28 de julho de 2022

Um Obra "90

Hold The Girl
Rina Sawayama


Se ainda existia alguma dúvida de qual era os rumos do novo álbum da Rina Sawayama, isso é desmontado com o lançamento da ótima Hold The Girl.

Faixa que dá nome ao trabalho, o single é um elegante, emocionante, grandiosa, inteligente, linda e nostálgica mistura de synth-pop, pop rock e EDM que remete diretamente a uma sonoridade dos anos noventa, especialmente uma ouvida na Europa na parte final da década. Na verdade, a canção remete também aos primeiros trabalhos da própria Rina ao ter uma construção mais artística do que a direta This Hell. O lado emotivo da canção é trazido pela tocante composição que fala sobre amor próprio, podendo ser direcionada para si mesma ou para alguém que a cantora ama. Apesar de batida a temática, Hold The Girl se destaca devido a maturidade que a composição é construída, deixando de lado clichês fáceis de lado. O que realmente faz Hold The Girl se destacar, porém, é a belíssima performance vocal da cantora que consegue criar uma teia de nuances até explodir de maneira poderosa na sua parte final. E com mais esse lançamento, Rina Sawayama aumenta consideravelmente o hype para o lançamento do seu segundo álbum.
nota: 8

A Letra Nuclear

CACHORRINHAS
Luísa Sonza

Consolidada com uma força pop contemporânea, a Luísa Sonza ainda precisa aparar alguns pontas da sua discografia, especialmente a sua lírica. Esse é o caso de CACHORRINHAS.

Essencialmente, a canção é um projeto de uma ótima faixa pop/dance que tem personalidade suficiente para fazer a cantora realmente se destacar. Uma batida divertida, carismática e com um refrão redondinho e bem amarrado. Além disso, a cantora entrega uma performance segura e com carisma suficiente para segura uma canção desse estilo. Entretanto, a letra de CACHORRINHAS é simples horrível, pois tenta ser engraçadona e empoderada, mas termina sendo apenas um amontoado de vergonhas alheias uma atras da outra. Até poderia ter a mesma temática, mas, sinceramente, a realização é de uma pobreza imensa. Se não fosse esse detalhe, Luísa Sonza poderia ter a melhor música pop brasileira nas mãos em anos. Uma pena.
nota: 6

Adulta Taylor

Carolina
Taylor Swift


Apesar de ser interessante ver as regravações das suas antigas canções, Taylor Swift realmente mostra o seu potencial com o lançamento de novas canções como é caso da ótima e sombria Carolina.

Tema do filme Um Lugar Bem Longe Daqui, a canção é uma experimento sensacional dentro da discografia da cantora ao ser uma densa e forte mistura de americana, folk, bluegrass e, especialmente, appalachian folk. Sem ter necessidade de fazer algo comercial, Carolina caminha de forma lenta para criar uma atmosfera que sombria e melancólica que parece combinar com a temática do filme, mas que sozinha deixa claro a capacidade da Taylor de sair do seu próprio nicho para entregar algo realmente novo e surpreendente. Assim também se mostra o resultado da madura e complexa composição ao construir uma belíssima e assombrosa história que mistura imagens da natureza e o um ar de mistério de forma fluida e bem pensada. Taylor entrega uma performance contida e de uma ternura melancólica ideal para a canção, mas, mesmo assim, ainda penso qual seria o resultado da canção entoada por uma voz com mais poder. De qualquer forma, Carolina é uma das canções mais adultas até o momento da carreira da cantora e espero que isso continue apenas evoluído.
nota: 8

As Palavras Quem Nem Precisam

hello
Ichiko Aoba

Desde que comecei abrir ainda mais meus horizontes musicais deparo com a barreira do idioma, pois nem sempre encontro traduções disponíveis para entender o que está sendo cantado. E por isso que tenho começado a perceber que nem sempre palavras importam, mas sim o sentimento exposto em cada canção. Esse é o caso da belíssima hello da japonesa Ichiko Aoba.

