31 de março de 2024

Primeira Impressão

COWBOY CARTER
Beyoncé



A Capsula Perfeita

Weird World
Allie X


Weird World, quarto single do ótimo Girl With No Face, é a perfeita incorporação de toda a vibe que a Allie X constrói para o álbum.

Estranha, sombria, nostálgica, contagiante e viciante, a canção consegue pegar toda uma estética synthpop mistura com darkwave e toques de glam rock ficada nos anos oitenta e a transmutar em um trabalho deliciosamente atemporal e lindamente excitante. E ainda existe uma pitada de melancolia na batida dançante que apenas enriquece o resultado final e está a par com a sensacional composição. Weird World é uma crônica sobre como a dureza do mundo faz as pessoas mudarem ao longo dos anos e cantora percebeu a sua própria transformação. E tudo é alcançado de uma força tão cruelmente real e, ao mesmo tempo, de um apuro estético que ajuda colocar Allie X no patamar de uma das melhores compositoras da atualidade. E assim que se entrega tudo sem nem prometer nada.
nota: 8,5

Um Tapa Na Cara

Cheerleader
Porter Robinson

Se tem um artista que nunca pensei em ao ouvir uma música seria impactado pela sua mensagem era do cantor/DJ/produtor Porter Robinson, mas é exatamente isso que acontece com o lançamento da ótima Cheerleader.

Primeiro single do terceiro álbum de Porter, a canção é uma inteligentíssima, honesta e amadurecida crônica/reflexão sobre a relação entre artistas e seus fãs. E o grande trunfo é que como a composição abrange a complexidade dessa relação ao mostrar que existe, sim, uma idolatria que pode passar do limite, mas que ao mesmo tempo o artista precisa de fãs para ter sucesso e uma carreira. Não existe nenhum dedo apontado para qualquer um dos lados de maneira acusativa, deixando julgamentos para quem escuta a canção. E tudo isso é feito com uma estética tão bem pensada para ser uma perfeita letra pop com um refrão fácil e viciante. Sonoramente, Cheerleader é uma inspirada e divertida hyperpop/pop punk/eletropop que está a par com a qualidade da sonoridade mostrada pelo artista até o momento. Todavia, Porter Robinson se sobressai aqui no momento de tocar em uma ferida que não é comum ser discutida. Bravo.
nota: 8,5

Um Remix Puro

The von dutch remix with addison rae and a.g. cook
Charli XCX


Desde que houve esse renascimento do remix como peça importante para a promoção de um single e/ou álbum que surgiu dois tipos: o remix que não remix e o remix verdadeiro. E é nessa segunda categoria que entre o remix The von Dutch da Charli XCX.

Produzido por A. G. Cook, a canção é na verdade uma reconstrução da canção original, pegando a base e criando quase uma nova canção. E isso funciona bem, pois estamos diante de um trabalho pensado para ser um remix de fato e, não, um caça níquel barato. O problema é que a canção perde certo brilho da original ao ser uma versão menos inspirada, sendo que Von Dutch, mesmo sendo uma “eletrizante e reverberante electropop/house/dance-pop”, já tinha seu problema ao ter “uma produção que é tão direta na sua construção que falta certa nuance para a fazer menos massificada”. Gosto, porém, da mudança que acontece depois de um minuto e meia em que o remix pisa no acelerador para criar um clímax mais trabalho. Apesar de não atrapalhar e adicionar certa personalidade, a presença da Addison Rae termina soado desnecessária já que poderia facilmente ser outra artista. De qualquer forma, o remix ganha pontos para fazer o seu único trabalho: ser um remix de verdade.
nota: 7



Divida de Jogo

I LUV IT (Ft. Playboi Carti)
Camila Cabello

Se existe alguma música que entra facilmente na categoria de “isso é dívida de jogo” é o single retorno da Camila Cabello na horrível I LUV IT.

