27 de abril de 2021

As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer

A construção da girl band não é algo novo, mas para muitos parece que só existem esse tipo de atos musicais e a suas conquistas daqueles que estão no topo do sucesso na atualidade. Obviamente, existe uma grande parcela de girl bands que encontraram sucesso comercial gigantesco desde a década de noventa até a atualidade. Entretanto, gerações antes tiveram esse fenômeno inseridos firmemente no cenário musical, especialmente durante os anos sessenta e setenta. E, por isso, que hoje o As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer irá falar de uma girl band que, apesar de não tão lembrada, é de uma importância chave para a maioria das que surgiram desde a retomada do sucesso desse tipo de grupo. Irei falar sobre...


Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

Lady Marmalade
Christina Aguilera, Lil' Kim, Mýa & P!nk

Quando foi lançada a versão de Lady Marmalade para o filme Moulin Rouge! em 2001, a canção já tinha sido regravada oficialmente duas outras vezes a partir da original de 1974 do trio Labelle. Provavelmente, ninguém esperava que essa regravação iria se transformar em um marco para a história pop assim como foi a versão original, pois no papel a nova versão tinha tudo para se transformar em um verdadeiro desastre. Entretanto, apesar da importância das escolhidas para entoar a canção, o grande nome por trás do sucesso é o da Missy Elliott.

Quando produziu Lady Marmalade, a rapper/produtora Missy Elliott tinha produzido e lançado dois álbuns que encontrou aclamação da critica e do público, mas antes disso a artista tinha consolidado o seu nome como um dos nomes mais promissores e talentosos do hip hop/rap/R&B do final dos anos noventa e começo dos dois mil ao produzir para nomes como Aaliyah, Mariah Carey, Whitney Houston, Destiny's Child, entre outros. Todavia, ao produzir Lady Marmalade, Missy entrou em um território novo: o pop. É necessário dizer que a versão ou a original são canções pop, mas no caso da nova versão, Missy precisava entrar em um território que pudesse abranger um público mais amplo ao popularizar a canção para um público completamente diferente. A primeira ajuda é o tom de Moulin Rouge! dirigido por Baz Luhrmann que decidiu fazer um musical com estética de vídeo clipe e recheado de canções que iam do indie rock até o pop, passando pelo tango e o eletrônico. Entretanto, o que faz de Lady Marmalade tão especial é capacidade de Missy de saber atualizar a canção para uma nova geração sem perder, porém, a essência do original.

Produzindo ao lado de Rockwilder, Missy transforma o quer era uma disco/soul em uma eletrizante, explosiva e carismática mistura de pop, hip hop e R&B que consegue manter vivo a essência sensual/envolvente da versão original sem pender em nenhum momento para o vulgar. A produção também foge de transformar a canção em uma pastiche ao seguir por caminhos mais fáceis para transportar toda a atmosfera acetinada de Lady Marmalade. E a força dessa produção é mais do que necessário, pois o grande toque de mestre foi a escolha das interpretes. As quatro envolvidas eram em 2001 eram nomes que começavam a consolidarem suas carreiras, partindo de lugares completamente diferentes e com destinos ainda mais diferentes pela frente. Entretanto, a união da subestimada Mýa, a P!nk em sua transição sonora, Lil’ Kim reinando quase sozinha no rap e, por fim, Aguilera começando de fato o seu reinado de diva pop parece ter sido escrita nos céus musicais, pois tudo parece se encaixar com perfeição absoluta. Devo admitir que a entrada icônica da Aguilera seja inesquecível, Lady Marmalade termina sendo tão poderosa, especialmente como uma mensagem pré-empoderamento, é o épico verso da Lil’ Kim, pois, além da performance avassaladora da rapper, a momento parece dar a liga entre a letra, a produção e as performance. Vencendo VMA de Best Video of the Year e o Grammy de Best Pop Collaboration with Vocals, Lady Marmalade prova que o talento dos envolvidos, especialmente da Missy Elliott, é o equalizador perfeito para entregar momentos de pura genialidade.
nota: 8,5

Um Outro Lado de Jorja Smith

Addicted
Jorja Smith


Desde que alcançou bons resultados na parada britânica, especialmente com Be Honest, a Jorja Smith vem transitando entre o lançamento de canções mais comerciais (Come Over) e outras mais artísticas (By Any Means). Em Addicted, porém, a cantora parece querer mostrar um equilíbrio entre essas duas facetas.

Uma mistura contida e leve de R&B, drum bass e pop, Addicted tem a capacidade de soar radiofônica e, ao mesmo tempo, apresentar toques de um cuidado bem mais apurado. A canção peca devido a produção não entender muito bem como juntar de forma eficiente essas duas pontas da sonoridade da cantora, deixando a canção linear demais e sem as nuances necessárias para aprofundar a sua atmosfera climática. O principal momento que evidencia esse erro é a construção do refrão, pois o mesmo se comporta como um outro verso e, não, o coração da canção. De qualquer forma, a performance sedosa e sensual de Jorja ajuda Addicted a não ser uma canção apenas morna. Espero que a cantora consiga melhorar esse equilíbrio entre as suas personas em trabalhos futuros.
nota: 7

Novos Sabores

Be Sweet
Japanese Breakfast


Continuo a minha caminha na busca de novos artistas que, mesmo já estabelecidos, nunca tive o prazer de ouvir. E a mais recente das minhas descobertas é o projeto solo da cantora Michelle Zauner: o Japanese Breakfast. Com dois álbuns já lançados, a artista prepara para lançar o terceiro (Jubilee) e como single foi lançado a deliciosa Be Sweet.

