em relação a qualidade dos trabalhos que a Anitta entrega, pois a mesma continua a apostar apenas na quantidade. Dessa vez, a cantora chega ao fundo do poço com a péssima Loco.

Não tenho muitas palavras para definir o que ruim é a canção, mas tenho elogio: é um trabalho solo. Depois de mais de uma dezena de canções com convidados especiais ou a mesma sendo uma convidada, Loco mostra que a cantora deveria se apoiar apenas em si para conquistar o mercado internacional. Todavia, para isso é necessário ter alguma coisa boa para mostrar, pois Loco é uma bomba em forma de canção. Mistura de forma canhestra reggaeton com dance-pop, a canção é pobre sonoramente e nem tem vergonha de ser um clichê mal feito em forma de música. A composição é aterrorizante de tão ruim, mas nada supera a produção de voz imposta para Anitta que faz a sua voz parece de uma inteligência artificial ainda em desenvolvimento. Se a mesma ter a capacidade de pior o que é ouvido em Loco pode passar a régua e fechar a conta da esperança real de ser um grande nome lá fora capaz de competir com os grandes artistas latinos.
nota: 3,5

7 de fevereiro de 2021

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

Can't Get You Out of My Head
Kylie Minogue

Aqui no blog sempre falo sobre o que seria a canção pop perfeita, mas, sinceramente, poucas conseguem chegar realmente perto do meu conceito do que é realmente a canção pop perfeita. Existem alguns exemplos clássicos e batidos, mas irei destrinchar aquela que na minha opinião é o modelo perfeito: a carta magna da Kylie Minogue em Can't Get You Out of My Head.

Depois de se aventurar sonoramente no sensacional Impossible Princess (1997) para depois reencontrar o sucesso comercial em Light Years (2000), Kylie Minogue lança em 2001 o que seria o seu maior sucesso comercial da carreira: Fever. Com vendas estimadas em seis milhões de cópias ao redor do mundo, o álbum teve o seu desempenho impulsionado pelo imenso sucesso global de Can't Get You Out of My Head. Praticamente número em todos os mercados, o primeiro single do álbum não apenas consolidou o status de diva pop da australiana, mas, também, abriu o caminho para tendencias que até ser refletem no mundo pop como, por exemplo, a influência da disco. Não apenas memorável comercialmente, a canção é um marco na carreira de Kylie e na história da música ao ser a perfeição pop.

Sem em nenhum momento reinventar as leis básicas do pop, Can't Get You Out of My Head aposta na mistura de certeira de modernidade e nostalgia para construir uma avassaladora e primorosa pérola pop atemporal. Produzida e escrita por Cathy Dennis e Rob Davis, a canção é uma mistura azeitada, sensual, vintage e inteligente de dance-pop, neo-disco e pitadas de EDM que juntas criam uma batida de uma carga viciante elevada aos picos mais altos possíveis. Desde os primeiros acordes já dá para não apenas saber que a música será um estouro, mas, também, que estamos diante de Can't Get You Out of My Head. Longe de entregar algo que fuja do mainstream, mas com uma personalidade completamente distinta do que estava sendo feito naquela época, Can't Get You Out of My Head não seria o acerto que é sem a presença da cantora.

Como sempre digo aqui no blog, Kylie Minogue não é dona de uma voz poderosa, mas sempre soube usar a sua delicada voz a seu favor. Em Can't Get You Out of My Head, a cantora coloca uma carga extra e espetacular de sensualidade combinada com um senso de femme fatale. Não apenas a sua interpretação é importante, pois o grande toque de genialidade da Kylie vem da sua presença icônica no clipe, especialmente a sua figura usando o famoso macacão branco extremamente sensual. Outro ponto extremamente importante é a marcante e perfeitamente pop composição. Simples gramaticalmente, mas que consegue deixar uma impressão poderosa devido ao excelente trabalho entre a forma e a temática ao falar sobre a obsessão da narradora com o amado. E a inclusão do “la la la la la” é o tipo de toque de mestre que nas mãos de outros poderiam ser apenas mais um clichê batido. Get You Out of My Head pode não estar nos primeiros lugares do senso comum em relação aos grandes momentos do pop da história, mas o seu legado vai envelhecendo como um verdadeiro vinho da melhor qualidade confirmando o seu verdadeiro status de genialidade atemporal.
nota: 10

Uma Chuva de Covers

Breathless
Caroline Polachek

Assim como a onda da volta da disco e o “remix que não é remix”, outro movimento que ficou em cena nos últimos tempos foi o de regravação de canções consagradas. E normalmente as escolhas das canções vem sendo as mais curiosas possíveis. Esse é o caso de Breathless da Caroline Polachek.