Já conhecida aqui do blog, a cantora de indie pop/folk é ainda relativamente desconhecida e poucas das suas canções estão traduzidas para o inglês. Isso, porém, não impede o público de apreciar uma obra de sua autoria já que o resultado sempre consegue ir além desses empecilhos linguísticos. Hello é uma delicada, tocante, sensível e sublime balada a base de piano que invoca uma sensação de reconforto tão grande que fica fácil não poder entender exatamente o que está sendo cantado. E, queridos leitores, como canta Ichiko Aoba. Dona de uma voz cristalina, a artista consegue passar uma paz misturada com uma clara felicidade tranquila que até dá para imaginar que hello seja sobre bons sentimentos. Por isso que não entender exatamente qual o sentido da canção não faz tanta falta, pois Ichiko Aoba preenche quase todas as lacunas de maneira sublime.
nota: 8,5



26 de julho de 2022

2 Por 1 - Billie Eilish

Guitar Songs
Billie Eilish

É realmente impressionante a evolução da carreira da Billie Eilish ao se transformar em uma das maiores artistas pop contemporâneas com bilhões de streamings, vários hits no topo das paradas, Grammys e um Oscar e a mesmo nem é legalmente permitida beber bebidas alcoólicas nos Estados Unidos por ter ainda vinte anos. A sua maior evolução, porém, é artisticamente, especialmente quando analisa os lançamentos mais recentes: as ótimas TV e The 30th.

Lançadas em forma de mini-EP, as canções deixam bem claro a imensa e continua evolução lírica de Billie e o seu irmão Finneas. Ambas canções apresentam alguns dos trabalhos mais maduros e poderosos da carreira da cantora até o momento, expondo a capacidade da dupla de criar poderosas crônicas emocionais com um apelo pop edificante e realmente inteligente. Em TV, a cantora discute sobre saúde mental ao descrever um episódio de depressão de forma delicada, tocante e ácida ao citar eventos recentes como, por exemplo, a criminalização do aborto nos Estados Unidos. Já em The 30th, a cantora relata de maneira devastadora os sentimentos que a invadiram depois de alguém próximo quase morrer na composição mais direta e emocionante da carreira da cantora. Sonoramente, as duas canções continuam com a mesma pegada indie pop a base guitarra/acústica ouvida no começo da carreira de Billie, mas a produção de Finneas adiciona nuances muito bem vindas que elevam o resultado final na medida certa para resultar em trabalhos com as suas próprias personalidades. E dessa maneira, a Billie Eilish vai trilhando uma carreira que parece apenas subir sistematicamente, devendo alcançar o seu pico máximo em alguns anos. E, sinceramente, não vejo a hora de isso acontecer.
notas
TV: 8
The 30th: 8

Rock Evolution

<maybe> it's my fault
Willow


Com a sua nova direção na sonoridade e carreira, a Willow parece que descobriu o seu verdadeira chamado para ser uma rock star. Essa jornada continua em <maybe> it's my fault.

Mesmo que não seja a melhor da sua carreira até o momento, o single é sem nenhuma dúvida o seu mais maduro até o momento. Um sóbrio e seguro justaposição de pop rock, hard rock e pincelada de emo, <maybe> it's my fault apresenta uma produção que ainda não está cem por cento confiante no território que caminha, mas tem toda as ferramentas ideias para desbravar o novo caminho. Vocalmente, Willow vem crescendo absurdamente e aqui entrega a sua melhor performance devido as acertadas mudanças vocais e emocionais que precisa fazer durante toda a sua duração da canção. O problema sobre evoluir a sonoridade da cantora é ainda suas composições, pois, apesar de boas, não são poderosas o suficiente para as transformarem em algo primoroso. De qualquer forma, <maybe> it's my fault é uma canção que definitivamente uma canção de transição na carreira da Willow.
nota: 7,5

A Deliciosa CupcakKe

H2hoe
cupcakKe


Uma das minhas rappers preferidas, a cupcake sempre vai entregar em todas as suas canções toda a sua persona sem ter nenhum medo. H2hoe é exatamente o que a rapper sabe fazer de melhor.

Completamente sem amarras, a canção fala de sexo de forma direta, sem amarras, explicito e positivamente, H2hoe tem uma composição inteligente e condensada que pode até não agradar a todos, mas é um trabalho preciosamente bem escrito. Devo admitir que o refrão não funciona tanto como nas outras canções da rapper, mas isso não diminui consideravelmente o resultado final da canção. Com uma produção certeira ao mistura rap e dance, a performance cupcake apara pontas soltas devido o seu estilo “balls to the wall” e sempre explosivo. É sempre um prazer ouvir uma canção da cupcake em seu estado de completa graça.
nota: 7,5

Dívida de Jogo

DON'T YOU WORRY
Black Eyed Peas, Shakira & David Guetta

Quando pensei que a carreira Black Eyed Peas não poderiam descer ainda mais é lançado a horrenda DON'T YOU WORRY.

