21 de abril de 2024

Primeira Impressão

Bright Future
Adrianne Lenker



Falso Fofo

Free Treasure
Adrianne Lenker


Ao ouvir por alto Free Treasure da Adrianne Lenker é fácil achar uma canção fofa e bonitinha. A verdade é que a canção é exatamente isso e, também, esconde muito mais quando se realmente presta atenção.

Single do álbum Bright Future, a canção é uma delicadíssima indie folk com um instrumental simples, contido e de uma beleza contemplativa. A doce melodia é acompanhada pelos vocais calmos, doces e melancólicos da cantora que tem a presença de um vocal masculino em alguns momentos como backvocal. Tudo isso para contar sobre aproveitar coisas simples da vida como, por exemplo, nadar em um rio ou apreciar a comida caseira de quem se ama. Todavia, as entrelinhas de Free Treasure é sobre aproveitar essas coisas comuns e banais antes que não há mais tempo para gente ou para quem se ama. E isso faz a gente emocionar de verdade ao escutar a canção, mas se passou desapercebido também faz a gente se emocionar pelo o que é na superfície.
nota: 8,5

Dançando & Chorando

Good Luck, Babe!
Chappell Roan


Fazia um bom tempo que não escuta uma canção para “dançar e chorar” como é o caso da ótima Good Luck, Babe! da cantora Chappell Roan. Na verdade, a canção é facilmente uma das candidatas para melhores do ano.

Primeiro single do seu segundo álbum, a canção é uma excitante, adorável, melancólica, sentimental e dançante synthpop com uma dose bem vinda de indie pop/rock que a dá não apenas a única personalidade, mas também toda a sua impressionante atmosfera que transita em perfeitamente em um veio atemporal entre ser vintage, nostálgico e moderninho. E isso nem é o grande trunfo da canção, pois Good Luck, Babe! é uma slow burn que vai encontrar o seu imenso ápice ao chegar na sua ponte final em que temos uma mudança instrumental e de atmosfera que, apesar de não alterar a cadencia da canção, dá para o trabalho uma força devastadora. Enquanto isso, Chappell Roan entrega uma performance extraordinária que sabe muito bem exaltar o seu delicado e gracioso timbre e, ao mesmo tempo, demostra uma força impressionante, especialmente emocionante. E, por fim, a composição da canção é sensacional ao relatar a paixão entre a narradora e uma outra mulher que não acabou bem devido ao fato dessa segunda não ter exatamente muita responsabilidade emocional. É um trabalho triste, ácido e um pouco raivoso, mas é uma letra que a gente entende fácil o seu emocional devido a maneira direta como a cantora a escreve. Good Luck, Babe! é um dos momentos que tenho certeza que vai ser um marco em 2024.
nota: 8,5

2 Por 1 - Charli XCX

Club classics
B2b
Charli XCX

O lançamento do single duplo da Charli XCX dá ainda detalhes sobre o que esperar do álbum Brat: clássica Charli ao dobro. Começo pela melhor das duas em Club Classics.
 
Acredito que o principal motivo da canção ser a melhor lançada até agora é o fato da mesma ser a mais completa sonoramente. Não que as outras não sejam, mas Club Classics é a que melhor transmite a sua ideia ao ser uma sinergética, cativante e nostálgica electro house que faz a gente vibrar e também sentir certa emoção. O motivo disso é a sua atmosfera que remete ao gênero de maneira tão pura e a sua composição que invoca exatamente isso ao mostrar a vontade da cantora em dançar os clássicos de quem faz esse tipo de canção. E a linha “I wanna dance to SOPHIE” faz a gente sentir uma dorzinha no coração genuína. Em B2b, a produção perde um pouco desse encanto, mas ainda entrega uma eletrizante batida que tem um leve toque melancólico por trás que a dá personalidade, mesmo sendo liricamente bem mediana. No final, as canções são dois momentos que provam o domínio da Charli XCX pelo que faz.
notas  
Club classics: 8
B2b: 7,5

Doechii is POP!

Alter Ego
Doechii & JT


Se existe um debut que venho esperado com ansiedade é o da rapper Doechii. Apesar de um ou outro tropeço, a artista vem mostrando que é capaz de entregar acerto atrás de acerto. E é esse o caso de Alter Ego.

Vamos ao ponto negativo da canção: a sua desaceleração. O single começa explosivo desde os seus primeiros segundos, mas parece perder certa força no meio para frente. É como se fosse um carro que a aceleração fosse 150km/h que consegue ir a 100km/h depois de algum tempo. Claro, ainda é rápido, mas é uma perda considerável. Tirando isso, Alter Ego é uma impressionante, elétrica e eletrizante hip house/vogue que faz a gente querer ir para um ballroom dançar como se fosse um dançarino nato ou fazer um lip syncing na frente da Mama Ru. Com uma performance na medida da Doechii e a também rapper JT quase no mesmo nível, Alter Ego é outra peça para a construção de um hype já bem elevado. 
nota: 8

Country Fino

I Like Trains
Ashley Monroe

Se você entrou no mundo do country pela Beyoncé, existe um grande mundo para explorar que realmente vale a pena no cenário. E uma das contemporâneas mais interessantes é a cantora Ashley Monroe que lançou a ótima I Like Trains.

Single do próximo álbum da cantora que ganhou notoriedade ao fazer parte do mega grupo Pistol Annies, a canção é uma densa e melancólica balada country/americana que consegue fazer a gente sentir um calafrio na espinha. Com um simples, mas devastador instrumental que complementa perfeitamente a doce voz da cantora, I Like Trains apresenta uma composição forte que faz uma metáfora sobre a paixão por trens com uma paixão devastadora. Contemporânea e, ao mesmo tempo, cravada no country, Ashley Monroe é uma das que carregam o gênero atualmente com graça e qualidade.
nota: 8

Groovy

Cinderella
Remi Wolf


Uma das traduções para o adjetivo groovy é descolado. E isso se encaixa perfeitamente para o single Cinderella da cantora Remi Wolf.

Apesar de não ser tão boa como Prescription, a cantora entrega uma festa suingada, leve, divertida e, claro, descolada em uma canção que parece parada no tempo sem ter gosto de naftalina. Cinderella é uma synth-funky com pegada dos anos ’70 que poderia facilmente ter sido feita no auge do Rufus e Chaka Khan, mas que ganha personalidade distinta devido a presença luminosa da Remi Wolf e a seu timbre áspero e cativante. Além disso, existe uma inteligência radiante na construção da composição que consegue ser modernosa e, ao mesmo tempo, casar com toda a vibe da canção. E que vibe maravilhosa, querido leitores, que faz a gente dançar como se não houvesse amanhã.
nota: 8