30 de maio de 2021

Primeira Impressão

Chemtrails Over the Country Club
Lana Del Rey

Um Lapso

White Dress
Lana Del Rey


White Dress, terceiro single de Chemtrails over the Country Club, é um verdadeiro lapso dentro da discografia recente da Lana Del Rey. Completamente diferente da maioria das canções lançadas pela cantora, o single deixa claro que uma pitada de pimenta pode elevar todo um material.

A grande qualidade da canção é a performance vocal avassaladora de Lana. Ao trabalha em um registro agudo da sua voz por quase toda a duração da música, a cantora entrega uma performance de uma carga emocional pesadíssima. Essa ousadia é o tipo de toque que Lana precisaria para sempre soar refrescante sem alterar de fato a sua consagrada persona artística. Entretanto, White Dress não funciona apenas devido a presença da cantora, pois a produção acerta ao adicionar um verniz de americana na já sólida sonoridade indie rock/pop. Uma pena que a canção parece como um acerto quase solitário dentro de um amontoado de canções que seguem uma formula preestabelecida.
nota: 8

29 de maio de 2021

Metamorfose Ambulante

t r a n s p a r e n t s o u l  (feat. Travis Barker)
Willow

Desde que fez a sua estreia meteórica aos nove anos de idade com o sucesso Whip My Hair, Willow Smith vem se transformando em uma artista multifacetada e extremamente corajosa ao navegar por diversas facetas sonoras. Dessa vez, a cantora mostra o seu roqueira com a boa t r a n s p a r e n t s o u l, estilização de Transparent Soul.

A canção é melhor que poderia ser imaginada, apesar de alguns defeitos. Entregando um rock mais tradicional misturado como punk e pop, a cantora se mostra uma camaleoa ao segurar graciosamente os vocais e entregar personalidade suficiente, lembrando até mesmo os áureos tempos da Avril Lavigne. Com a participação do musico Travis Barker do Blink 182 na bateria deixa claro a intenção de emoldurar a sonoridade do final dos anos noventa e começo dos anos dois mil. Sonoramente, o problema de t r a n s p a r e n t s o u l é  terminar de maneira abrupta sem alcançar o clímax que seria ideal para elevar o resultado final. Sem maiores pretensões do que fazer música que a agrade, Willow vai se tornando uma artista única ao ser dona do seu próprio destino.
nota: 7

New Faces Apresenta: The Kid LAROI

Without You / WITHOUT YOU (Miley Cyrus Remix)
The Kid LAROI & Miley Cyrus

Nos últimos tempos tenho reparado que parece que estamos na mercê do ressurgimento do pop punk ouvido no começo dos anos dois mil como um gênero comercialmente relevante. E um dos nomes a ajudar esse revival é o do novato the Kid Laroi com o sucesso de Without You.

Sem ter vivido a época de ouro do gênero já que nasceu em 2003, Charlton Kenneth Jeffrey Howard, nome de nascimento do cantor, parece ser um herdeiro direto dos artistas da época ao entregar uma decente, mas falha, pop punk de boutique comercial que é construído com todas as qualidades e defeitos do gênero em Without You. Quase acústica, a canção tem a qualidade de ter um arranjo orgânico e perfeito para tocar nas rádios, pois tem um carisma simples, honesto e direto. Entretanto, quem não curte muito esse tipo de pop punk que flerta pesadamente com o emo não vai passar dos defeitos da canção. O principal deles é a sentimentalmente rasa composição que tem o seu pior momento no verso “Can't make a wife out of a hoe, oh”. Além disso, the Kid Laroi não é exatamente o melhor dos cantores, pois em certos momentos parece não saber muito bem usar o seu bom timbre para dar nuances para a canção, deixando a performance achata e levemente irritante. Esse problema, porém, é corrigido com a versão “remix” com a ótima presença da Miley Cyrus. Não só a cantora dá personalidade de verdade para Without You ao ser simplesmente melhor cantora que o novato, mas como também apara pontas soltas ao criar camadas de nuances vocais, especialmente ter química perfeita com o the Kid Laroi durante os momentos juntos. Não sei exatamente se é apenas coincidência, mas a volta do pop punk prova que vivemos realmente uma distopia.
notas
Without You: 6
WITHOUT YOU (Miley Cyrus Remix): 6,5

New Faces Apresenta: Bree Runway

HOT HOT
Bree Runway


Apesar de já ter aparecido aqui em uma parceria, a rapper britânica Bree Runway ainda precisa ser descoberta pelo grande público. Infelizmente, não acho que o single HOT HOT tem essa capacidade, apesar de ser acima da média.

A canção parece um protótipo do que seria uma excelente mistura hip hop, dancehall e pop, mas termina sendo diminuída devido a uma produção que não sabe fazer a canção explodir no momento certo. Linear demais para uma canção que tem a intenção de fazer dançar, HOT HOT se sustenta devida a qualidade da ideia por trás e, principalmente, devido ao talento de Bree Runway. Entregando uma performance divertida e com bastante personalidade, a rapper mostra que consegue segurar esse tipo de canção sem precisar de um featuring desnecessário. Além disso, a composição, mesmo precisando de maior trabalho, apresenta passagens ótimas que deixa claro o tino afiado de compositora de Bree. Uma pena, porém, que HOT HOT fica no campo de promessa do que ser um grande momento que teria tudo para ser.
nota: 7

O Poço BTS

Butter
BTS

Até comecei a achar legal o BTS depois de fazer a resenha de Map of the Soul: 7, principalmente devido a começar a entender melhor a sonoridade do k-pop. Entretanto, não tem como passar a atrocidade pop que a boy band coreana ao entregar a péssima Butter.

