21 de maio de 2020

Antes Tarde do Que Nunca - Os Maiores Álbuns de Todos os Tempos

The Joshua Tree
U2


O rock está morto? A resposta para essa pergunta que surge de tempos em tempos é, em um primeiro momento, clara e simples: não. O que está, digamos, hibernando há muito tempo é rock mainstream, isto é, o rock que vende milhões e milhões de cópias de álbuns, coloca canções nos topos das paradas e se transforma em um dos pilares da indústria musical. Tirando alguns pouco nomes, esse rock está colocado de canto já fazem alguns bons anos. E pensando nisso, o Antes Tarde do Que Nunca irá resgatar o que não é somente um dos mais conhecidos álbuns de rock de todos os tempos, mas um dos álbuns de maior vendagem da história: The Joshua Tree, magnum opus do U2.

Lançado em 1987, o álbum foi o quinto trabalho da banda irlandesa, acumulando cerca de 25 milhões cópias vendidas. O sucesso comercial e de critica ajudou a banda a se consagrar como uma das maiores de todos os tempos, ganhando inclusive o Grammy de Álbum do Ano desbancando nomes como Prince, Whitney Houston, Dolly Parton e Michael Jackson. E apesar da banda já ter lançado álbuns aclamados como, por exemplo, Boy (1980), War (1983) e The Unforgettable Fire (1984), The Joshua Tree foi o momento em que o U2 se tornou o a grande potência lendária que conhecemos atualmente, mesmo que a banda tenha perdido o vigor nos últimos anos. Analisando depois de mais de trinta anos fica fácil de perceber qual o motivo que The Joshua Tree alcançou esse status.


Primeiramente, o mundo em 1987 era completamente diferente do atual. Não apenas sócio-político com o começo do fim da Guerra Fria, o aumento da disparidade entre pobres e ricos, a epidemia AIDS que ainda assolava o mundo quase sem nenhuma esperança e a tecnologia começava a fazer parte da vida da população de forma cada vez mais profundo, mas, também, em relação a indústria fonográfica. O vinil ainda era o rei com a fita cassete começando a ganhar espaço, a MTV se firmava como o maior veículo de distribuição de música em massa, turnês mundiais épicas ganhavam cada mais força e ícones pop se tornavam a cara do mundo musical. E essas características que ajudaram o U2 e, por consequência, o The Joshua Tree a ganhar a sua importância perante a história. Em especial, a figura do vocalista Bono ganhou uma projeção gigantesca. Não só pelo fato de Bono ser a "cara" da banda e parte da sua força, mas pelo o que o mesmo entrega no álbum.

Acredito que a melhor maneira de qualificar a performance de Bono em The Joshua Tree é como sendo uma verdadeira força da natureza. Bono é um dos nomes de vocalistas dos anos setenta/oitenta que alcançaram um outro nível em relação a sua importância dentro da indústria ao se tornarem uma das forças motrizes por trás do rock. Não apenas pela sua imagem e persona, mas, também, a grandiosidade da sua voz. E é isso que o vocalista mostra em The Joshua Tree. Durante todo o trabalho, Bono entrega uma performance de um poder avassalador, colocando uma cadeia complexa de emoções que transita do sentimento mais épico e raivoso até o contido e amargurado desde a sua primeira aparição até a última e elevando aqui a sua persona para um nível entre os grandes no Olímpio da música. O seu maior e melhor momento está na genial I Still Haven't Found What I'm Looking For, provavelmente a minha canção preferida de rock. Uma epopeia rock/gospel que vai crescendo em um clímax longo, poderoso, atemporal e avassalador. Existe uma urgência pragmática em suas performances como um verdadeiro arauto de notícias que parecem ainda ressoar nos dias de hoje. E qual seriam essas mensagens? 


Se hoje em dia muitos artistas fogem pela tangente em tocar em assuntos espinhosos que envolvem política em suas canções, apesar de vários serem atuantes na vida pessoal, as décadas de setenta e oitenta foram um verdadeiro celeiro para uma música consciente e politizada. Desde o R&B até o rock, passando pelo indie até mesmo o recente rap/hip hop, artistas variados entregaram verdadeiros manifestos sobre diversos temas sócio-políticos. The Joshua Tree não fugiu dessa linha, mesmo sendo um trabalho tematicamente amplo. A base principal do álbum era o fascínio da banda com a cultura estadunidense, seja a parte boa ou a parte ruim. Pensem nas grandes paisagens americanas como, por exemplo, os desertos sem fim que tomam boa parte do sul dos Estados Unidos. Pensem na política externa conturbada de Ronald Regan. Pensem no mito do sonho americano e a realidade do sonho americano. Pensem no aprofundamento das discrepâncias entre ricos e pobres. É nesse caldeirão que Bono escreveu sozinho todas as composições no álbum. Criando uma coleção de crônicas que refletem pesadamente o momento que o álbum foi lançado, mas, também, encontra ecos no mundo de hoje, Bono consegue criar uma verdadeira jornada adentro de problemas que abrangem o todo da sociedade. Entretanto, o ponto de partida são as observações que Bono fez ao longo de viagens pelo mundo como é o caso da Bullet The Blue Sky sobre como os habitantes da Nicarágua foram afetados pela presença militar dos Estados Unidos.  Desconcertante e de uma força política atemporal, a canção é um dos momentos mais impressionantes sonoramente ao ser uma post-punk de tirar o fôlego. E é aqui que entramos no quesito que faz The Joshua Tree.

Se Bono é a força criativa do U2, o resto da banda é a força motriz. A construção instrumental do álbum é algo impressionante que consegue ser a "cama" de toda complexidade e grandiosidade que as composições precisam para encontrarem a sua verdadeira plataforma. Com uma guitarra marcante que permeia por todo o álbum, a produção de Daniel Lanois e Brian Eno cria um verdadeiro deleite para aqueles que gostam e/ou entendem sobre a parte mais técnica da música. Não é apenas como os instrumentam tocam e, sim, como os mesmos soam dentro do contexto, como foram gravados e Como foram mixados. E The Joshua Tree é um dos suprassumos da genialidade referente a isso, sendo um dos momentos mais memoráveis a genial e atemporal With Or Without You. O trabalho, todavia, não é perfeito, pois a sua segunda parte, lembrando que naquela época os álbuns eram divididos normalmente em lado A e lado B, é claramente menos inspirada que a primeira. Não é uma queda que atrapalhe seriamente, pois o trabalho vai de genial para ótimo e mantem a mesma pegada. Além disso, a segunda parte ainda tem momentos importantes como Trip Through Your Wires e a polêmica Exit. The Joshua Tree é um álbum que faz a gente relembrar o poder e a importância do rock e o quanto o gênero faz faltas em épocas tão complicadas como a que vivemos.

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