28 de outubro de 2022

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

The Roof (Back in Time)
Mariah Carey

Acredito que parte do público esquece o quanto influente a Mariah Carey foi para a música pop não apenas em números, mas, também, artisticamente. A artista foi responsável por moldar toda a sonoridade pop/R&B dos anos noventa depois de ter mais liberdade criativa com o lançamento de Daydream de 1995. E isso foi consolidado com o seu trabalho seguinte Butterfly de 1997 que está completando vinte e cinco anos. Livre artisticamente e pessoalmente, Mariah foi capaz de explorar novos sons ao buscar influencias mais pesadas no hip hop/soul sem perder o seu apelo clássico de grande diva. Uma das melhores músicas dessa época é a excepcional The Roof (Back in Time).


Na época do seu lançamento, The Roof (Back in Time) não fez sucesso comercial e nem entrou para a parada oficial da Billboard, sendo ofuscada pelos sucessos de Honey e My All. Entretanto, a canção em perspectiva é um dos trabalhos que melhor envelheceram e que mostra perfeitamente a revolução que a Mariah fez na sua carreira e na música da época. Apesar de já tenha iniciado os seus experimentos com a mistura do pop/R&B com hip hop, a canção é dos momentos do mais intensos dessa jornada até então recente da cantora que mudaria os rumos do pop na década. A produção aposta em uma contida, mas marcante batida que transita perfeitamente entre a delicadeza de uma balada romântica e a força da batida hip hop sem que se perca as qualidades de nenhuma parte. Na verdade, a fusão é que eleva The Roof (Back in Time) para outro parâmetro devido a intrigada construção que faz de mais de cinco minutos não perder o interessante em nenhum momento. E, obviamente, a persona de Mariah tem uma diferença ao estar mais contida e sexy, mas ainda deixa o claro que ainda é a cantora com todos os seus rifes e mudanças vocais. E a composição da canção é provavelmente o trabalho mais apurado na questão lírica da cantora ao ser a perfeita tradução sentimental e fisicamente de um encontro passional entre duas pessoas com uma bagagem emocional complicada, mostrando toda o potencial da verborragia da escrita da Mariah com um senso estético ainda mais apurado que dosa romantismo, tristeza, sensualidade e melancólica. Mesmo sendo uma canção não tão conhecida pelo grande público, The Roof (Back in Time) é uma das canções que realmente a ajudar a mudar a cara da música para todas as gerações que vieram depois e merece esse reconhecimento.
nota: 8,5

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Fim das Tentativas
Rico Dalasam



Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Noches de Terror
Safety Trance


Um Oscar para Rihanna

Lift Me Up
Rihanna

Depois de oito anos de hiatos, a Rihanna está de volta com o lançamento de Lift Me Up para a trilha do filme Black Panther: Wakanda Forever. Apesar de bons chances da canção ser ao menos indicada ao Oscar, o resultado é bem aquém do esperado.

Homenagem para o ator Chadwick Boseman, Lift Me Up é uma balada pop/R&B emocionante e tocante, mas que nunca chega de verdade a decolar. A produção de Ludwig Göransson que também é compositor da trilha incidental e venceu o Oscar pelo trabalho no primeiro filme entrega um instrumental contido, melancólico e com uma construção instrumental belíssima, mas, infelizmente, perde boa parte da força por não saber como criar um clímax eficiente e poderoso suficiente para elevar o material, resultando em uma canção quase arrastada. Outro problema é a sua a composição que, apesar de bem escrita, navega por águas clichês e não entrega o momento de catarse que esse tipo de tributo deveria ter. Rihanna entrega uma performance sólida, especialmente na primeira parte da canção, mostrando a evolução e maturidade conquistada aos longos dos anos. É bom ouvir a Rihanna novamente, mas Lift Me Up soa mais como um aquecimento do que pode estar por vir.
nota: 7

25 de outubro de 2022

Drag Explosion Brasil

AMEIANOITE
Gloria Groove & Pabllo Vittar

Acredito que fazer a previsão do que um álbum irá entregar com o lançamento de apenas dois singles, mas tenho uma certa impressão que o próximo álbum da Pabllo Vittar irá ser não apenas o seu melhor, mas, principalmente, aquele que irá finalmente fazer a artista explorar todo o seu poder artístico. Depois da falha, mas ainda divertida e bem pensada Descontrolada chegou a vez da realmente ótima AMEIANOITE ao lado da Gloria Groove.