Sucesso pop da banda The Corrs nos anos 2000, a versão de Caroline Polachek ganha um verniz pesado de indie pop/eletrônico que muda a canção o necessário para se distinguir do pop rock original, mas não chega a descaracterizar o resultado final. Devido a mudança sonora, a versão de Caroline ganha uma atmosfera mais melancólica e menos esperançosa e um instrumental mais requintado. A grande diferença, porém, é a performance angelical e instigante de Caroline que adiciona algumas camadas/nuances para o resultado final. Apesar de não integrar uma reinvenção que elevasse a versão original, Caroline Polachek entrega uma visão única e respeitosa que conquista verdadeiramente quem escuta.
nota: 7,5

Cardi Raw

UP
Cardi B


Dizem o que quiserem, mas a verdade é que a Cardi B chegou a um patamar que poucos nomes do rap/hip hop alcançaram em relação a importância comercial e cultural. Depois do gigantesco sucesso de WAP, a rapper volta sozinha para lançar a promissora UP.

Um pouco menos icônica que a parceria com a Megan Thee Stallion, UP é uma crua, direta e divertidíssima mistura de rap, trap rap e toques de dance-pop que criam uma verdadeira explosão dançante que gruda na cabeça de quem ouve igual a chiclete no sapato. Não espere obviamente algo revolucionário sonoramente, mas Cardi B entrega um verdadeiro prazer culposo sem nenhum pingo de vergonha alheia. Despudorada, dona de si e com uma flow rápido e morteiro, a rapper mostra que existe a possibilidade de entrar no mainstream pop sem precisar de entregar uma canção realmente pop clichê. A canção funciona tanto que até que o refrão repetitivo vira uma qualidade em UP. Curta e grossa, Cardi B vai abrindo espaço para pegar 2021 pelos chifres para chamar de seu.
nota: 7,5

5 de fevereiro de 2021

Uma Pitada a Mais

Don't Judge Me
FKA twigs, Headie One & Fred Again


Quando você tem em mãos um artista com um talento gigantesco é necessário tomar cuidado para não cometer o pior dos erros: não saber utilizar tudo que esse artista tem para mostrar. Isso quase acontece em Don't Judge Me, parceria da cantora FKA twigs com o rapper Headie One e o produtor britânico Fred Again.
Don't Judge Me é uma impressionante, climática e ousada hip hop mistura com indie R&B, art pop e UK garage que salta os olhos devido a sua poderosa construção instrumental que consegue unir três gêneros tão distintos em uma canção balanceada e inspirada. Existe uma sensação de urgência na produção que é mergulhada em uma melancólica que capta toda o sentimento dos versos de FKA twigs e a força de Headie One. A combinação da composição entoada pela cantora que pede para ser cuidada por quem a mesma ama com a atualidade dos versos do rapper ao tocar em assuntos fortes como, por exemplo, o racismo e o seu lugar de fala sendo um homem negro gera um atrito recompensador e inteligente, pois cria essa mistura ideal de urgência e melancolia que a produção construiu com a instrumentalização. O único pequeno problema em Don't Judge Me é a presença um pouco menos que era esperado da FKA twigs. Apesar da sua sensacional performance, a cantora é ofuscada pela presença maior do rapper que, por sua vez, também entrega uma performance poderosa. Com mais participação de FKA twigs, a canção iria sair de ser “apenas” ótima para um possível genial. De qualquer forma, Don't Judge Me é uma música sensacional que precisa ser escutada o mais rápido possível.
nota: 8

Ritmo Padrão

Baila Conmigo
Selena Gomez & Rauw Alejandro


A boa noticia em relação ao novo single em espanhol da Selena Gomez intitulado Baila Conmigo é que o resultado é melhor que o anterior, a insonsa De Una Vez. A má notícia é que a qualidade ainda é apenas mediana.

