23 de outubro de 2020

Confortável Demais

positions
Ariana Grande


Estabelecida como uma das principais divas pop da atualidade, a Ariana Grande irá completar a façanha de ter lançado seis álbuns em um espaço de apenas sete anos, sendo um número que é alcançado por alguns artistas de renome em toda uma carreira. E se for depender dos resultados recentes, o primeiro single do novo álbum será um outro sucesso para a bagagem da cantora. O problema é que ao encontrar a estrada de tijolos de ouro, Ariana se mostra confortavelmente estagnada em um lugar seguro. 


Ao descobrir qual é a exatamente qual é a sonoridade que melhor se encaixa para a sua carreira, a cantora estabelece firmemente a sua persona artística como poucas artistas pop da sua geração. Isso é ótimo, pois mostra uma maturidade da mesma. O problema é que isso pode gerar uma estagnação ruidosa. Ariana já provou que consegue carregar muito bem várias vertentes do pop como prova na sua parceria com a GaGa, mas a sua persona solo é esse pop contido com influência de R&B com toques de trap. Em positions, o seu novo single, a cantora repete com as mesas qualidades de canções como o smash hit Thank You, Next e Break Up with Your Girlfriend, I'm Bored. Bem produzida, radiofônica e cativante, a canção mostra um lado mais romântico que as canções anteriores com uma letra de exaltação do seu atual namorado com toques divertidos e um refrão redondinho. Além disso, a cantora continua a mostra carisma ao entregar uma performance contida, mas bastante presente e com personalidade. O problema é que positions parece um looping que soa como uma reciclagem muito bem feita, mas com gosto levemente requentado. Não acredito que a Ariana precise mudar drasticamente a sua sonoridade para mostrar versatilidade e, sim, ousar mais dentro do que a mesma se propõe em fazer. O bom é que esse caminho ainda está dando certo. Aguardemos cenas dos próximos capítulos.
nota: 7

O Padrão

WONDER
Shawn Mendes

Apesar de ser certo hate recebido pelas suas canções, o Shawn Mendes é sim um bom artista. Não é genial, mas mantém uma consistência dentro do que se propõe a fazer que é elogiável. Novamente, o cantor mostra o seu talento em amadurecimento na boa WONDER. 

Primeiro single do seu próximo álbum de mesmo nome, WONDER é uma consistente e bem pensada pop contemporâneo com toques interessantes de pop rock e até mesmo de indie que parece ser uma mudança na sua sonoridade. Mudança sutil é verdade, mas que aponta uma possível evolução significativa. Apesar da boa produção, a canção poderia ter uma construção mais azeitada, pois as nuances adicionadas parecem um pouco deslocadas e não tão bem colocadas. A composição, porém, é o ponto fraco da canção, pois Shawn Mendes entrega um trabalho apenas ok, sendo que o mesmo já tinha mostrado mais força criativa como, por exemplo, a poderosa In My Blood. WONDER é o padrão do Shawn Mendes, mas, felizmente, ainda é um bom padrão. 
nota: 7

21 de outubro de 2020

Como Fazer um Remix Que Não é Um Remix

Levitating
Levitating (feat. DaBaby)
Dua Lipa


Fazendo de tudo um pouco para emplacar os hits que deveriam ter saído do aclamado Future Nostalgia, Dua Lipa resolveu seguir a cartilha e lançar um remix que não é remix com participação especial de um nome da moda para Levitating. A surpresa aqui é que, ao contrário da maioria das canções com a mesma “pegada”, a nova versão funciona melhor que tem direito.

Depois de uma versão odiada pelo público com o remix ao lado da Madonna e Missy Elliott, Levitating ganha uma versão remix que faz o que muitos odiaram em The Blessed Madonna Remix: nada foi alterado sonoramente. Ou quase nada. A canção continua praticamente a mesma ao ser uma deliciosa, alto-astral, divertida e comercial post-disco/funk/electropop que parecer grudar na nossa cabeça como chiclete recém mascado. Eletrizante do começo ao fim, a canção é a tradução perfeita do alcance pop que a Dua Lipa pode alcançar. A presença de DaBaby poderia atrapalhar, mas passa longe no momento que o rapper funciona como uma cerejinha em cima do bolo. A sua performance assim como o seu ótimo vero combinam quase perfeitamente com toda a vibe de Levitating, criando um ponto luminoso e, não, de distração da canção. Claro, o rapper poderia aparecer em outros momentos para cravar ainda mais a sua presença, mas a participação ajuda a Dua Lipa fazer o melhor remix que não é um remix de 2020. E isso já é algo realmente sensacional. 
notas 
Versão Original: 8
Versão Remix: 8