De longe, a canção é a melhor da carreira de ambas artistas ao entregar algo que venho sempre citando aqui para o pop no Brasil ao pegar um ritmo nacional (funk) e misturar com um elemento pop (house) e criar uma explosiva, divertida, elétrica e simplesmente viciante que se sustenta perfeitamente do começo ao fim. Obvio, essa decisão de produção já foi feita em várias outras canções brasileiras, mas em AMEIANOITE mostra o quanto o atual cenário pop nacional precisa desse tipo de canção, especialmente devido a qualidade por trás da construção da ótima qualidade. E, felizmente, os outros elementos não desapontam em nenhum momento. A composição é clichê, campy, tem personalidade e com um refrão perfeito e redondinho. Pabllo e Gloria entregam ótimas performances, mesmo que ainda a canção poderia ter uma terceira participante para se tornar a nossa Bang Bang. De qualquer forma, AMEIANOITE é o futuro do pop brasileiro e assim espero ter mais exemplos em breve.
nota: 8

O Sem Refrão

Mel Made Me Do It
Stormzy

Existem algumas regras para a construção de música que parecem imóveis como, por exemplo, o uso de refrões na sua estrutura. E é por isso que quando uma canção “quebra” uma regra como essa é algo no mínimo interessante, especialmente quando feita como é o caso de Mel Made Me Do It do rapper Stormzy.

Expoente britânico, o rapper lançou o single como primeiro single do seu próximo álbum (This Is What I Mean) é uma corajosa, potente, grandiosa e excepcional rap/hip hop que tem apenas um imenso e incrível verso único que cobre basicamente os mais de sete minutos de canção. Sem refrão, hooks ou pontes, a composição poderia fazer a canção explodir de maneira espetacular, mas, felizmente, o genial trabalho temático e lírico não apenas impede esse destino como também é o fator principal da canção ser tão espetacular. Cheio de rimas sensacionais, imagens elaboradas e citações pop de primeira, Mel Made Me Do It é um monologo cativante e de tirar o folego que faz quem escuto preso a cada novo verso, esperando a próxima quebra de expectativa que adiciona a cereja em cima do bolo. E a performance de Stormzy é no mesmo nível da entrega da composição, pois adiciona personalidade com o seu sotaque distinto, timbre rouco/gutural da sua voz e uma acidez deliciosa. Sonoramente, Mel Made Me Do It poderia ser mais aventureira na construção instrumental, mas o resultado é ainda sensacional com a batida contida e crua que adiciona boas nuances aqui e ali. Fazendo algo difícil parecer fácil, Stormzy entra facilmente na lista de melhores do ano.
nota: 8,5

Banger!

C'est La Vie
Yung Gravy, bbno$ & Rich Brian

O rapper Yung Gravy é uma das minhas “descobertas” mais interessantes dos últimos tempos. Conseguido trilhar perfeitamente o caminho entre a galhofa e entregar verdadeiros “bangers”, o rapper teve um sucesso surpreendente com a ótima Betty (Get Money). Agora o mesmo repete o feito com a também ótima C'est La Vie.

Uma mistura sensacional de dance-pop, rap e pop rock, C'est La Vie é divertida, dançante, excitante e completamente despretensiosa que funciona como manteiga na temperatura ambiente sendo passada no pão quentinho. Obviamente, Yung Gravy não tem a menor intenção de reinventar a roda e, sim, divertir as massas e, principalmente, divertir a si mesmo no processo. E é isso que acontece na canção de forma a mostrar todo esse talento único do rapper. A letra é de uma vergonha alheia tão especifica que realmente fica difícil não abrir um belo sorriso devido a passagens como “Need a fine VP like Biden” ou “Tongue game nutty, I ain't talking no Cyrus” ou “Cuddle with the homies watching "Stand by Me" (Cute)”. Além disso, C'est La Vie tem uma divisão entre os envolvidos realmente original e que dá espaço para bbno$ e Rich Brian terem seus momentos, mas é Yung Gravy é que domina a canção do começo ao fim devido ao seu curioso carisma. E, sinceramente, o rapper pode não ser o melhor rapper de todos os tempos, mas é o melhor no que faz sem nenhuma dúvida.
nota: 8

Protótipo

La Única
Kali Uchis


Existem algumas canções que a gente escuta e pensa: “essa daria uma grande música se tivesse sido melhor trabalhada”. Esse é exatamente a minha sensação com La Única da Kali Uchis.