Funcionando como uma mistura de capsula do tempo com uma canção seguidora de tendências, Be Sweet é uma suculenta, incrivelmente carismática e leve synth-pop com toques de pop rock que lembra pesadamente obras dos anos oitenta. A canção não é o tipo que gruda automaticamente na nossa cabeça como em uma explosão, mas, sim, infiltra aos poucos desde a primeira vez que a gente escuta. Essa sensação é devido a sua leveza sonora e de atmosfera solar e radiante. Liricamente simples, Be Sweet acerta na mosca no tom maduro da composição e na sua construção sem maiores artifícios. Em uma outra canção, a decisão lírica de Japanese Breakfast poderia terminar como rasa ou/e simplista, mas Be Sweet é construída para que cada palavra valesse a pena, especialmente no adorável refrão. Ao entregar Be Sweet de forma tão despretensiosamente interessante, Japanese Breakfast se mostra uma artista muito mais excitante que o esperado.
nota: 8

A Garota Que Queria Salvar o Mundo Com o Pop

Purge The Poison
MARINA


A nova era da Marina, ex and the Diamonds, parece que irá ser sobre a vontade da cantora de querer salvar o mundo do seu pior desastre: a humanidade. Depois de Man's World que já tinha a intenção de falar sobre problemas da sociedade, Purge The Poison mostra um lado ainda mais agressivo em uma canção que não deveria funcionar na teoria, mas que acaba melhor que a encomenda.

Purge The Poison é uma pop rock/electropop que tem uma batida agressiva, marcante e estranha que parece que não vai funcionar, mas que se sustenta bem devido a boa construção instrumental e a atmosfera climática dada pela produtora Jennifer Decilveo. Com um caimento áspero e, ao mesmo tempo, envolvente, a canção consegue conquistar devido a sensação de chutar o balde para querer agradar gregos e troianos. Marina entoa Purge The Poison com uma raiva ruidosa sem perder, porém, o seu timbre aveludado e encorpado que parece funcionar para qualquer tipo de canção. A composição é o calcanhar de Aquiles da canção ao querer abocanhar vários assuntos como, por exemplo, mudança climática, covide-19, feminismo e até o #FreeBritney em um trabalho verborrágico e que beira o pieguismo. Gostar do resultado lírico é o ponto de equilíbrio que fará o público gostar ou não de Purge The Poison. Na minha visão, todo esse caldeirão é a prova que Marina está pronta para se erguer das cinzas seguindo as suas regras.
nota: 7,5



21 de abril de 2021

2 Por 1 - Doja Cat

Kiss Me More (feat. SZA)
Streets
Doja Cat

Ainda é complicado para mim analisar as canções da Doja Cat devido a todo o contexto que a cerca. Além das polêmicas que a artista está envolvida nos últimos anos, a carreira de Doja é assombrada pelo fantasma Dr. L#ke que é compositor/produtor de várias canções da artista como é o caso do sucesso Say So. Esse último problema é amenizado com a possibilidade da artista ainda ter que trabalhar com essa pessoa devido aos contratos assinados no começo da carreira. Isso não tira o peso incomode de ouvir Kiss Me More.

Com a participação da SZA, a canção é a aposta da cantora/rapper para ter o mesmo impacto do seu maior sucesso. Em partes, Kiss Me More alcança esse feito ao ser uma envolvente e carismática dance-pop/disco pop que tem personalidade suficiente para se destacar em relação a Say So. O problema, além de ter o dito cujo envolvido como já citado, é que o resultado final da canção parece envolvido em uma película sonolenta. A batida parece não empolgar no nível que poderia, mas, sim, fica entre o caminho entre o sensual/envolvente e o explosivo/dançante. Existe, sim, uma produção bastante redondinha e gostosinha que sabe adicionar nuances interessantes na canção. O que não é existe é um toque de mestre para fazer a canção brilhar inteiramente. Apesar de uma performance adocicada e bem colocada, SZA não consegue dar peso real para o resultado de Kiss Me More. Já Doja mostra carisma sem apresentar nada de novo em uma performance metade cantora, metade rapper. Quando Doja tem um material mais explosivo, porém, a mesmo é capaz de entregar algo como o sucesso viral de Streets.

Ainda parte do álbum Hot Pink, a canção ganhou destaque devido o seu sucesso no Tik Tok para depois ganhar destaque nas paradas e virar single. Sem a presença do inominável na produção ou composição, Streets é a prova da versatilidade de Doja Cat em uma canção sensual, densa e com uma personalidade bastante distinta de tudo que a mesma apresentou até agora. Uma mistura de R&B com hio hop que se assemelha com os trabalhos do The Weeknd, especialmente no seu começo de carreira, Streets mostra a maturidade sonora que Doja pode chegar quando deixa de lado saídas fáceis para construir uma identidade mais aprimorada. Densa e sombria, Streets se beneficia e muito da dualidade entre a cantora e a rapper de Doja que dá ainda mais corpo para a canção. É fato que Doja Cat é um talento, mas ainda precisa aparar o excesso de problemas que estão em volta da sua carreira.
notas
Kiss Me More: 7
Streets: 8



Gwen, Assim Fica Difícil Te Defender!