Boa Intenção

OK Not to Be OK
Marshmello & Demi Lovato

Lançada como primeira parceria do DJ Marshmello e a Demi Lovato, OK Not to Be OK tem uma ótima intensão por trás: ser um hino na prevenção conta o suicídio. E isso é algo realmente inspirador. Uma pena, porém, que em questão de qualidade apenas, a canção é apenas mediana. 

Uma electropop/EDM que pode não ser o fundo do poço, mas, infelizmente, não sai nem em um centímetro do lugar comum ao ser a repetição quase integral de qualquer canção do mesmo estilo. A produção de Marshmello é tecnicamente boa, pois ajuda a canção a soar clean e encorpada. Entretanto, não há uma gota de criatividade verdadeira para sustentar a canção como um trabalho distinto e com personalidade. A canção tem uma letra bem pensada, mas liricamente mediano ao não ter um refrão realmente pungente e viciante. Demi entrega uma boa performance, mas sem força suficiente para elevar muito a canção. O que ajuda a canção mesmo é a sua válida e boa intenção. 
nota: 6

Neblina

Baby It's You
London Grammar

Assim como objetos no meio de uma neblina, o London Grammar sempre pareceu desfocado para mim. Sempre quis conhecer e avaliar a banda britânica, mas a carreira deles nunca entrou em foco para chamar realmente a minha atenção. Finalmente, quase que por acaso topo com Baby It's You, single do terceiro álbum da banda, e acredito que tenha perdido algo realmente interessante.

Não sei exatamente como a sonoridade do trio em trabalhos passados, mas Baby It's You é uma auspiciosa, envolvente e graciosa pop soul com electropop, drum bass e eletrônico em uma batida elegante. Contida, mas longe de ser minimalista, a atmosfera quase dreamy ajuda a canção a ter um verniz que pode até soar massificado, mas é, na verdade, um trabalho de uma beleza simples e edificante. Não espere nenhum arrombo criativo e, sim, uma coleção discreta de nuances bem colocadas e pensadas. A performance da vocalista Hannah Reid é como um bálsamo sobre uma ferida aberta, pois traz uma calma refrescante sem perder, porém, o foco das sensações/emoções que a canção transmite. O único problema de Baby It's You é sua boa, mas limitada composição que poderia facilmente ganhar muito mais profundidade com a adição de mais versos e um refrão de verdade. De qualquer forma, espero que tenha tirado a neblina do London Grammar para poder encontra-los mais vezes no futuro.
nota: 7,5

18 de outubro de 2020

Quem é Doja Cat?

Freak
Doja Cat

Até o momento, a Doja Cat já entregou disco, pop, rap. hip hop e R&B em canções completamente distintas entre si. Isso não é nenhum problema se a cantora mostrasse personalidade de verdade. E não é com Freak que teremos uma amostra verdadeira da real Doja Cat.

Freak é uma inusitada doo-wop/R&B/rap que funciona até melhor que o esperado devido a surpreendente e a bem usada sample de Put Your Head on My Shoulder do Paul Anka de 1959. A produção também acerta ao saber dosar bem todos os elementos de forma inteligente. Um pouco longa, a canção poderia ser bem melhor se tivesse a personalidade de Doja bem melhor lapidada. Entregando uma performance que transita entre a sua persona cantora e a sua persona rapper, a artista ainda soa verde para sustentar uma canção tão “grandiosa” sonoramente. A composição sobre sexo tem seus momentos, mesmo que não tenha a força necessária para virar hit como Say So. Vamos esperar se a artista possa responder no futuro: quem é Doja Cat? 
nota: 7

No Meio do Caminho Tinha Uma Pedra

Better
Zayn

Depois de um começo meteórico em que parecia que a sua carreira iria explodir na estratosfera, Zayn viu a sua carreira decair exatamente como o corpo celeste, principalmente devido o lançamento da bomba Icarus Falls. Além disso, o cantor viu o seu ex companheiro de One Direction Harry Styles surgir como um verdadeiro fenômeno pop no último ano. Sumido e se dedicando ao nascimento do primeiro filho, Zayn resolveu fazer o seu comeback com o lançamento de Better. E pela recepção da canção não parece que as mesas irão virar a favor do cantor. 