Uma das mais xexelentas, sem criatividade, repetitiva e sem um pingo de criatividade canção eletrônica/EDM farofenta dos últimos tempos, DON'T YOU WORRY tem um resultado tão ruim que coloca I Gotta Feeling como quase uma obra de Mozart em comparação. O pior de tudo é saber foram preciso de cinco pessoas para produzir uma batida que um DJ em começo de carreira seria capaz de produzir na garagem de casa com um custo de 100 dólares no máximo. Além disso, a pérola trash da insuportável composição tem absurdos oito coautores, incluindo o David Guetta e a Shakira que parecem presos no porão do Black Eyed Peas para serem obrigados a participar de tamanha atrocidade. Nas palavras da grande Isabela Boscov: “só pode ser dívida de jogo”. No caso da Shakira é dívida da receita federal espanhola mesmo.
nota: 3

21 de julho de 2022

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

Yucky Blucky Fruitcake
Doechii

Infelizmente, não consigo acompanhar tudo que é lançado devido a fato de literalmente ser apenas um. Muitos lançamentos que quero resenha de álbuns/singles precisam ser deixados de lado para dar tempo de me dedicar a outros mais importante. E, obviamente, existe um numero muito maior de trabalhos que nem tenho o conhecimento. Yucky Blucky Fruitcake entra nesse segundo caso, dando para a rapper Doechii o título de dona da melhor canção que nunca fiz uma resenha. E isso muda nessa resenha.

Yucky Blucky Fruitcake, lançada em 2020, é tipo de canção que te pega completamente de surpresa e te faz perder as palavras ao ser uma jornada que poucas canções conseguem. Tudo envolvendo a canção é simplesmente genial, indo da avassaladora produção até o uso inesperado do sample. Com mais de quatro minutos e meio, a música é uma aventura sonora recheada de texturas que conseguem criar uma riqueza para a batida hip hop/R&B impressionante, assombrosa e de uma complexidade inigualável, especialmente ao perceber que a canção é literalmente divida em duas. A primeira parte, a batida áspera, urgente, rápida e urgente do hip hop construído com base em uma mistura de bass drum e hip hop clássico. A segunda parte, a batida dá uma quinada para uma R&B com toques de alternativo, soul e rap refinado e contemplativo. Na teoria, as duas partes não necessariamente deveriam funcionar, mas a pratica em Yucky Blucky Fruitcake é bem diferente já que as duas partes se completam lindamente e de maneira fluida com uma transição como se fosse alguém trocando uma fita cassete. Acredito que a melhor maneira de explicar a canção é pensar a mesma como a filha bastarda da Nicki Minaj no começo da carreira com a sonoridade do Tyler, the Creator. Visões opostas, mas que se completam devido a um ponto principal: Doechii.

Jaylah Hickmon, conhecida previamente como Iamdoechii, a rapper de vinte e três anos é uma potência extraordinária e de um frescor poderoso. Apesar de ter certas semelhanças com a já citada Nicki, a rapper é uma força da natureza que consegue ser uma metralhadora verborrágica com um charme áspero, ácido, hilário e contagiante. E quando a canção moda de tom, a artista mostra uma versatilidade imensa ao saber se adaptar com a velocidade e atmosfera da canção sem perder, porém, a sua personalidade e originalidade. E isso é preciso para sustentar uma composição tão impressionante quanto a Yucky Blucky Fruitcake. Uma introdução a quem é Doechii como personalidade, pensamentos, medos, reflexões, memorias de infância, a canção é estruturada como para ser como uma aluna sendo apresentada a sua nova turma e tendo que fala sobre ela mesma para os novos colegas. Dona de uma lírica agressiva sem perder o tino estético refinado, a rapper entrega uma letra cheia de referencias pop que fazem sentindo dentro do contexto emocional da temática. O melhor momento é quando a rapper cita que escutava a canção do The Only Exception do Paramore e se utiliza da melodia da própria para ser uma das texturas adicionadas. O uso é rápido, surpreendente e inteligente, mostrando a genialidade da produção ao pensar em cada momento da canção. Yucky Blucky Fruitcake merece o reconhecimento tardio como uma das melhores canções da última década com todos os louvores possíveis que marca o começo de uma carreira extremamente promissora para a Doechii.
nota: 10

Bow Down For Jessie Ware

Free Yourself
Jessie Ware


Depois de surpreender o mundo pop com o sensacional What's Your Pleasure?, a Jessie Ware está de volta para consolidar a imagem como o maior uma das maiores cantoras pop da atualidade com o lançamento da deslumbrante Free Yourself.