Sinceramente, ouvir a canção é quase uma tortura devido a ser praticamente um amontoado de sons que deveria ter algum de conexão, mas parecem apenas colagens mal feitas e sem sentido. E isso é um espanto porque quem produz a canção é o El Guincho que tem no currículo apenas a produção de El Mal Querer e MOTOMAMI da Rosalía. Ao tentar ser um hyperpop/eletropop descontruído, a canção se perde em um oceano de mediocridade devastadora que nada consegue chegar perto de ser ao menos decente. A composição é simplesmente podre de tão genérica e irritante enquanto a presença da Camila parece ser feita por I.A. E quando o ponto alto da canção é a presença moribunda do rapper Playboi Carti é para ter certeza que não há salvação para essa bomba atômica.
nota: 3



24 de março de 2024

Antes Tarde do Que Nunca

Like a Virgin
Madonna


Primeira Impressão

Venus
Zara Larsson


Épico Transcendental

Prologue
Kamasi Washington


Existem algumas experiências musicais que são quase impossíveis de explicar, pois é necessário sentir para ter ideia de todo o seu impacto. Entretanto, como esse é um blog de resenhas tentarei explanar todo o meu fascínio com a genial Prologue do saxofonista Kamasi Washington.

Single do quinto álbum (Fearless Movement) da carreira do artista, a canção é uma explosão sonora que faz a gente ser catapultado para uma outra dimensão devido a magistral construção instrumental e transcendental estrutura atmosférica. Sem ter medo de começa a canção já a 100km por hora, Washington já impacta quem ouve com o seu magistral sax em torrente continua e desorientante que vai conduzindo todo o resto do espetacular arranjo. E quando a gente acha que a canção não tem mais para onde ir, Prologue vai se desenrolando no seu terço final como um quase maremoto sonoro em uma explosão de tirar o folego e misturar todas as nossas sensações de forma inesquecível. Não posso dizer que essa jazz fussion seja para todos, mas para quem for estará sendo arrebatado por essa jornada de sensações inesquecível.
nota: 9


New Faces Apresenta: Maruja

The Invisible Man
Maruja

Parece que há algo nas águas da Inglaterra que são capazes de gerar as bandas com maior apelo criativo possível ao longo da história da indústria fonográfica. Nos últimos anos, por exemplo, tenho descoberto algumas bandas como o Squid e o Black Country, New Road que meio que ajudam o corroborar minha tese. E a banda novata Maruja entra nessa lista com o lançamento da imprevisível e imponente The Invisible Man.

Com um pouco mais seis minutos, a canção é uma torrente impiedosa, épica, magistral e grandiosa de uma mistura de post-punk, art rock, jazz e rock progressivo que pode até ser familiar, mas é feito de uma tão espetacular e com uma personalidade distinta que a torna um trabalho único e refrescante. Existe um cuidado para que o impressionante instrumental não se perca em uma cacofonia sem sentido, mas que também não tenha restrições ou amarras para onde ir ou, principalmente, como chegar nesse lugar sonoro impressionante e deslumbrante. The Invisible Man, porém, ganha contornos de genialidade pura devido a performance do vocalista da banda Harry Wilkinson que segue o caminho de entoar a composição como em declamação de poema, adicionando nuances belas e uma impressionante construção climática que termina em uma explosão. Facilmente já concorrendo para melhor canção do ano, The Invisible Man faz do Maruja a próxima grande promessa do rock ao continuar a tradição britânica.
nota: 8,5

Uma Questão de Textura Vocal

The Conflict Of The Mind
AURORA


Um pequeno tropeço na produção de uma canção pode atrapalhar o que poderia ser um triunfo. Em The Conflict Of The Mind, single da cantora Aurora, erra em uma produção vocal equivocada.