Sinceramente, a canção é a representação máxima de todos os clichês que a música ocidental pop apresenta feitos da pior forma possível. Parecendo uma faixa que o Jason Derulo entregaria cinco anos atrás, Butter é uma dance-pop descartável, batida, irritante e, infelizmente, de fazer envergonhar até os mais farofentos. Apesar de uma produção clean, o resultado não passa de um amontoado de ideias que não se conversam direito como, por exemplo, toques de hip hop, EDM e disco. Entretanto, o pior defeito e o que leva a canção ser uma das piores do ano até o momento é a horrível composição. Formada por versos de uma qualidade apodrecida criativamente, os integrantes precisam declamar pérolas como “Oh, when I look in the mirror/ I'll melt your heart into two”, “Ice on my wrist, I'm the nice guy” e, o pior verso de 2021, “Don't need no Usher/ To remind me you got it bad”. Espero de verdade que os próximos trabalhos do BTS possam ser melhores, pois Butter é um fundo do poço que ninguém quer chegar mais de uma vez.
nota: 4,5

26 de maio de 2021

Duas Mulheres e Uma Canção

Like I Used To
Sharon Van Etten & Angel Olsen

Encontros musicais tem apenas dois destinos: a consagração mutua ou a sensação de desperdício de tempo de todos os envolvidos. Em Like I Used To, parceria das cantoras Sharon Van Etten e Angel Olsen, o resultado recaí drasticamente na primeira opção ao ser o tipo de canção que demora um pouco para fazer “efeito” em quem escuta.

Sonoramente, o trabalho é um heartland rock com indie rock e atmosfera dos anos oitenta que tecnicamente é perfeita. Todavia, escutar pela primeira vez a canção é um experiencia um pouco estranha devido a vibe aparentemente off, mas que vai conquistando aos poucos quando a gente percebe a elegância madura e uma atemporalidade luminosa. Ao prestar atenção com um pouquinho de cuidado é notável perceber a graciosidade da construção de Like I Used To e, ao mesmo tempo, uma força emocional palpável. E boa parte dessa sensação vem da incrível parceria das duas cantoras. Donas de vozes diferentes, mas que se complementam de maneira perfeita, entregando uma experiência magistral que poucos duetos conseguem alcançar. A composição poderia ter aquele momento soco no estômago, mas, felizmente, o belíssimo trabalho conquista por criar uma tempestade silenciosa. Mesmo sem ter o destaque do grande público, Like I Used To já pode ser considerada como um dueto histórico.
nota: 8

A Vantagens e Desvantagens de Ser Comercial

Follow You + Cutthroat
Imagine Dragons


A grande característica do Imagine Dragons é sua maior qualidade e, ao mesmo tempo, o pior defeito: ser uma banda de rock comercial. No single duplo Follow You + Cutthroat é possível ver essa dualidade em pleno trabalho.

Apesar de serem sonoramente distintas, ambas as canções apresentam perfeitamente essa qualidade/defeito de serem comerciais. Follow You é um trabalho mais tradicional ao entregar uma mistura azeitada de indie rock com electropop. Entretanto, a canção parece não empolgar como outros momentos explosivos da banda, deixando uma sentida sensação de tédio ao seu final. Em Cutthroat, porém, o resultado é muito mais direto ao ponto devido a sua construção. Misturando rock, metal e toques de electropop, a canção apresenta uma batida perfeitamente climática que parece combinar com a maioria dos filmes de ação descerebrado. Funciona até certo ponto, pois no momento que a gente presta atenção na construção instrumental estranha é possível ver que a canção se torna irritante depois da primeira escutada. As duas canções possuem como cerne principal o poder vocal do vocalista Dan Reynolds. Todavia, a performance de Dan não salva as canções de serem expostas a “maldição” do Imagine Dragons.
notas
Follow You: 5,5
Cutthroat: 5,5

Um Novo Começo Não Tão Novo

Confetti (Remix) (feat. Saweetie)
Little Mix

Com a saída de Jesy Nelson, o Little Mix começa a sua jornada como um trio com o lançamento de seu primeiro single na nova formação. Ainda sem material novo, a girl band decidiu lançar como single Confetti. Extraído do último álbum delas, a canção que ganha a participação da rapper Saweetie não poderia ser uma melhor escolha.

Uma das melhores faixas do irregular álbum, Confetti é uma climática, despretensiosa e viciante electropop com pinceladas de EDM que cria uma batida excitante e divertida. Acredito que entre todos os singles da carreira da girl group nessa era, a canção é a que tem o melhor verniz comercial até o momento, pois equilibra com quase perfeição personalidade única com o verniz radiofônico. Apesar disso, a canção ainda parece não alcançar o nível de qualidade que sempre dos melhores momentos do Little Mix. O que se deve ser elogiado é que a participação de Saweetie realmente contribui para adicionar sabor para Confetti. Em alguns momentos dá para perceber que o verso da rapper tem mais força que a composição em geral, mas isso não tira o fato que a letra sobre descobrir a felicidade depois de um término complicado ajuda a expressar um pouco da nova fase do Little Mix. Espero que esse possa ser um recomeço que se pareça mais como uma continuação do trabalho bem feito da girl group até o momento.
nota: 7,5


24 de maio de 2021

Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single

Stars Are Blind
Paris Hilton


Rumors
Lindsay Lohan

As duas escolhidas para fazer esse Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single parecem saídas diretamente de um verdadeiro delírio coletivo dos anos dois mil. E o mais surpreendente é que as duas canções são merecedoras de atenção, pois estão se tornando verdadeiros momentos cult pop e, por mais que pareça surpreendente, as duas canções são realmente boas dentor dos seus limites e pecularidades. De um lado, o reggae pop de boutique da Paris Hilton em Stars Are Blind. Do outro, o pop teen de transição que seria o passaporte para a Lindsay Lohan para a consagração definitiva em Rumors.