Deixando de lado certa contemplação da disco do trabalho anterior, a nova canção mergulhar diretamente no gênero sem nenhuma amarra com uma perfeita, elegante, deliciosa, dançante e poderosa disco/house com forte influência da chamada ítalo disco, subgênero dos anos setenta criado na Itália. É claro que a canção é inspirada, mas a produção do lendário Stuart Price parece tirar essa característica ao fazer de Free Yourself quase como uma canção saída de uma maquina do tempo direto para 2022. E quem não sabe que é o Stuart é necessário apontar que o produtor tem no currículo apenas a produção de Confessions on a Dance Floor da Madonna como um dos seus pontos altos. Outro ponto importante da canção é sublime performance de Jessie que sabe adicionar toda uma galeria de texturas para conseguir dar toda as emoções e nuances para a canção sem perder a sua elegância natural. Se no trabalho anterior a mesma questionava qual era o nosso prazer, Free Yourself pede que a gente se solte e desfrute de cada momento como se não houvesse amanhã. Clichê sim, mas lindamente bem escrita e com um refrão viciante e marcante. E assim Jessie Ware continua a sua épica saga na terra do pop em que já pode se considerar uma rainha.
nota: 8,5

Coragem Pop

Je te vois enfin
Christine and the Queens


Enquanto muitos vão na direção da massificação, a Christine and the Queens parece não tem medo de pelo lado oposto com um pop sombrio e experimental. Esse é caso de Je te vois enfin, primeiro single do seu próximo álbum intitulado Redcar les adorables étoiles.

Ao misturar doses de electropop com art pop em uma batida áspera e imprevisível, Je te vois enfin ganha uma identidade tão única que fica difícil de passar batido pela canção sem esboçar algo tipo de reação. Acredito que seja essa vontade de Christine, pois a canção é o tipo de trabalho que deve dividir entre quem odeie ou quem ame. Mesmo gostando do resultado final devo admitir que a canção tem alguns problemas. Primeiro, apesar da ótima presença vocal, algumas decisões da produção vocal de intercalar a voz principal e o coro é um pouco estranha. Além disso, a parte final se mostra o arranjo levemente repetitivo. Entretanto, Je te vois enfin é tão interessante que sabendo passar por esses detalhes é possível ver a grande canção que se esconde.
nota: 8

Charli Saves Pop

Hot In It
Tiësto & Charli XCX


Charli XCX é o tipo de artista pop que consegue colocar a sua marca até em canções de outros artistas quando é convidada. Em Hot In It, a cantora eleva o trabalho do DJ Tiësto.

Em essência, a canção é uma redonda, clichê e comercial dance-pop/house que poderia ser bem mais do mesmo se não fosse a presença da Charli XCX. A cantora adiciona uma dose de personalidade realmente distinta para a canção que a quase transforma em uma perola pop. A sua presença efervescente dá uma cara para Hot In It como se a mesma fosse uma canção da própria em versão remix. Entretanto, a canção é tão rápida e rasteira que não há tempo para a gente se apegar realmente ao trabalho. E é por isso que a presença Charli XCX é que salva a canção de maneira primorosa.
nota: 7


19 de julho de 2022

Um Ponto Fora da Curva

Hard Out Here
RAYE

Tenho apontado faz algum tempo que a britânica Raye é uma cantora realmente com potencial altíssimo, mas não esperava que a mesma poderia entregar uma canção tão avassaladora como é caso de Hard Out Here.

Conhecida mais pelo seu lado pop, Raye entrega uma espetacular mistura de hip hop, rap, uk bass e R&B com um instrumental de uma riqueza e criatividade impressionante. Poucas canções recentemente conseguem ter uma produção tão distinta como a de Hard Out Here que apresenta uma reapresentação de uma artista que parecia destinada a um estilo de sonoridade, mas que é feito uma guinada de 180° para um som realmente maduro, provocante e encorpado. Entretanto, a canção não tem apenas na sua produção uma quebra de expectativa desse nível, pois Raye também se mostra uma artista com mais potencial ainda ao entregar uma performance áspera, poderosa e de uma versatilidade gigantesca ao encontrar um equilíbrio entre cantar e o rap primoroso e com uma identidade única. O perfeito pacote se completa com a poderosa e profunda composição que é basicamente uma reintrodução da cantora ao expressar seus sentimos sobre o tratamento que a indústria fonográfica e a sociedade vem fazendo a mesma passar durante a sua vida toda. Hard Out Here pode ser até uma exceção, mas espero que seja a nova era da Raye na sua transformação para glória.
nota: 8,5

La Mente Loca y el Genio Del Midi Negro

Eat Men Eat
black midi

Tentar entender qual é o próximo passo da sonoridade do black midi é um pouco complicado, pois todo novo lançamento é uma nova experiência. Dessa vez, a banda nos leva para a Espanha na interessante Eat Men Eat.