A melhor qualidade de Baila Conmigo é que a canção funciona como uma canção com começo, meio e fim e, não, uma canção sonoramente inacabada. Além disso, a canção tem uma produção sólida que não descamba para a bomba em forma de música. Tirando isso, o single é um padrão, mediano e sem muita graça reggaeton lento que até pode soar comercial, mas não sai de lugares feitos e clichês básicos. A canção poderia ser melhorada com a química entre Selena e o cantor porto-riquenho Rauw Alejandro, mas isso não acontece devido os dois soarem como água e óleo. Existem rumores que a canção teria a participação do Maluma e, sinceramente, acredito que isso seria o certo, pois o cantor parece ter química com qualquer parceria feminina. De qualquer forma, Baila Conmigo é uma canção tão inofensiva que não chega a ser um erro. Muito menos é um acerto.
nota: 6

Delicadeza Complexa

Lose Your Head
London Grammar


Nem sempre avaliar uma canção com criticas negativas significa não gostar da mesma, pois existem várias camadas de percepção que a gente constrói sobre um trabalho. Esse é o exemplo de Lose Your Head, single do London Grammar.

Longe de qualquer pretensão comercial, Lose Your Head caminha em uma trilha que mistura synthpop com indie pop/rock e flerta com o art pop em doses leves. O problema da canção é que é necessário ouvir mais de uma vez para conseguir apreciar de fato toda a qualidade da produção. Isso é algo que cria uma barreira alta entre a canção e o público, deixando uma atmosfera fria na sua recepção. Quem superar essa barreira estará encontrando uma canção delicadamente complexa com uma delicada complexidade que consegue soar angelical e, ao mesmo tempo, densa e sensual. A bela e etérea performance da vocalista Hannah Reid dá o toque de classe essencial para que a canção funcione quando todas as suas partes estão juntas. Não é genial, mas é um sopro leve de frescor e originalidade.
nota: 7,5

2 de fevereiro de 2021

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

What Do I Call You
TAEYEON

Rinha de Novinhas

Skin
Sabrina Carpenter

Diss track é, segundo a Wikipédia, “uma canção criada com o único propósito de expor e insultar uma pessoa ou um grupo de cantores”. Normalmente, essa tática é utilizada por rappers contra seus desafetos, apesar de existirem exemplos em outros gêneros como, por exemplo, o pop e rock. Entretanto, o começo de 2021 está presenciado uma grande quebra nessa expectativa com o que já estou chamando de a “Rinha das Novinhas”. Depois do imenso e surpreendente sucesso de Drivers License da Olivia Rodrigo eis que surge a “resposta” em Skin da Sabrina Carpenter.

Explicando para quem não está entendendo nada: na composição da canção de Olivia sobre o fim de um relacionamento é citado que o boy estaria com um tal loira. E essa loira é a Sabrina Carpenter que teria um affair com o ator Joshua Bassett. Em Skin, Sabrina não deixa nada em aberto sobre a intenção da canção ser uma resposta direta ao mandar logo no primeiro verso: “Maybe blonde was the only rhyme”. Mais direto impossível. Em questão de qualidade com a canção que iniciou essa “rinha”, Skin sai perdendo alguns pontos. O lado bom que a canção tem as suas qualidades.

Skin é uma contida, redondinha e bem feita pop mid-tempo com toques de synth-pop. Sem muita força emocional que pudesse elevar a produção, a canção tem na atmosfera adulta a sua melhor qualidade, pois consegue dar personalidade sem soar como sendo apenas a resposta de uma menina mimada e, sim, a versão dos fatos de uma pessoa aparentemente madura. Boa parte dessa qualidade parece vim da influência da sonoridade da Taylor Swift. Liricamente, Sabrina veio para acertar na jugular, pois, longe das metáforas de Drivers License, Skin é direta, ácida e, às vezes, faz o famoso morde e assopra, mas é bem escrita e tem um apelo pop exato. O grande ponto alto da canção é boa performance de Sabrina que mostra força emocional sem soar exagerada. E você pensa que acabou? Ainda falta a canção resposta do causador de tudo isso. E assim começa a construir a história do pop em 2020.
nota: 7

O Culpado Mediano

Lie Lie Lie
Joshua Bassett

A “briga” entre Olivia Rodrigo e Sabrina Carter tem um catalisador: o ator Joshua Bassett. E, obviamente, o também cantor iria aproveitar o momento para lançar a sua resposta em forma de música em Lie Lie Lie.