Rumors foi lançada quando Lindsay Lohan tinha acabado de se tornar o maior ídolo teen da época devido ao sucesso do já clássico cult Menina Malvadas de 2004. Apesar de ter sido o filme que catapultou de vez a atriz para o estrelato, Lindsay já era uma estrela mirim se transformando em estrela teen devido ao sucesso de filmes como Operação Cupido de 1998 e Sexta-Feira Muito Louca de 2003. Entretanto, o ano de 2004 marcou o ápice do seu sucesso e, por isso, o passo mais obvio para monopolizar o momento era construir a carreira de cantora da atriz. Em Rumors, primeiro single do álbum debut Speak, tinha tudo para se tornar um fenômeno comercial. Não foi isso que aconteceu. Apesar de uma imensa cobertura pela mídia e uma indicação ao clipe no MTV Awards, a canção foi um flop imenso, atingindo apenas a posição de número seis no Bubbling Under Hot 100 Singles, isto é, nem chegou a entrar na parada principal da Billboard. Isso não quer dizer que depois de dezesseis anos do seu lançamento Rumors não tenha encontrado o seu lugar na história do pop. Além de marcar a carreira da atriz/cantora, Rumors é o tipo de canção que é um amontoado de clichês que funciona para o bem ou para o mal.

Assim como todos artistas de sucesso meteórico durante os anos dois mil, Lindsay viu a sua vida ser esmiuçada e posta em uma lente de aumento para o delírio dos paparazzis e a impressa marrom. Rumors é a resposta para a loucura que a jovem vivia. Assim como Overprotected da Britney Spears de 2002, o primeiro single da atriz era sobre querer ser livre para poder viver a sua vida como qualquer jovem da sua idade. Com um direcionamento mais especifico para a mídia, Rumors tem uma composição que, ao mesmo tempo, icônica e perturbante, pois é sinceramente um grito por socorro escondido em uma canção pop. E todos sabemos que os anos seguintes foram responsáveis por praticamente destruir a carreira de Lindsay, indo de grande promessa para rainha dos tabloides pelos motivos errados. Obviamente, a vida pessoal da atriz/cantora foi um escândalo atrás do outro, mas que felizmente parece ter encontrado algum eixo nos últimos anos. Sonoramente, Rumors é uma capsula do dance-pop dos anos dois mil em apenas três minutos.

Comercial ao extremo, Rumors não tem, porém, algo que separe a sua batida dos era escutado naquela época. Apenas para mostrar a diferença de originalidade vai a listra de algumas canções pop lançadas em 2004: Toxic da Britney, What You Wainting For? da Gwen Stefani e Naugthy Girl da Beyoncé. Isso é apenas para citar algumas. Por isso, a canção de Lindsay não parece ter a mesma qualidade de originalidade que esses exemplos. Todavia, existe algo que ao ouvirmos em 2021 ajuda a canção a ter um lugar guardado no panteão pop: nostalgia. Esse sentimento que vem dominando o cenário pop nos últimos anos parece ser a cola que dá sustentação para que a canção seja tão interessante até hoje junto com o seu contexto. Apesar de fazer também parte da estrutura da percepção para Stars Are Blind, o sucesso da socialite Paris Hilton se sustenta melhor devido a ser realmente uma boa canção. Obviamente, esse ponto de vista é tirado da minha percepção em relação as duas cantoras. Entretanto, acredito ter argumentos para sustentar essa teoria. Vamos aos fatos: nenhuma das duas apresentam qualidade para que possam ser chamadas de cantoras de verdade. Paris Hilton, porém, tem ainda menos motivos para ter essa alcunha designada para definir a sua persona. Entretanto, algum milagre acontece em Stars Are Blind que tudo parece funcionar como se fosse mágica.

Catapultada a fama mundial após uma sex tape vazar em 2003, a então socialite, herdeira e modelo se tornou um fenômeno ajuda pelo reality The Simple Life. Basicamente, Paris se tornou famosa por ser Paris e não por ter exatamente algum talento. E, mesmo assim, Paris foi atriz, escritora, empresária e, claro, cantora. Nos últimos tempos, Paris vem revelando que, ao contrário do todos pensavam, a moça é extremamente inteligente em suas empreitadas em todos os cantos, ajudando a entender o motivo real do sucesso. Obviamente, Stars Are Blind está dentro desse balaio de investimentos que deram certo.

Lançada como primeiro single do seu único álbum (intitulado apenas Paris) em 2006, Stars Are Blind foi produzido pelo ainda desconhecido Fernando Garibay que anos mais tarde iria produzir o Born This Way da Lady GaGa. O grande mérito da canção é fazer Paris usar o que tem de melhor para dar relevância para o resultado final: a sua personalidade. Dona de um timbre ao falar extremamente único e marcante, Paris transporta todas essas peculiaridades para o seu cantar que, tecnicamente, não passa de ser apenas afinada depois dos efeitos vocais, mas artisticamente é extremamente eficiente. Encarnando uma mistura de “too sexy for school” com “too cool for you”, Paris dá personalidade tanta que deixa outras cantoras de verdade no chinelo, ajudando a entender um pouco a atmosfera que a fez uma das primeiras influenciadoras. Sonoramente, Stars Are Blind é uma dance-pop/reaggae pop que fica na linha da genialidade brega e da vergonha alheia na sua essência. Essa sensação ajuda ainda mais a elevar o resultado final da canção, pois consegue se equiparar ao nível de “entrega” da sua interprete. Além disso, a canção é dona de um clipe sensacional em preto e branco que é a cereja em cima do bolo. Para ter uma noção de quanto icônica se tornou Stars Are Blind, a canção foi usada quase que pode inteiro em uma cena importante do vencedor do Oscar Bela Vingança (Promissing Youg Woman). Obviamente, a canção é o único momento de destaque da carreira de Paris, pois o resto do álbum está a altura do não talento da mesma e deixa claro o quanto milagrosa é o resultado final de Stars Are Blind. Desse delírio que comprime Paris e Lindsay é necessário dizer que foram a base para vários nomes que povoam o mundo da mídia de celebridade para o bem ou para o mal.
notas
Stars Are Blind: 8
Rumors: 7

20 de maio de 2021

Um Soco Quase Invisível

Your Power
Billie Eilish

Assim como uma coceira que vai crescendo aos poucos até se tornar insuportável, a Billie Eilish foi crescendo em mim até o ponto que tenho que admitir que a jovem é uma das melhores revelações dos últimos anos. Em Your Power, terceiro single do seu segundo álbum (Happier Than Ever), a cantora mostra uma nova faceta ao entregar a sua composição mais forte até o momento.