Depois da genial Welcome to Hell, a banda busca inspiração na música flamenca para encaixar os seus experimentos sonoros em forma de art/avant rock em um instrumental de uma riqueza extraordinária que consegue mudar de rumo umas quatro vezes em uma canção de apenas três minutos. E essa é magnitude da capacidade da banda que consegue imprimir a sua gigantesca personalidade artística em canções que facilmente poderiam se transformar em apenas ruídos ritmados se não tivessem essa percepção tão distinta e segura. Com uma performance vocal espetacular do vocalista Cameron Picton, Eat Men Eat tem um tropeço na sua confusa composição que, normalmente, sempre é um trabalho genial não tem a mesma força lírica que o esperado. Entretanto, isso não é motivo para a canção perder brilho já que todo o resto brilha violentamente devido a genialidade da banda.
nota: 8


A Variável Ciara

JUMP (feat. Coast Contra)
Ciara

A carreira da Ciara tem sido uma verdadeira montanha russa de grandes momentos com erros expressivos. Em Jump, primeiro single do seu novo álbum, a cantora volta o topo com a ótima JUMP.

O single entrega o que a cantora sempre teve de melhor: uma elétrica e contagiante dance-pop/R&B. Remetendo aos trabalhos da Janet Jackson, a canção acerta na mosca ao ter a sua produção ao parecer querer apenas divertir quem ouve sem maiores amarras. Dançante, sensual e despretensiosa, JUMP conquista também pela sua ótima construção, pois, ao contrario da intenção, o trabalho técnico é muito bem pensado e, principalmente, finalizado. O seu sensacional é o ponto alto de uma composição leve e excitante como os melhores trabalhos da Ciara. Todos sabemos que a cantora não é dona de uma voz poderosa, mas sempre brilha nesse tipo canção devido ao carisma imenso. A participação do grupo de rappers Coast Contra é rápida, mas interessante suficiente para não ser dispensável. Espero que o álbum possa seguir nesse mesmo caminho, pois a Ciara no seu estado de graça é sempre um prazer ouvir.
nota: 8

A Canção Que Deveria Ter o Pharrell Williams

Cash In Cash Out (feat. 21 Savage & Tyler, The Creator)
Pharrell Williams

Devo admitir que, apesar de alguns erros aqui e acolá, o Pharrell Williams normalmente acerta musicalmente, especialmente quando o mesmo está por trás da produção. Esse é quase o caso de Cash In Cash Out.

Uma estilosa, marcante e bem pensada mistura de trap, hip hop e pop rap, a canção tem a marca presente do começo ao fim do estilo do Pharrell na produção que consegue ser o seu ponto forte. O problema é que a canção não tem a presença do mesmo na frente a frente dos vocais e isso se mostra um erro. Rapper habilidoso, a presença do Pharrell seria o ponto de equilíbrio entre a morna performance de 21 Savage e a presença marcante e distinta de Tyler, The Creator que rouba os holofotes para si. Sem esse ponto de transição que poderia elevar o material deixar Cash In Cash Out como uma boa proposta, mas que não alcançou seu verdadeiro potencial.
nota: 6,5

14 de julho de 2022

A Garota do Futuro

Surprise
Chlöe


É necessário elogiar a carreira solo ou ao lado da irmã da Chlöe que continua firmemente investir no R&B, mesmo que o gênero esteja bem comercialmente. Felizmente, a cantora mostra que artisticamente é um caminho extremamente viável como mostra a ótima Surprise.

Surprise poderia ter sido um imenso sucesso durante o começo dos anos dois mil. A produção acerta no ponto em criar uma batida envolvente, mas que fica muito bem equilibrada entre o sexy e o romântico. Com influencias de hip hop e neo soul, a canção apresenta uma honesta composição sobre sexo que conseguir ser direta sem soar vulgar, especialmente devido ao seu refrão com indicação para acima de dezoito anos. Chlöe entrega uma performance contida, sensual e perfeita para a pegada da canção que consegue explorar as suas nuances de maneira refinada. A cantora pode não ter o retorno de vendas merecido, mas isso não a impede de continuar a entregar ótimas canções.
nota: 8



Melhor Sozinha

Hot Shit
Cardi B, Kanye West & Lil Durk

Cardi B tem uma personalidade tão grandiosa que, normalmente, é bastante complicado achar artistas que tem química com a rapper. Existem alguns exemplos, mas esse não é o caso de Hot Shit.

A canção é, primeiramente, uma produção preguiçosa e sem muita criatividade que uma batida direta, repetitiva e sem graça. Entretanto, o problema maior é que as participações Kanye West e Lil Durk são completamente dispensáveis e não trazem nada de excitante ou de peso real para o resultado final. A titulo de comparação, I Like It apresenta um J Balvin e Bad Bunny inspirados que dão força para o resultado final da canção. Hot Shit é salvo do total marasmo devido a presença da própria rapper, mas isso só prova que a rapper ainda é melhor solo.
nota: 5,5

A Terceira e Quarta Face da Shygirl

Firefly
Come For Me
Shygirl

Desde que comecei a cobrir os lançamentos da Shygirl, a artista já entregou duas versões da sua sonoridade: a hyperpop/hip hop de BDE e a power electropop Cleo. E agora é a vez de sermos apresentados a duas novas facetas da mesma com os lançamentos das ótimas Firefly e Come For Me.