Slow Clap/ Slow Clap (feat. Saweetie)
Gwen Stefani

Sempre tento dar um desconto  nas resenhas da Gwen Stefani, pois a cantora é dona de um dos meus álbuns favoritos de todos os tempos, a obra de arte pop Love. Angel. Music. Baby. Entretanto, a cantora não vem ajudando em nada com lançamentos como a desastrosa Slow Clap.

Slow Clap é uma clara tentativa de “imitar” a icônica Hollaback Girl, especialmente devido a versão com a participação da rapper Saweetie que entra no lugar da Eve. A ideia é até boa e a produção consegue até tirar leite de pedra com a batida pop/reaggae, mas a formula criado pelo The Neptunes parece ser recriada da maneira mais sem graça possível e, principalmente, sem o magnetismo da canção “original”. O problema central é, na verdade, a péssima composição sobre resiliência e positividade que parece não querer falar nada com nada e cheia de frases de efeito que não tem o único efeito um risinho amarelo. O pior momento é o terrível refrão e a repetição irritante de “Clap, clap/ Clap, clap, clap, clap/Clap de-clap de-clap clap”. A presença da Saweetie não é ruim, mas não altera em nada a estrutura ou a qualidade da canção. Gwen, querida amiga, se continuar assim não vai dá mais para te defender.
notas
Solo: 5,5
Featuring: 5,5

Uma Aula Pop

Musician
Porter Robinson


Apesar de não ser tão boa quanto o single anterior do Porter Robinson, a sensacional Look at the Sky, Musician é uma verdadeira aula pop, especialmente feita para aqueles DJ produtores de farofa.

Construída a partir da melodia de It Takes Two do Rob Base and DJ E-Z Rock e de uma parceria não laçada do DJ com a banda Kero Kero Bonito, Musician é uma cativante, rica e tocante mistura de electropop e synth-pop que apresenta um cuidado instrumental precioso. Sem precisar em nenhum segundo recorrer a saídas fáceis com a adição de um “pancadão”, Porter Robinson consegue dar emoção para uma canção que seriam normalmente associada a “fritação” em raves quando o mundo voltar ao normal. Boa parte dessa sensação vem da ótima composição sobre as angustias que o DJ teve ao escolher o mundo da música como caminho para a sua vida. Sensível e emocionante sem parecer piegas, a canção deixa claro a sofisticação artística do Porter Robinson em um oceano de massificações.
nota: 8

17 de abril de 2021

Solista de Uma Banda

Starstruck
Years & Years


Antes conhecido como um trio, o Years & Years transforma em uma banda de um homem só com o vocalista Olly Alexande seguindo carreira solo, mas mantendo o nome do projeto. E como primeira canção foi lançada a legal Starstruck.

Devo admitir que tenho o Years & Years em alta conta, principalmente devido ao álbum Palo Santo que considero como genial. E é por isso que Starstruck é meio decepcionante. Longe de ser ruim, o single não vai muito além do bom arroz com feijão bem feito. Um synthpop como toques de electropop e verniz dos anos oitenta, a canção melhora de fato na sua parte final quando a produção incrementa fortemente a instrumentação e isso dar mais corpo para o resultado final. Tirando isso, a produção faz certinho a cartilha de pop dançante com referências de uma década. Enquanto Olly continua a brilhar como um vocalista carismático, Starstruck poderia ter uma composição mais impactante e menos fofinha. De qualquer forma, a continuação do Years & Years é a garantia da continuação de um projeto realmente que merece ainda mais destaque.
nota: 7

Sonhos Reais

Chosen Family
Rina Sawayama & Elton John

Com o sucesso de critica e público que o seu debut atraiu no ano passado, Rina Sawayama conquistou um fã bastante ilustre: Elton John. O lendário cantor escolheu Sawayama como um dos melhores álbuns do ano passado, tecendo vários elogios para o trabalho. E é por isso que é o lançamento da nova versão de Chosen Family com a participação do Elton é outra imensa vitória para a carreira da Rina Sawayama.

Ao analisar a canção original disse que Chosen Familyé uma quase tradicional balada pop rock/indie pop que não tem nada de criativo na sua construção, mas mesmo assim é um trabalho inspirado.”. Nessa nova versão não existe uma alteração dessa qualidade, mas, sim, a adição muito bem vinda de mudanças que mostram o carinho que Elton tem pela cantora. Primeiramente, o cantor não termina como um backvocal de luxo, pois a sua presença é bastante forte durante toda a canção. Apesar da sua performance cantando o segundo verso é um pouco áspera vocalmente, Elton volta a brilhar em dueto com Rina e, principalmente, no momento antes do clímax final. Em segundo, as mudanças instrumentais mostram a presença marcante do piano de Elton dando um toque contemporâneo para a canção. E com essa assinatura de qualidade mais do que certificada, Rina Sawayama continua a sua caminhada de ser um dos melhores nomes do pop da atualidade.
nota: 7,5

Entre Lá e Cá

Spinning
No Rome, Charli XCX & The 1975


Quando vi que tinha sido lançado uma canção que tinha a participação da Charli XCX e da banda The 1975 fiquei realmente excitando sobre qual seria o resultado dessa união. Ao ouvir Spinning que é, na verdade, do DJ No Rome com participação dos dois citados fiquei realmente dividido.

