6 de julho de 2025

Primeira Impressão

Virgin
Lorde




Depois do tropeço que foi Solar Power, Lorde se recoloca nos trilhos certos com Virgin. Apesar de estar longe da plenitude, o álbum se mostra, ao mesmo tempo, como uma volta ao passado e um olhar para o futuro da cantora.

Diferente do “indie pop/rock inspirado nos anos 1960/1970” do álbum anterior, Lorde volta a navegar por águas mais conhecidas da sua persona ao entregar uma mistura de synthpop, alt-pop e eletrônico que dominou suas duas primeiras eras. E isso não é, felizmente, uma cartada barata para voltar às boas graças do público e da crítica, mas sim um caminho acertado, já que essa sonoridade soa completamente natural para sua identidade artística.

A grande sacada de Virgin, que permite a Lorde entregar esse “comeback” sem parecer forçado, está na mudança da produção, pois, pela primeira vez, a cantora trabalha com o trio Jim-E Stack, Dan Nigro e Buddy Ross — especialmente o primeiro, já que fica claro que a estrutura e a base do álbum vêm dele, em sintonia com a própria cantora, que também assina a produção. Com esse entendimento sobre sua sonoridade, Virgin soa realmente como um trabalho inspirado e com a personalidade da artista. Todavia, o álbum ainda não contempla totalmente a magnitude do potencial de Lorde.

Virgin é um bom trabalho, pois, além de retornar aos “bons tempos”, apresenta uma coesão refinada, um trabalho técnico de alto nível e uma ótima finalização. Mas ainda falta aquele toque final que o elevaria a um patamar que o transformasse em um acerto total. Mais do que isso: Lorde tem o potencial de entregar um novo Melodrama. O resultado final aqui fica mais para um “Melodraminha”, mas ainda é um trabalho que merece ser ouvido devido à sua carga emocional e, especialmente, à lírica sempre avassaladora de Lorde.

Nesse quesito, a cantora volta a entregar composições que se mostram devastadoras crônicas íntimas — desnudando-a de maneira desconcertante, sincera, genuína e com uma carga emocional impressionante. Ainda há uma inteligência criativa cativante e uma estética única que colocam Lorde como uma das melhores letristas contemporâneas do pop.

E o melhor momento de Virgin coloca todas essas qualidades para trabalhar: What Was That. A canção "estabelece uma ponte direta com a sonoridade de Melodrama, entregando um alt-pop/electropop requintado, melódico, inteligente e estilizado, que se equilibra perfeitamente entre o artístico e o comercial. É fácil ouvir a canção e associá-la imediatamente ao estilo de Lorde, mas com uma evolução em relação ao que já foi feito anteriormenteTodavia, como já mencionado, o fato de o instrumental construir toda uma atmosfera crescente sem atingir plenamente o clímax esperado impede que o single seja genial — embora seja excepcional. Com uma letra direta, emocional e cortante, Lorde apresenta uma performance inspirada, explorando sua persona vocal de maneira primorosa". Outro grande momento do álbum é Shapeshifter, graças especialmente à sua impressionante construção sonora e à profundidade vocal com que Lorde carrega a canção. Outros momentos que merecem destaque são o single de abertura do álbum, Hammer, e a emocional Favourite Daughter.

Virgin tem todas as possibilidades e características para ser visto, no futuro, como um álbum de transição na carreira de Lorde. Enquanto isso não acontece, o trabalho se firma como um bem-vindo retorno de uma das artistas mais interessantes da atualidade.


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