O problema com a produção é a escolha por colocar um efeito na voz da cantora quando entoa os versos que deixa a sua voz quase off, despindo da emoção que deveria estar presenta. E isso fica ainda mais nítido quando a mesma canta o refrão de The Conflict Of The Mind de maneira natural. Isso cria um ruido não harmonioso entre as duas partes da canção que a tira a possibilidade de ser melhor do que realmente é devido a essa quebra nada bem vinda. Sonoramente, a canção é uma delicada e bonita balada indie pop com um revestimento interessante de alt-pop e toque de psicodelia que a faz ter uma personalidade atrativa. Uma pena que a bela voz da Aurora não é trabalhada como merece.
nota: 7,5

Filler de Boa

In Your Hands
Halle


Se a irmã parece perdida na carreira solo, a Halle parece estar bem mais centrada no seu caminho solo. Depois da boa Angel, a jovem mantem o nível com o lançamento de In Your Hands.

O que gosto dos lançamentos da cantora até o momento é que parece que existe uma construção bem pensada para a sonoridade da cantora. E isso é refletido em In Your Hands ao ser uma balada madura e encantadora de pop soul/contemporâneo. Existe, porém, um problema com a canção ao terminar de maneira anticlimática devido a sua curta duração, tirando certa força que a mesma constrói durante boa parte da canção. Todavia, a belíssima performance de Halle que impõe a sua presença de maneira poderosa compensa um pouco esse deslize. Espero que o álbum siga nesse mesmo caminho, pois será algo realmente compensador.
nota: 7,5

Salvem a Chlöe

FYS
Chlöe

Fico ainda abismado que apesar de todo o talento que a Chlöe parece que ninguém sabe como conduzir a carreira solo da cantora. E isso fica novamente claro com o lançamento da mediana FYS.

A canção não tem nenhum problema grave, mas não tem também nenhuma qualidade que consiga se sobressair. Chlöe entrega uma performance sólida que adiciona alguma personalidade para a canção, mas, sinceramente, esse é o mínimo que poderia ser feito por alguém com tamanha potencial artística. Sonoramente, FYS é uma tentativa de criar um R&B sensual e envolvente, mas que devido a falta de forma criativa termina sendo mais do mesmo e esquecível no momento que termina. Estou quase começando a campanha “Salvem a Chlöe” para tentar tirar a cantora desse buraco que a mesma está.
nota: 6


20 de março de 2024

As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer

Poderia facilmente escrever um texto sobre o impacto negativo que as mídias sociais tem atualmente sobre o mercado fonográfico, mas resolvi apontar um lado extremamente positivo quando é dado o devido reconhecimento para quem merece. E não existe melhor exemplo que.....



Quase Lá

we can’t be friends (wait for your love)
Ariana Grande


Como escrevi na resenha de eternal sunshine, we can’t be friends (wait for your love) é um exemplo perfeito das qualidades e dos defeitos do álbum. Todavia, a canção ainda é bom exemplo da poder da Ariana Grande.

O maior problema do single é convidar a gente para uma explosão sonora quando entrega uma contemplação dançante. “Quando comecei a escutar o segundo single, a impressão era que a batida contida e climática dos versos iniciais iria dar espaço para uma explosão synth-pop. Isso até acontece, mas é uma explosão comedida, linear e fofa que deixa certo ar de faltar algo”. E mesmo gostando dessa quebra de expectativa, o resultado final não tem vivacidade suficiente para ser o “musicão” que poderia ser. O que não decepciona é a presença preenchedora e magnética da Ariana que dá para we can’t be friends (wait for your love) a força emocional para amarrar algumas pontas soltas ao se alinhar com a sentimental composição. Ariana quase chegou lá, mas ainda é uma canção adorável.
nota: 7,5

Festival Promessas

Walk Like This
FLO


A girlband FLO vem batendo na porta do sucesso single após single, mas sem conseguir atravessar esse limiar. A nova promessa é com a canção Walk Like This.

Longe alcançar o nível da sensacional Fly Girl, o novo single é divertido e um veiculo perfeito para mostra a química entre as três integrantes. E isso é preciso ser elogiado, pois a maneira como é conduzido a produção dá espaço para todas brilharem, mostrando seus potenciais e uma sintonia perfeita. Sonoramente, a canção não tem nada de novo para o trio, deixando a Walk Like This entrega uma sucinta, deliciosa e bem pensada mistura de R&B e pop. E a pergunta que fica no ar: será que dessa vez que o FLO deslancha de vez?
nota: 7,5

Segurança

symptom of life
WILLOW

É louvável perceber que a Willow não apenas construí uma carreira sólida como encontrou o seu caminho de maneira natural. E a jovem continua o seu aprofundamento sonoro com o lançamento da boa symptom of life.