Primeiros singles do seu primeiro álbum intitulado Nymph, as duas canções navegam dentro do oceano do pop, mas são completamente distantes uma da outra. Em Firefly, a produção entrega uma mistura de eletro R&B, dance-pop e UK garage lindamente construído que consegue ser original e nostálgico ao mesmo tempo. Bebendo na fonte de uma sonoridade em alta no começo dos anos dois mim, a canção é um refinamento espetacular devido ao seu ótimo arranjo e a performance metamórfica de Shygirl. O único problema, porém, é que a canção não apresenta um clímax que possa fazer a sua parte explodir sonoramente como parece prever durante toda sua duração. Esse erro é parcialmente corrigido com a produção elétrica da Arca para a ótima Come For Me. Uma áspera, encorpada e magnética deconstructed club/trip hop, a canção consegue dar uma nova perspectiva para o horizonte musical da Shygirl devido a sua incrível noção sobre a música eletrônica. Outro ponto importante a capacidade da cantora se moldar para qualquer tipo de canção e/ou gênero de maneira fluida e sempre adicionando o seu toque pessoal que deixa ainda mais claro o seu potencial. Com esse começo de trabalhos, a Shygirl está no caminho para entregar não o melhor, mas o mais excitante álbum pop do ano.
notas
Firefly: 7,5
Come For Me: 8

Pálido

Left and Right (feat. Jungkook (of BTS))
Charlie Puth


Devo admitir que acreditei que o Charlie Puth irá dar uma guinada na carreira para se mostrar um astro pop realmente interessante. Então, o cantor lançar a mediana Left and Right.

O grande atrativo da canção é ter a presença de Jungkook do BTS, mas isso é apenas o único motivo para ouvir a canção. Novamente, Charlie entrega uma pálido pop/pop soul redondinho, previsível e completamente sem graça que não mostra nada de novo ou que seja realmente interessante. A batida de Left and Right poderia facilmente ser confundida com outra canção do cantor que não faria nenhuma diferença. Apesar de entregar uma boa performance, Charlie não tem a menor química com o Jungkook que não é aproveitado de maneira correta, deixando a canção levemente forçada. Uma total perda de tempo de achar que o cantora tinha encontrado um caminho diferente.
nota: 5,5

10 de julho de 2022

Uma Balada para Tuve Lu

True Romance
Tove Lo

Depois de lançar a ótima No One Dies From Love, a Tove Lo lança a sua versão do que seria uma balada pop. E, queridos leitores, novamente a cantora se mostra uma artista de visão única com o resultado sensacional de True Romance.

A dramaticidade e a construção original da canção é algo revigorante em relação a qualquer outra canção pop lançada atualmente. A produção aposta em uma slow burn densa e climática em que o resultado é algo que transita entre o sensual, o melancólico e o psicodélico. Cada pequena nuance adicionada para a tecido da canção é de uma inteligência sonora perfeita, pois nada é exagerado ou deixado de escanteio. A composição também é um ponto marcante já que continua a mostra a intensidade da cantora em conseguir criar letras de uma força emocional impressionante e, ao mesmo tempo, entrega uma estética pop excepcional, mesmo que aqui tenha uma estrutura diferente do que a cantora normalmente entrega. Entretanto, True Romance é sustentado principalmente devido a espetacular performance vocal da Tove Lo que mostra que é possível entrega vocais poderosos sem precisar necessariamente ter uma voz de um alcance gigantesco e, sim, usando seus principais atributos para mostra emoções profundas e demonstrar sentimentos complexos. Não acredito que True Romance seja para quem carece de uma canção pop redondinha, mas, sim, para aqueles que querem uma música pop realmente original.
nota: 8

WTF?

Betty (Get Money)
Yung Gravy


A verdade é que um artista como Yung Gravy não deveria ter a capacidade de entregar uma boa canção, mas alguma coisa acontece que esse rapper branco que se apoia no humor e no uso de samples para criar as suas canções consegue tirar da cartola uma canção como Betty (Get Money).