Spinning não é uma música ruim, mas passa bem longe de ser o que a minha mente pensou que seria uma canção com a presença de Charli XCX e o The 1975. Todavia, a canção também não é algo que eu não pensaria que seria o resultado da união de um DJ de indietronica, uma cantora indie pop/electropop e uma banda de synth-pop/indie rock. Spinning é uma bem modelada EDM/dance-pop que consegue mostrar as personalidades de todos os envolvidos, mas sem dar um passo adiante para entregar algo realmente poderoso. Simpática e dançante, a canção também poderia dar mais chances para Charli e o The 1975 terem mais destaque e não terminarem de forma bagunçada em um refrão final quase esquizofrênico de cacofonias de todos os lados. Esse final, porém, também dá certa liga para canção não terminar sendo linear demais, pois injeta um clímax verdadeiro. Confusa e divertida, Spinning termina no meio do caminho entre a bomba e a genialidade.
nota: 7

15 de abril de 2021

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

DEMIDEVIL
Ashnikko

Entregando os Pontos

Beautiful Mistakes
Maroon 5 & Megan Thee Stallion


Acredito que já passou da hora do público largar a mão do Maroon 5, pois a banda é incapaz de entregar uma canção realmente boa já faz um bom tempo. A nova bomba é a fraca Beautiful Mistakes com a participação Megan Thee Stallion.

Ao contrário de outras canções lançadas pela banda nos últimos tempos, Beautiful Mistakes não é uma bomba de tamanho atômico. É apenas extremamente mediana e esquecível, algo que seria impossível de falar sobre o começo da carreira da banda. O grande problema é a total falta de tempero em canção linear, repetitiva e estática sonoramente. Não chega a ser irritante, mas passa bem longe de ser excitante. Uma composição clichê que tem um refrão aceitável tenta esconder a falta criativa da produção assim como a performance sonolenta de Adam Levine e o erro de escalação ao colocar Megan em um verso dispensável em que a rapper entrega a sua performance mais dispensável da sua carreira até agora. Beautiful Mistakes acaba sendo apenas um grande erro que deveria nem ter sido lançada.
nota: 5

New Faces Apresenta: Masked Wolf

Astronaut In The Ocean
Masked Wolf

Sucesso viral impulsionado pelo Tik Tok, Astronaut In The Ocean é o tipo de canção que poderia passar desparecido perante o grande público se não fosse a rede social. Felizmente, o single do australiano Masked Wolf é uma canção que tem os seus méritos para o sucesso.

Astronaut In The Ocean é um hip hop/rap melódico que segue os caminhos de Post Malone ao entregar uma batida radiofónica e extremamente grudenta. Não é genial, mas a produção é redonda e bem pensada, pois a canção consegue ter personalidade própria apesar da sua clara referência. Como rapper, Harry Michael, nome de nascimento do artista, entrega uma performance segura e com nuances que conseguem dar uma “cara” para o seu flow enérgico e direto. Todavia, o grande e principal destaque de Astronaut In The Ocean é a sua ótima composição. Na verdade, a letra sobre os sentimentos de quem sofre de depressão é o principal motivo para a canção realmente funcionar, pois, mesmo com várias passagens divertida, a mensagem passa uma força emocional verdadeira. Uma pena, porém, que ao ser apenas um sucesso viral, Astronaut In The Ocean se perde entre dancinhas bobas em vídeos de um minuto apenas.
nota: 7

12 de abril de 2021

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Bang
Rita Ora & Imanbek



A Força da Palavra

Thumbs
Lucy Dacus


A música faz a gente ter a capacidade de sentir emoções das mais variadas possíveis, mas, principalmente, é responsável por fazer a gente entrar em contato com sentimentos escondidos ou/e que a nunca fomos capazes de sentir. Em Thumbs, a cantora Lucy Dacus entrega uma das mais avassaladoras entregas líricas que tive a honra de escutar em muitos anos.

Parte do trio Boygenius ao lado das geniais Phoebe Bridgers e Julien Baker, Lucy Dacus já tem uma carreira solida com dois bem avaliados álbuns lançados até o momento. Entretanto, Thumbs mostra a cantora de indie rock entrando em um nível novo, pois o público é contemplado com uma verdadeira obra de arte em forma de canção. E parte dessa sensação vem da sua magistral e devastadora composição. Lucy narra o encontro de uma pessoa que a mesma ama com o pai do mesmo, contando de forte tocante e forte toda os sentimentos envolvidos. Na composição, esse pai ausente parece querer reatar um relacionamento que no passado causou apenas sofrimento sem parecer se importar em assumir seus erros do passado. Vendo a pessoa que ama completamente abalada emocionalmente com esse encontro, Lucy faz uma confissão chocante e, ao mesmo tempo, compressível ao falar do genial refrão: I would kill him/ If you let me.