Diferente sonoramente de todos os seus singles até o momento, Your Power é uma balada acústica pop folk que dá uma nova luz para a sonoridade da cantora. Não é de longe algo revolucionário, mas mostra caminhos que a produção de Finneas pode levar a irmã daqui para frente. Falta certo carisma quando se compara com as canções anteriores. Esse problema, porém, é colocado de escanteio devido a poderosa composição. Apesar de não aparentar, Your Power é uma crônica forte, emocionante e crua sobre viver em um relacionamento tóxico. Transitando entre confrontar o abusador de outra pessoa e o seu próprio, Billie mostra que a sua capacidade como compositora vem crescendo a largos passos, pois a canção entrega uma letra até simples, mas extremamente eficiente do começo ao fim. Completa o pacote a contida performance de Billie que também mostra outra faceta da cantora ao deixar os sussurros de lado e partir para uma performance mais cantada, mostrando melhor o seu límpido e melancólico timbre. Your Power não deve agradar aqueles que esperavam algo já feito pela Billie Eilish, mas é um trabalho auspicioso para quem quer ver o crescimento da sua carreira.
nota: 7,5

Pedido Atendido

It's a Sin
Years & Years & Elton John

Normalmente quando faço uma resenha de uma canção aponto um possível caminho que poderia ter sido seguido para que o resultado final fosse melhor que o apresentado. Em It's a Sin, regravação do Years & Years do clássico do Pet Shop Boys, escrevi que “a verão é uma decepção em partes, pois a banda tira do o brilho syhth-pop original para fazer uma badala a base de piano”. Então, como se o Olly Alexander tivesse lido a minha resenha eis que surge uma nova versão da canção que não apenas compensa pelo erro inicial, mas, também, adiciona a presença ilustríssima de Elton John na mistura.

Versão apresentada durante a cerimônia do BRIT Awards, a nova versão de It's a Sin dá um verdadeiro upgrade na primeira versão gravada pelo Years & Years ao adicionar a eletrizante batida syhthpop misturada com uma construção que valoriza a canção com mudanças primorosas que apenas a agregam ao resultado final. Essa versão de It's a Sin tem uma introdução a base de piano com o primeiro verso entoado pelo Olly para explodir em uma explosiva synthpop que capta muito bem a essência da canção original, mas com uma instrumentalização que dá espaço de sobra para a presença do piano de Elton. E por falar na lenda assim como na parceria com a Rina Sawayama, a presença do artista é realmente importante para a construção da canção ao ter espaço de sobra e química com o Olly, entregando performances sensacionais. O toque de gênio nessa versão de It's a Sin é a transformação de uma parte falada da canção original em um verso cantado por ambos os artistas que eleva a já primorosa composição. Quem diria que as minhas orações seriam escutadas de uma forma tão genial.
nota: 8,5

Uma Balada de Respeito

Angels Like You
Miley Cyrus


A carreira da Miley Cyrus será dividida antes e depois de Plastic Hearts. Apesar de não ser o de maior sucesso comercial, o sétimo trabalho da cantora finalmente mostrou todo o seu potencial com resultado realmente auspicioso. Como terceiro single foi lançada a ótima Angels Like You, uma verdadeira aula de como fazer uma power balada pop.

Sonoramente, Angels Like You não vai muito longe de ser uma power balada pop, mas é na perfeita execução que a canção ganha pontos necessários para brilhar. Misturada com rock, a canção tem uma instrumentalização muito bem cuidada que adiciona uma dose cavalar de força, criando uma atmosfera perfeitamente emocional para dar base para a sua composição. De uma sinceridade desconsertando, Angels Like You é do ponto de vista do responsável por cause os problemas em um relacionamento ao mostrar Miley assumindo a culpa por ser a causadora da dor de seu interesse romântico. Outro ponto de destaque é o ótimo refrão, pois consegue criar um momento que gruda na cabeça sem perder a força emocional. Mesmo que a cantora possa ter já começado uma nova era ao mudar de gravadora espero que essa qualidade possa continuar intacta para os seus novos trabalhos.
nota: 8


A Velha e Boa P!nk

All I Know So Far
Pink

Muitos podem criticar a P!nk de ter a sua carreira estagnada sonoramente, pois as suas canções parecem ter uma mesmo caimento igual a aquelas que a mesma faz desde I'm Not Dead de 2006. E isso é uma verdade que não tenho como muito questionar. O que posso afirmar, porém, é que quando a cantora acerta de verdade, o resultado é algo como o single All I Know So Far.

Retirado da compilação All I Know So Far: Setlist que serve de trilha para o documentário da sua vida intitulado Pink: All I Know So Far, a canção funciona devido principalmente ao fato de não ter medo de construir toda uma atmosfera com começo, meio e fim. Com um pouco mais de quatro minutos e meio, All I Know So Far é o tipo de pop contemporâneo que a cantora sabe fazer melhor, mas aqui ganha a adição de toques de country/folk que dá certa personalidade para o resultado final. Sem mostrar nada de novo, a cantora aposta na sua melhor qualidade: a capacidade de emocionar. Usando a sua poderosa voz de maneira a dar vida a composição sobre o que aprendeu na vida e os ensinamentos que quer passar para os seus filhos, P!nk leva o público em uma viagem nostálgica por toda uma das carreias mais bem sucedidas do pop. E essa sensação fica ainda mais evidente depois de ver o incrível clipe que até tem a divina Cher. Podem até achar o mais no mesmo, mas nunca que a cantora não entrega qualidade.
nota: 7,5

Uma das Pragas

Obsessed
Addison Rae

Apesar de saber e dar crédito da importância do Tik Tok nos últimos tempos para a indústria musical é necessário também afirmar que a rede social deve ser uma das pragas do Egito, pois apenas isso explica o sucesso de pessoas como Addison Rae. Segundo pessoa mais seguida do mundo na rede social, a jovem de vinte anos não vai se limitar a popularizar dancinhas idiotas aos quatro ventos já que se lançou como “cantora”. Uso o termo cantora de forma quase irônica, pois Obsessed é a prova que a jovem não chega nem perto de ser algo que podemos considerar como cantora.