Better está bem longe do impacto causado pelo grande sucesso da carreira do cantor: a ótima Pillowtalk. Na verdade, a canção não tem impacto nenhum ao ser um sem sal R&B que tem até uma vibe gostosinha que até parece mirar em uma sonoridade estilo Maxwell, mas que tem na produção chapada e sem criatividade nenhuma o seu maior problema. A canção parece mais um filler que nem deveria entrar em um álbum que uma canção que valha a pena ser lançada como single. Rápida demais, Better também não conta com uma composição marcante e, principalmente, decepciona no quesito vocais já que parece que Zayn gravou morrendo de sono ao ser uma performance arrastada, fraca e sem personalidade. Uma pena que não seja uma canção que irá colocar a carreira dele nos eixos, pois o cantor é bem mais talentoso que essa esquecível canção. 
nota: 5

13 de outubro de 2020

De Volta ao Paraíso

Let's Love
David Guetta & Sia

Fazem cerca de oitos que publiquei a primeira resenha da parceria entre o David Guetta e a, até então, desconhecida Sia: Titanium foi um marco para o pop. Desde então, porém, a dupla já entregou cinco parcerias junto, mas sem nunca terem chegado aos pés da qualidade da canção "originadora". E eis que chega 2020 e seguindo a roteiro de um ano atípico, a dupla lança a sua melhor parceria desde a canção já citada em Let's Love.


Completamente diferente de todos os trabalhos juntos anteriores, Let's Love é uma inesperada, surpreendente e muito bem feita new wave/dance-pop saído diretamente de algum álbum dos anos oitenta. Ao contrário de várias canções que apenas apresentam influências, o single é completamente construído como se fosse uma canção nascida nos anos oitenta. Desde a atmosfera estilizada que transpira neon, cafonice e laque de cabelo aos sintetizadores na potência máxima, Let's Love é um trabalho que deixa a sensação de nostalgia em níveis perigosíssimos, mas que consegue se sobressair devido ao nítido respeito entre os envolvidos e uma qualidade técnica impecável. Mesmo não sendo o melhor trabalho lírico que a Sia já esteve envolvida é notável que a canção tem o seu toque de genialidade em vários momentos. Além disso, a poderosa performance da cantora dá o toque de personalidade que falta para amarar as poucas pontas soltas. E 2020 ataca novamente. Ao menos, o retorno de Guetta e Sia aos velhos tempos é muito bem vinda.
nota: 8

Dancing On My Own

Friends in the Corner
Foxes

Um dos subgêneros que mais gosto dentro do pop é aquele que tem o hit Dancing On My Own como principal exemplo: o pop feito para dançar e chorar ao mesmo tempo. Entrando nesse seleto hall está a canção Friends in the Corner, single lançado pela Foxes. 

Depois de fazer a sua volta com a interessante Love Not Loving You, a cantora mostra que está inspirada com essa electropop mid-tempo que flerta com a cadencia de uma balada e resulta em um trabalho realmente elogiável. Com uma produção iluminada e que acerta no tom melancólico, Friends in the Corner narra de forma tocante a força que uma amizade pode ter na vida de uma pessoa e, principalmente, o que o seu fim pode causar, lembrando Who Knew da P!nk. Com uma performance contida, mas bastante eficiente, Foxes parece estar no caminho certo para finalmente alcançar o seu potencial.
nota: 8

11 de outubro de 2020

Fundo do Poço

Nobody's Love
Maroon 5

O Maroon 5 não é de longe uma unanimidade perante o grande o público, mas a banda já teve os seus momentos durante os anos. E, claro, já teve os seus baixos também. Todavia, esse baixo nunca foi tão baixo como na péssima Nobody's Love.