Divertida, boba, despretensiosa e deliciosamente superficial, Betty (Get Money) funciona exatamente por não ter medo de ser todas essas coisas, mas sabendo de forma inteligente como reunir tudo isso de forma realmente inspirada. Acredito que a principal qualidade da canção é a maneira exemplar e sensacional de usar o sample do clássico dos oitenta Never Gonna Give You Up do Rick Astley com base para a construção da batida rap pop/dance-pop ao saber usar a canção de forma de não exagerar no teor nostalgia e, principalmente, não desperdiçar o que o sample traz para Betty (Get Money). A presença de Yung Gravy é bem melhor que o esperado, pois o artista combina com a atmosfera de galhofa da canção com uma entrega bem melhor que muitos rapper sérios por aí, especialmente devido ao seu timbre rouco, marcante e com um toque de “sacana” bem-vindo. A composição é um amontoado de bobagem que poderia ser um erro para uma canção que se levasse a sério, mas, sinceramente, Betty (Get Money) é tipo de canção que funciona devido a nunca se levar a sério. E está tudo bem.
nota: 8

Um Ótimo Encontro

Hotel Caro
Luísa Sonza & Baco Exu Do Blues

Popularizado pela Mariah Carey, a união de uma cantora pop com um rapper não é novidade nenhuma, mas é sempre ouvir uma que consegue surpreender. Assim é a boa parceria do Baco Exu Do Blues com a Luísa Sonza em Hotel Caro. 

A grande qualidade da canção é a ótima divisão entre os dois artistas. Ao contrário de colocar um ou outro com apenas um verso menos importante para o resultado final, Hotel Caro é literalmente um dueto do começo ao fim em que as vozes de ambos ficam intercaladas entre si, abrindo espaço para alguns momentos solos. Essa decisão é de extrema importância para dar para a canção essa atmosfera de diálogo/conversa/discussão de dois amantes em crise no relacionamento. Além disso, a química entre os dois é sensacional devido ao contraste da voz delicada de Luísa e da poderosa do Baco. A ótima composição sobre as mentiras que contamos para esquecer um amor é na medida certa o equilíbrio entre o sexy, o envolvente e o dramático que consegue realmente se sobressair entre o atual cenário pop. Hotel Caro poderia ter uma produção mais enérgica, pois na tentativa de ser sensual acaba por alguns vezes ser levemente arrastado e sonolento. Isso não quer dizer que esse R&B/pop/hip hop não tenha um ótimo e classudo instrumental que se mostra encorpado e com uma sensação de completude maravilhosa. Não é a reinvenção da roda, mas Hotel Caro mostra que existe criatividade no mainstream brasileiro que precisa ser valorizada.

Uma Boa Canção é uma Boa Canção

SPACE MAN
Sam Ryder


Tenho a crença que uma boa música é sempre uma boa música não importa de onde a mesmo veio, seja pelo viral no TikTok ou como competidora no Eurovision Song Contest. Esse segundo caso se aplica para SPACE MAN do britânico Sam Ryder.

Depois de ganhar milhões de seguidores durante o lockdown ao postar vídeos no Instagram cantando canções de diversos artistas, Sam Ryder foi escolhido na Inglaterra para ser o competido no tradicional Eurovision Song Contest desse ano e terminou na segunda posição, perdendo para os representantes da Ucrânia. SPACE MAN segue uma tendencia dos últimos anos de músicas realmente boas que fazem sucesso devido a sua presença no concurso. E devo admitir que a canção é até melhor que o esperado ao ser uma ótima power balada pop que bebe diretamente da fonte dos trabalhos Elton John, especialmente de Rocket Man de 1972. Usando a metáfora sobre espaço e solidão, a composição é, sim, clichê, mas é muito bem escrita e tem uma emoção realmente genuína. Entretanto, o grande trunfo da canção é o pode vocal de Sam em uma performance versátil e poderosa, sabendo usar o seu alcance vocal e o seu lindo timbre agudo de maneira preciosa. E isso mostra que uma canção é uma boa canção quando a mesma é de fato uma boa canção.
nota: 8

7 de julho de 2022

Primeira Impressão

Love Sux
Avril Lavigne


As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer

Existem algumas canções que ganham a sua notoriedade e atemporalidade com elementos que vão além da sua própria existência. Uma apresentação marcante, uma cena memorável em um filme, um comercial lendário e, claro, um clipe genial. Hoje irei falar no As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer irei falar de uma canção que tem provavelmente um dos clipes mais importantes e geniais da história. Irei falar da canção...


5 de julho de 2022

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

Two Weeks
FKA twigs


Sem dúvida nenhuma, a FKA twigs se tornou um dos maiores nomes da música alternativa da última década devido a sua imensa qualidade artística com lançamentos aclamados pela crítica e pelo público. Entretanto, quando olho para trás notei que não resenhei a canção que deu notoriedade para a cantora. Passado oito anos do lançamento de Two Weeks é necessário dizer que a FKA twigs é dona de um dos singles debuts mais impressionante da recente história da música.