Vocalmente, Obsessed é um abismo quase infinito, pois Addison Rae se mostra completamente inábil para cantar qualquer tipo de nota sem a ajuda de efeitos vocais que corrigem e tentam dar para a mesma uma voz que seja minimamente usável. E o pior: ao contrário de outras aventureiras da música do passado como, por exemplo, Paris Hilton, Addison não tem um pingo de carisma que pudesse justificar essa sua empreitada. Fraquíssima do começo ao fim, Obsessed ainda surpreende pela péssima qualidade mesmo tendo o Benny Blanco como um dos produtores. O resultado é um dance-pop que tenta ser modernoso, mas termina soando datado, medíocre e sem nenhuma criatividade. Espero que esse tipo de “artista” seja apenas um delírio coletivo e que não se reproduzam igual a Gremlins depois de caírem em uma piscina.
nota: 4,5

New Faces Apresenta: Laura Les

Haunted
Laura Les


Parte do duo de hyperpop 100 Gecs, a vocalista Laura Les é o tipo de artista que tem a sua própria visão sobre o que é pop. Em Haunted, o seu primeiro single solo, a artista mostra bem claro essa visão em uma canção esquisitamente interessante.

Na teoria, Haunted tinha todo para ser uma canção que eu realmente não iria gostar devido a sua duração de um minuto e quarenta e as escolhas bem esquisitas. Na prática, o resultado é bem melhor que o esperado devido principalmente da produção mega estilizada e explosiva. Uma mistura bem azeitada de hyperpop com pc music, Haunted acerta ao não ter nenhum medo em ser estranha, ser honestamente autoral e ser tão única que alcança um nível próprio. Até mesmo os vocais com uma dose cavalar de efeitos e a pouca composição parecem funcionar dentro dessa rápida loucura. Acredito que com uma duração maior, a canção poderia facilmente ser ainda melhor. Entretanto, Laura Les parece conseguir mostrar tudo que queria em uma canção tão rápida que fica difícil não admirar o resultado final.
nota: 7,5


13 de maio de 2021

O Problema Não é Estético

Dilúvio
Karol Conká & Leo Justi


Se você não viveu debaixo de uma rocha nos últimos três messes é quase impossível não ter ideia sobre o aconteceu com a Karol Conká durante a sua passagem no BBB. E por isso não é necessário fazer uma analise sobre tudo que aconteceu, mas afirma que, apesar de todos os seus problemas, Conká não tem nenhum problema estético como deixa claro a ótima Dilúvio.

Primeiro single depois do tsunami que acometeu a sua vida com produção de Leo Justi, a canção é centrada, madura e surpreendente hip hop com toques de pop e R&B que difere bastante dos principais trabalhos da cantora. Refletindo sobre o seu passado recente, a composição é realmente um trabalho profundo que consegue não apontar situações e, sim, impressões mentais da rapper sobre os seus pensamentos depois de virar a pior pessoa do mundo. Em uma performance forte e sóbria, Conká demonstra que o seu imenso talento até pode ser ofuscado pela sua personalidade controversa, digamos assim para não dizer algo pior. Podem falar o que quiser, mas o talento da rapper não tem nada de vazio.
nota: 8

Uma Surpresa Meio Que Esperada

You
Regard, Troye Sivan & Tate McRae

Em cerca de quase quatro minutos da canção You existe uma coleção que sentimentos que parecem maiores que o esperado. Surpresa, contentamento e alguma dúvida pairam sobre o resultado da parceria do DJ Regard com a presença do Troye Sivan e da Tate McRae. Felizmente, o resultado é um combinado auspicioso de sentimentos tão diferentes.

Ao ouvir que o australiano Troye lançou uma canção não tinha dúvidas que iria ser algo de qualidade devido ao seu histórico, mas fiquei cabreiro devido a presença da inconstante Tate e, principalmente, da produção do DJ Regard. Ao ouvir You, porém, essas duvidas se tornaram agradável surpresa devido ao resultado da canção. Ao invés de entregar um pancadão farofa, o DJ apresenta uma dance-pop/indie pop com toques leves e bem vindos de EDM/house que resultam em uma canção muito bem construída, longe de qualquer clichê e de uma construção original. Não é revolucionaria, mas é surpreendentemente inteligente. Outro ponto importante é a composição da canção. Funcionando com uma típica composição pop, a letra de You apresenta um cuidado com a profundidade temática e algumas saídas ótimas como é o caso de mudar a palavra Hennessy (uma bebida) para jealousy (ciúmes) quando a Tate McRae devido a mesma ser menor de idade. Falando sobre a cantora, a jovem surge no seu melhor momento até agora, mesmo que ainda sua performance seja envernizada com um teor genérico que deixa a impressão que outra cantora com a mesma pegada poderia tomar o seu lugar. Enquanto isso, Troye Sivan entrega outro momento inspirado em You confirmando a minha impressão continua sobre a sua carreira. Apesar das sensações e certa desconfiança, a canção termina como uma das melhores canção pop até o momento em 2021.
nota: 8

A Razão Por Existir

Save Your Tears (Remix)
The Weeknd & Ariana Grande

Sempre irei questionar o lançamento de remixes que não são remixes, especialmente quando os mesmos apenas servem para ganhar alguns trocados e pelo desempenho nas paradas. Entretanto, quando está certo é melhor a gente a gente admitir como é caso de Save Your Tears (Remix) que une pela terceira vez o The Weeknd com a Ariana Grande.