Deixando o punk/emo de lado, a cantora investe acertadamente em uma canção mais contemplativa ao entregar uma delicada e introspectiva art rock/pop rock/alternativa. A mudança é grande, mas é fluida com a trajetória da cantora e funciona também devido a produção segura. Não gosto do final meio anticlimático e o fato que poderia ser mais denso instrumentalmente, mas isso é compensado pela linda performance vocal da Willow em dos seus momentos mais maduros até o momento. Acompanhar essa caminhada da Willow é como ver uma sobrinha que a gente pegou no colo se forma na faculdade. Orgulho de verdade.
nota: 7,5

A Era Country

What I Am
ZAYN


Depois da era da post-disco que acendeu durante a pandemia até no ano passada, os astros parecem mostrar que existe a possibilidade de começar a era country. Esse parece ser o caminho do retorno do Zayn com o lançamento da surpreendente boa What I Am.

Fazia algum tempo que o cantor não lançava nenhuma música que realmente tivesse qualidades para serem elogiadas. Não que What I Am seja sensacional, mas é um trabalho melhor que o esperado e com um resultado interessante. Com produção de Dave Cobb, celebrado nome do country/folk/americano contemporâneo, a canção é uma delicada, simpática e sólida country/folk pop bem intencionada. Nada novo é ouvido na construção do bem feito instrumental, mas existe uma sinceridade sensível que ajuda a comprar esse Zayn na versão country. Todavia, o grande trunfo da canção é a inspirada performance do cantor que, mesmo um pouco diferente em questão de timbre, volta a mostra sua versatilidade de maneira natural. Se o álbum for nesse mesmo toda podemos ter um comeback que vale a pena ser escutado.
nota: 7

17 de março de 2024

Primeira Impressão

eternal sunshine
Ariana Grande



Primeira Impressão

This Is Me...Now
Jennifer Lopez



Arrebatamento

Goddess
Laufey

Entendi perfeitamente todo o hype da cantora Laufey ao escutar e resenhar o álbum Bewitched no ano passado. Entretanto, ainda não tinha realmente compreendido de verdade. E isso muda com o lançamento da maravilhosa Goddess.

Sem nenhuma dúvida, a canção é a melhor até o momento da artista devido a capsular todas as suas qualidades de forma tão refinada que a eleva para um outro nível. Single do relançamento do álbum, Goddess é uma refinadíssima, elegante, delicada, emocional e madura jazz pop/pop contemporâneo que encanta desde as primeiras e sentimentais notas até o seu grandioso e climático final. Sonoramente, a canção é algo que conhece a cantora já ouviu, mas aqui é como se fosse o encontro triunfal de todo que era bom em uma canção simplesmente genial. Todavia, a grande tour de force é a união da composição com a performance vocal da cantora. Em uma letra melancólica, sincera e devastadora, a canção narra a desilusão que a cantora teve em um relacionamento com alguém que foi conquistado pela artista e que esqueceu quem vive por baixo desse manto. E Laufey coloca toda a força emocional da sua delicada voz em uma interpretação de dilacerar o coração. E foi assim que a Laufey me arrebatou definitivamente.
nota: 8,5

Um Acerto Na Mosca

Alley Rose
Conan Gray

Mesmo tendo gostado dos singles lançados pelo Conan Gray para o álbum Found Heaven, o resultado até o momento não parece ter conectado com o grande público devido a escolhas sobre influencias escolhidas para as canções não serem exatamente reconhecíveis de maneira fácil. Todavia, o quinto single, Alley Rose, finalmente acerta na mosca ao buscar um influencia que seguir o mesmo caminho das canções anteriores, mas com um fator alto de reconhecimento: Elton John.