A ideia por trás da canção é ótima: uma latin pop com forte influência de trap, art pop e eletrônico. Todavia, o resultado carece de preenchimento sonoro para elevar as ideias proposta para um nível bem a cima do atual resultado que termina sendo com repetitivo, linear e levemente irritante. Tenho a impressão que a produção de alguém como a Arca poderia facilmente tirar do núcleo de La Única todo o seu imenso potencial. Além disso, a composição não acerta em cheio como outros trabalhos da cantora como, por exemplo, Telepatía. Faltou aquele apuro temático e a sensibilidade afiada de mistura espanhol com inglês que dá atual persona da Kali Uchis o seu distinto sabor. Uma canção que é ótimo protótipo. Faltou finalizar o produto.
nota: 7

21 de outubro de 2022

Demanda Popular

CUFF IT
Beyoncé

Beyoncé tem nas mãos um dos maiores sucesso de 2022 em questão de público e critica com o Renaissance, mas que poderia ser o maior com uma diferença estrondosa se a gata saísse da moita e promovesse o trabalho que tem no mínimo 70% das faixas com grande potencias de hits. Com a cantora brincando de esconde-esconde, o público escolher fazer de Cuff It o sucesso da vez.

Uma das canções mais “simpáticas” do álbum, Cuff It é uma deliciosa, excitante, contagiante, sexy, atemporal e viciante mistura de disco, pop e funk que mesmo não sendo a melhor artisticamente em comparação com outras ainda se torna um destaque devido ao seu brilho. Acredito que a principal característica da canção é que a produção adiciona várias texturas e nuances ao longo da sua duração que criar claros bolsões da momentos que facilmente geram dancinhas virais, mas que o resultado final se mostra com um trabalho coeso e fluido em todos os momentos. A presença sensual, suculenta e simplesmente radiante da Beyoncé é outro imenso acerto, pois deixa claro o prazer que a mesma teve para gravar a canção. Apesar de achar que a dona Beyoncé estar perdendo a oportunidade do seu maior sucesso da carreira tenho que admitir que é uma tática invejável uma artista chegar num patamar que pode “esquecer no churrasco” um hit já pronto. E essa é a Beyoncé.
nota: 8,5



A Sofrência da Shakira

Monotonía
Shakira & Ozuna

A Shakira se encontra em um momento pessoal/artístico bem interessante: de um lado a sua separação conturbada com o jogador Gerard Piqué e os processos de sonegação fiscal na Espanha e, do outro, apesar de ainda relevante, a cantora ainda não parece ter se encontrado no atual cenário fonográfico latino. E isso tudo fica bem claro no lançamento de Monotonía.

O single que pode ser do seu próximo álbum é um verdadeiro alto e baixo do que a cantora pode entregar. Os pontos positivos: Shakira entrega uma letra que parece não ter muito medo de meter o dedo na ferida sobre os motivos do fim do seu relacionamento. Sincera e entregando momentos que a gente “levanta as sobrancelhas” com os shades mandados para o ex. Bem escrita e com uma divisão interessante com o Ozuma, Monotonía também tem a cantora mais confortável com os novos rumos da musica latina comercial com essa bachata/latin pop. O lado negativo é que a cantora ainda não adicionou a sua personalidade em nenhuma das canções recentes que a mesma lançou, soando que a os estilos estão engolindo a cantora. Além disso, a presença do Ozuma tira o brilho do seria a canção perfeita para a Shakira brilhar sozinha nessa sua fase. Aguardamos as cenas dos próximos capítulos.
nota: 6,5

Quase Um Encontro Explosivo

Twin Flame
KAYTRANADA & Anderson .Paak

Um dos DJ/produtores mais excitantes da atualidade se une com um dos artistas mais excitantes da atualidade para lançar uma canção que colide com os dois mundos e o resultado deveria ser, no mínimo, excitante. Twin Flame, parceria do Kaytranada e o Anderson .Paak é uma boa canção, mas que faltou uma dose de combustível para explodir de verdade.

Sonoramente, a canção é um grande acerto ao ser uma mistura sensual, aveludada e suculenta de neo-soul com deep house que resulta em algo realmente original e que consegue exalar as personalidades de ambos envolvidos. Em questão de atmosfera, porém, Twin Flame caminha de forma linear sem nunca querer explodir esse sexy e envolvente caldeirão sonoro. Compreendo a decisão de Kaytranada de entregar a canção nessa toada e a performance mais contida de Anderson .Paak, mas a canção parece pedir para que o seu clímax seja algo realmente poderoso e épico. Quando isso não acontece parece que faltou a última e mais importante peça do quebra cabeça. Uma pena já que a canção tivesse esse toque seria uma das candidatas a melhor do ano.
nota: 7,5

Falta o Viral

Not My Job
FLO

Apesar de todo o hype, a girl band FLO ainda falta um grande viral para a carreira das jovens estourar mais amplamente e sair da bolha que se encontra. Não sei se Not My Job é essa canção, mas ainda é um ótimo exemplo da qualidade da girl band.