Primeiro single da banda sem o baixista Mickey Madden que foi acusado de violência doméstica, Nobody's Love é uma canção que tem boa intenção ao tentar ser uma ode ao amor em tempos sombrios. Só que de boas intenções o inferno já está cheio, pois a canção é um pop/dance-pop/pop rock com uma qualidade extremamente discutível. E o ponto principal é a sua repetitiva, irritante e condescendente que deixa um gosto amargo em quem ouve. E o pior: a atrocidade é cometida por nada menos que dez pessoas ao mesmo tempo. Um verdadeiro desastre em proporções épicas e ninguém parece ter percebido. A produção também erra bastante em uma batida rasa e que nada lembra a capacidade de criar canções comerciais que o Maroon 5 sempre entregou, mesmo que não fossem as melhores canções da história. E assim Nobody's Love é o fundo do poço em um ano que musicalmente está indo melhor que o esperado.
nota: 4,5

Só Deus Salva

HOLY (feat. Chance The Rapper)
Justin Bieber

Como se 2020 já não tivesse a sua carga de coisas negativas o suficiente, o Justin Bieber resolveu lançar uma nova canção. Depois de cometer um crime aos ouvidos com o lançamento do álbum Changes, o canadense resolveu apostar na medíocre Holy em pareceria com o Chance The Rapper.


Holy é provavelmente a canção mais chara da carreira de Justin Bieber, lembrando que estamos falando de uma carreira com poucos destaques realmente positivos. Tentando a qualquer custo vender a imagem de bom moço, o cantor apela para uma mistura canhestra de gospel com R&B e pop que tem exatamente cinco produtores. Cinco pessoas para produzir um verdadeiro desastre sonoro em que tudo parece plastificado, pasteurizado e sem um pingo de criatividade. Forçado do começo ao fim, Holy também é uma coleção de frases prontas sobre religião e relacionamento que soa brega e, claro, forçado ao extremo. O começo da performance de Justin até parece que irá render algo interessante, mas descamba para o péssimo devido a escolhas equivocadas como, por exemplo, a mudança de “vozes” brusca entre o penúltimo e último verso. Além disso, a presença mediana do Chance The Rapper não ajuda em nada no contexto final da canção. Nem Deus salva. 
nota: 4

Uma Primeira Vez Para o Drake

Laugh Now Cry Later (feat. Lil Durk)
Drake

Na trajetória do Drake aqui no blog já houveram pontos altíssimos e pontos baixíssimos, mas nunca um ponto que ficava tão no meio do caminho como é o caso de Laugh Now Cry Later.

Laugh Now Cry Later é tipo de canção que parece que vai desandar para depois voltar aos trilhos devido a uma produção de pulso forte que não deixa a mesma cair de cabeça em uma vala de obviedades. A batida trap/hip hop tem substância sonora suficiente para conseguir não cair no minimalismo pretensioso, mesmo que não apresente nada realmente novo. Direta, bem orquestrada e honesta sonoramente, Laugh Now Cry Later também se beneficia da boa performance de Drake que carrega a canção de forma segura e carismática. A presença do Lil Durk é dispensável, mas não atrapalha em nada o resultado final. A verborrágica composição é boa, especialmente no longo refrão, mas poderia ter seu apelo aumentado se tivesse sido reduzida gramaticalmente. Não é ruim. Não é ótimo. É suficientemente boa para ser acima da média. E isso é algo diferente para o Drake.
nota: 7

9 de outubro de 2020

Primeira Impressão

Ungodly Hour
Chloe x Halle


Água e Óleo

Do It
Do It (Remix) (feat. Doja Cat, City Girls & Mulatto)
Chloe x Halle

Começando a ascensão ao estrelato, as irmãs Chloe e Halle parecem ser o futuro do R&B mainstream com o sucesso da ótima Do It. Infelizmente, as jovens não estão imunes aos tropeços dessa nova fase como é o caso do lançamento da famigerada versão remix. 

Do It é uma canção que surge do nada e vai conquistando aos poucos para depois morar na nossa cabeça sem pagar aluguel. Uma graciosa, carismática e deliciosa R&B com doses exatas de pop para criar uma batida envolvente, dançante, sensual e alto astral. Felizmente, a produção sabe como adicionar nuances para a canção tenha personalidade suficiente para se igualar ao talento das irmãs que entregam performances luminosas e de um refinamento precioso. Rápida e certeira, Do It se beneficia de um refrão simples e extremamente certeiro. Uma pena, porém, que a versão remix dispensa essa agilidade para dar espaço para as quatro convidadas terem espaço, criando uma canção de mais de quatro minutos que não agregam em nada de verdade. Nenhuma das parcerias mostram para o que vieram de verdade, deixando a nítida sensação de desperdício de talento e colocado as donas da canção de lado. Apesar de algumas alterações na canção para ter a alcunha de remix, Do It é uma canção que a original já bastante o suficiente para mostrar o imenso talento de Chloe x Halle. 
notas 
Versão Original: 8 
Versão Remix: 6

6 de outubro de 2020

O Prazer é Nosso

What's Your Pleasure?
Jessie Ware

Se não bastasse ser dona de um dos melhores álbuns do 2020, a britânica Jessie Ware entra com tudo na disputa para ter o melhor single do ano com o lançamento da faixa What's Your Pleasure?.