Obviamente, o remix/nova versão tem como um dos intuitos dar o gás necessário para que a canção seja um sucesso ainda maior que a versão original. Felizmente, o resultado artístico da canção consegue ofuscar essa intenção, pois parece que todas as peças estão no seu lugar que deveriam estar. A introdução dos vocais de Ariana parecem algo natural devido a imensa química com a The Weeknd. Além disso, sempre é muito bom ouvir a cantora usar o seu delicioso e sedoso grave sem perder, porém, o brilho carismático que tem quando usa os agudos. Em relação a qualidade da canção sonoramente, Save Your Tears (Remix) não altera muito o instrumental, sendo “uma balada mid-tempo syntyh-pop com toques de soul e um verniz levemente dançante. Feita nos moldes para dançar e chorar na pista de dança, a produção dá uma atmosfera melancólica para emoldurar a composição sobre o arrependimento de terminar um relacionamento.”. Resumidamente: Save Your Tears (Remix) realmente tem razões para existir.
nota: 8

Qual a Razão de Existir?

Cry About It Later
Katy Perry, Luísa Sonza & Bruno Martini


Quando ouvir que a Katy Perry iria lançar um remix de Cry About It Later com a produção do brasileiro Bruno Martini e participação da Luísa Sonza veio a pergunta: qual a razão de existir dessa versão? Depois de ouvir o resultado veio a exatamente a mesma pergunta.

A única razão que vem a minha mente é surfar com o fiel público brasileiro da cantora estadunidense. E, sinceramente, essa razão é extremamente fraca, pois o remix não acrescenta em nada para essa tarefa. O pior desse remix é que o Bruno Martini poderia entregar algo bem mais interessante que esse dance-pop/EDM farofa, pois o mesmo é responsável pela ótima Bend the Knee. A canção acerta, porém, nos vocais originais da Katy e, surpreendente, na boa atuação da Luiza que não acrescenta nada substancialmente, mas passa longe de fazer feio. Apesar de um verniz extremamente bem feito, Cry About It Later é um acontecimento dispensável para o mundo pop.
nota: 5,5

Falta Normal

Ama Sofre Chora
Pabllo Vittar


Mesmo com uma carreira já solidificada comercialmente e artisticamente, a Pabllo Vittar ainda comete alguns erros em suas canções que as impedem de serem apenas trabalhos divertidos. Em Ama Sofre Chora, o erro mais frequente volta a ter efeito negativo: a falta de composição.

Sonoramente, Ama Sofre Chora é a irmã/prima de Amor de Que ao ser uma cativante, comercial e deliciosa forro misturado com brega e toques de pop que cria a perfeita tempestade comercial mainstream brasileira. Popular e, ao mesmo tempo, entregando o que seu nicho de público fiel gosta, Pabllo precisa injetar uma pesada de carga de cuidado para fazer da letra algo que tenha mais que apenas um verso repetido e um refrão. Apesar de extremamente divertida e graciosamente despretensiosa, a pouco composição de Ama Sofre Chora poderia chegar em outro patamar com adição de um ou dois versos, pois daria para a canção um estofo bem mais corpulento e substancial. Em uma performance vocal ótima, Pabllo Vittar perde a chance de dar um passo a mais com Ama Sofre Chora por não mostrar que pode ir um pouco além das suas próprias concepções. E, mesmo a gente já tendo acostumado com isso, a impressão que fica é sempre aquela que poderia ser bem melhor.
nota: 6,5


5 de maio de 2021

Magistral

Introvert
Little Simz


Fazem um pouco de mais de dois anos que descobrir o imenso talento da rapper britânica Little Simz ao resenhar o genial álbum GREY Area. A sensação de estar diante de uma verdadeira potência artística dominou a minha percepção sobre a artista até mesmo quando ela entregou o apenas bom EP Drop 6 no final do ano passado. Entretanto, nada que a mesma apresentou até o momento poderia estar perto de antecipar o que estava por vim com o lançamento da magistral Introvert.

Primeiro single do álbum Sometimes I Might Be Introvert, a canção é o tipo de trabalho que surge como uma verdadeira explosão que deixa quem ouve completamente extasiado em uma mistura de êxtase com atordoamento. Não gosto muito de fazer comparação entre dois artistas de forma muita direta, especialmente quando se refere uma mulher e um homem, mas para ter uma perfeita ideia sobre o impacto de Introvert é necessário lembrar dos grandes trabalhos do Kendrick Lamar. Totalmente diferente da maioria das canções rap/hip hop da atualidade, o single de Little Simz é uma grandiosa, épica e suntuosa que mistura chamado conscious Hip Hop com uma instrumentalização orquestrada que flerte com a música clássica e o gospel assim como canções como The Blacker the Berry e King Kunta. Apesar de lembrar, o resultado final de Introvert encontra o seu lugar devido ao poder de Little Simz, pois a rapper injeta uma tonelada de personalidade única em uma performance avassaladora e de uma emoção honestamente crua. Sem enfeites desnecessários, a canção conta com os vocais delicados de Cleo Sol durante o refrão e a voz off da atriz Emma Corin, conhecida pela sua interpretação da princesa Diana na série The Crown. E a canção chega ao seu ápice devido a sua genial composição de uma verborragia avassaladora e necessária, a rapper entrega uma crônica espetacular que consegue emocionar e fazer a gente pensar sobre demônios internos, violência policial, racismo, corrupção e empoderamento. Até posso estar enganado, mas Introvert está na dianteira para ser a canção de 2021 sem muitos concorrentes. Já Little Simz prepara o caminho para o que pode ser o trabalho do ano. Aguardemos.
nota: 9,5

Meh!

Shy Away
Twenty One Pilots

Entender o motivo do sucesso e da grande fanbase do Twenty One Pilots é ainda um mistério para mim, pois parece que perdi um pedaço importante da ascensão do duo nos últimos anos ao ter a minha atenção voltada para outros artistas. Além disso, não vejo nada de mais na parte sonora do duo como deixa bem claro a fraca Shy Away.