Melhor canção do cantor até o momento, a produção em Alley Rose é primorosa no instante que consegue referenciar a sonoridade do Elton John sem parecer cópia e/ou forçar uma nostalgia pretenciosa. E isso é algo nada novo sob o sol, mas feita com uma sinceridade tocante que fica difícil não se deixar levar, especialmente devido as escolhas de canções como Tiny Dancer e Rocket Man. Tudo poderia se a produção não entregasse uma parte técnica a altura da ideia ao fazer dessa power balada pop rock. Felizmente, Alley Rose tem um instrumental requintado, sólido, maduro e inspirado que a faz ganhar vida aliando-se com uma certeira e emocional composição sobre o fim de uma paixão avassaladora. Essa escolha artística é validada devido a ótima performance vocal de Conan que mostra uma força emocional relativamente contida, mas com um poder sentimental brilhante. Se todas as canções que Conan Gray teríamos a possibilidade de vermos o álbum pop do ano e não um álbum que parece que será bastante nichado.
nota: 8,5

Gostei Sem Saber Quem São

Overcompensate
twenty one pilots


Apesar de já ter resenhado trabalhos da dupla twenty one pilots e saber do grande público que a dupla possui não tenho nenhum tipo de memória sobre qualquer canção da dupla. Espero que Overcompensate, primeiro single do álbum Clancy, possa mudar minha percepção, pois o resultado é bem melhor que esperava.

A grande qualidade da canção é ser diferente. Longe de ser perfeita, o single ganha destaque por tentar algo que não está no hype do mainstream em uma canção que experimenta na medida certa para não ser inacessível para parte do público, lembrando sonoridades do Gorillaz e o Link Park. Overcompensate brilha na parte inicial ao ser uma mistura inspirada de eletrônico, industrial, pop rap, hip hop e dance com uma batida metalizada, complexa e eletrizante. A sua segunda metade, porém, mantem certa qualidade ao ter um instrumental sólido, mas menos impactante devido a linearidade instrumental. Gosto da performance do vocalista Tyler Joseph que adiciona um toque quase leve para a canção, mas sinto que faltou algum tempero para arrematar todas as pontas. De qualquer forma, Overcompensate encontra forma quando se arrisca e faz com que o twenty one pilots comece bem sua nova era. Agora é esperar para saber se essa será a canção do duo que irá finalmente gravar na minha memória.
nota: 7,5

New Faces Apresenta: Benson Boone

Beautiful Things
Benson Boone


Entender exatamente o motivo de uma canção atualmente fazer sucesso pode ser complicada, pois nem sempre um mesmo caminho. Todavia, existem alguns indicativos que facilitam esse entendimento. Esse é o caso de Beautiful Things do novato Benson Boone.

Depois de desistir do American Idol depois de já ter sido classificado, o jovem de vinte e um anos começou a pulicar seus videis no TikTok até que chamou a atenção do Dan Reynolds, vocalista do Imagine Dragons, que o contratou para sua gravadora. Com dois EPs lançados e alguns músicas que tiveram destaque sem serem sucessos massivos, o cantor alcançou o top 3 da Billboard com a canção Beautiful Things. Ao analisar superficialmente, a canção não passa de uma power balada pop rock mediana, comportada e clichê que poderia fácil sumir na multidão de canções lançadas todos os dias. Todavia, o seu sucesso imenso pode ser relacionado com algumas características da canção e do próprio cantor. Jovem, bonito e branco, o cantor é fácil de vender para ser comprado por um público bem grande já que parece não “ofender” ninguém, especialmente o público mais conservador com toques de cristianismo nas suas canções em ser exatamente gospel. Além disso, o jovem tem uma boa voz que a usa da maneira mais datada possível. Em relação a canção, Beautiful Things é aquele tipo de balada que é bem fácil ser colocada como fundo de vídeo emocionante em qualquer rede social. E assim se constrói uma canção de sucesso atualmente. Não que Benson Boone não seja talentoso, mas por enquanto não há nada que possa mostrar uma cenário além do que o mesmo se encontra.
nota: 5,5


13 de março de 2024

A Canetada Perfeita

Igual Que Un Ángel
Kali Uchis & Peso Pluma


Continuando a sua jornada de lançar um hit orgânico atrás do outro, Kali Uchis entrega em Igual Que Un Ángel outra canetada de primeira qualidade.