Longe de mostrar alguma qualidade como nas canções das outras envolvidas, Bassett entrega uma mediana, pouco carismática e datada mistura de pop rock com dance-pop que remete a uma mistura de Justin Timberlake em começo de carreira com toques de Jonas Brothers. Ouvir Lie Lie Lie é como experimentar um prato feito requentado que alguém esqueceu na geladeira: até pode saciar por algum tempo, mas não é um algo que vai saciar a gente de maneira plena. Acredito que o pior erro da canção é a presença apática do jovem que não consegue colocar um pingo de personalidade na sua interpretação. Além disso, a composição parece que simplesmente foi composta para ser uma resposta direta para Olivia e, não, uma união entre a parte artística e o desabafo sobre a sua visão do aconteceu. Sinceramente, não sei porque duas mulheres talentosas perderem tempo com alguém tão ok.
nota: 5,5

1 de fevereiro de 2021

Especial

Devido a passagem repentina e trágica desse jovem e genial talento republico a minha resenha do seu primeiro e inesquecível primeiro álbum. 


OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES
Sophie




"O caos é uma ordem por decifrar."
José Saramago

Ouvir o primeiro álbum da produtora/DJ/cantora Sophie é uma experiência completamente caótica e sem nenhuma comparação com qualquer outro álbum que já tenha passado aqui no blog. Todavia, esse caos não é apenas um aglomerado de coisas juntas, misturadas e sem sentido, mas, sim, um aglomerado de coisas juntas, misturas e com um sentido que se explica apenas dentro da sua desordem. Ouvir OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é encontrar o sentido em meio do caos. 

Nascida na Escócia, mas residindo em Los Angeles, Sophie começou a chamar atenção em 2013 ao laçar algumas músicas. Isso foi o bastante para chamar a atenção de diversas publicações sobre música, aclamando os seus trabalhos iniciais. Além disso, o trabalho dela começou a ganhar notoriedade na classe artística, trabalhando ao lado de nomes como Charli XCX,  Cashmere Cat, Vince Staples e até mesmo a Madonna. Apesar do crescente reconhecimento, Sophie nunca apareceu fisicamente perante ao grande público, fazendo a linha Sia hardcore. No final do ano passado, porém, a artista resolveu voltar a música oficialmente depois de um tempo afastada ao anunciar o lançamento do seu primeiro álbum. E esse álbum não é apenas um trabalho de um DJ/produtor de música eletrônica como qualquer outro, mas uma verdadeira obra de arte em forma de música.

Um aviso importante para qualquer um que após ler essa resenha se interessar em ouvir OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES: prepare-se para entrar em um mundo difuso, complicado e atordoante. E fique mais avisado: todas essas sensações não serão recebidas pelo seu córtex cerebral da mesma forma que você espera. Entrar nesse mundo é como ser sugado para uma dimensão paralela em que as "regras" musicais/sonoras parecem funcionar de formas completamente novas, seguindo padrões e caminhos que devem ter saido apenas da mente de Sophie. Definir a sonoridade da artista é quase uma missão impossível, pois o álbum consegue quebrar qualquer limite entre gêneros, sub-gêneros e estilos ao ser a fusão de dezenas deles em uma construção metamórfica e dinâmica. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES vai se transformando em fragmentos de sons em cada canção para ser reconstruído a bel-prazer de Sophie e a sua mente a frente do tempo. Tentando encontrar alguns parâmetros, o álbum seria um genial e incomparável avant-pop com pitadas pesadas de eletrônico, industrial, art pop, indie pop, experimental pop e até o pop mais tradicional. Sem ter medo de ir mais longe que poderia ser esperado, Sophie entrega um álbum que exala uma incontável e impressionante quantidade de sensações e sentimentos. 

OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum melancólico. Apesar de todas as batidas que foram agregadas, Sophie parece contemplar o horizonte de um planeta em destruição sentada a beira de um precipício e lembrando dos tempos de felicidade. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum sensual. Apesar de batidas fortes e marcantes, a sonoridade parece evocar um sinuoso espirito dançante de uma ninfa aquática fazendo a sua aparição em um lago sombrio e fascinante. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum divertido. Apesar de soar sisudo em vários momentos, a atmosfera geral do trabalho tem um senso de humor distorcido de um comediante alternativo e nada sério. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum denso e leve ao mesmo tempo como se fosse feito de uns cem quilos de penas de ganso agrupadas. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum pragmático. As composições sucintas em palavras, mas cheias de intenções do álbum mostram uma compositora que sabe sobre o que quer falar e reflete sobre as suas dores de forma até mais direta que a gente poderia imaginar em um álbum tão grandioso sonoramente. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum abstrato. As suas composições parecem quer esconder alguns significados profundos atrás de divertidas construções liricas que devem ser melhor analisadas e refletidas. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum difícil de ouvir, mas que para aqueles que se deixam entrar nesse mundo será muito difícil de sair intacto dessa experiência.