Canção que dá nome para o álbum, What's Your Pleasure? é uma fantástica e arrebatadora post-disco/electropop com toques de soul que parece navegar entre 1978 e 2020 como se fosse um manipulador do tempo. Sensual, encorpada, envolvente, dançante, divertida, poderosa, carismática e com uma produção classuda ao extremo, a canção tem uma composição econômica liricamente, mas que acerta em todos os sentindo ao ser marcante, elegante, bem pensada e dona de um refrão memorável. Outra qualidade importante é que, apesar de ter quase quatro minutos e quarenta, What's Your Pleasure? passar tão rápido que deixa uma imensa sensação de quero mais que aumenta o fator viciante que a canção possui. E a cereja em cima do bolo é a performance sensacional de Jessie que consegue manter a sua personalidade e, ao mesmo tempo, elevar a sua faceta de diva pop para outro parâmetro. Infelizmente, a canção parece relegada a não conhecer o sucesso comercial como outras bem inferiores lançadas nesse ano. Entretanto, quem conhecer essa pérola sonora vai entender o motivo do prazer é todo nosso em ouvir What's Your Pleasure?.
nota: 8,5

Renascimento

Diamonds
Sam Smith

Os tropeços perigosos que o Sam Smith cometeu quando começou a promover o seu terceiro álbum atiçou uma chama de preocupação em relação a carreira do cantor. Então, a pandemia veio e mudou completamente os planos do britânico que descartou o nome To Die For para Love Goes e, principalmente, acertou o prumo da sua sonoridade. A prova está na interessante Diamonds. 


Tirando das páginas da Dua Lipa e da Jessie Ware, Diamonds é uma deliciosa e envolvente post-disco com toques fortes e presentes de soul, dance-pop e R&B. Produzido por Shellback e OzGo, a canção tem uma estrutura muito bem desenhada que mistura bem o lado dançante com a áurea romântica de cantor de grandes baladas de Sam para criar um híbrido que funciona melhor que o esperado. Envolvendo a canção com o seu timbre aveludado, Sam cumpre muito bem a sua função ao saber dar emoção para a canção sem perder, porém, o lado popstar. Arrematando Diamonds está a sua muito bem escrita e encorpada composição que consegue fazer a ponte entre as duas bases criadas pela produção ao ser, ao mesmo tempo, uma canção de amor e um trabalho refinadamente pop. Poderia ter mais profundidade sonora para criar uma experiência mais pomposa que a canção parece pedir, mas isso não impede de Diamonds ser um tipo de renascimento para o Sam Smith.
nota: 7,5

De Volta aos Trilhos

My Oasis (feat. Burna Boy)
Sam Smith

O Sam Smith não está nos seus melhores tempos na carreira. Depois de dois álbuns de sucesso, o britânico lançou uma sequência de singles desastrosos e que não tiveram o mesmo impacto que o esperado. Para piorar, a pandemia veio para cancelar o lançamento do seu terceiro álbum que seria chamado de To Die For. Retomando a sua carreira e os trabalhos para o próximo trabalho, Sam lançou a boa My Oasis que parece recolar o artista nos trilhos.

Longe da qualidade de How Do You Sleep?My Oasis é uma decente pop soul/R&B que ganha vida devido a presença de Sam e, surpreendentemente, do cantor nigeriano Burna Boy. A voz sedosa e elegante de Sam dá uma atmosfera melancólica que a canção precisa. Já a distinta e áspera voz de Burna quebre expectativas e dá um toque ousado para a batida contida. Poderia resultar em mais um erro, mas a produção acerta ao encontrar o meio termo entre balada e mid-tempo que parece se encaixar perfeitamente. A composição poderia ser mais marcante, especialmente no refrão, mas My Oasis mostra que Sam ainda tem o que mostrar. Só estava precisando de uma sacudida bem forte.
nota: 7

4 de outubro de 2020

As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer

Nem sempre músicas marcam a gente pela sua própria existência. Ás vezes, o que marca em música é a dancinha que vem acompanhada. Ás vezes, o que marca é o clipe da música. É uma apresentação. É um meme. É o uso em um filme. Existem várias situações que podem se sobressair em relação a existência da canção em si. Isso não quer dizer, porém, que a canção seja ruim ou esquecível, mas é que esse detalhe especifico ganhou uma proporção maior e de maior relevância para o imaginário do público. Essa característica principal da canção escolhida para esse As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer, pois é...


