10 de fevereiro de 2018

Primeira Impressão

Man of the Woods
Justin Timberlake




Imagine o cenário: depois de alguns anos sem contato, você reencontra aquele primo querido seu em uma festa de família. Esse primo é aquele que fez pare da sua infância e/ou adolescência por muitos anos e, por vários motivos, sempre teve o seu carinho especial, até mesmo teve um crushzinho nele. Ele sempre foi aquele tipo de pessoa extremamente carismática, divertida, magnética, talentosa em qualquer coisa que faz e que sempre recebeu a atenção merecida de todos em volta, sendo o tipo de pessoa que é impossível de não gostar. Voltamos ao encontro na atualidade: apesar de maduro, com uma família e uma vida estabilizada, ele ainda continua com as mesmas características de quando era jovem e ainda continua um gato, com todo respeito a esposa. Conversa vai, conversa vem sobre os bons tempos, o primo então conta que ele está trabalhando em abrir a empresa dos seus sonhos em algum tempo. Então, para fazer o/a simpática, você pergunta qual é a empresa e o primo responde que é uma fabrica de ração vegetariana macrobiótica orgânica para cachorro. Você pensa que é brincadeira, mas não é e para piorar ele ainda pergunta o que você acha da ideia. Sejamos sinceros, você sabe que é uma ideia completamente furada e vai dar muito errado, mas, poxa, ele é o seu primo descolado/crush e a única coisa que você faz é dar aquele sorrisinho amarelo e acenar com a cabeça. Essa é exatamente a mesma sensação minha depois de ouvir Man of the Woods, o novo álbum do Justin Timberlake.

Ao chegar ao seu quinto álbum e caminhando para a casa dos quarenta anos de idade, Justin Timberlake se encontra em uma situação completamente ambígua, pois, ao mesmo tempo, encontra-se consagrado na carreira e ainda precisa provar que ainda é relevante dentro do atual cenário musical. De todos os maiores nomes que surgiram durante a fértil geração do final dos anos noventa e começo dos anos dois mil, Justin é um dos poucos artistas que ainda continua relevante artisticamente e comercialmente, ao lado da Beyoncé e a P!nk. Dessa remanescente trindade, as duas mulheres já provaram recentemente que ainda são importantes da suas maneiras para o pop mundial, mas já fazem mais de cinco anos do lançamento do último álbum do Justin (CAN'T STOP THE FEELING! não conta muito como algo "artístico", apesar do sucesso comercial). Nesse tempo, Justin viu alguns concorrentes diretos emergirem com o crescimento do Bieber, a solidificação do The Weeknd e a consagração do Bruno Mars como os principais nomes masculinos do pop. É nesse cenário que JT encontra-se ao lançar Man of the Woods. Álbum esse que tem como tarefa mostrar que o cantor ainda tem o toque de midas do pop, conseguindo manter o seu legado intacto e, também, demonstrando que é capaz de reinventar o seu apelo. Para tanto, o cantor resolveu seguir o caminho de se aprofundar na sua sonoridade e lançar um álbum conceitual/pessoal. É aí, queridos leitores, que a coisa dá muito errado.


Tecnicamente, os três últimos álbuns do Justin (Futuresex/LovesoundsThe 20/20 Experience e a sua segunda parte) eram álbuns conceituais, mas em Man of the Woods Justin tenta se aprofundar nesse conceito ao não ser apenas a forma e também o conteúdo, ou seja, o álbum não é só conceito na sua sonoridade e, sim, na sua temática. A intenção de Justin era de olhar para si mesmo e mostrar ao público que atrás desse ídolo pop existe um homem real, marido, pai de família, amoroso e de bom caráter, mas que também tem pensamentos profundos e complexos. Isso na teoria é ótimo, pois mostra que o cantor evoluiu e amadureceu como deveria. E se conseguisse aliar essa vontade com o toque de midas pop dele em criar grandes refrões e letras viciantes seria o paraíso na terra. Infelizmente, o cantor e os seus colaboradores nos entregam o purgatória.

Tudo começa pelo o que deveria ser o ápice desse trabalho: Man of the Woods é tematicamente raso como um pires, infantil, pouco carismático e, por várias, beira ao narcisismo. Justin parece querer provar que é um ser humano ao falar das suas qualidades/defeitos, mas esquece de colocar emoção verdadeira ou qualquer sentimento que não fosse algo que refletisse o vácuo de palavras vazias. Quanto mais ele tenta ser real, mais parece "fake" e plastificado. Veja o caso de Flannel que fala sobre ser pai: os sentimentos são bons, mas é de um clichê e breguice impressionante, sendo bonita como um anel de vidro que quer passar por diamante. E assim vai por todas as dezesseis faixas e mais de uma hora de duração. Nada se salva nesse departamento. Piorando tudo, Justin e sua trupe de nomes como Pharrell, Chad Hugo, entre outros parecem que desaprenderam a escrever música pop, pois nada realmente funciona de verdade. Refrões fracos, imagens pobres e versos tão envergonhantes como a do single Say Something, dona da pérola: "Sometimes the greatest way to say something is to say nothing at all" (Ás vezes, a melhor maneira de dizer algo é não dizer nada). Sério? É olha que a pareceria country rock com o cantor Chris Stapleton é uma das melhorzinhas. Se aqui o erro é fatal, a sonoridade de Man of the Woods é o prego final no caixão.

Sonoramente, Man of the Woods é uma verdadeira bagunça irritante e pouquíssima criativa. A situação piora quando temos a ciência que a produção principal do álbum ficou por conta do próprio Justin e do duo já citado nominalmente The Neptunes, além disso, algumas faixas têm a marca do parceiro de longa data Timbaland. Nada disso, porém, ajuda a salva esse famoso "trainwreck" de ser a pior coisa pop lançada desde que Britney Spears cometeu o atendo aos gênero em Britney Jean. Tentando dar um ar mais sofisticado, a produção resolve transitar entre o pop, R&B, eletrônico, hip hop, country, indie pop, folk pop, entre outros para tentar criar algo que pudesse ser a embalagem perfeita para o seus "profundos" sentimentos. O resultado é, sim, perfeito para a mensagem que o cantor quis passar, mas não da maneira positiva que era o esperando. O álbum é até tem a minha simpatia por ser tecnicamente perfeito e ter a audácia de arriscar ao atirar para todos os lados. Todavia, além de não acertar em nada, Man of the Woods é um trabalho apático, com quase nenhum apelo pop e entediante com batidas exageradas ou quase pretensiosas demais. Para se ter uma ideia, a única canção que se salva de verdade é o primeiro single Filthy, que já não era lá essas coisas, mas acaba como um oásis nesse deserto criativo. Outro bom momento fica por conta da ok Midnight Summer Jam e, mesmo assim, não é uma faixa para se vangloriar. O que salva o álbum do total desastre é a presença marcante de Justin que, apesar dos pesares, comprova a sua força como interprete pop. Mesmo assim, nem todo o seu talento como frontman é capaz de salvar Man of the Woods de ser um trabalho decepcionante e esquecível. Quem diria que o Presidente do Pop estaria ameaçado de sofrer um impeachment?


Um comentário:

G. RLS disse...

"Haters gonna say it's fake" ... Tô brincando J kkkk "Filthy" é ótima, o clipe é um dos melhores dos últimos anos!!