Levando o seu nome, o álbum contem apenas uma faixa com os vocais de Sophie na doce e estranha It's Okay to Cry em que a artista quase sussurra os seus arrependimentos com quem se ama em uma balada indie pop incomparável. A maior parte vocal de OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES fica por conta de Celile Believe que também co-escreveu várias melodias do álbum. Transitando entre a sua voz real e as alteradas por efeitos, Celile tem o timbre perfeito e a presença necessária para carregar qualquer uma das faixas aqui, não importando qual seja a sua pegada. Esse é o caso da industrial/art pop/pop Faceshopping em que ouvimos uma verdadeira jornada vocal de vários estilos. Outro momento genial que deve ter sido inspirada em Material Girl da Madonna: Immaterial é uma pop/dance pop deliciosa que fala sobre a transição de gênero de Sophie. Outros momentos de destaque ficam por conta da batida estaca com certa influência no pop oriental de Ponyboy e a art pop estilo Kate Bush em um mundo paralelo de Infatuation. Todavia, o momento mais acachapante do álbum é a instrumental Pretending que parece uma trilha de um filme de ficção cientifica cult e que é tocada no momento em que os personagens estão contemplando o grande desconhecido. Magistral. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um caos deslumbrante e longe de qualquer coisa que já tenha passado pelo álbum. Um caos que precisa ser apreciado sem ter medo de encontrar algo nada fácil de processar, pois é assim que a beleza do caos surge.

Fusível Queimado

New Love
Silk City & Ellie Goulding


Composto pelo Diplo e Mark Ronson, o projeto Silk City é o tipo que prometeu e, infelizmente, não cumpriu. O grande sucesso do single Electricity com a Dua Lipa em 2018 parece que não teve frutos a altura do que a gente poderia esperar. Dois anos depois, a dupla se une para frustrar um pouco mais com a morna New Love.

Parceria com a sumida Ellie Goulding, a canção tem tudo para ser ótima, mas resulta em uma canção apenas acima da média. Uma mistura até bem dance-pop cm post-disco, New Love parece faltar uma dose cavalar de luz para poder brilhar como deveria, terminando opaca e um pouco sem graça. A canção é como aquela festa meia boca que parece que vai engrenar, mas nunca chega a lugar nenhum. Acredito que nas mãos de outros nomes poderia até haver alga amenizada na percepção, mas com artistas tão talentosos envolvidos é algo realmente frustrante. Ellie entrega uma performance segura, mas que não tem eleva em nada a qualidade da canção. E até a mesma a composição empoderada parece se perder um pouco ao analisar New Love no geral. O lado bom é que se até quando erra, o Silk City é capaz de produzir algo assim, imagina quando eles lançarem algo realmente acertado.
nota: 6,5

Não Entendi Nada, Mas Estou Adorando

Action
CHAI

Ao expandir o meu espectro musical para artistas orientais, especialmente os saídos do Japão e a Coreia do Sul, esbarro em um problema pontual: a tradução das composições. Apesar de existir uma variedade de sites que possuem traduções desse tipo de canção nem sempre encontro disponíveis para todos os artistas. Esse é o caso da banda japonesa CHAI e o seu mais novo single Action. Apesar de perdido na tradução, o resultado da canção é ótimo.

Primeiro single do terceiro álbum da banda intitulado Wink, Action é uma surpreendente mistura de indie pop/rock com eletrônico e synthpop, criando uma batida estranha, densa, divertida e de um carisma único. Não é para o público mainstream, mas é uma pequena grande pérola para aqueles que querem sair do pop farofa ocidental ou/e oriental. Apesar de ter partes em inglês, Action tem as suas principais passagens em japonês. Sem achar tradução oficial parece que algo se perde. Felizmente, a maneira distinta e com uma personalidade esquisitamente radiante da vocalista performar a canção ajuda a gente esquecer desse problema e embarcar nessa viagem que nos transporta para a pista de dança alternativa no coração de Tóquio. E ter sensações como essa é o que vale de verdade.
nota: 8