The Lemon Twigs
Quando um artista tenta recriar uma sonoridade bastante especifica e única é bastante fácil de cair em vários diferentes buracos, especialmente é o da pretensiosidade. E é interessante notar que em A Dream Is All We Know, quinto álbum da dupla the Lemon Twigs, poderia facilmente seguir nessa direção, mas, felizmente, isso é combatido por uma dose genuína de sincera ingenuidade. E isso ajuda o álbum a se tornar um dos trabalhos mais gostosos de se ouvir em 2024.
Não precisa de muito tempo para notar qual é exatamente a geração/sonoridade que a dupla se baseia pesadamente aqui: o rock dos anos sessenta e, claro, os Beatles (mas não exclusivamente). E isso é algo tão “na cara” que quem coproduz uma das faixas é nada mais, nada menos que o filho de John Lennon, Sean Ono Lennon. E essa decisão poderia ser o verdadeiro tiro no pé, pois poderia facilmente cair em algum lugar entre o cheio de naftalina, a nostalgia barata e o pretenciosismo intelectual. Ou pior: os três ao mesmo tempo. Todavia, A Dream Is All We Know passa bem longe disso ao ser um trabalho emocionante, simpático, tocante e inteligente que, como dito anteriormente, tem nessa sinceridade ingênua a sua maior carta na manga. E quando falo em ingenuidade não é ser sobre malicioso ou não, mas, sim, que a dupla ao lado de uma produção inspirada nunca parecer emoldurar a estética/gênero escolhido para mostrar que são “intelingentões” que conseguem recriar uma sonoridade tão especifica. O que o álbum é uma sincera forma de homenagear e exaltar esse período musical e seus artistas que inspiraram a dupla de maneira tão definitiva e marcante. E isso é conquistado com louvor.
Sem esse peso que poderia facilmente ofuscar todo o trabalho, A Dream Is All We Know é um trabalho que acerta ao não querer também reinventar a roda, mas, sim, entregar com classe e precisão toda uma atmosfera que é necessário para alcançar a ideia por trás do álbum. E isso é importante, pois o trabalho poderia até ser sincero, porém, sem o cuidado estético preciso tudo poderia resultar também em um grande desastre. Todavia, essa possibilidade é posta completamente fora de escopo de possibilidade devido ao trabalho espetacular de instrumentalização que capta perfeita a essência do gênero. Esse é o caso da deliciosa Church Bells que usa uma técnica chamada “mixed meter” que é incomum nas canções pop, mas que ajudam a dar personalidade para a canção de maneira única. E também é necessário apontar o trabalho excepcional vocal de ambos integrantes do duo, pois é também deles que o álbum ganha a sua forma de maneira tão definitiva e refinada. Só que é preciso apontar que é vindo de Michael os melhores momentos vocais do álbum como na balada In The Eyes Of The Girl (com coprodução de Sean Ono) que facilmente poderia ser uma canção gravada pelos Beach Boys. Contudo, o grande momento do álbum é logo de cara com a sensacional My Golden Years ao ser “cativante, delicada e nostálgica balada rock/power pop com forte inspiração dos anos sessenta, a canção tem aquela vibe perfeita para tocar na frente de um seriado que provavelmente trata sobre amizade, amores, decepções, tristezas e conquistas de um grupo de amigos em alguma cidade pequena dos Estados Unidos”. Outros momentos que merecem ser citados são a delicinha de How Can I Love Her More?, a divertida They Don't Know How To Fall In Place e Rock On (Over and Over) que encerra o álbum mostrando o começo da influência dos anos setenta no rock. A Dream Is All We Know não é para qualquer público, mas o The Lemon Twigs sabe perfeitamente entregar uma preciosidade para quem é o publico da sua música e, claro, das suas preciosas influencias.
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