28 de fevereiro de 2021

Primeira Impressão

Cor
Anavitória


Nunca realmente prestei atenção no duo Anavitória, pois, sinceramente, sempre achei o MPB das jovens um pouco enfadonho para o meu gosto. E é por isso que fico espantado de descobrir que com o lançamento de Cor, a dupla de amigas chega ao quarto álbum da carreira. A maior surpresa, porém, é que ao chegar ao fim do trabalho tenho mais coisas positivas para falar sobre o álbum, mesmo que tenha alguns pontos negativos para pontuar e que confirmam alguns dos meus pensamentos originais.

Apesar de elogios para tecer para Cor, o álbum não será o que irá fazer de mim um fã da dupla. Todavia, é necessário dizer que existem coisas que realmente foram grandes e boas surpresas para mim. A primeira e mais importantes de todos é a imensa qualidade técnica/produção colocada no álbum, indo completamente contra o modelo que se instalou nos últimos tempos no mercado fonográfico nacional. Produzido pela Ana Caetano (parte do duo) e Tó Brandileone, o álbum tem uma qualidade artística muito acima da média, pois tudo é extremamente muito bem pensado, construído e finalizado. Longe das estratégias batidas como, por exemplo, lançar single soltos, Cor é um álbum completo com começo, meio e fim que tem uma estrutura complexa e que realmente foi pensada para ser um álbum e, não, uma coleção de singles soltos agrupados se nexo em um só lugar. Às vezes, porém, a produção se sobressai até em relação aos outros elementos do álbum, deixando uma sensação de dualidade estranha, pois consegue, ao mesmo tempo, elevar os momentos que o álbum dá uma caída e criar um ruído forte de que Cor só realmente funciona devido a sua produção. Essa sensação é amenizada devido alguns acertos e, também, alguns erros que o duo Anavitória comete.

Uma qualidade elogiável é o fato de todas as quatorze faixas do álbum são escritas por Ana Caetano com algumas exceções aqui e ali. Essa característica dá unidade e personalidade que ajuda o duo a realmente se distinguir entre a multidão. Falando de forma delicada, poética e sensível sobre as dores e os prazeres do amor na sua grande maioria, Cor é uma coleção de composições inofensivas, tocantes e extremamente fofas. E, sinceramente, acredito que fofa seja o principal adjetivo que possa ser atribuído para a sonoridade MPB pop/folk que a dupla construí em quase cinquenta minutos de duração. E, vamos ser sinceros, ser fofo é ótimo, mas chega em algum momento tudo começa a cansar de tanta fofura. Falta para a sonoridade geral de Anavitória um toque de sujeira misturada com acidez para ligar as arestas que faltam e, principalmente, mostrar as mulheres maduras que as duas artistas estão se tornando. Essa chacoalhada seria essencial, por exemplo, para tirar a parte final do álbum da chatice que se instala e, também, para dar mais vidas para os vocais da dupla. Donas de vozes doces e melódicas, mas que dá para diferenciar nos seus momentos solos, Ana e Vitória entregam boas performances e que se alinham perfeitamente com a sua proposta sonora. Entretanto, ao longo da duração, as jovens vão cansando ao não ir além do esperado. De qualquer forma, Cor tem alguns bons momentos que realmente precisam ser destacados. A batida mais marcada com pitadas estilo pop rock de Tenta Acreditar dá uma lufada de originalidade no álbum contrapôs a sutiliza aveludada MPB/folk de Explodir. Em Eu Sei Quem É Você, power balada MPB/pop, a dupla dá o seu toque mais fora da rota, pois ao ler nas entrelinhas dá para perceber que a composição é sobre o relacionamento deles com o Tiago Iorc, ex-parceiro musical delas. E isso fica ainda mais claro nos seguintes versos:

Equívoco te ouvir cantar o amor tão bem
Você o desconhece
Me assusta ver a multidão te aplaudir
E aplaudir de pé

Entretanto, o melhor momento de Cor está longo na sua abertura: a poderosa homenagem do duo para suas raízes no Tocantins na ótima Amarelo, Azul e Branco que conta com um verso declamado pela lendária Rita Lee. Acredito que Cor não é o tipo de álbum que irá fazer quem não gosta de Anavitória se tornar fã e também não vai fazer os fãs deixarem de gostar da sonoridade da dupla. O que pode ser tirar é que, independente de qual ponta você este, é inegável que exista talento verdadeiro residindo nas artistas.

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