Continuando a tendência de emoldurar/replicar a sonoridade R&B dos anos noventa, Not My Job é uma ótima mistura do gênero com toques de pop e hip hop que poderia facilmente ter sido um estouro na época ou se encontrar o momento perfeito para viralizar. Batida redonda, atmosfera viciante e carisma de sobra, a canção poderia facilmente ser a filha da fusão do Bills, Bills, Bills com No Scrub, especialmente devido a divertida composição e o ótimo refrão. E, claro, o maior acerto da canção são as harmonias perfeitas das três integrantes da girl band que se mostram em total sincronia. Falta só o momento de estourar para o FLO ser a próxima grande estrela da música que mostram ser.
nota: 8



18 de outubro de 2022

Primeira Impressão

Fossora
Björk


Uma Transcendental Björk

Ancestress
Björk


Como disse na resenha de Ovule, Björk não é uma artista com uma discografia que é para ser facilmente destrinchada e entendida. Isso se estende para as suas composições que normalmente são construídas como poesias que transitam entre o surrealismo e o abstrato para falar sobre os mais banais dos sentimentos. E é por isso que ouvir Ancestress é tão magnifico e surpreendente.

Apesar de continuar a explorar imagens complexas, a cantora deixa muito bem claro que a composição é sobre a morte da sua mãe. E essa percepção vem de momentos de vários momentos de uma clareza tocante da lírica de Ancestress. A artista continua a criar imagens surreais, mas aqui o público é contemplado com versos diretos na sua intenção de mensagem que faz a gente até ficar desconcertados devido a visão clara quem temos do ser humano Björk como, por exemplo, o relato dos momentos de declínio da saúde da sua mãe ( “The doctors she despised/ Placed a pacemaker inside her”) ou de visões de como era a sua personalidade (“She had idiosyncratic sense of rhyth/ Dyslexia, the ultimate freeform/ She invents words and adds syllables”). Com a mistura desses tipos de versos com os de construção mais poéticas e metafóricos, Ancestress se tornar uma devastadora, impressionante, sentimental e tocante homenagem da Björk que encontram um lugar entre o sublime e o humano como poucas. Apesar de genial, a canção não alcançaria o mesmo nível sem a sua espetacular produção que faz dos mais de sete minutos de duração uma viagem no mais puro suco da sonoridade da Björk. Com o lançamento de Ancestress, o hype pelo lançamento de Fossora chega ao nível estratosférico.
nota: 9

Uma Divindade Björk

Fossora
Björk


Dando nome ao álbum, a canção Fossora é o trabalho que melhor consegue melhor expressar toda a personalidade que a Björk optou por despejar no álbum, resultando em uma canção tão espetacular que beira a divindade artística.

Divido sonoramente em duas metades, a canção começa com o lado mais orgânico, delicado, contemplativo e melódico para ir tendo batidas sendo agregadas ao longo da sua duração para terminar de maneira explosiva com uma batida frenética eletrônica/tecnho que a faz subir vários níveis devido a sua complexidade em unir dois “mundos” tão diferentes de maneira tão singular e perfeita. Dá para perceber que Fossora é a mesma canção em momentos diferentes sem perder o seu intuito inicial e, principalmente, a continua elaboração da persona da Björk. E a cantora entrega uma performance espetacular ao não se curvar para saídas fáceis e entregar uma força emocional e técnica que apenas a sua presença é capaz de mostrar. E esse é apenas um dos momentos de destaque do álbum.
nota: 9

Uma Björk Acessível

Ovule
Björk

Qualquer um que já ouviu alguma canção da Björk sabe que apesar de sempre brilhante, a cantora não tem uma discografia exatamente fácil de acompanhar e entender sonoramente. Então, Ovule parece soar como uma versão acessível da Björk.

