13 de novembro de 2020

Primeira Impressão

The Album
BLACKPINK


Depois de começar um mergulho dentro do k-pop com o BTS não posso dizer que estou totalmente impressionado, mas devo admitir que comecei a ter uma simpatia pelo novo fenômeno mundial. Então, eis que surge o segundo álbum da carreira da contraparte feminina de maior destaque atualmente: o BLACKPINK. Talentosas e com um visual ótimo, as quatro integrantes parecem presas em um gerenciamento equivocado que prima pela quantidade de vendas de singles do que pela qualidade já que The Album é um dos piores trabalhos de 2020.

O grande problema do álbum é tentar ser tudo e não ser nada na prática. O objetivo aqui é bem claro: fazer o BLACKPINK o mais comercial mundialmente, especialmente nos Estados Unidos. E é por isso que a produção decidiu apostar pesadamente em nomes ocidentais para compor e produzir o álbum, indo da Victoria Monét até Ryan Tedder, passando por David Guetta e chegando na Ariana Grande. Além disso, as duas participações do álbum são de artistas populares mundialmente. Isso é problema? Não. O BTS vem aplicando essa tática a todo o vapor nos últimos tempos. O problema aqui é a maneira que tudo foi pensado e construído, pois a massificação pop escolhida foi a mais datada, batida e exagerada possível. Nada no álbum soa atual sonoramente ou que possa dar para a girl band uma verdadeira personalidade perante ao grande público que não as conhecem. 

Transitando entre k-pop, EDM, dance-pop, pop e hip hop que foram envernizados como o que existe de mais estereofônico possível, The Album é uma coleção de faixas que irritam devido a sua forçação de barra para tentar soar cool, pomposo e divertido. O resultado que deveria ser divertido e despretensioso acaba se tornando cansativo, exagerado, pobre e repetitivo. E o pior é que estamos falando de um trabalho com apenas oito faixas em um total de nem vinte e cinco minutos de duração. Um pouco mais de um EP, o trabalho não teria tantas chances para errar na teoria, mas consegue ser um erro atrás do outro. O maior deles é a odiosa Ice Cream com a participação da Selena Gomez. Sobre a mesma escrevi na sua resenha: “Ice Cream poderia ser uma divertida experiência pop que se mostra uma verdadeira bomba sonora. Uma mistura de k-pop com rap e bubblegun pop que pode até ser uma mudança sonora para todos envolvidos, mas que não tem criatividade suficiente para se sustentar devido a péssima instrumentalização. Irritante, chata e com uma batida nada envolvente, o single erra mesmo na sua horrível composição que parece ter sido escrita como uma brincadeira entre os envolvidos que acabou empurrada no colo do BLACKPINK e da Selena Gomez.”. E sinceramente, todo o álbum caminha basicamente nessa pegada, principalmente no quesito composição.

Durante a maior parte da última década que tenho o blog já presenciei composições que foram de brilhantes até verdadeiras bombas em forma de versos. Todavia, poucas vezes tive o desgosto de ver em um álbum apenas uma coleção tão ruim de letras como é em The Album. Não existe em nenhuma das oito faixas um momento em que se possa avaliar positivamente qualquer esforço para criar uma experiência realmente divertida, inteligente e bem orquestrada. Claro, as partes em coreano podem se perder na tradução, mas, mesmo assim, a qualidade de criação é bastante questionável. Por exemplo, na péssima Ice Cream com a presença da Selena Gomez tem no rap em coreano a seguinte pérola: Crazy insane speed in my LaFerra/ So fast, you don't want a detour. Se apenas fosse em uma canção até poderia dar um desconto, mas a situação continua praticamente na mesma toada em todo o trabalho. E as partes em inglês são o toque de mestre ao contrário. Acredito que a vontade de criar algo que possa ser comercial e mainstream para o público ocidental fomentou essa coleção de clichês em cima de clichês, frases feitas e baratas e ideias canhestras, pois, provavelmente, essa é a visão de que a produção acredita que seja o pop por essas bandas. Não estão errados de tudo, mas poderiam procurar por exemplos que fugissem dessa percepção. Para não dizer que não falei das flores, The Album só não é uma bomba ainda maior devido ao talento nato das quatro integrantes que seguram as canções se as mesmas estivessem à altura do talento individual de cada uma e, principalmente, a união das jovens. Os únicos momentos que podem ter algum destaque positivo ao não serem desastres totais são a presença legal da Cardi B em Bet You Wanna, a sensual Crazy Over You e a quase interessante Love to Hate Me. Mesmo assim, The Album é um banho de água fria para aqueles que esperavam ver o BLACKPINK fugir do lugar comum e conquistar o público pela sua originalidade e qualidade. Uma pena de verdade.

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