O poder da composição em Thumbs não recaí somente apenas na surpreendente declaração de Lucy/narrador, mas, também, na construção perfeita de todo o cenário do encontro do começo ao fim, a observação da cena com seus detalhes materiais e emocionais e todo o amor e dor expressa por toda a letra. Cada verso é como um soco no estômago. Um pequeno corte profundo que se repete várias vezes. Um turbilhão de emoções que traga o ouvinte para ume estado de lágrimas genuínas. E isso é sem contar a performance melancolicamente contida de Lucy que entrega todas os sentimentos de forma impressionante e genial, pois não precisa de grandes arrombos para carregar o imenso peso da composição. Sonoramente, Thumbs é uma slow burn/minimalista indie rock que de forma climática consegue capitar toda a força da intenção por trás da canção ao acompanhar com descrição e de uma beleza atemporal. Depois de ouvir Thumbs é quase impossível se manter sóbrio emocionalmente e, também, não afirmar que Lucy Dacus é dona de uma das melhores canções dos últimos tempos.
nota: 9

Tempestade Perfeita

The Last Man On Earth
Wolf Alice


Mais importante que o clímax final de uma canção é como o caminho para esse momento é construído, pois tudo por ir por água abaixo no instante que essa base não seja segura o suficiente para dar sustentação para o clímax final. Em The Last Man On Earth, a banda Wolf Alice entrega a tempestade perfeita para o grande momento final.
Assim como a sonoridade da banda, The Last Man On Earth é uma mistura de indie rock com rock alternativo transformado em uma power balada clean e direta. O resultado poderia facilmente descambar para o clichê caso a produção de Markus Dravs (Coldplay, Florence + the Machine, Mumford & Sons) não construísse uma complexa e densa atmosfera que começa delicada e melancólica a base de piano para se transformando aos poucos em uma poderosa e acachapante explosão controlada que consegue derrubar até os mais fortes emocionalmente. Boa parte desse efeito é devido ao excelente trabalho de instrumentalização que em nenhum momento deixa a canção cair em clichês, mas, sim, cria um arranjo enredado, maduro e se uma segurança melódica impressionante. Entretanto, The Last Man On Earth não teria a mesma força se não fosse pele performance da vocalista Ellie Rowsell, pois com a sua entrega delicadamente ácida e o seu timbre angelical, a canção consegue transmitir de maneira esplêndida toda a cortante crítica sobre as inconsistências de quem se acha a mais perfeita das criaturas. Construída instrumentalmente de maneira a resultar em um clímax espetacular, The Last Man On Earth é uma das raras canções que valem a pena a jornada e o destino final.
nota: 8,5

Versatilidade Rara

Foi Mal
Urias

O que falta para as estrelas pop brasileiras? Várias coisas poderiam ser citadas, mas acredito que a maior delas falta é versatilidade para poder caminhar entre estilos sem precisar perder a sua essência. Esse não é caso da Urias que entrega a surpreendente Foi Mal, segundo single do seu primeiro álbum.

Completamente diferente de Racha, Foi Mal é uma romântica e mid-tempo mistura de synth-pop com indie rock que parece emoldurar uma atmosfera anos oitenta da música brasileira. Apesar de soar estranha no começo, a canção vai conquistando devido a sua magistral construção instrumental que consegue equilibrar todas as referências de forma poética e madura em um instrumental robusto. Devo admitir que apesar de gostar bastante do resultado ainda noto alguns errinhos que poderiam ser melhor elaborados como, por exemplo, a produção vocal um pouco equivocada e a composição que poderia ser mais substancial. De qualquer forma, Urias mostra como uma artista pop pode e deve quebrar expectativas sem perder a essência de forma estilosa e exemplar.
nota: 7,5

9 de abril de 2021

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

My Humps
Black Eyed Peas

Assim como existem canções que melhoram ao longo dos anos que se passam depois do seu lançamento também existem canções que pioram. Às vezes, porém, essa canção que a gente percebe que piorou não simplesmente perdeu qualidade e, sim, a gente começou a realmente perceber a má qualidade sempre teve. Esse é caso de My Humps do Black Eyed Peas.

Lançado em 2005 no auge do sucesso do grupo com o lançamento de Monkey Business, quarto álbum da carreira deles e segundo com a presença da Fergie, My Humps se tornou um sucesso comercial e, ao mesmo tempo, teve impacto cultural. Um impacto ruim devido a sua recepção extremamente negativa, especialmente em relação a composição sexualmente explicita e considerada machista. Citada em vários momentos como uma das piores canções de todos os tempos, My Humps alcançou o número três na Billboard com repercussão mundial, especialmente no Brasil, venceu o Grammy de Best Pop Performance by a Duo or Group with Vocal e se tornou uma das canções assinatura do Black Eyed Peas. Depois de dezesseis anos do seu lançamento, My Humps continua a confirmar o seu lugar de grande desastre musical, mesmo encontrando um lugar de carinho na memória de muitas pessoas. Incluindo a minha memória afetiva.

