4 de dezembro de 2020

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

The End Of Everything
Noah Cyrus


No começo desse ano se alguém tivesse feito uma previsão para mim que ao final do ano teria na lista de melhores trabalhos de 2020 um trabalho da irmã mais nova da Miley Cyrus, eu teria rido gostoso na cara dessa pessoa completamente louca. Todavia, o ano de 2020 aconteceu e eis que estou aqui para afirmar: The End Of Everything, EP da Noah Cyrus, é um dos melhores trabalhos do ano. 

Com o mesmo número de faixas do álbum do Blackpink, The End Of Everything é uma coleção surpreendente, melancólica, muito bem produzida e, por várias vezes, emocionante de uma mistura de indie pop com country, folk e pop rock em que podemos perceber uma artista bem melhor que é possível imaginar. Claro, falta ainda para Noah certo amadurecimento, mas é nítido que a jovem de vinte anos tem muito para mostrar e, principalmente, falar. O EP começa já em alta com a delicada, triste e reflexiva Ghost que fica no limite entre ser uma balada indie pop e uma balada dreamy pop. Lindamente instrumentalizada, a canção é uma amostra bem didática sobre o que é o EP ao mostrar uma maturidade impressionante de Noah e uma preocupação em sair de qualquer lugar comum sem perder, porém, um tino pop bem nítido. Então, a faixa abre espaço para o grande momento do trabalho: a sensacional I Got So High That I Saw Jesus. Sobre a faixa que foi divulgada como single falei: “a canção consegue juntar de forma impressionante uma atmosfera mais tradicional com a sua produção old fashion sem soar datada com uma pegada modernosa devido a sua composição ousada”. E, sinceramente, a canção é um dos momentos ápice de 2020 sonoramente para mim. Poética, adulta, surpreendente densa liricamente e com uma performance vocal inspirada, a canção é o tipo que entra na nossa memória sem pedir licença e se aloja de forma definitiva. E mesmo não alcançado o mesmo nível, The End Of Everything continua a encantar e cativar nas faixas seguintes. 

Em Liar, a cantora deixa de lado os temas mais filosóficos das duas primeiras faixas para se concentrar em uma velha e boa balada sobre coração quebrado. E é nesse requisito que recaí a característica que ajuda a cimentar Noah Cyrus: a qualidade imensa das composições. Mesmo que algumas canções tenham um número de colaboradores alto é fácil perceber que a artista tem uma personalidade interessante ao mostrar influências do country e uma maturidade em tocar em assuntos difíceis que poderiam facilmente cair no clichezão. Continuando a mostrar essa faceta está a dramática Lonely, flertando com o gospel mostra a cantora lidando com a solidão e os conflitos mentais que a mesma lida abertamente. Simples, direta e honesta, a letra da faixa cria uma conexão sincera com o público sem apelos desnecessários, mas longe de soar fria e/ou desconectada com quem ouve. E a qualidade continua até mesmo quando sonoramente o EP dá uma abaixada de qualidade. 

Young & Sad é uma fofa e bonitinha country pop que fala sobre começar a curar as feridas emocionas mesmo que ainda sinta algumas dores. E a canção é seguida pela delicada July que com a sua batida contida e sua composição sentimental gera uma comparação com o trabalho da Kacey Musgraves. Ambas são canções bem acima da média, mas que, infelizmente, pecam um pouco devido a sua produção menos pomposa em instrumentalizações contidas. Isso não quer dizer que não existem razões para prestar atenção nessas duas faixas, pois nelas são possíveis perceber o belo timbre de Noah que, apesar de lembrar em alguns momentos o da irmã mais velha, consegue encontrar o seu lugar ao optar por uma pegada mais simples e intimista. O único deslize do EP está na estranha Wonder Years. Regravação de uma canção escrita por Lennon e McCartney, a faixa erra com a presença da participação de Ant Clemons que transforma a canção em uma espécie de hibrido entre folk e a sonoridade do Post Malone que, apesar de seguir sólida, não parecer combinar no resultado final. Felizmente, o EP termina de volta os trilhos com a canção que dá nome ao EP: The End of Everything é uma triste e delicada crônica country/folk sobre a finitude da vida. Mesmo não sendo o melhor do ano, o EP de Noah Cyrus é um dos momentos que não vou esquecer em muitos anos. E espero que seja o verdadeiro começo de uma carreira promissora para a jovem.
notas
Ghost: 8
I Got So High That I Saw Jesus: 8,5
Liar: 8
Lonely: 8
Young & Sad: 7,5
July: 7,5
Wonder Years: 7
The End of Everything: 7,5
Média Geral: 7,7

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