22 de setembro de 2020

Primeira Impressão

Smile
Katy Perry


O sexto álbum da Katy Perry é o momento que a cantora parece finalmente chegar ao entendimento pessoal de qual é realmente o seu lugar dentro do mundo pop. E isso é uma notícia ambígua para a carreira da cantora já que Smile deve ser um fracasso de vendas imenso e, principalmente, é a realização definitiva que a sua melhor sonoridade não passa de um pop genérico bom. E como a cereja no topo do bolo esquisito, o trabalho é o mais maduro e pessoal até o momento da carreira da cantora.

Vamos a primeira e melhor qualidade de Smile: o álbum é muito melhor que a bomba atômica chamada de Witness. Algo que não quer dizer muita coisa, pois se a cantora entregasse algo pior poderia se aposentar do pop e virar cantora country. Felizmente, o novo álbum tem uma sinceridade na produção que deixa bem claro que Katy tentou algo para agradar pessoas que não precisariam ser agradas pela sua música. Smile carrega os principais atributos para um bom álbum pop: rápido, fácil de consumir e com um trabalho de produção muito bem pensado. Voltando as origens ao misturar o bubblegum pop do Teenage Dream com o electropop de Prism, o álbum entrega uma mistura acertada de dance-pop com pop tradicional e doses cavalares de EDM em vários momentos. Tudo feito na medida certa para agradar os fãs ansiosos pela volta da boa e velha Katy. E é aqui que reside o primeiro grande defeito: Smile é um álbum que perde o verniz de ser capaz de ter um apelo universal.

Fazer um álbum para agradar o fãs não é nenhum problema, mas é preciso saber como agregar fãs e aqueles ouvintes casuais que não se sentem compelidos a ouvir e/ou comprar o álbum simplesmente pela figura da Katy Perry. E isso Smile não consegue alcançar em quase nenhum momento ao ser um álbum feito basicamente de fillers. Quase nenhuma música tem o verdadeiro potencial de virar um hit como a cantora sempre se mostrou capaz de fazer com os olhos fechados e até mesmo em canções de gosto duvidoso. Claro, como um álbum pop, Smile faz a gente querer bater os pés no rimos da melodia, mas depois de ouviçp todo parece que a gente já esqueceu tudo. O álbum não deixa memórias boas ou memorias ruins, mas, sim, uma espécie de vazio depois de tudo que não se encaixa com a proposta. E a principal razão disso é da produção que recorre para saídas fáceis demais para construir um dance-pop massificado e nada inspirador. Lembram quando a gente cantava a plenos pulmões as músicas da Katy? Então, a sensação aqui é que as canções não parecem invocarem essa vontade ao serem espelhos da verdadeira sonoridade de Katy. Existe, porém, um momento realmente inspirado: Never Really Over "é o retorno ao pop que a Katy fez ao consolidar a sua carreira como uma das maiores divas pop do novo milênio. Nada de extravagancias vergonhosas ou mediocridade entediante, o single é um eficiente, carismático, bem produzido e com personalidade electropop que apresenta certa originalidade na sua construção. Não que estamos diante de algo revolucionário, mas a produção acerta nas nuances dadas para a canção que consegue fazer a mesma se elevar perante o cenário pop atual.". Uma pena que isso acontece apenas uma vez em todo o álbum. Outro problema importante é a falta de refrãos marcantes.

Entregando composição que variam do mediano e esquecível até o bom, Katy esquece uma parte fundamental sobre o bom pop: o refrão. Tirando a canção já citada, Smile é um deserto de refrões realmente eficiente para serem chamados de icônicos como em hits como, por exemplo, Roar ou Firework. Um ótimo exemplo é Not the End of the World: uma boa electropop que remete ao sucesso de E.T., mas com um refrão completamente broxante: 

It's not the end of the world
No, not the end of the world
Throw on your fancy attire
Fears in the fire
Don't lose hope

A canção poderia ser um acerto do começo ao fim se não tropeçasse tão feio em um refrão mixuruca. Para não dizer que não falei das flores, Smile é possível o álbum mais pessoal da carreira da cantora em que é fácil notar as passagens da sua vida pessoas colocadas nas canções. Esse é caso da tocante Daisies que passa uma mensagem positiva sem ser muito clichê. Infelizmente, nada disso ajuda se o alvo de forma geral não foi atingido de forma ao menos satisfatória. Outra falta no álbum é a não presença de uma balada com a marca registrada da cantora. Outros momentos que se pode citar como destaques são a inspiradora Teary Eyes, a animadinha que dá nome ao álbum Smile e a interessante Harleys in Hawaii. Apesar de ser triste ver o imenso flop do álbum, Katy Perry é uma cantora pop que tem toda a capacidade de reinventar e dar a volta por cima. Aguardemos.

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