Não apenas potencial de sucesso que a canção possui, mas como também é uma das melhores da carreira da cantora. E isso precisa ser elogiado abertamente, pois poucas artistas tem a capacidade de fazer esses dois mundos se colidirem com tanta maturidade como faz a cantora. Sonoramente, Igual Que Un Ángel é uma elegante, irresistível, deliciosa e cativante synth-pop/latin pop com toques de nu disco, boogie e R&B, criando uma batida tão marcante e radiante. Existe uma atmosfera atemporal que, ao mesmo tempo, parece tão atual quanto pão que acabou de sair do forno. E ainda por ser uma canção em espanhol adiciona uma camada ainda mais interessante para a canção. Devo admitir que a presença do Peso Pluma funciona melhor que o esperado, mas é Kali que brilha intensamente com uma leveza plena ao esbanjar carisma verdadeiro e brilhante. Outro acerto de uma carreira de apenas acertos.
nota: 8,5

Aquecendo os Motores

Broken Man
St. Vincent


Depois do esplendido resultado de Daddy's Home tenho que admitir que virei fã da St. Vincent. Por isso que tenho altas expectativas para o lançamento do seu próximo álbum All Born Screaming. E o começo é com o pé direito com o lançamento da ótima Broken Man.

Em uma nova mudança de sonoridade, a cantora entrega uma estilizada, densa e elétrica ao criar uma épica instrumentalização que mistura perfeitamente art rock e industrial rock, especialmente na sua explosiva parte final. É necessário que dizer que Broken Man é uma slow burn, pois vai conquistando quem escuta aos poucos devido a uma sensação de estranheza inicial. Todavia, isso é deixando de lado ao longo da canção devido a sua produção limpa e excitante. E isso é também valido para a incrível performance da St. Vincent que mostra uma energia radiante e uma facilidade em dominar cada momento como se fosse um passeio no parque. Devo admitir que apear de ótima, a composição de Broken Man não tem a mesma capacidade de envolvimento que o resto da canção, deixando uma certa lacuna ao seu final. Isso não impende, porém, de fazer St. Vincent entregar outra perola e aumentar o já alto hype.
nota: 8

New Faces Apresenta: Beth Gibbons

Floating On A Moment
Beth Gibbons


Como uma artista com uma carreira de mais de trinta anos e quase sessenta anos pode ser uma new face? Apesar de quebrando as regras um pouco, acredito que a carreira solo da Beth Gibbons, vocalista da banda Portishead, pode entrar nessa descrição. E o primeiro single é a sensacional Floating On A Moment.

Bem longe de ser a para todos os públicos, Floating On A Moment é uma soturna, melancólica, densa e deslumbrante mistura de psychedelic/chamber pop com pinceladas incríveis de art rock e baroque pop. E, queridos leitores, a canção é uma verdadeira aula de como fazer uma slow burn que vai aos poucos grudando na nossa mente para não soltar mais com a sua atmosfera sufocante e de uma força constante e devastadora. A parte final em que surge um coral de vozes infantis é o ponto algo ao arrematar a canção de maneira inesperada. A maneira contida como quase fosse uma canção de ninar sombria que Gibbons é simplesmente brilhante, pois faz com que Floating On A Moment ganhe ainda mais nuances ao contar com a maturidade criativa de uma artista desse calibre. E uma arista que a altura da sua carreira ainda pode ser considera de certa forma como uma estreante.
nota: 8.5

Um Tributo de Peso

Burning Down the House
Paramore


Regravar uma canção já é um trabalho complicado, mas regravar um clássico é uma missão quase impossível. E é por isso que ouvir a versão Burning Down the House pelas mãos do Paramore é louvável.