Vamos aos fatos: My Humps é machista. Não estou querendo ser “lacrador” em cima de canção que serve apenas para diversão, mas, sinceramente, entender a letra da canção é um verdadeiro passei para a terra da vergonha. E nem mesmo chega perto do famoso prazer culposo, pois isso está muito longe de chegar perto do desastre que é a composição aqui. Apesar de ser tecnicamente muito bem construída, a letra é de uma pobreza gramatical gigantesca e de uma visão que coloca a mulher apenas com uma exploradora de homens devido a seu corpo curvilíneo. Até é possível estabelecer uma tentativa de defender a canção ao falar que a “narradora” aqui não tem problema em ser usada, pois tem consciência do seu papel nessa “troca”. Todavia, o resultado passa bem longe de qualquer tentativa de empoderamento, mas, sim, de sexualização descabida e sem freios. Claro que em 2005 não havia tamanha consciência sobre esse tipo de representação da mulher como acontece atualmente. Até pode ser verdade, porém, Milkshake da Kelis fez um trabalho infimamente melhor ao colocar uma mulher como a peça central do seu desejo sexual dois anos antes. Na verdade, My Humps ainda erra ao ser uma tentativa de “imitar” o hit da Kelis.

Sonoramente, o sucesso do Black Eyed Peas é uma mistura de electropop, dance-pop e hip hop cadenciado com base de percussão que se assemelha bastante com a proposta de Milkshake. Entretanto, o resultado aqui é bem menos inspirado, apesar de terminar em uma batida perfeitamente viciante do começo ao fim. Isso não quer dizer que a falta de criatividade não se mostre com força ao longo da duração de My Humps fantasiado de ideias geniais como, por exemplo, a adição de vocalizações em forma de baforadas que está presente em toda a canção. O que salva a canção de não ser uma verdadeira bomba são as performances de Fergie e de will.i.am, especialmente o da cantora. Antes de tentar a carreira solo mais meteórica de todos os tempos, Fergie mostrava o seu carisma em uma entrega despretensiosa, sexy, divertida e cheia de personalidade. A performance da cantora é tão boa que deveria estar em uma canção bem melhor. E, apesar de ser o produtor dessa bomba, will.i.am mostra que tem química com a Fergie de forma natural. Ainda existem algumas canções que entram nessa categoria de envelhecer igual leite fora da geladeira, mas My Humps tem alcunha de ser aquela que já era ruim quando foi lançada. O problema é que muitos não perceberam devido a uma ilusão de ótica muito bem feita do Black Eyed Peas.
nota: 5,5

A Vingativa do Detran

deja vu
Olivia Rodrigo


Continuando o seu caminho para se transformar na próxima grande estrela pop, Olivia Rodrigo resolveu continuar a história que começo do smash hit driver’s license, mas dessa vez mostra um lado bastante ácido. Em deja vu, a cantora deixa de lado a tristeza de lado para entregar a sua versão de You Oughta Know da Alanis Morissette.

Assim como o clássico dos anos noventa, deja vu é uma crônica ácida do boy lixo que trocou Olivia por outra ao usar exatamente os mesmos “truques”. E, por isso, Olivia está pronta e se sentindo vingativa para jogar na cara todas as verdades na cara do ex. Apesar de não alcançar o mesmo nível de Alanis, Olivia entrega ao lado do produtor Daniel Nigro uma letra extremamente bem escrita, divertida, irônica e com passagens sensacionais (Play her piano but she doesn't know/ That I was the one who taught you Billy Joel). Sabendo muito dosar o lado “pop” com uma entrega emocional perfeita, deja vu também é um prato cheio para a cantora mostrar versatilidade vocal em uma performance com texturas e nuances interessantes. Sonoramente, a canção continua nesse indie pop que transita entre a sonoridade da Lorde e da Ariana Grande, mas dessa vez é com uma pegada mid-tempo que dá certo alcance para a ainda parca discografia da cantora. Falta, porém, algum toque de mestre para elevar o resultado final, pois a canção perde certo brilho em comparação com a novidade do trabalho anterior. Agora é esperar se esse meteoro chamado Olivia Rodrigo irá manter o brilho por tempo suficiente para realmente virar uma estrela.
nota: 7,5

Decepção Dupla

Drunk (And I Don't Wanna Go Home)
Elle King & Miranda Lambert

É decepcionante ouvir a parceria de dois artistas talentos resultar em algo tão mediano como é o caso de Drunk (And I Don't Wanna Go Home), união da Elle King com a Miranda Lambert.

Segunda parceria da cantora country e da dona do hit Ex's & Oh's, Drunk (And I Don't Wanna Go Home) é um verdadeiro banho de água fria para quem esperava algo vibrante, encorpado e surpreendente. O principal culpado para o resultado bem abaixo da média é a produção que entrega uma canção estranhamente datada, instrumentalmente falha e com uma atmosfera completamente anêmica ao misturar indie rock com country de forma a tirar qualquer graça em um arranjo realmente pobre criativo. Misturando decisões erradas com apatia sonora, Drunk (And I Don't Wanna Go Home) também tira o brilho das duas cantoras, pois, apesar de se esforçarem para segurar a canção, Elle e Mirando soam apagas devido a uma produção vocal que prefere dar mais espaço para o instrumental que para as vozes das cantoras. O único ponto bom do single é a divertida composição, especialmente do redondo e carismático refrão. Entretanto, isso não é suficiente para salvar essa decepção de proporções gigantescas. Uma pena.
nota: 5

A Influência Taylor

Drive
Ashley Monroe


Reinando suprema no topo da indústria fonográfica, a Taylor Swift começa a mostrar a sua influência direta sob outros artistas. Esse é o caso da cantora Ashley Monroe e seu single Drive.