Claro, uma versão acessível da Björk é algo que ainda gera um grande ponto de interrogação para marinhos de primeira viagem, mas a canção parece ter alguns atalhos para a sua compreensão sonora. Produzida e instrumentada pela própria Björk, Ovule é uma mistura de art pop com glitch pop e toques de jazz que criam um instrumentalização que transita entre o minimalista e o intricado com uma facilidade imensa. Existe uma semelhança estética com outros trabalhos da cantora na construção que faz quem escuta a canção lincar pontos para um entendimento mais fácil de toda a experiencia. Menos complexo que o esperado, a canção não explode como os grandes trabalhos da artista em um leque de cores, sons e texturas. Isso deixa Ovule menos espetacular que o costumeiro. Esse “problema” é ofuscado quase plenamente pela sensacional composição no melhor estilo da Björk que para narrar uma história de amor cria toda uma construção de imagens únicas e impressionantes que figuram dentro do seu panteão de esquisitices maravilhosas. E tudo isso porque a canção é acessível.
nota: 8

14 de outubro de 2022

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

Bixa Preta
Linn da Quebrada

Mesmo que agora será definida por parte do público como apenas uma ex-BBB, Linn da Quebrada é uma das artistas mais excitantes surgidas na última década. Voltando ao seu começo, a artista teve a capacidade de lançar como terceiro single da sua carreira a genial Bixa Preta.

Lançada de forma independente e antes do seu debut intitulado Pajubá, Bixa Preta é uma pérola do que o “pop” brasileiro pode ser nas mãos de alguém com a capacidade de Linn. Uma mistura espetacular, revigorante, elétrica, explosiva e carismática de funk, rap, dance e toque de hip hop que se mostra de um potencial tão magnifica e magistral que é atordoante lembrar que essa canção é uma então novata artista. E desde o começo a cantora mostrou ser uma das melhores compositoras surgidas no cenário pop/indie/queer ao entregar uma pungente, áspera e de um sentimento de expiação ao falar sobre as experiências de uma pessoa LGBTQIA+, preta e pobre na sociedade brasileira:

A minha pele preta
É meu manto de coragem
Impulsiona o movimento
Envaidece a viadagem
Vai, desce, desce, desce, desce
Desce a viadagem!

Se mostrando desde o começo dona de verborragia ilustre, real e que não é para todos os gostos, especialmente quando divaga, Linn da Quebrada consegue botar o dedo na ferida de forma sangrenta sem perder o estilo pop refinado. E a sua magnética performance fecha o pacote Bixa Preta de forma magistral. E assim começou a carreira de dona Lina Pereira dos Santos que ofusca toda sem piedade a carreira de quem “ganhou” certos realities quando o talento é colocado no lugar de destaque merecido.
nota: 8,5

King Kendrick

N95
Kendrick Lamar

Acredito que existem apenas um pequeno número de artistas que consigam fazer de uma profunda critica a sociedade uma canção de sucesso comercial. Esse é caso do Kendrick Lamar com a excepcional N95.

A canção é uma cortante, avassaladora e monumental reflexão acida e honesta sobre a loucura que a sociedade embarcou nos últimos tempos, especialmente na época da pandemia. É incrível que o rapper consiga abordar de tantos “pequenos” assuntos para criar uma crônica sobre a hipocrisia humana. A principal linha de raciocino é o fato que enquanto muitos usavam mascaras para proteção contra a Covid-19 de grife existiam pessoas que não tinham acesso em hospitais aos tanques de oxigênio para sobreviverem. Poderoso e desconcertante, N95 tem essa característica do Lamar de ir fundo em suas letras e ainda entregar algo sonoramente original e, ao mesmo tempo, competitivo comercialmente ao entregar uma refinada, substancial e impressionante batida trap com pinceladas profundas de conscious hip hop. E assim que Kendrick Lamar é considerado uma das mentes mais impressionante da música da atualidade.
nota: 9

Preguiça

Calm Down (Remix)
Rema & Selena Gomez

Devo admitir que dentro de todos os sentimentos possíveis para ter ao ouvir uma canção a preguiça é uma das últimas que penso em ter. Esse é, infelizmente, o caso de Calm Down (Remix) do cantor nigeriano Rema com a Selena Gomez.

A batida afrobeat é até legalzinha devido ao bom trabalho instrumental, mas a sua cadencia e ritmo são completamente anticlimáticos, arrastados e, sinceramente, preguiçosos. Parece que a canção tinha uma batida bem mais rápida, mas foi modificada para ser “slow motion” em uma duração lenta demais para a excitante ideia por trás. E o pior que a performance de Rema remete exatamente essa sensação ao ser uma entrega preguiçosa e sem graça, mesmo tendo tudo a favor como o seu sotaque delicioso. A presença morníssima de Selena não adicionada nada realmente especial, sendo apenas um nome de peso e não uma presença de peso. Preguiça defini muito bem.
nota: 5



Crescendo e Aprendendo

Complete Mess
5 Seconds of Summer

Algumas coisas que aprendi durante os longos anos do blog: a maturidade muda tudo. Um artista que no começo não era exatamente um favorito meu pode amadurecer e se revelar bons artistas. Não seu esse é caso pleno do 5 Seconds of Summer, mas o single Complete Mess é bem melhor que o esperado.