Clássico da banda Talking Heads de 1983, a canção ganha esse cover como parte da divulgação do relançamento do filme Stop Making Sense que é a gravação do show de 1984 da banda dirigido por Jonathan Demme. Para essa tarefa, o Paramore faz um caminho que na teoria é até seguro, mas é complicado de se realizar ao manter a mesma vibe da canção adicionando sua própria personalidade em uma mistura equilibrada. Sem sair da new wave/funk do original, a versão ganha cores e nuances de rock alternativo que apenas adicionam uma camada reluzente da vibe do Paramore. Todavia, o que sustenta essa nova versão é a presença magnética da Hayley Williams que parece tão confortável como em uma canção inédita da banda. E ao final fica a curiosidade de ouvir um álbum do Paramore feito apenas de covers como esse Burning Down the House. 
nota: 8

O Farofão da Charli XCX

Von dutch
Charli XCX


Preparando para o lançamento de seu próximo álbum intulado Brat, a Charli XCX lançou a legal Von dutch. Longe de ser o seu melhor, a cantora ainda entrega uma farofa de qualidade.

Apesar de ter a cara da cantora, a cantora perde alguns pontos ao soar levemente genérica quando deveria elevar totalmente o material. Uma eletrizante e reverberante electropop/house/dance-pop, Von dutch tem uma produção que é tão direta na sua construção que falta certa nuance para a fazer menos massificada. Entretanto, a maneira como a canção é construída com uma certeza artística tão forte que o resultado é bem acima da média, especialmente quando Charli entra com seus vocais estilizados e uma presença radiante e empoderada. E isso serve para entoar a simples, mas eficiente e acida composição sobre os invejosos bastar. Não é o suprassumo, mas a canção ainda tem a marca de qualidade da Charli XCX.
nota: 7,5



Falta Minha

Ai Ai Ai Mega Príncipe
Pabllo Vittar


Preciso fazer já uma mea culpa e dizer que não tenho pouco conhecimento sobre os gêneros que a Pabllo Vittar se baseia para construção de 2024 Batidão Tropical Vol. 2. E acredito que parte de não gostar tanto de Ai Ai Ai Mega Príncipe seja por isso e não há muito o que possa fazer.

Obviamente tenho noção de onde a artista tira a sua influência, mas nunca ouvia a canção original que era da Banda Batidão e isso, querendo ou não, isso afeta a minha percepção sobre a música. Analisando com cuidado, porém, o grande problema da canção é que ao final não é tão divertida quando poderia esperar e tem alguns problemas técnicos. Gosto do uso do sample de Rakata da Arca que dá personalidade novo para a canção, mas em geral o instrumental da canção é apenas ok. Acho que uma reconstrução da canção original iria cair bem melhor aqui, pois daria a possibilidade de evoluir a sonoridade de maneira a respeitar o original sem perder o tino de originalidade. Além disso, a composição é simplesmente ruim que seria necessária essa reinvenção. Entendo todo os elogios que a canção recebeu, mas não rolou para mim. Fica para próxima. 
nota: 6

3 de março de 2024

Primeira Impressão

Girl With No Face
Allie X


Primeira Impressão - Outros Lançamentos

Drop 7
Little Simz


Com Amor, o Fim

Sadness As A Gift
Adrianne Lenker


Existem canções que são verdadeiros soco no estomago devido a sua força emocional. E outras são como delicadas plumas que são passadas na nossa pele de tão delicadas as mesmas são construídas. Esse segundo exemplo é traiçoeiro, pois são canções podem ser tão devastadoras como aquelas que nos acertam de primeira. Esse é o perfeito caso de Sadness As A Gift da cantora Adrianne Lenker.