Apesar de já muito bem estabelecida dentro da cena country desde o seu trabalho com o grupo Pistol Annies e a sua carreira solo, a cantora parece dar um leve desviada com a sonoridade country/indie rock de Drive. Sem mudar drasticamente o seu caminho, o single adiciona um verniz bem elaborado e muito bem dosado de influências para criar uma canção segura e melódica. Falta, porém, uma leveza mais apurada que a cantora sempre trouxe nas suas canções, apesar da performance vocal cumprir um pouco desse lugar. O erro em Drive é soar mais como um filler com influência da Taylor do que uma canção com visão de Ashley Monroe sobre o que seria a influência da contemporânea na sua sonoridade.
nota: 7

6 de abril de 2021

Primeira Impressão

Magic Mirror
Pearl Charles

Sono Rosé

On the Ground
Gone
Rosé

Apesar da crescente onda de preconceito descarado contra asiáticos, especialmente nos Estados Unidos, artistas asiáticos vêm ganhando mais espaço dentro do mainstream devido ao sucesso comercial do k-pop. Depois de entrarem no mercado como boy/girl bands, a nova onda pode ser a dos lançamentos solos dos integrantes dos principais destaques como é o caso da Rosé, integrante do Blackpink. Isso não quer dizer que o público em geral será presenteado com um trabalho sensacional, pois o single duplo R é muito aquém das possibilidades que a jovem poderia entregar.

Dividido em duas canções, On the Ground e Gone, o trabalho erra no instante que dá para Rosé uma personalidade completamente diferente do seu trabalho com a girl band, pois o resultado é o mais sem graça possível. Ao invés de dar força, a produção decide entregar um pop/R&B que mais parece algo saído de uma série musical teen da Disney do que a primeira prova do talento solo da artista. Em On the Ground, a melhor das duas, Rosé segura muito bem a canção, mas não é suficiente para dar personalidade verdadeira para uma canção anímica e completamente anticlimática. Com uma letra piegas sobre vencer os desafios ao se manter humilde, On the Ground não dá a imagem perfeita sobre o que a Rosé pode entregar quando ter em mãos algo realmente excitante. E, infelizmente, Gone piora a situação, pois o seu resultado não poderia ser mais genérico e esquecível possível. Soando como um descarte de um álbum do Justin Bieber, a canção é tão pedestre que fica até difícil imaginar alguém achando que a canção poderia ser o debut single de uma possível estrela do pop mundial. Sinceramente, espero que os próximos passos da Rosé e/ou do Blackpink possam ser melhores, pois até o momento é tudo muito barulho por quase nada.
notas
On the Ground: 5,5
Gone: 5

Além da Música

The Princess and the Clock
Kero Kero Bonito

Existem alguns artistas que para o público conseguir entender bem a sua sonoridade é preciso compreender um pouco sobre as referências que o mesmo usa para construir uma opinião sobre o seu trabalho. Esse é caso da banda britânica Kero Kero Bonito.

Formados em 2011 e já com dois álbuns lançados, a banda faz uma mistura de indie pop/rock, J-pop, dancehall e música de vídeo game. Obviamente, os gêneros/estilos citados não são obscuros, mas se você não tiver a noção mínima de alguns deles irá perder parte do efeito da sonoridade da banda. Em The Princess and the Clock, single do EP Civilisation II a ser lançado em Abril, a banda mostra exatamente a suas referencias em uma canção divertidamente estranha e cheia de camadas suculentas, mas que parte do público mainstream poderá achar esquisito.

The Princess and the Clock que consegue unir toques de J-pop com uma forte influencias de trilhas sonoras de vídeo game para construir uma fofa, dançante e estilizada synthpop/ecltropop que ganha pontos principalmente na sua construção bem mais encorpada que uma escutada descompromissada. Não digo que a canção seja de fácil entendimento e, também, não faz a gente gostar no primeiro instante, mas, tirando esse defeito, The Princess and the Clock tem uma batida limpa, muito bem pensada e com uma instrumentalização muito acima da média para esse tipo de canção. O delicado e bonito conto de fadas que é a composição ajuda a entender melhor que o Kero Kero Bonito não é uma banda que apelas para o fácil e, sim, busca saída originais para a suas canções. E a performance da vocalista Sarah Bonito é de uma personalidade única, pois consegue manifestar toda as suas facetas indie pop em apenas uma canção sem perder, porém, uma personalidade intrigante e sem deixar o seu timbre delicado ser engolido pela canção. Até pode ser um empecilho entender as referencias antes de escutar uma canção, mas isso não impede de The Princess and the Clock ser uma ótima canção.
nota: 8

Renascimento

TCHAU
Gaby Amarantos & Jaloo

Apesar de ser fã da pessoa Gaby Amarantos não acompanhava a sua carreira musical desde o seu estouro em 2012 com o hit Ex Mai Love e o álbum Treme. No ano passado, porém, a cantora lançou a ótima Vênus em Escorpião e gerou uma sincera atenção da minha parte. Felizmente, parece que a boa fase vai continuar com o lançamento da divertida TCHAU.

