18 de agosto de 2014

Nicki Indelicada

Anaconda
Nicki Minaj

Uma das melhores características de Nicki Minaj é que a rapper não tem "papas na língua". Seja na suas opiniões pessoas sobre vários assuntos ou mesmo nas suas composições com teor, digamos, bem explicito. Então, ouvir Anaconda, segundo single do The Pinkprint, não deveria ser nenhuma surpresa para quem conhece a rapper. Mesmo assim, acredito que muitos podem ter alguns problemas com a canção e o seu debate sobre "bundas e anacondas". Infelizmente, essas pessoas não entenderam que a canção é simples e puramente para se divertir e, não, um atentado contra os bons costumes.

Antes de entrar no quesito composição, vamos analisar outras características da canção. Não há dúvidas que Nicki é uma rapper extraordinária, mas aqui especialmente ela está arrasadora na canção. Sem precisar recorrer aos seus alter egos, Nicki entrega uma performance certeira, cheia de nuances e mostrando a sua pegada pessoal de uma maneira impecável. Há quem não goste, mas não como negar que Nicki domina uma canção como nenhuma outra rapper dessa geração. Anaconda é, basicamente, uma continuação do mega hit Baby Got Back de Sir Mix-a-Lot de 1992 já que não apenas usa uma ou duas partes como sample, mas, na verdade, a base da segunda é a base e o alicerce da primeira. Resumidamente: Anaconda é uma versão moderna de Baby Got Back. O que muda em Anaconda é a cadencia (mais frenética em vários pontos), a adição de novas influências (trap music e pop) e a introdução de algumas "brincadeiras". Mesmo mantendo a mesma qualidade na sua produção, Anaconda acaba perdendo para no Baby Got Back no quesito relevância. Lá no começo dos anos '90, Baby Got Back foi responsável por ajudar a mudar a visão que havia sobre mulheres de "bumbum grande" (basicamente, as mulheres negras) alterando o posto de pertencentes apenas ao "gueto" para símbolos sexuais nacionais. Claro, havia e ainda há toneladas de machismo e sexismo envolvidos em outros níveis, mas a canção ajudou em certos aspectos sem dúvida nenhuma. Anaconda, por sua vez, mostra que Nicki quer apenas falar de "bundas grandes" e órgãos genitais masculinos enormes. Não há uma consciência na letra de tentar passar uma mensagem que discuta a situação das mulheres tratadas como apenas como objetos sexuais, mas, pelo menos, o resultado da composição é um trabalho divertido e bem construído. Uma pena, pois essa poderia ser uma grande oportunidade de ouro para a rapper que apresenta uma silhueta "avantajada". Ao menos, a capa do single trouxe uma boa discussão sobre o conceito de beleza e aceitação: se modelos brancas e com o bumbum pequeno podem mostrá-los em revistas e outros veículos, por que Nicki não pode? É por causa da sua bunda e/ou a sua cor de pele? Se Nicki tivesse trazido isso para a sua música, Anaconda poderia ser bem mais relevante.
nota: 7

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