Single do quinto álbum da cantora, a canção é uma contida, tocante, delicada e melancólica mistura de folk, americana e country que passa longe de algo novo, mas o seu brilhantismo sonoro é devido a sua maturidade que conduz com primor uma instrumentalização devastadora. E é isso é um trunfo, pois é mais fácil fazer o complexo se sobressair do que acertar em cheio na simplicidade, sendo exatamente isso que acontece em Sadness As A Gift. A firme e aveludada voz de Adrianne entrega uma performance vocal que acompanha exatamente o que a produção constrói para a canção. Todavia, o que faz da canção uma obra devastadora é a sua composição. Na verdade, o motivo é como a artista consegue elaborar a ideia que nem sempre o fim de um relacionamento precisar ser dramático, mas, sim, chegar a conclusão serene que o fim é o único caminho para se seguir. E sem precisar usar de lugares comuns para querer arrancar uma lágrima apenas, Lenker escreve uma das letras mais devastadoras dos últimos tempos de maneira tão leve como soprar uma pluma no ar, especialmente no seu refrão: “The seasons go so fast Thinking that this one was gonna last/ Maybe the question was too much to ask”. E assim temos uma clara competidora para melhor canção do ano já bem no seu começo.
nota: 9

OLD SZA LIVES!

Saturn
SZA

Recentemente falei como estava sentindo falta da “velha” SZA e eis que a cantora preenche essa lacuna com o lançamento da ótima Saturn.

Apesar de fazer parte do relançamento de SOS que vai se chamar de Lana, a canção tem muito mais haver com a sonoridade do começo da carreira da cantora. Ao resenhar Drew Barrymore em Antes Tarde do Que Nunca - Versão Single apontei que a principal que a canção tinha um lado artístico bem pungente que costurava toda a sonoridade de Ctrl, o álbum debut da cantora. E isso se repete em Saturn. Apesar de não apresentar nada muito diferente, a produção entrega uma canção com profundidade emocional tocante, um instrumental rico e uma atmosfera que consegue equilibrar o lado comercial com precisão. Ainda é uma música comercial, mas tem essa energia magistral de estarmos ouvindo todo o potencial da SZA. E isso fica ainda melhor com a fantástica performance da artista que injeta ainda mais sentimento na ótima composição sobre passar por uma crise existencial sobre o seu lugar no mundo. Se a SZA continuar nessa mesma pegada pode estar entrando na sua fase de ápice criativo logo depois do estrondoso sucesso comercial. E isso seria genial.

O Fator Miley

Doctor (Work It Out)
Pharrell Williams & Miley Cyrus


Doctor (Work It Out), um descarte do álbum Bangerz e lançada agora com single, poderia ser uma musica sensacional se não fosse o trabalho preguiçoso da produção Pharrell Williams. O que salva aqui é a presença magnética da Miley Cyrus.

Apesar de tecnicamente bem produzida e com uma batida bastante fácil de escutar, a faixa é quase um compilado de outras canções que o produtor já fez como a mesma pegada dance-pop/funk pop. Bem feito, mas nada de novo e, principalmente, nada realmente excitante. O que salva a canção e dá um up para a canção é a ótima performance da Miley que eleva o resultado final de maneira clara e brilhante de verdade. Poderia facilmente ser um dos seus melhores momentos da carreira da cantora, mas nem sua presença realmente salva Doctor (Work It Out) de ser apenas mediana.
nota: 6



Controle de Qualidade Danificado

Love On
Selena Gomez


Queria muito entender exatamente qual é o caminho que a carreira musical da Selena Gomez, pois não é possível que seja o que é apresentada na ruim Love On.

A canção é um trabalho que fico pensando que como alguém escutou depois de finalizada e pensou: “isso é realmente bom!”. Quem realmente escuta pela menos uma vez pode até gostar, mas nunca vai achar que seja realmente boa. A batida pop/dacen-pop não é divertida, não é excitante e nem é comercial de verdade já que tem cheiro de coisa repetida. E isso nem é o maior defeito de Love On já que a sua letra medíocre parece ter sido escrita por I.A da forma mais preguiçosa possível. Selena até tenta dar personalidade para a canção, mas parece mais perdida que a minha reação ao escutar essa perda de tempo que é Love On.
nota: 5