Single do próximo álbum do duo, a canção é uma mistura de synth-pop com indie rock que não tem nada de novo ou muito menos excitante em sua construção. Soando com uma versão apática dos melhores momentos do The 1975, Shy Away é o tipo de canção que parece ser boa, pois a sua parte instrumental é exemplar, mas a total falta de carisma e empolgação que a canção entrega é um verdadeiro banho de água fria. É bastante estranho achar que uma canção com uma técnica tão boa seja tão mais ou menos, mas Shy Away não se ajuda com uma composição de autoajuda que, apesar da ótima intenção, termina soando blasé. Sinceramente, Shy Away não traz nenhuma resposta para as minhas dúvidas, mas, sim aumenta questões em torno da popularização do Twenty One Pilots.
nota: 5,5

3 Por 1 - Iggy Azalea

Brazil
Brazil (Remix) (feat. Gloria Groove)
Slip It (feat. Tyga)
Iggy Azalea

Devo admitir que acho que uma parte das críticas que a Iggy Azalea sofre são descabidas e cheias de um preconceito latente pela rapper ser mulher assim como, também, em relação a Cardi B, Nicki Minaj, Megan Thee Stallion, entre outras. Todavia, a Iggy não se ajuda muito em relação a sua carreira ao entregar duas bombas atômicas como é caso de Brazil e Slip It. Começando com a “homenagem” canhestra ao nosso país.

Se não já bastasse tudo que estamos vivendo nos últimos anos, a Iggy Azalea ainda coloca a pá de cal com uma das suas piores canções da carreira. Ao tentar mistura rap/hip hop com uma batida de funk, a rapper repete todos os clichês dos gêneros sem em nenhum momento criar uma fusão de todos de forma sustentável e, principalmente, atrativa para quem escuta. Algo que poderia terminar como uma explosão sonora termina como a perfeita tradução musical sobre o motivo que água e óleo não misturam. Além disso, a composição é simplesmente tenebrosa, pois parece não falar nada com nada ao mesmo tempo que ser “fodana”. Enquanto escrevo essa resenha foi lançada a versão “remix” com a presença da Gloria Groove. Mesmo adicionando um toque de qualidade devido ao seu verso misturando inglês e português com algumas passagens realmente interessantes, a presença da drag não ajuda o resultado final a melhorar mais do que alguns centavos. Um pouco melhor, mas ainda tenebrosa, está o outro single Slip It.

Sem tentar ser mais que um trap comercial, a canção mostra a pior performance de Iggy Azalea. Sempre muito direta em suas performances, a rapper escolhe um caminho meio cantado que irrita e deixa a canção ainda mais arrastada, apesar de ter um pouco mais de três minutos de duração. Esse vocal parece ser também de responsabilidade da produção vocal, pois em ambas canções a voz da rapper parece estar abafada e em um nível diferente do instrumental. A batida de Slip It também não ajuda com a batida de base sintética, mesmo sendo o melhor ponto da canção. Com a participação canhestra do rapper Tyga que está atualmente mais famoso pelo perfil no Only Fans, o single termina como a segunda pior canção da rapper até o momento. E, sejamos sinceros, lançar as suas duas piores canções ao mesmo tempo é um tipo de talento que a Iggy Azalea poderia deixar no churrasco.
notas
Brazil: 3,5
Brazil (Remix): 4
Slip It: 4

Dois Gigantes Para Pouca Terra

Anywhere Away From Here
Rag'n'Bone Man & P!nk


Devo admitir que tenho uma queda por grandes vozes, especialmente quando as mesmas estão dispostas em canções feitas para deixar em evidência a potência, o timbre e/ou a técnica vocal. Em Anywhere Away From Here, parceria do britânico Rag'n'Bone Man com a P!nk, surge a perfeita oportunidade para um deleite vocal, mas parece não existir espaço para alcançar tal feito.

Uma balada a base piano tradicional, Anywhere Away From Here se sustenta devido as poderosas vozes dos envolvidos. De um lado o timbre de trovão de Rag'n'Bone, conhecido pelo sucesso de Human. Do outro lado, a graciosa e sempre poderosa voz da P!nk que já demostrou tem alguns anos o seu imenso talento. E a também existe a química da união das vozes que desce igual um aveludado gole de vinho tinto. Entretanto, a canção não dá suporte na mesma altura para que ambos possam subir um degrau e entregar performances realmente avassaladoras. Esse problema vem da produção que entrega uma atmosfera muito contida, esquecendo que a comovente composição sobre se sentir sobrecarregado com as coisas que nos cercam poderia muito bem explodir em algo bem emocionante. Mesmo que o resultado de Anywhere Away From Here seja positivo devido a qualidade dos dois cantores é uma pena que não temos o encontro digno dos envolvidos e as suas grandiosas vozes.
nota: 7

1 de maio de 2021

Uma Grande Tentativa

Girl From Rio
Anitta

Parece que finalmente a Anitta irá lançar um trabalho que terá um cuidado artístico melhor que o de uma criança na pré-escola fazendo monstrinhos de massinha com o álbum Girl From Rio. Uma pena, porém, que o começo parece ser mais uma tentativa simpática do que uma canção realmente munida de uma construção que valorize a ideia.

A grande ideia do single Girl From Rio é pegar a base de Garota de Ipanema, canção de Vinicius de Moraes e Tom Jobim e de maior destaque mundialmente do nosso cancioneiro, e transformar em um trap/pop. Ótima saída para dar par a cantora uma base conhecida para mostrar aos gringos ao mesmo tempo que dá uma guinada de 180° na sua recente e péssima sonoridade. Produzido por Stargate, a canção sonoramente é até bem feita, pois consegue se aproveitar de toda a força da versão original alterando de maneira precisa para soar moderninha. O problema começa no instante que a canção termina soado mais como Garota de Ipanema do que uma nova canção. Essa tática é muito difícil de conseguir ter bons resultados, pois fica soando como uma paródia do que uma canção de verdade. Provavelmente, a única canção que lembro que teve um bom resultado ao seguir essa tática foi Wild Thoughts. Além disso, a canção não apresenta nenhum clímax que possa ser explorado devido a decisão de manter a batida original como a principal base e, não, como um tijolo na construção do resultado final. Apesar disso, o grande problema de Girl From Rio é na verdade a produção vocal que simplesmente apaga todas as características vocais da Anitta, transformando a sua voz em uma performance que qualquer pessoa afinada poderia entregar. Tirando alguns momentos que a cantora mostra personalidade em uma voz off, Girl From Rio perde parte do brilho que poderia ter devido a essa escolha péssima e desnecessária. Em relação a composição não sou exatamente fã, especialmente em alguns momentos de pura vergonha alheia, mas no contexto geral funciona no que parece ser a sua proposta. Sinceramente, queria gosta mais de Girl From Rio, mas também dou valor em uma tentativa sincera de mudar os rumos da sonoridade da Anitta em algo com mais substância. Falta saber o que fazer com o material.
nota: 6