A grande qualidade da canção é exatamente o que apontei no paragrafo anterior: maturidade. Uma pop rock sólida, bem executada e grandiosa que consegue criar uma atmosfera climática que se assemelha a uma nostalgia de grandes baladas rock. Não é nada revolucionário, mas existe uma qualidade quase clássica que deixa o 5 Seconds of Summer parecendo uma banda com muito mais anos de estrada. E isso se reflete na ótima composição que mostra evolução da banda ao entregar algo emocional e substancial. Apesar parece emoldurar uma mistura branda de U2, Coldplay e Paramore, 5 Seconds of Summer entrega em Complete Mess uma boa estreia nessa possível fase de maturidade.
nota: 7,5

11 de outubro de 2022

A Garota Que Deveria Hitar

THAT GIRL
Bree Runway


Depois de entregar uma das minhas canções preferidas de 2022 em Somebody Like You, Bree Runway lança outro acerto na surpreendente THAT GIRL.

A canção dá uma guinada interessante e deliciosa para uma mistura azeitada de dance-pop, electropop e R&B que resultado em uma canção que transita perfeitamente entre o comercial e alternativo. Excitante, carismática e eletrizante, THAT GIRL poderia ter alguma quebra de expectativa para elevar o material para outro parâmetro e um clímax mais explosivo, mas isso não impede que a canção brilhe de verdade. Especialmente, a performance de Bree que casa muito bem o rap com a batida, entregando urgência e personalidade para interpretar uma direta e estilizada composição que funciona apenas devido a entrega como a ouvida aqui. Gostaria muito que a Bree Runway hitasse, pois a cantora está apenas entregando o que a gente queria e nem estava sabendo pedir.
nota: 8

Uma Tema Para Lil Nas X

Star Walkin’
Lil Nas X


Consolidado como um verdadeiro astro pop, a Lil Nas X entrega um passo comum para estrelas em ascensão: a canção temática. Star Walkin’ é uma prova do apelo comercial do rapper ao ser escolhida para ser tema da “copa do mundo” do jogo League of Legends. 

Apesar de não alcançar o ápice dos seus melhores momentos, Star Walkin’ é uma boa pop rap em que o artista pode desfilar o seu imenso carisma em uma canção radiofônica e bem amarrada. Não é exatamente genial, mas a produção de Cirkut e Omer Fedi consegue criar um instrumental que consegue ao mesmo tempo tem toques de temas grandiosos de vídeo games e a personalidade do rapper. Liricamente, a canção transita até bem entre a ironia da escrita de Lil e a pegada inspiradora/edificante. Star Walkin’ é mais um passo na trajetória de sucesso de Lil Nas X que quebra barreiras ao mesmo tempo que segue a cartilha.
nota: 7,5

Um Pagodin' Top

Me Perdoa
Ferrugem & IZA


Acreditem que não sou uma pessoa que goste exatamente de um pagode normalmente, mas, sinceramente, canções como Me Perdoa do Ferrugem com a participação da Iza são sempre muito bem vindas.

A principal qualidade da canção são as ótimas performances de Iza e, principalmente, do Ferrugem. O cantor é um dos exemplos de um vocalista de pagode que tem uma voz muito acima da média, entregando uma performance com personalidade verdadeira e um alcance amplo. Além disso, a química entre os dois é suculenta o suficiente para criar todo a atmosfera perfeita para esse pagode bem amarrado e com uma letra de final de romance ideal para sofrer de amor. Resumidamente: o que é bom é bom independente do gênero, estilo ou envolvidos.
nota: 8

Voz, Violão e Uma Versão

You and Me on the Rock (In the Canyon Haze)
Brandi Carlile

Maior nome comercial da atualidade do gênero americana, Brandi Carlile irá relançar o ótimo In These Silent Days com versões acústicos sob o nome de In the Canyon Haze. Como primeiro single foi lançada You and Me on the Rock.