2 de outubro de 2020

A Patroazona

Lost One
Jazmine Sullivan

Dona de um dos melhores álbuns da década passada que você não deve ter escutado, Jazmine Sullivan volta aos holofotes depois de um hiato de cinco anos para começar a promover o seu próximo trabalho. E como primeiro single foi lançada a arrasadora Lost One.

Dona de uma voz encorpada, rica e de uma elegância ímpar, Jazmine Sullivan dá para Lost One toda a força emocional para que a canção consiga exalar toda a sua dramaticidade sem precisar, porém, recorrer para exageros vocais. Entregando uma performance emocional com nuances perfeitas de tristeza, amargura e raiva na medida certa, a cantora encontra o ponto certo para expressar de forma honesta e humana a posição de alguém que acabou um relacionamento e, sem ter a capacidade de ver a outra pessoa seguir em frente, clama para que o outro não a esqueça, mesmo sabendo o quanto egoísta é esse pedido. E a composição acerta no tom confessional da composição que parece como um desabafo sincero e orgânico que ajuda a humanizar esses sentimentos tão "ruins". Lost One é uma mistura madura, bem instrumentalizada e contida de R&B com toques de blues e soul que serve de base perfeita para sustentar toda a força que a música carrega. E metendo o pé na porta, Jazmine Sullivan volta para mostrar que talento precisa ser apreciado e valorizado.
nota: 8,5

Força da Natureza

By Any Means
Jorja Smith

Mesmo ainda estarmos um pouco longe do final do ano já é confiável dizer que 2020 é um dos melhores anos para artistas femininas em muito tempo. Não apenas comercialmente, mas, também, artisticamente em que grande parte dos melhores lançamentos são de mulheres. Adentrando com louvor a esse disputado hall está a britânica Jorja Smith com o lançamento da significativa By Any Means.

By Any Means é uma densa, madura e elegante R&B que emana poder e urgência ao falar sobre injustiça racial. Apesar de ser um dos temas mais discutidos nos últimos tempos, a canção não parece simplesmente surfar no assunto e, sim, uma crônica íntima sobre a visão de Jorja sobre um assunto que afeta diretamente a sua vida. Forte, extremamente bem escrita, incisiva e com uma com beleza estética desconcertante, By Any Means é, ao mesmo tempo, uma canção de protesto e de exaltação da comunidade negra. A canção mostra imensa personalidade de cantora em amadurecimento nítido ajudada pela performance forte e marcante. Dona de uma voz que parece transcender o tempo, Jorja parece um arauto que exige que a gente escute o que está falando, prestando atenção em cada palavra para poder captar a mensagem final. Se o seu próximo álbum tiver a mesma qualidade que By Any Means, a cantora irá entregar uma verdadeira força da natureza em forma de música. Aguardemos.
nota: 8

O Toque Soul

Over Now
Calvin Harris & The Weeknd

Desde que mudou de rumos da sua sonoridade ao incorporar soul/R&B/funk pesadamente em seus trabalhos, o Calvin Harris vem entregando as suas melhores canções. E o feito é repetido em Over Now em parceria com The Weeknd.

Over Now é envolvente, sedutora e cadenciada R&B com toques de soul e um pouquinho de pop para a transformar a batida em algo dançante, seguindo o mesmo caminho da sonoridade do The Weeknd. Não tem o mesmo impacto que os seus recentes trabalhos solos, mas a produção de Calvin segura muito bem a onda ao longo da sua duração. Especialmente a parte final que a canção dá uma forte curva direto para os anos setenta de forma deliciosa. O ponto fraco de Over Now é a sua mediana composição que não apresenta nenhum grande momento para ajudar a canção a se elevar. De qualquer forma, Calvin parece que encontrou o seu verdadeiro caminho. Quem diria, né?
nota: 7