As Aventuras de Jessie Ware

Please
Jessie Ware


Obviamente, a Jessie Ware ainda não cansou de lançar uma música melhor que a outra saída do seu aclamado álbum What's Your Pleasure?. Com um lançamento da versão chamada Platinum Pleasure, a britânica divulgou o primeiro single chamado Please. E não é nenhuma surpresa que a cantora acertou na mosca com a canção.

Um pouquinho diferente da vibe geral do álbum “raiz”, Please dá uma acelerada na batida ao flertar pesadamente com a música eletrônica que teve início durante os anos setenta. Dessa maneira, o single é uma energética, explosiva e sensacional mistura de disco/eletrônico que tira referencia direta da revolução feita pela Donna Summer. Sem querer copiar e, ao mesmo tempo, prestando uma homenagem, a produção da canção acerta em todos os detalhes possíveis: a atmosfera vintage/modernosa, as nuances deliciosas e as camadas instrumentais que dão para a canção um corpo suculento e vibrante. Novamente sem querer guerra com ninguém, Jessie escreve uma letra simples, extremamente eficiente, romântica, sensual na medida e com um refrão viciante. Além disso, a cantora se confirma com uma das melhores cantoras pop contemporâneo em mais uma performance leve, carismática e envolvente. Espero que essas aventuras da Jessie Ware na era disco possam reder mais frutos e outras visitas a outras eras da música.
nota: 8,5



Crônicas do Nosso Povo

Alfonsina y el Mar
Natalia Lafourcade


Apesar da imensa popularização da música latina nos últimos dois anos parece ainda existir certo muro que impede que o público fora dessa região possa realmente conhecer algo que vai além do mainstream. Inclusive até em relação a relação dos brasileiros com a música de latinos hispanofalantes. E é por isso que é extremamente fácil perdermos joias raras como é a genial Alfonsina y el Mar de Natalia Lafourcade.

Conhecidíssima e aclamadíssima artista mexicana com uma carreira de vários anos, Natalia Lafourcade vem transitando entre o indie rock, folk, latin rock e até mesmo a bossa nova durante a sua carreira, mas nos últimos trabalhos decidiu voltar as raízes da sua cultura ao fazer homenagens a grandes nomes do cancioneiro mexicano e da américa latina com regravações e, também, canções inéditas. Recebendo o último Grammy Latino de Álbum do Ano para o projeto Un Canto por México, a cantora prepara a continuação desse álbum e como primeiro single lançou a espetacular Alfonsina y el Mar. E, queridos leitores, não acreditem que vocês podem imaginar o que é a canção, pois qualquer expectativa cai po terra no instante que o trabalho de desenrola em uma épica e devastadora saga musical.


Com um pouco mais de nove minutos, Alfonsina y el Mar é na teoria uma canção simples. Basicamente voz e violão com a inclusão de outros instrumentos e efeito sonoros aqui e ali, a produção parece buscar uma estética acústica para dar a atmosfera ideal para que a canção seja como uma narração de uma lenda de raízes latinas musicada. E, apesar de toda a simplicidade sonora, o resultado é uma verdadeira viagem por uma melodia falsamente simples que se mostra um trabalho intricado, complexo e de uma riqueza melódica impactante. Assim como um contar de história, a canção pega atalhos, desvios e caminhos que seriam quase inimagináveis, criando uma canção densa, envolvente e de uma noção emocional devastadora. Ouvir Alfonsina y el Mar é como embarcar em um navio que nos leva para um passeio no que existe de mais espiritual do povo latino americano. Essa sensação é aumentada devido a incrível e minuciosa composição da versão original da Mercedes Sosa. Escrita em homenagem a poetisa Alfonsina Storni que se suicidou em 1938 no Mar da Plata, a composição é de um poder cru que não parece deixar uma marca viva em quem escuta. De uma beleza melancólica quase tocável, Alfonsina y el Mar é defendida de maneira deslumbrante por uma performance sentimental e que consegue exalar uma tristeza misturada com um sentimento de contemplação de Natalia Lafourcade que ajuda a dar ainda mais força emocional para a canção. A força de Alfonsina y el Mar é algo que transcende idioma, países e cultura sem esquecer, porém, de fazer a gente querer emergir e descobrir mais sobre o cancioneiro dos países que nos cercam.
nota: 9

Servindo

Sacrifice
Bebe Rexha

Querer que a Bebe Rexha volte a entregar canções como no comecinho da carreira e algo bem difícil de acontecer, mas quando a cantora entrega canções como Sacrifice é até possível dar um desconto.

Longe de ser o suprassumo do pop, o single é uma decente, carismática e envolvente dance-pop/electropop que entrega tudo lindamente redondinho. Apesar de uma batida clichê, especialmente no seu refrão, a produção consegue entregar uma batida clean e sem maiores surtos farofentos. Com uma composição sexy, o grande ponto positivo de Sacrifice é a performance de Bebe que consegue invocar os seus primeiros trabalhos ao mostrar uma interpretação contida e lindamente aveludada, dando ênfase ao seu timbre e versatilidade ao invés de efeitos vocais. É fato que a canção poderia ter um clímax bem mais pomposo, mas o resultado final é para comemorar de ver Bebe de volta com qualidade verdadeira.
nota: 7