Normalmente, o resultado desse tipo de canção não acrescenta nada para a canção original, mas em You and Me on the Rock existe uma clara mudança positiva no resultado. A grande diferença que funciona é o fato dessa versão diminuir a batida para entregar uma direta balada folk/americana que deixa a gente prestar atenção a linda composição. Essa qualidade de contar uma história com começo e fim com construções de imagens impressionantes e emocionais ficou perdido na versão original, sendo resgatados nessa regravação devido especialmente a contida e melancólica performance de Brandi. A canção mostra que as vezes é necessário apenas voz e um violão para entregar algo realmente que seja de qualidade.
nota: 8



9 de outubro de 2022

Primeira Impressão

Hypnos
Ravyn Lenae




A Tradicional

El Pañuelo
Romeo Santos & ROSALÍA

Irei novamente elogiar a imensa versatilidade da Rosalía em ir do experimental ao tradicional sem perder nenhuma gota da sua personalidade. Isso fica claro com a sua participação em El Pañuelo do cantor Romeo Santos.

Single do álbum Formula, Vol. 3, quinto da carreira do Romeo, El Pañuelo é uma tradicional e muito bem produzido mistura de bachata, ritmo nascido na Republica Dominicana que é um derivado do bolero, com latin pop que a Rosalía domina com perfeição, criando a perfeita química com o “dono” da canção. Na verdade, a cantora rouba a cena ao entregar uma performance sensacional, deixando a canção mais com a sua cara do que a do Romeu. Envolvente e romântica, a canção soa levemente arrastada na sua parte final que deveria entregar um clímax mais suculento, mas isso não atrapalha profundamente o resultado final. Gostaria também que os dois cantores pudessem ter divido mais os vocais já que ambos têm suas participações de forma sozinhas. De qualquer forma, El Pañuelo continua a revelar o imenso alcance artístico da Rosalía.
nota: 8

Dance Anime

향기 (Scent)
YUKIKA


Depois de ser exposto a bomba que é o álbum do Blackpink é como ter um balsamo passados nos ouvidos ao ouvir a excepcional 향기 (Scent) da cantora coreana Yukika.

Conhecida principalmente pelo seu trabalho como atriz e dubladora, a artista é uma estrela musical que ainda precisa encontrar o seu lugar comercialmente, mas que deixa bem claro o seu potencial artístico nessa perola. 향기 (Scent) é uma deliciosa, fofa e viciante city pop com toques irresistíveis de post-disco, R&B e k-pop que a transforma em um trabalho que consegue ser ao mesmo tempo atemporal e especifico. Não é exatamente o tipo de canção que faz sucesso atualmente em relação ao k-pop, mas tem um brilhante e vibrante verniz que a faz ser irresistível para um público bem maior como se fosse um tema de um anime que consegue furar a bolha para virar um fenômeno mundial. A doce e delicada voz de Yukika tem uma vibe tão gostosa de ouvir que deixa a canção ainda mais irresistível. 향기 (Scent) não deve fazer sucesso comercial, mas é a prova que dá para ser original dentro do atual k-pop.
nota: 8

Popularidade em Declínio

Popular
M.I.A.

Entender o motivo do declínio da qualidade dos lançamentos da M.I.A. é algo que precisaria ser estudado, pois só assim dá para explicar coisas como Popular.

A canção não é o abismo que é The One, mas ainda é uma verdadeira perda total de tempo. O pior é que a canção apresenta aqui e ali da grandeza que a cantora já entregou em seus áureos momentos. Entretanto, o resultado final ainda é um desastre de trem sem sobreviventes. Produzido pelo Diplo (responsável por clássicos da cantora como Bucky Done Gun e Paper Planes) ao lado de Boaz van de Beatz, Popular é uma mistura pobre, irritante e clichê de electropop e reggaeton que não tem quase nada de original e excitante. Nada aqui funciona direito incluindo a performance no automático da M.I.A., mas é a composição que funciona como o prego para fechar o caixão que tem momentos de vergonha alheia como “I got the best seats, best shoes on my feet/ Pictures of my body cause a stampede, ay/ If you cut me, success I bleed”. Sinceramente, a M.I.A. está precisando de alguém dizer: “amiga, simplesmente pare!”.
nota: 5

4 de outubro de 2022

A Crueldade da Sinceridade

It’s Not Just Me, It’s Everybody
Weyes Blood


Ouvir It’s Not Just Me, It’s Everybody, single da cantora Weyes Blood, é como levar um tapa com luva de pelica. Não vai doer fortemente, mas vai ficar ardendo e incomodando por um bom tempo devido a sua devastadora sinceridade.