Lançada como primeiro single do seu álbum debut intitulado LP1, Two Weeks é essencialmente o que a FKA twigs representa musicalmente ao elevar para o nível de arte uma mistura azeitada, elegante e impressionante de art pop, R&B e eletrônico. Produzido pela própria artista ao lado de Emile Haynie e programação da Arca, a brilhante construção rítmica e instrumental é de magnitude estética que consegue quase uma pintura sonora em que é até presenciar as pinceladas de texturas e nuances em cada momento. Como uma teia sendo construída fio por fio, Two Weeks é delicada, envolvente, graciosa, grudenta e intricada, especialmente quando se adiciona o vocal da cantora em uma entrega simplesmente devastadora. Não sou exatamente 100% fã da estrutura da composição sobre desejo, distância e sexo, mas é preciso dizer que a cantora acerta na escolha das construções de imagens como em “My thighs are apart for when you're ready to breathe in”. O começo de uma carreira que ainda vai dar muitos frutos com essa mesa qualidade, Two Weeks é um marco para a carreira de FKA twigs que se sobressai dentro outros grandes momentos.
nota: 8,5

FKA Mainstream

killer
FKA twigs


Quem acompanha a carreira da FKA twigs notou que com os seus últimos lançamentos está ocorrendo uma transição na sonoridade da cantora ao dar um verniz mainstream para a sua persona artística. Despois da ótima mixtape CAPRISONGS, a cantora divulgou a interessante Killer.

A canção é uma deliciosa, cadenciada, envolvente e sensual mistura de eletropop, R&B e art pop com uma batida de fácil assimilação que pode desapontar quem deseja algo complexo como, por exemplo, Cellophane. Entretanto, quem se abrir para a ideia de uma FKA twigs mais pop vai se encantar pela meticulosa batida que consegue ter o seu lado artístico devido a ótimas decisões sonoras. Killer pode ser diluída sonoramente, mas a cantora continua a entregar uma performance completamente única ao saber a sua cristalina voz de maneira encorpada e assertiva. A composição também tem essa vibe envernizada para ser menos contemplativa e mais direta. Isso não tira o brilho de uma composição muito bem escrita, especialmente o seu marcante refrão. FKA twigs tem o direito de abrir o seu leque sonoro para experimentos que, no seu caso, é se jogar no pop a sua maneira.
nota: 8

Valeu a Pena?

So Good
Halsey


Recentemente, a cantora Halsey criou uma “polêmica” ao revelar que a sua gravadora estava se negando a lançar uma música sua devido a mesma não ter passado no “teste de ser viral no TikTok”. Depois de muito buchicho, a gravadora se desculpou e lançou a canção chamada So Good. E a pergunta é: valeu a pena?

So Good é uma música apenas boa. Sem maiores erros, mas sem nenhum grande acerto. A produção é na medida certa para essa rápida e rasteira balada mid-tempo pop que soa mais como filler inofensivo do que um potencial hit comercial com ou sem ajuda do TikTok. A boa composição sobre um fim de relacionamento não tem força suficiente para gerar um impacto relevante assim como a performance da Halsey que, sinceramente, poderia ser entregue por outra cantora na mesma categoria que não faria muita diferente. Acredito que artistas possa ter controle das suas escolhas, mas sempre fica a sabedoria para saber se vale a pena insistir em algo que talvez não precisasse ter tanta dedicação.
nota: 7

Uma Bomba Menor

Te Felicito
Shakira & Rauw Alejandro


Nos últimos tempos, a Shakira vem entregando algumas bombas em forma de música como GIRL LIKE ME, Don't Wait Up e Me Gusta. Em Te Felicito, a colombiana está bem longe dos bons tempos, mas, felizmente, não comete outro crime contra a música.

A canção tem alguns erros que continuam a permear as canções recentes da cantora como, por exemplo, o uso do auto-tune e o featuring desnecessário que dessa vez é do Rauw Alejandro. Além disso, a cantora não acrescenta nada de novo ou excitante para essa onda reggaeton, deixando tudo massificado e repetitivo. Entretanto, a canção tem alguns bons momentos. O primeiro é quando voz da Shakira não está afoga em efeitos, deixando a cantora brilhar com toda a sua personalidade. O segundo e o principal é a boa adição de eletropop misturado com reggaeton que funciona melhor que o esperado, criando uma batida que quase realmente se torna interessante. Apesar disso, Te Felicito é um trabalho muito aquém do que a Shakira tem a capacidade de entregar quando realmente inspirada.
nota: 6