Como é de se esperar, Gaby Amarantos entrega uma deliciosa e carismática mistura de brega, techo brega, arrocha e toques bem vindos de pop em uma canção que não tem medo de exalar a sua brasilidade. A grande diferença para trabalhos contemporâneos é a ótima produção que dá para canção corpo e personalidade e, principalmente, a boa construção instrumental. A sua composição é despudoramente brega, direta e com pitadas de dramalhão que casa perfeito com a estética da canção. O problema em TCHAU, porém, é a sua rápida duração que deixa um gosto grande de quero mais e, também, os efeitos vocais na voz de Jaloo que não ajuda a dar química com a presença marcante de Gaby. De qualquer forma, a canção é a reafirmação do talento raro de Gaby Amarantos que precisa ser redescoberto urgentemente.
nota: 7,5


4 de abril de 2021

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Revelación
Selena Gomez



Plantando os Dois Pés

MONTERO (Call Me By Your Name)
Lil Nas X


O sucesso arrasa quarteirão de Old Town Road parecia que iria se transformar na única grande façanha do Lil Nas X perante a indústria fonográfica, mas isso mudou no momento em que o rapper se assumiu gay. Apesar de não ser o primeiro, Lil Nas X ganhou o status único devido ao seu apelo comercial mainstream e, claro, estar inserido dentro de um gênero notoriamente preconceituoso. Com o lançamento de MONTERO (Call Me By Your Name), o rapper parece fincar ainda mais os dois pés como esse artista que veio para desbravar mares nunca navegados.

Com um clipe descaradamente e orgulhosamente queer, Lil Nas X faz de MONTERO (Call Me By Your Name) um novo hino para a comunidade LGBTQI+ que, felizmente, resulta em uma música realmente ótima. O grande ponto positivo da canção é a sua refinada e inteligente produção que saber misturar hip hop com electropop com toques de flamenco, country, trap e latin music em uma batida direta, divertida, carismática, comercial e com força suficiente para poder conquistar críticos mais exigentes. Apesar de curta, o single consegue unir tantas referências de forma madura e, principalmente, original como merece o Lil Nas X, pois o rapper entrega uma composição esteticamente acertada com um refrão viciante e marcante. Entretanto, a temática de MONTERO (Call Me By Your Name) é a sua maior qualidade: Lil Nas X fala abertamente e sem medo sobre uma aventura sexual com outro homem. Muitos podem até parecer bobo ressaltar isso, mas, infelizmente, alguns anos atrás esse tipo de liberdade não seria possível ser nomes como Sam Smith, Frank Ocean, Troye Sivan e, claro, o próprio Lil Nas X não tivessem dando a cara a tapa na conquista de espaço para expressarem a suas vozes. E que venham mais do Lil Nas X e de mais uma nova geração que tem a chance de serem quem realmente são de verdade.
nota: 7,5

Uma Revolução Íntima

Safe Passage
Laura Mvula


Normalmente quando a gente não sabe exatamente o que esperar de um artista, mesmo a gente já ter ouvido vários dos seus trabalhos anteriores, é sinal que existe um problema em relação a construção da sua sonoridade. Existem alguns casos, porém, que fogem a essa norma como é a Laura Mvula e o single Safe Passage.

Parece existir algo de novo sempre que resenho um trabalho da cantora britânica, mas essa sensação está longe de ser um problema da artista e, sim, uma qualidade em que devemos esperar o inesperado. Em Safe Passage, a cantora entrega uma elegante, marcante e inesperada mistura de R&B, pop contemporâneo e uma dose surpreendente dos anos oitenta que vai invadindo de maneira sutil, mas sempre constante e notável. A nítida batida de tambores e a inclusão de sintetizadores são os principais motivos para essa sensação, especialmente quando podemos comparar a canção com Let the River Run da Carly Simon. A poderosa performance de Laura Mvula combina perfeitamente com a composição sobre se libertar de um relacionamento falido. Uma pena, porém, que a letra é um pouco abaixo do esperado, pois poderia se aprofundar mais nas boas ideias. Felizmente, Safe Passage é sonoramente excitante o suficiente para a gente descobrir mais uma vez a Laura Mvula.
nota: 7,5

Loucuras de Noite de Verão

Pay Your Way In Pain
St. Vincent


Ouvir o primeiro single do sexto álbum da St. Vincent (Daddy's Home) é como entrar em um caldeirão de referências em uma noite louca de verão. Em cerca de três minutos, Pay Your Way In Pain consegue mostrar mais referencias construídas com elegância e inteligência que muitos álbuns inteiros por aí.

Tente imaginar uma mistura de David Bowie nos anos setenta com o último álbum da Fiona Apple com toques de Kate Bush em uma neblina densa psicodélica que, apesar de uma descrição tão detalhada, ainda deixa faltando alguns detalhes importantes de Pay Your Way In Pain. Complexa e, ao mesmo tempo, não muito difícil de se assimilar, a canção é uma dose nostálgica de indie rock dos anos setenta com pinceladas fortes de funk e synth-pop que consegue ser estranha, deslocada e extremamente divertida. Produzida e escrita pela própria St. Vincent ao lado de Jack Antonoff, a canção tem uma composição esquisitamente humana que releva que a vida continua mesmo quando a gente está enfrentando os maiores problemas pessoais em uma mistura ácida e delicada de crônica sobre as dores do dia-a-dia. Em uma performance acachapante e completamente imprevisível, a cantora parece ser a cola que une qualquer ponta solta para fazer de Pay Your Way In Pain uma das canções na corrida para ser a melhor de 2021.
nota: 8,5