Primeiro single do próximo trabalho da cantora intitulado And in the Darkness, Hearts Aglow, a canção tem uma das letras mais poderosas dos últimos tempos ao falar de forma honesta e desconcertando sobre o sentimento de solidão que todos nos sentimentos mesmo quando estamos cercados por pessoas. Longo nos primeiros versos, a letra já acerta a gente em cheio e completamente sem aviso:

Sitting at this party
Wondering if anyone knows me
Really sees who I am
Oh, it's been so long since I felt really known

E a canção alcança um outro patamar quando Weyes afirma que esse sentimento é algo que realmente todos passamos em algum momento, deixando a canção com gosto ainda mais dolorido e potente. Sonoramente, It’s Not Just Me, It’s Everybody amplifica a mensagem ao ser uma contemplativa e melódica indie/ chamber pop com uma instrumentalização sensacional que ao escolher por caminhar em uma crescente que não chega a explodir drasticamente, preferindo seguir uma linha intima que parece remeter a uma conversa calma em um fim de noite. E com a performance tocante, melancólica e sóbria de Weyes Blood, It’s Not Just Me, It’s Everybody se torna um dos trabalhos mais marcantes de 2022 ao ser de uma sinceridade cruel e verdadeira.
nota: 8,5


Volta aos Trilhos

Talking To Yourself
Carly Rae Jepsen


Depois de um curioso tropeço em Beach House, Carly Rae Jepsen volta aos trilhos com o lançamento da divertida Talking To Yourself.

A canção remota diretamente ao que a cantora entregou no já cult Emotion ao ser uma excelente, divertida, elegante e cheia de personalidade synthpop. Existe quase uma áurea que se torna tão especifica que a Carly adiciona para esse tipo de canção que a mesma pode nem ser exatamente a mais original de todas, mas ainda é de frescor sonoro excitante e viciante. É como reencontrar uma velha amiga e sair para a balada depois de tomar uns drinks tropicais e doces. Esquisito essa imagem, mas é o que sinto ao ouvir a Carly voltar para esse estilo. Talking To Yourself também tem outra qualidade da cantora ao entregar uma composição sentimental, bem escrita e com um refrão extremamente eficiente. Com três single já lançados ainda está difícil dizer como vai ser a experiência de ouvir The Loneliest Time, mas deve ser no mínimo interessante.
nota: 8

Uma Canção Que Parece, Mas Não É

YUKON (INTERLUDE)
Joji


Depois do sucesso de crítica e público da surpreendente Glimpse of Us, Joji anunciou o lançamento do álbum Smithereens. Como segundo single a escolhida foi a curiosa Yukon (Interlude).

Na resenha anterior disse que o cantor tinha uma sonoridade que apresentava aspectos parecidos com o James Blake, mas conseguiu achar a sua personalidade devido, especialmente, a sua sublime performance. Em Yukon (Interlude), porém, o cantor parece emoldurar exatamente todas as qualidades de Blake ao entregar uma refinada alternative R&B/synthpop que passeia na mesma praia minimalista e experimental. Na verdade, a música parece um cover do astro britânico e, não, uma canção original do Joji. Felizmente, essa é uma boa canção com um apuro estético certeiro e reluzente. Vocalmente, Joji soa quase como James Blake, faltando apenas a gravidade. Isso não atrapalha o resultado, mesmo que deixe quem escuta meio confuso. O problema de Yukon (Interlude) é não ter força suficiente para ser um single ao parecer um filler de respeito, especialmente comparado com a genialidade de Glimpse of Us. Espero que as próximas canções do Joji possam ter mais cara própria. E nem precisa ser genial.
nota: 7,5

Detalhes Tão Pequenos

Smells Like Me
Charlie Puth


Entre um biscoito e outro nas redes sociais, o Charlie Puth lança algumas músicas até legalzinha como é o caso de Smells Like Me.

Longe de ser um suprassumo, o single é uma agradável, porém falha, mistura de pop, pop rock e synthopop que lembra levemente trabalhos lançados nos anos oitenta. Fofa e inofensiva, a canção teria toda a capacidade de ser ótima se Charlie se aprofundasse nas próprias ideias e entregasse algo com maior apuro estético. Parece que o cantor está satisfeito em ser apenas fofo e inofensivo com essa balada mid-tempo, ficando mais claro devido a mediana composição que, felizmente, apresenta um refrão bem amarrado. O grande ponto alto de Smells Like Me é a sólida performance de Charlie que se torna uma das melhores do cantor em muito tempo. Querido Charlie, os biscoitos estão ótimos, mas seria bom rechear a sua carreira com um “creme” mais consistente.
nota: 7